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segunda-feira, 9 de abril de 2012

'EM NOME DO JOGO"

TEATRO CRÍTICA
 IDA VICENZIA
 "EM NOME DO JOGO"
MAISON DE FRANCE
           - RJ -

 INTRODUÇÃO: Frequentei o Teatro Maison de France dois dias diferentes, na mesma semana. Tal experiência mostrou que "Em nome do jogo", escrito por Anthony Shaffer, traduzido por Marcos Daud e adaptado pelo diretor Gustavo Paso e os atores Marcos Caruso e Emílio de Mello, é uma peça cheia de sutilezas e pode ter carreira variada, dependendo do público que a assiste. Na quinta-feira, 5 de abril de 2012, cercada por barulhinhos de bala e risadas de gargarejo, vi um espetáculo "estranho", para o que se convencionou chamar de "gênero policial". Trata-se de uma versão renovada do mesmo - segundo os críticos ingleses. Pensei em repetir a experiência, e depois escrever sobre. Foi o que fiz. "Sleuth" ("Detetive"), é o nome da peça, em inglês. Os detetives são personagens importantes, nos romances policias.

                                                                                                          (foto Guga Melgar)   
                                       
CRÍTICA: A peça "Em nome do jogo", ora apresentado ao público carioca, tem um poder que somente o teatro alimenta: possui diversas versões dramatúrgicas, pode ser comédia, farsa, tragédia... O trabalho do diretor  Gustavo Paso (co-direção de Fernando Philbert), dá destaque a esse jogo. Na "comédia" da quinta-feira, dia 5, o "sleuth", cujo nome sugestivo é Doppler (Duplo)  (parece até coisa de "Testemunha de Acusação", de Agatha Christie, seria uma homenagem de Anthony Shaffer?), era um ser insone (como costumam ser os detetives do cinema), porém, carregado de mazelas a ponto de o público sentir, no início de sua intervenção, que ele não seria capaz de solucionar crime algum. É verdade que o personagem vai crescendo e domina a cena, com mazelas ou não. A sua segunda versão, a de domingo, 8 de abril, é bem mais comedida, educada, quase, o que lhe tira um pouco do sabor decadente. Um pouco. Pois bem. Por que estamos citando estes detalhes? Talvez por ser essa peça um jogo em aberto. 

       "Em nome do Jogo" é composta de três rounds, uma introdução e um epílogo. Na introdução, o famoso escritor de romances policiais, interpretado por Marcos Caruso, mostra ao público, e a um suposto "detetive" Edmond, personagem de sua imaginação, como desvenda os crimes, em seus livros. Observamos que, durante a peça, a brincadeira com os detetives (famosos ou não) é um contraponto. O segundo movimento - Iº round - é a chegada do convidado especial, interpretado por Emílio de Mello. E a trama se inicia. Trata-se de um triângulo amoroso. Nas histórias de detetive, a mulher é sempre a desencadeadora da ação, daí o clima um tanto febril que se apodera dos homens, neste gênero de literatura. Marguerite, a esposa e amante, consegue ficar tão presente em sua ausência que se transforma no terceiro personagem. E muitos outros ainda irão se concretizar...  

       A peça toda é uma competição para saber quem é o mais sagaz dos dois homens em confronto: o marido (Caruso) ou o amante (de Mello). O primeiro round é vencido pelo escritor; no segundo há um empate, sendo o terceiro round vencido pelo amante. Este round é decisivo para o epílogo. E o ódio entre os dois se alimenta. Na versão de domingo pude ver o mais delicioso jogo de atores, sincronizado, liberto, prazeroso. Não há erros, as setas acertam o alvo. No cenário, uma curiosa concepção de ferro e madeira, de Ana Paula Cardoso e Carla Berri, a linha pop-cult está presente, principalmente para alimentar o terceiro round, que se propõe um show de interpretação entre os dois atores. É aí que o ódio alcança proporções insuspeitadas, e ele se exterioriza nas expressões contidas do personagem de Marcus Caruso e na exuberância desafiante do personagem italiano de Emílio de Mello: "Nunca entro em jogos por esporte". Quem leva a melhor? 
    
      A iluminação de Jorginho de Carvalho pontua com acerto a ação, dela extraindo momentos de real suspense, unida à trilha sonora de Caíque Botkay, e às imagens do olho eletrônico que controla os movimentos da casa. Havia, no domingo 8, grande atenção e envolvimento da parte do público, outro personagem importante. E os figurinos e adereços de Teca Fichinski. Aconselho a todos os públicos  a assistirem "Em nome do jogo". Mesmo os que não se interessam muito por romances policiais. Eles se surpreenderão, não só com os diálogos, da mais perfeita inteligência criativa, mas também com os jogos destes dois grandes atores.

2 comentários:

  1. Eu já estava louca para ver, desde a estreia. Agora mesmo é que não perco.
    Aliás, para variar, posso até não gostar de uma peça, mas suas críticas são sempre deliciosas, inteligentes. Amo!

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