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quinta-feira, 19 de julho de 2012

"NÃO EXISTE MULHER DIFICIL"

Marcelo Serrado em "Não existe mulher difícil" (foto divulgação)





CRÍTICA TEATRO
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)


     Trata-se de um texto de Lucio Mauro Filho, inspirado no livro de André Aguiar Marques, com direção de Otavio Müller (um excelente diretor), e com o ator Marcelo Serrado aceitando o desafio de interpretar um texto descompromissado, segundo os idealizadores, um texto sobre "o cafajeste moderno"... O espetáculo nos pegou de surpresa. Ele visita todos os tipos de comédia, desde a chanchada brasileira até à fescenina italiana, passando pelo rústico interiorano do Brasil, e indo até a suposta ginga do carioca. Marcelo Serrado é uma caixinha de surpresas, só vendo para crer.
     Perpassando o espetáculo, a marcação operada por Serrado, ao piano, apresentando as cenas que vão ser interpretadas: de terror, amor! suspense... É quando entram em cena Erasmo Carlos, os sertanejos... e Michel Teló! Trechos sussurrados pelo ator. Somente trechos, é claro, citados na voz de Marcelo. Surge até Roberto Carlos... e o "show" da noite que é a sua interpretação de Renato Russo! Sim, vale a pena, Marcelo Serrado é um dos melhores intérpretes do cantor brasiliense, e faz uma justa homenagem a ele, neste tempo de homenagens a Renato Russo! Eu ouvi o timbre, não me pareceu play back, a não ser que tenha sido muito bem operado. O ator consegue surpreender, ainda, quando se "comunica" com a plateia. Trata-se de algo inesperado, vindo de um ator de perfil tão... clássico! (não estou exagerando, mesmo apesar de algumas comédias que ele tem participado, ultimamente).    
     Explico: Falo de seu aspecto físico. Marcelo Serrado parece talhado para fazer um Calígula, um Cipião, o Africano, o grande general romano da Segunda Guerra Púnica, ou um "Varão de Plutarco"! (e não fujo à verdade). Porém, para nossa surpresa, ou talvez não, ele se compraz em fazer comédias. Desafios? Neste "Não existe mulher difícil" ele nos brinda com marcações musicais ao piano e um "encontro com o público", onde a descontração impera... e também os olhares fascinados da plateia.   
     O mínimo que posso registrar é o surpreendente poder de comunicação de Marcelo Serrado. Conheço seu trabalho, e tenho observado com cuidado o desempenho deste ator em cinema e televisão. Trata-se de um artista cuidadoso com os detalhes de sua profissão, um ator sério e talentoso que nem sempre teve a oportunidade de jogar com um papel que revelasse todo o seu talento. Este monólogo apresenta um ator disposto a se comunicar, ora como personagem de um  homem que acaba de se separar da esposa, ora como ele mesmo, Marcelo Serrado, com seus comentários e improvisações. Neste monólogo, Marcelo não se limita a comentar o comportamento e as idiossincrasias femininas, passando em revista todo tipo de mulher: desde a patricinha, a cachorra, a mulher casada, e outras mais, seu retorno, como personagem, ao "mercado dos solteiros" depois de uma fracassada experiência de vida a dois, pode ser hilariante...e, às vezes,  traumatizante!
     Nestes tempos de homens se justificando, chorando e pedindo desculpas por um passado autoritário do qual eles não foram protagonistas (os patriarcas autoritários  pertencem, agora, a uma classe extinta), este homem que chora e pede desculpas é o mesmo fiel cafajeste, representante de uma espécie (talvez) em extinção: o  heterossexual! Neste espetáculo nos confrontamos com o homem temeroso do poder da mulher, este ser que "sangra e não morre". A plateia fica absolutamente fascinada por este ator/personagem que é  capaz de reconhecer a sua parceira e seduzir o público com as grandes diferenças que existem entre o masculino e o feminino. Seu bordão? "Não vai dar certo!" É o que provoca um sorriso nervoso nos jovens casais que lotam a plateia, e, ao mesmo tempo em que Marcelo interage com seu público, ele incorpora, como ator, os fatos ocorridos entre palco e plateia, adaptando-os ao espetáculo. Marcelo Serrado consegue essa interatividade, e o que presenciamos é um diálogo gostoso, saudável e carinhoso. Fica aqui o registro. Se algum dia Marcelo Serrado voltar a apresentar "Não existe mulher difícil", não percam! Agora ele está no SESI de Itaperuna.    
Ficha técnica: Direção de Arte, Maria Borba; Direção Musical, Marcio Tinoco; Trilha Sonora: Dany Rolland. Iluminação: Paulo Denizot.

  





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