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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"TAMBÉM QUERIA TE DIZER..."'

Emílio Orciollo Netto em "Também Queria te Dizer" - cartas masculinas.
(Foto Divulgação)

CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro (AICT)
(Especial)

 COLOCANDO OS PONTOS NOS IS

Reitero, para as pessoas que lêem esta minha coluna sobre crítica de teatro, que o meu interesse é observar e analisar, com cuidado e carinho, aquilo que vi. Não estou visando interesses particulares, nem meus, nem dos artistas a quem assisto, mas ao bem geral do espetáculo. Tenho observado que as minhas ponderações (quase sempre) agem sobre os artistas de maneira positiva. Posso ver essa resposta nos e.mails que recebo. Costumo assistir, fortuitamente, aos espetáculos por mim criticados e percebo, com alegria, que os desacertos foram sanados... Só então tenho a sensação de dever cumprido. Aceito que sou uma crítica “sui generis”, pois chego a perder o sono quando devo apontar algum defeito, nas peças a que assisto. Assim é a vida. “And so it goes”, como diz Kurt Vonnegut Jr.         

CRÍTICA (de) “TAMBÉM QUERIA DE DIZER...” – cartas masculinas.

Emílio Orciollo Netto está em cartaz no pequeno espaço acolhedor do Midrash Centro Cultural. Trata-se de um espetáculo muito simples, uma boa maneira de o ator mostrar a sua versatilidade. Emílio encena o texto de Martha Medeiros muito bem conduzido, em seu primeiro monólogo, pelo argentino Victor Garcia Peralta, o construtor de sucessos que dispensa apresentações. O texto trata de homens e seus sentimentos.
     É interessante observar o jogo que se estabelece entre os atores da “máquina” e os atores do palco: os atores da “máquina global” respiram, quando entram em contato direto com a respiração do público. É essencial para eles, essa troca, trata-se de um jogo estimulante e estimulador. Emílio, neste monólogo, tem essa grande oportunidade.      Senão vejamos: sozinho em palco, cercado pelo apoio musical de Plínio Profeta em sua trilha sonora – Primal Screan, The Doors, Marvin Goye, e outros gênios do pop/rock (Gabriel Lagoas no som), o ator vai lendo as cartas e dando a devida emoção a cada uma das revelações embutidas nelas. É quando o ator se apropria do sentimento do missivista como se dele o fora.

     Assim, na ambientação de um atelier de artista plástico onde domina, muito significativamente, o esboço de “O Grito”, de Edvard Munch, Emílio vai revelando “gritos” de homens sem voz: presidiários;  homens em luto; padres e policiais; loucos.... São narrativas de culpas, de amores, de arrependimentos.  A emoção vai tomando conta do ator e sendo transmitida à platéia. Apenas uma ressalva: na primeira carta o missivista faz uma alusão à política, o que remete o público ao governo atual, ao nosso governo popular. O público compartilha, com certa ironia, das observações do missivista. É clichê e injustiça. O problema, como dizia Joseph Goebells (para ele não era uma problema) é que “uma mentira, muitas vezes repetida, acaba virando verdade...” para o bem dos mentirosos. Atores devem ter muito cuidado com a política, fazer críticas consistentes, pois a sua responsabilidade é enorme, com essa lente de aumento que eles possuem, que é o palco.   
     Quanto ao mais, é um espetáculo generoso, sensível, que nos transmite o prazer de estar em um atelier, participando do processo de criação de um artista plástico, em sua escolha de missivas para a sua instalação. Muito bem estruturado, o espetáculo. Vale a pena conferir.
Ficha técnica: Texto: Martha Medeiros; direção: Victor Garcia Peralta; Diretor de Produção, Maria Siman; Trilha sonora: Plínio Profeta; Cenário: Miguel Pinto Guimarães; Figurino: Emílio Orciollo Netto e Victor Garcia Peralta; Iluminação: Luciano Xavier; Operador de som e luz: Gabriel Lagoas; Arte gráfica: Maria João; Assessoria de imprensa: Lu Nabuco            

              

2 comentários:

  1. Muito bonito e digno o seu prólogo. Aliás, é sempre isto que sinto em suas críticas. Obrigada, Ida, por você existir. Beijos.

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  2. Querida Sylvia, cá entre nós... essas andanças por Manaus me fizeram muito mal à saúde. Clima terrível, aquele, não aconselho. Beijo e saudades!

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