Páginas

quarta-feira, 6 de março de 2013

"PORCOS COM ASAS - a descoberta da sexualidade"

Elenco da peça "Porcos com Asas - a descoberta da sexualidade". Da esq p/dir: Manoel Madeira (Gianne); Iuri Kruschewsky (Roberto); Carlos Veranai (prof Marcelo); Amigas Julianne Trevisol (Ana Lisa) e Gabriella Cavalcanti (Laura); Rafael Canedo (Rocco); Alessandra Lameu (Antônia); Patrícia Ramalho (Mãe)    (Foto Divulgação)

   


CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
    
     Tudo já foi dito sobre o amor. No caso de “Porcos com Asas” resta apenas a visão particular do artista, e a descoberta de sua maneira de se expressar. O sexo na adolescência. Esse assunto já foi muito explorado, desde as tragédias de Shakespeare até os sonhos/pesadelos de Wedekind, para citar os mais conhecidos. Esse é o  período de nossas vidas no qual as tensões são exaltadas, e as paixões também. Entretanto, e curiosamente, o encontro entre os jovens Antonia e Rocco, o casal de protagonistas, se limita a um sorver contínuo, e nem sempre prazeroso.
      Há agitação transbordante, quase histérica, típica da adolescência, porém, e talvez propositadamente, esse sorver se quer finito. Há uma sensação de perda, que vai sendo transmitida, e muito bem, por Andressa Lameu, dando vida a Antonia. A sofreguidão de Rocco, sua urgência em captar a vida, também nos é transmitida com verdade por Rafael Canedo. Podemos dizer até que há, na peça, um dos mais belos encontros sexuais realizados no teatro, quando o casal se encaixa em um balé à distância, desenhando com os corpos nus os movimentos do gozo.
        Entretanto, a narrativa é muito cotidiana. A mãe (Patrícia Ramalho) capta bem o encanto que a mulher madura tem pelos garotos, ao se encantar com o namorado da filha, porém o diretor não explora mais este desvio materno... não há sutileza, na criação desse personagem tão rico. A atriz é excelente, o problema é a concepção de sua personagem. Se pudesse se acalmar, talvez essa mamãe tão frustrada rendesse mais do que alguns momentos descomprometidos de comédia. É isso, afinal, o que se propõe “Porcos com Asas”, “alguns momentos descomprometidos de comédia?” Se for, está perfeito assim como é. Porém seu alcance poderia ser bem maior. Escrita por Mario Sergio Medeiros e dirigida por Claudio Handrey, essa história do encontro amoroso na adolescência nos conduz à constatação de que somos “seres desejantes”,  e, como tal, estaremos sempre a um passo de novas descobertas e de novas frustrações.
     Bom seria se pudéssemos identificar, na peça, as personalidades que estão em esboço, o que eles serão no futuro, sem nos preocuparmos tanto com movimentos corporais e agitação cênica. Foi uma escolha do diretor, e como tal deve ser respeitada, mas um pouco de calma faria bem aos meninos incompletos. Talvez, pelo fato de as situações se diluírem, ninguém do grupo de jovens parece sair fortemente atingido da experiência. Há Roberto, o adolescente mal-amado, em constante avaliação de suas possibilidades, o que nos pareceu (seria mesmo?), o esboço de um futuro homem que acaba sublimando o amor (muito bem interpretado por Iuri Kruschewsky); ou o professor Marcelo, à frente de sua época (aliás, que época é essa, afinal?), que entendeu o amor como um lugar muito além da questão de gênero, interpretado por Carlos Veranai. Há os amigos, Laura (Gabriella Cavalcanti), Ana Lisa (Julianne Trevisol) e Gianne (Manoel Madeira), este último compondo um líder estudantil um tanto caricato. Enfim, os quatro amigos não conseguem desenvolver uma personalidade própria. Talvez falte firmeza na dramaturgia? Os assuntos não têm continuidade. Talvez ela seja feita, mesmo, para adolescentes... A delicadeza com que os episódios são tratados teve boa repercussão em Angra dos Reis, onde ele foi premiado como o melhor espetáculo do Fita 2012.   
     Na presente montagem, os impasses da política estudantil ficam amortecidos pelos relacionamentos afetivos. E, se a época foi mesmo o passado estudantil, os anos 60, ou mesmo os anos 70, não houve opção por uma representação mais contundente dos episódios daqueles anos de fúria. Na Europa essa história foi narrada com o pano de fundo de 1968. Na ficha técnica temos a comentar o jogo do cenário móvel adaptado ao teatro de arena, com mobilidade facilitada pela cenografia de Zanini de Zanine, interagindo com a iluminação de Leysa Vidal. Os figurinos da mãe são inteiramente teatrais, os do elenco em geral situam uma época que pode ser a atual. De Felipe Ferraz. Trilha sonora de Claudio Hardrey. Produção Executiva Claudio Veranai; Assistente de Produção Thereza Moreira; Assessoria de Imprensa Fábio Amaral – Minas de Idéias.            
    
    
          

Nenhum comentário:

Postar um comentário