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quarta-feira, 27 de março de 2013

"REALISMO"

João Velho e elenco de "Realismo", texto de Anthony Neilson  (foto cartaz divulgação)






CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

     “Realismo”, peça de Anthony Neilson, direção de Tato Consorti, em cartaz até o dia 31 de março na Justiça Federal da Av.  Rio Branco/RJ,   é um exercício de atenção, timming e “destreza moral” contemporânea, tanto para o elenco quanto para a platéia. Em pouco mais de uma hora, o pequeno apartamento de João Velho, o protagonista, serve às intenções do autor, e todas as abordagens (ou quase todas), as abordagens do mundo moderno se fazem presente. Não se sabe o que o protagonista João Velho (o mesmo nome do ator), quer fazer naquele sábado, a não ser  ficar sozinho. Sem chance. Tempos e personagens vão reafirmando uma convivência, pouco provável, entre passado e presente. É quando mãe, namoradas, pai e amigo se encontram, alternando-se em situações aparentemente aleatórias, porém que vão construindo o texto. Aí percebemos, em cena, elementos do teatro contemporâneo, e suas aventuras de linguagem. É quando o público vai armando o quebra cabeça do que é representado. E é quando realidade e fantasia se fazem presentes, na cabeça de João Velho, o protagonista, intercalando vida e lembranças.
     A cobrança dessas lembranças se impõe e, finalmente, o amor maduro  cobra e determina o presente. Tudo acompanhado por um gato sestroso, uma máquina de lavar que fala, e a crítica voraz à propaganda  invasiva, através de uma conversa ao telefone.  Na encenação há flashes onde o misticismo convive com a traição (cenas altamente irônicas); onde amizade e amor convivem com hipocrisia e inveja. Porém, no  emaranhado dessas situações, eis que surge um realismo controvertido. Onde o realismo?  Podemos imputá-lo, e tão somente, às atitudes do cotidiano do protagonista lavando roupa, preocupando-se em comer, ir ao banheiro, ver TV, posicionar-se politicamente, fazer ginástica. Porém, esse cotidiano é tão fracionado que transforma em forma caótica (irreal?) tudo o que toca.
     O ator/protagonista (João Velho) sustenta com fôlego e convicção os impactos do mundo moderno, o mesmo acontecendo com a mãe (Daniela Galli), e as namoradas Ângela (Paula Braun), e Laura (Beatriz Bertu). Não é uma peça de fácil elaboração, percebemos o pêndulo do tempo acelerando as interpretações. Nesse sentido, o personagem do pai (Adriano Saboya) é o menos solicitado. O mesmo não se pode dizer do amigo (Átila Calache?), que se desenvolve em absurdos do inconsciente. Uma comédia contemporânea, que oscila entre teatro, e a compreensão de um possível teatro de união de linguagens - sendo a comédia a dominante - sobrepujando o drama do desencontro dos amantes. Concordamos com o diretor quando nos diz que é uma comédia que beira o politicamente incorreto. Algo que desequilibra a platéia.Ótima a cena do debate político invertendo a tela da Tv. Todo o elenco e, além dos já citados: Christian Landi.
     A trilha sonora de Átila Calache e Tato Consorti  é a responsável pelos bons momentos da ação, o mesmo podendo-se dizer da iluminação de Tomás Ribas. A direção de movimento é de Marcelle Sampaio: certamente, colocar esse relógio de precisão, que é o movimento dos atores, em boa sintonia, não deve ter sido trabalho fácil. A  cenografia hiperrealista é de Aurora de Campos. Os figurinos de Antonio Guedes reforçam o clima realista e enfocam épocas (veja-se o guarda roupa elegante da mãe anos 50). “Realismo” é uma comédia instigante, que faz pensar e divertir. Não percam!                  
  

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