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terça-feira, 16 de abril de 2013

"CABEÇA DE VENTO"

Jan Macedo, Leo, em "Cabeça de Vento", autoria e direção Cleiton Echeveste (foto Cristina Froment)


CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da  Associação  Internacional  de  Críticos  de  Teatro - AICT)
(Especial)

Até dia 5 de maio, todo sábado e domingo às 16h, crianças e adultos têm um bom pretexto para irem ao Teatro Dulcina, ali, na Rua Alcindo Guanabara, Centro. Trata-se de "Cabeça de Vento", escrito e dirigido por Cleiton Echeveste. A peça é para crianças, mas, creiam, é teatro para todas as idades!
     Essa "chamada" serve para localizar uma história poética. "Cabeça de Vento", apelido carinhoso que a mãe de Leo, o protagonista, dá ao filho, é um relato que privilegia o encontro entre a emoção e o saber. O que está em jogo é o contato do menino Leo (Jan Macedo, ótimo) com a vida. Esse contato se dá através do olhar profundamente poético do autor. A narrativa tem início com o cotidiano do menino, do relacionamento afetivo de Leo com seus pais. São relatos divertidos e, às vezes. Pungentes. Como o da ausência do pai - mas sempre teatrais, lúdicos. Nas cenas vão surgindo os primeiros jogos, as primeiras teimosias, as primeiras leituras. E são essas leituras que vão determinar os acontecimentos. O relato se  debruça sobre a ausência do pai, sendo as brincadeiras com a  "pandorga" (a pipa carioca),  a ligação lúdica entre pai e filho. A pipa será o fio condutor da ação, mas o que a transforma são os encontros fictícios entre Leo e os grandes personagens da História.   
     Leo gosta de ler. Desenvolveu este prazer através do presente que ganhou de sua mãe, um livro que pertencia a seus antepassados: um livro de História Universal. O menino passa a dividir a sua vida entre o prazer da leitura, a escola, e as brincadeiras com sua pipa. É quando ela desaparece entre o bambuzal, que a história verdadeira começa: em sua procura, o que Leo encontra são os personagens da História! Essa é a dinâmica da narrativa. A cada um dos  personagens o autor dá a visão histórica correspondente, acrescida de sua própria visão: Benjamin Franklin (Eduardo Alomeida) é o distraído inventor que tem forte ligação com o movimento dos ventos. O menino se identifica com ele. A "generala" chinesa Fu Hao, também sacerdotisa (Luciana Zule), e por último o hilariante "Cruzado" Ricardo Coração de Leão, Rei da Inglaterra (Eduardo Almeida).
     A cada um desses personagens históricos o autor enfeita com sua visão pessoal. Podemos dizer que a ênfase que Echeveste dá ao Rei da Inglaterra é, talvez, a mais ilustrativa dos personagens (o ator Eduardo Almeida alterna o papel do pai, de Benjamin Franklin e de Ricardo Coração de Leão, enquanto Luciana Zule, mãe e generala Fu Hao, ambos perfeitos). Falando em atores, o elenco dá uma dinâmica especial ao texto, através de primoroso desempenho.  Eduardo faz uma crítica hilariante, ao interpretar Ricardo Coração de Leão seu furor a lutar com muçulmanos pela conquista de Jerusalém. A insensatez humana está muito bem representada neste personagem. O menino Leo chega a ficar escandalizado com o furor e o sotaque francês do Rei, e pergunta-lhe a causa.
     São acenos do autor para despertar o interesse da jovem platéia  por informações históricas. E este espetáculo é um importante elo cultural teatro/educação, aproveitado com a presença, na platéia, de escolas convidadas. O interesse dos alunos por História pode surgir, expandindo-se para outros domínios culturais. No episódio do rei inglês o  autor chega a citar Saladino, o bravo guerreiro muçulmano pouco conhecido entre nós. Nestes termos, "Cabeça de Vento" é uma surpresa, ao combinar  importantes momentos culturais com uma terna convivência familiar do menino com seus pais. Espera-se que cada um dos espectadores desfrute o espetáculo com o conhecimento que possui, e desenvolva uma visão crítica da História, incluindo a nossa.
      Pois o autor não deixou de lado o outro aspecto da História: a nossa. Percebe-se, na  narrativa, o tratamento dado à região natal de Echeveste, o Sul do pais. O autor é gaúcho, e é  através da paisagem estabelecida no cenário, e, principalmente do figurino do pai (Eduardo Almedia), que ele acena para sua terra natal. É uma citação comovente. Também o bambuzal é um suporte característico da região, e um bom recurso utilizado pela cenógrafa (Danielle Geammal), além das pandorgas, é claro. As cenas vão se estruturando através da mobilidade dos  canteiros de bambu, transformando-se em floresta, em quarto de dormir, sala, e assim por diante, estabelecendo a dinâmica da ação (Danielle Geammal é responsável por cenário e  figurino). Os atores fazem a manipulação do cenário, e nada fica forçado ou fora do contexto. Trata-se de uma dinâmica positiva.  
      Em resumo, essa procura das raízes, as lembranças do passado, os jogos educativos e os personagens históricos tornam a experiência de assistir "Cabeça de Vento" um acontecimento marcante. O carinho e a inteligência desse projeto, sua temática  cultural falam por si. Na ficha técnica temos, além dos citados acima: Gustavo Finkler, na trilha sonora e sonoplastia; iluminação Thiago Mantovani; preparação corporal, Fernanda Guimarães; assessoria pedagógica, Janine Hofmaister;  preparação vocal, Dani Calazans; assessora de king fu, Lucilene Pessanha; identidade visual, Arthur Screinert; assessoria de imprensa, Mônica Riani.            



Um comentário:

  1. Ainda não vi Cabeça de Vento, mas, pelo histórico da Cia Pandorga de Teatro, há de ser um espetáculo de qualidade!!! Por esta crítica e pelos relatos do face, o autor Cleiton Echeveste e toda a equipe devem estar muito orgulhosos!! Que a Pandorga suba cada vez mais!! Vamos dar linha à pipa!! Um bj, Marizabel Pacheco

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