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segunda-feira, 29 de abril de 2013

"O NÓ NO CORAÇÃO"

"Nó no Coração" - Guida Vianna (Barbara), Monique Franco (Nina) e Camila Nhary (Ângela)
                                                             (foto divulgação)



CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da  Associação Internacional  de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

OU:  "DO  AMOR   INCONDICIONAL" 

Estreou, no Teatro Ewa Herz, a peça "Nó no Coração", do dramaturgo inglês David Eldridge, com direção de Guilherme Leme. É a segunda produção dessa casa de espetáculos carioca cujo nascedouro é São Paulo e a Livraria Cultura. O Ewa Herz foi inaugurado, no Rio, com "A Alma Imoral",  monólogo do rabino Nilton Bonder, interpretado por  Clarice Niskier. Localizado no coração da Cinelândia, o Herz é uma grata surpresa, com suas poltronas vermelhas em aclive, possuindo ótimo recurso visual onde quer que o público se instale. Neste novo teatro estamos livres do "jogo de cabeças" que se instala em quase todos os teatros brasileiros, mortificando o espectador. Modernamente, há arquitetos que se preocupam com esse importante detalhe: o  da visibilidade. O que planejou o Ewa Herz/Rio se preocupou.        
     O autor de "Nó no Coração", David Eldridge, é da "geração século XXI" do teatro inglês, (embora tenha nascido em 1973), sendo seu primeiro sucesso uma adaptação livre de "Senhorita Julia", de Strindberg, em 2012.  Ao que parece, a primeira amostra de seu trabalho, individual, no Brasil, é este "Nó no Coração", um texto dedicado a investigar a hipocrisia imposta aos relacionamentos familiares. O texto busca a mudança das regras. A atriz Monique Franco, em uma viagem a Londres, descobriu David. É  desse  autor  o bom e velho drama universal (e inglês), que o Ewa Herz nos apresenta agora. Algumas cenas a que nos foi dado apreciar são uma pequena tradução do teatro realista. Algumas cenas. É quando Nina, interpretada de forma  inquietante pela atriz  Monique Franco, mostra o seu bem desenhado personagem, cujo "caráter de artista", unido ao desencontro de uma juventude que não sabe viver as suas frustrações, nos leva ao mundo das drogas. Nessa viagem ela é  acompanhada pelo seu introdutor neste mundo, interpretado pelo ator Daniel Granieri.
     As intervenções de Monique/Nina, no decorrer da peça, nos revelam a mão firme do diretor Guilherme Leme, impedindo que a revolta da personagem ultrapasse o perfil "idealista" proposto pelo autor. O jogo de Nina se estabelece quando ela confronta  o seu potencial com o  desconforto que é, para ela, enfrentar a realidade.  Ângela (Camila Nhary), advogada e irmã mais velha de Nina, traduz, através de sua lucidez e ressentimento, o relacionamento das três mulheres.  As duas irmãs são personagens de múltiplos desafios, entretanto, a estrutura da peça nos é dada pela trajetória de Barbara, interpretada de maneira brilhante por Guida Vianna. O assunto é: culpa. Essa mãe, que segue o "amor incondicional", vai revelando aos poucos, através dos diálogos, o que a faz  seguir esse caminho em direção ao amor: culpa.
     A presença masculina é realizada em doses muito pequenas. O "Nó no Coração" é  das mulheres. Entretanto, o ator Daniel Granieri destaca-se ao dar ênfase ao  "agente do vício". O papel de Fernanda Thuran como Marina é  discreto.
     Há muitas possibilidades de reflexão sobre as escolhas de David Eldridge. O fato de ele desenhar a personalidade de Nina como a de uma garota mimada e sem limites pode tornar crível o desvio da mesma em direção ao vício. O que ficamos sabendo é que,  ao perder o emprego, o seu desequilíbrio se acentua. Algumas das referências da peça são nossas conhecidas, fica-nos apenas a missão de destacar as que mais impacto nos causou. Talvez a credibilidade do autor se deva mais à criação do diretor, cuja mão lúcida torna essa leitura possível.
      A direção é exata e a encenação, simples. Cenário (Guilherme Leme) servindo ao diálogo. Há, ao fundo, um a parede de cerca viva (bela) onde "as minhocas" se escondem ( uma alusão aos destemperos da mente?).  Os figurinos de Ana Roque são apropriados e a  Iluminação de Thomás Ribas ilustra bem  a ação. Destaque para a trilha sonora impactante de Marcelo H. (A acústica do Ewa Herz é excelente, em todos os sentidos). Tradução de Washington Gonzales. Co-Direção de Gustavo Rodrigues. Assistente de Direção: Pedro Osório. Assessoria de Imprensa:  Alessandra Costa.
     Trata-se de um espetáculo com ótimo padrão de execução. Ele vem somar. Há, em nosso teatro, um interesse, renascido, a respeito da questão dos relacionamentos (familiares). O título em inglês, "The Knot of the Heart", levanta o problema dos nós que precisam ser desatados. Uma frase da esperançosa Nina esclarece o título e convida as mulheres da casa a desatarem os nós. Essa fórmula é atribuida por ela ao misticismo oriental, aquele que visa trabalhar para a harmonia entre iguais. Assistir ao espetáculo, para o público é uma boa oportunidade: conhecer um novo espaço e confirmar os padrões de comportamento do novo século, eis a questão.   





   



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