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segunda-feira, 13 de maio de 2013

"DO TAMANHO DO MUNDO"

Isabel Cavalcanti, Mateus Solano e Karine Teles em "Do Tamanho do Mundo"
                                                              (foto de Guga Melgar)



CRÍTICA TEATRAL
IDA VICENZIA FLORES
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

Sutileza. Eis o que parece se propor Paula Braun em seu primeiro texto, " Do Tamanho do Mundo". Não se trata aqui de questionar se a autora  consegue ser sutil, o fato é que temos  uma ótima oportunidade para refletir sobre a escrita teatral contemporânea. A sutileza (irônica) fica subentendida no texto, e transparece em certas falas, em certos gestos dos atores. Porém, o que se desenha com mais força, neste texto, é um minimalismo que, talvez, não seja proposital. Minimalismo no sentido de voltar ao mesmo texto, e ao mesmo movimento dos atores. Tudo isso poderia ser ótimo, se a encenação tivesse conseguido coesão suficiente para lhe dar personalidade. Ao menos no dia da estréia, tal coesão não se fez presente.
      Um dos pontos fortes do texto é a crítica à sociedade atual. Essa crítica está muito bem estruturada nos personagens, porém ela não foi desenvolvida com ênfase pelo diretor Jefferson Miranda. A vocação da peça  é destacar a loucura dos humanos, mesmo em seus movimentos mais prosaicos. Talvez a falta de ênfase tenha sido somente uma questão de ritmo, problema a ser resolvido no decorrer da temporada.  
      No início da peça há uma virada de 180 graus na vida dos protagonistas: algo insólito  acontece, alterando o dia a dia da dupla burguesa que compõe um casal que se ama. Eles já não suportam a rotina de suas vidas. Mais: pela imprecisão de alguns acontecimentos em cena, temos a sensação de que se trata de uma peça vinculada ao teatro do absurdo, onde tudo é possível e nada precisa ser explicado. O público assimila a estranheza, e tenta interpretá-la. A atuação do casal é convincente. Principalmente o marido Arnaldo (interpretado por Mateus Solano, ator que possui grande empatia com o público).
     O problema da autora é que as boas tiradas do texto se repetem, como se Paula Braun estivesse surpresa com os seus achados, e os quisesse enfatizar para o público. Por exemplo: Arnaldo, o marido, volta sempre ao texto inicial;  também  sua esposa Marta (Karine Teles) se desespera e volta sempre ao desespero inicial. E não é o único exemplo, a tia Lila (Isabel Cavalcanti) é pródiga em seus refrões. Compreende-se tal deslumbramento em uma autora  iniciante. Vejam bem: as idéias são boas. A atriz Isabel Cavalcanti dá ao absurdo personagem da tia um caráter extravagante. Há  uma realidade que convém à cena: a tia maluca não deixa o casal se comunicar. Também a esposa Marta, tornando-se insegura com o comportamento do marido, extrapola, produzindo tortas e mais tortas, correndo o risco de comprometer a  silhueta (outra das maluquices  dos personagens de Braun, e da  sociedade atual).
     Sim, o texto aborda todas as incongruências do mundo moderno; e joga  com um "diabo" fora dos padrões habituais, um diabo "bonzinho" (ele se revela, sutilmente, no decorrer  da cena), interpretado por Alcemar Vieira, que também interpreta o apresentador. Os quatro atores mostram competência, mas não conseguem ultrapassar as limitações do texto, tornando a cena lenta e repetitiva.  Daí passar a sensação de a estreia ter sido  precipitada. Em uma palavra: o espetáculo  pode, até, ser estranho; o que não pode é ter alguns momentos bons, e repeti-los ad aeternum… pois acaba cansando o público. (A autora assemelha-se a um músico extasiado com a sua obra, mas que não consegue terminar  a canção). O texto é original e poderia render outros "insights".   
     Na ficha técnica temos a direção musical de Felipe Storino, servindo com envolvimento à   ação. O cenário de Cristina Novaes joga com a boca de cena muito ampla do espaço Tom Jobim, o que dificulta a já precaria acústica do local. A luz de Felipe Lourenço é correta, o mesmo acontecendo com a preparação corporal de Toni Rodrigues. O figurino de Antonio Medeiros serve a ação, complementando com sutileza as características dos personagens, principalmente em se tratando da sensual Lila e da insegura Marta. Há um toque irreverente no figurino  carnavalizado do diabo de Alcemar Vieira, e Mateus Solano endossa, no figurino, as características de seu personagem: um homem com  ideais em transformação. Observação final: para que "Do Tamanho do Mundo" se torne um espetáculo envolvente é preciso ter mais afinação, mais  ritmo. Os adereços são de Márcia Marques. Assessoria de Imprensa, João Pontes e Stella Stephany.  
    
                 

4 comentários:

  1. Ou "dos males de assistir a uma estreia..."

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  2. Prezada Ida, boa noite!

    Gostei muito de descobrir ao acaso esse seu blog, em específico essa crítica. Já tem algumas semanas que eu fui ver essa peça, que foi de longe a pior peça que eu já assisti na minha vida. Pensei que eu era um inculto, que não tinha entendido o que cabeças mais inteligentes que a minha tinham tentando me passar. Mas, ao ler o seu texto, agora eu tenho certeza de que eu fui contemplado com um péssimo texto. Não culpo nenhum dos atores, todos são visivelmente muito profissionais e deram o seu melhor. A culpa toda é da história. Sinceramente, desperdiçar um talento como o do Mateus Solano numa peça dessas... só lamento ter descarregado neles a minha raiva, pois não bati palmas pra ninguém!

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    1. Anônimo,

      é a primeira experiência dessa menina, a autora, e ela já quer ser vanguarda.

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  3. misturar trabalho com vida pessoal na maioria das vezes não funciona
    agora Mateus paga o preço de ter que atuar em um texto abaixo
    de seu grande potencial.

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