Páginas

sábado, 24 de maio de 2014

"CLARICE É MAIS CARIOCA DO QUE CECÍLIA"

A nossa poeta Cecília Meireles, linda como um anjo.

IDA VICENZIA

No tempo em que se podia assistir uma espetáculo com os textos de Cecília Meireles (anos 90), eu assisti Cânticos, no Café Cultural, um casarão caindo aos pedaços, na Rua Bambina (provavelmente já não existe mais). Fiquei apaixonada pela poeta e resolvi escrever sobre ela. Os "guardiões" da obra de Cecília certamente não souberam da encenação de Cânticos.

Com exceção de sua filha Maria Fernanda, e da neta de Cecília, Fernandinha, os "herdeiros" não são muito chegados a teatro. Digo "herdeiros" porque a poeta não é mais do seu povo, do povo brasileiro. Pobre Cecília, a poeta do Romanceiro!
Enquanto isso, a nossa brava "ucraniana", a muito brasileira Clarice Lispector, não deixa o espetáculo. Artista nasceu para isso, para o espetáculo. O de sua literatura é imbatível. Exposições com sua obra, peças de teatro sobre sua vida, monólogos. Artistas de renome, premiadas, transformaram-se em Clarice Lispector! Araci Balabanian, Natália Thimberg, Beth Goulart. E tantas outras! Como é bom ser Clarice! Ela continua viva.

Nossa poeta Cecília, está encarcerada. Coisas assim só aconteciam na Espanha. Condenaram Garcia Lorca! Filhos, não os teve. Porém havia outras gentes proibindo que ele saísse da vala comum em que Franco o jogou. Em "su Granada"!
Somos um país jovem, mas nossas entranhas estão esclerosadas. Sim, impedir o acesso à obra de um artista é voltar ao mal-amado tempo dos militares. É legitimar a censura! (Bem, parece que as coisas estão mudando lá pros lados do Senado da República, vamos ver).

O trio de talentosas mulheres que surgiu na primeira metade do século vinte, Clarice Lispector, Cecília Meireles e Lygia Fagundes Telles, hoje segue seu caminho. Lygia está sempre em cartaz, ora com seu romance Ciranda de Pedra, ora com As Meninas. Qual é o problema em se tornar amada?
Cecília foi estigmatizada!

Quantos já me disseram: "Mas você foi escolher a Cecília para a sua tese! É loucura se atirar nessa empreitada". Tarde demais, eu já estava apaixonada por Cecília.

Lygia foi adaptada para a televisão. Ficou quase irreconhecível, o seu romance Ciranda de Pedra, porém é um belo trabalho, e honra a nossa grande escritora. Ela também, como Clarice, está presente em filmes e peças de teatro. Lygia não utiliza a censura, ela é uma artista sensível que habita "o país das artes".

Vocês podem pensar que estou dando esse grito porque fui vítima da censura. É verdade. Eu fui. Querem jogar fora um trabalho que levou 12 anos da minha vida! Mestrado e Doutorado. Não fiz nada mais do que estruturar a vida de Cecília Meireles, através de seus relatos. A Dama da Lua (o primeiro livro censurado) conta, através das palavras de Cecília - e esse era o seu desejo - sua trajetória, alguns trechos de suas obras (todas já devidamente publicadas, em tempos melhores), palavras suas e depoimentos dos que conviveram com ela. Trabalho meticuloso e árduo. Não quero nem pensar em "O Teatro Poético de Cecília Meireles", que vem aí com material inédito!

Melhores tempos virão, tenho certeza. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário