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sábado, 3 de maio de 2014

LOUISE LECAVALIER - "SO BLUE"

Louise Lecavalier em "So Blue" - 2014 - Theatro Municipal do Rio de Janeiro. 


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

Louise Lecavalier, a "francesa canadense" que empolgou os palcos do Rio de Janeiro, sendo a sensação do Carlton Dance Festival dos anos 90 com "La, La, La, Human Steps", fez uma rápida visita ao Rio (somente uma apresentação) no Festival O Boticário na Dança, e deixou seus fãs, novamente, eletrizados. Para quem nunca a assistiu, foi um choque de civilização artística, em vários sentidos. Louis Lecavalier nos mostra, em cena, que somos uma mistura de prótons e elétrons cuja ação não conhece limites.

Esse ser andrógino vai além do seu próprio corpo. Durante uma hora e trinta minutos o palco do Theatro Municipal foi tomado por uma eletricidade jamais imaginada em cena. E, coisa curiosa, seu partner, o bailarino Frédéric Tavernini, vai sendo tomado aos poucos pelo contato do corpo da bailarina. Embora pareça incrível, eles apenas estão criando um novo sentido para a dança.

A música do espetáculo, do turco Dede Mercan, mistura aspectos da tradicional arte musical da Turquia, com outros sons orientais e música eletrônica. Há também sons adicionais de Normand-Pierre Bilodeau, Daft Punk e Meilko Kaji, com remixagem de Normand-Pierre Bilodeau. A criação da performance é de Louise Lecavalier e Fréderic Tavernini. O que nos parece, à primeira vista, algo de fácil leitura, vai aos poucos se transformando em um trabalho de complexa precisão. Tal precisão aumenta, consideravelmente, quando Tavernini entra em cena, estabelecendo-se um jogo de suporte e rejeição.

O palco nu é sustentado pelo claro/escuro da iluminação de Alain Lortie. Essa iluminação, incindindo sobre o figurino de Lecavalier (criado por Yso),  sublinha as alterações do mesmo, fazendo com que ele mude rapidamente de cor, indo do azul para o fúcsia e intensificando o efeito cênico. O espetáculo, ao que parece, é uma união Oriente-Ocidente em sua troca de calma e agitação conseqüentes. Nossa imaginação não está longe da verdade, já que os artistas que preparam a cena são quase todos de origem oriental, a começar por Mercan, cujos trabalhos anteriores citam obras dos Sufis e músicas dos Dervishes. Talvez seja uma tentativa de Lecavalier/Tavernini valorizarem linguagens artísticas e trazerem para o ocidente a criatividade oriental. De qualquer forma, trata-se de um espetáculo desconcertante, que trabalha a nossa imaginação, e faz pensar.

Assistente de coreografia e direção de ensaios, France Buyère. Com muitos prêmios no currículo, Lecavalier desperta merecida atenção de bailarinos e público. Bem vindos ao Rio de Janeiro de 2014!

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