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sábado, 10 de janeiro de 2015

EU E ELA

ELA e EU: Ernesto Piccolo, diretor, Claudia Mauro, atriz,  e Guilherme Fiuza, autor.


 IDA VICENZIA
da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     EU e ELA não é um texto de teatro, mas "variações em torno de um tema" - sobre a barata. O autor, Guilherme Fiuza, no programa de seu primeiro texto teatral, dá uma piscadela de olhos para os "acadêmicos"... Não! Não vamos citar Kafka, nem pensar no funcionário público Gregor Samsa, que virou uma barata, porém temas com este inseto podem ser muito interessantes.

     Não é o caso de EU e ELA. Há um primeiro momento, quando a protagonista (Claudia Mauro), se encontra com a barata.  Estes são minutos de um humor irresistível. A partir daí pensamos: "e agora, como vão autor e diretor (Ernesto Piccolo) manter este tema?". As possibilidades são muitas, o autor optou por exacerbar cenas do cotidiano. Apesar da repetição, às vezes cansativa, do mesmo tema, podemos colher, aqui e ali frases inteligentes. Fiuza aproveita para abordar, através do tema da barata, o relacionamento entre casais; ou o desempenho de uma dupla de policiais (um homem e uma mulher) em situação de emergência; ou, ainda, algumas reflexões da protagonista, que soam como uma crítica à inverossimilhança do texto.

     Não negamos que se trata de um autor irônico, que deixa entrever alguma crítica aos desacertos de nosso frágil espírito humano. Tudo bem. Porém, para o crítico, o fato de assistir a uma estréia traz em si um toque de sadismo. Sim, ele vai perceber, nos mínimos detalhes, o que não funciona, como, por exemplo, a visão (na platéia) dos técnicos nos bastidores trabalhando para que tudo dê certo com a barata. Não dá, e não é culpa dos técnicos... é da estreia! A barata é uma ideia maravilhosa, existe uma mal explorada cena de pesadelo (que poderia ser genial), da pobre mulher fóbica sonhando, aterrorizada, com uma barata que adquire proporções humanas. Perde-se a cena pelo fato de o autor e diretor não enfatizarem, no sonho, a reação da fóbica vitima da barata.

     Enfim, Claudia Mauro dá o que de melhor uma atriz pode dar, porém as situações repetitivas se esgotam em si. Há frases interessantes, como a constatação da vítima (Claudia), que a barata é burra, pois voa em direção ao seu pedrador ... e aí o autor nos compara ao tubarão... julgando o ser humano um pedrador. Tudo bem, mas essa comparação é milenar. Neste texto, que pode ser de teatro - parafraseando Mário de Andrade pode-se dizer "que é teatro tudo o que chamamos de teatro" - há um descompasso na narrativa.  
  
     Os dois atores que completam as cenas, Stella Brajterman e André Dale (lembramos algumas vezes, na interpretação de Dale,  do ator André Vale - só que mais bonito), são muito bons. Há momentos de comédia inteligente, como a cena em que os dois (Brajterman e Dale) interpretam o exagero policial dos agentes chamados para liquidar com a barata. Outra situação, essa de auto ironia, é a referência - discreta - ao relacionamento de um casal, onde a "histérica" tem que conviver com o "intelectual". 

     Quanto à protagonista, lembramos da grande comédia musical Randevu do Avesso e o encontro inesquecível com Claudia Mauro. Neste EU e ELA a atriz também apresenta seus dotes de bailarina dançando o "Funk da Barata", porém sem o mesmo impacto do Randevu. Como Claudia sabe muito bem, é difícil fazer comédia, trata-se de uma máquina azeitada.

     Na ficha técnica temos o nosso querido Ernesto Piccolo (que ainda vai reajustar o espetáculo), na direção. A ótima Clívia Cohen com a sua criação da barata gigante, um grande estímulo para alavancar o espetáculo, trazendo o inesperado. Os cenários, que aproveitam bem o espaço reduzido do Teatro Ipanema, são um apoio essencial ao desempenho do atores. Os figurinos do "dia a dia" são de Maria Estephania. Iluminação, Tiago e Fernanda Mantovani. O operador de som, Janser Barreto, teve alguns problemas no dia da estréia, como o teclado da internet e o som do celular. Excessivo, o teclado (parecia uma máquina de escrever antiga), e fora de ajuste o celular. Coisas da estréia. Claudio Baltar faz a engenharia circense (da barata!) e Dora Pellegrino reaparece como Assistente de Direção. A trilha sonora é de Rodrigo Braga, e o "Funk da Barata", dançado por Claudia Mauro, é de autoria de Liah Soares e Guilherme Fiuza. Preparação vocal Rose Gonçalves. Assessoria de Imprensa,  Minas de Ideias.                      

 

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