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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

NO SE PUEDE VIVIR SIN AMOR

Nara Keiserman em No se puede VIVIR sin amor, de Caio Fernando Abreu (foto Demétrio Nicolau).   
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     Em cartaz no SESC Copa, na sala multiuso, um espetáculo de bolso dirigido por Demétrio Nicolau e interpretado por Nara Keiserman: No se puede VIVIR sin amor. São reminiscências de pensamentos e historias de Caio Fernando Abreu. Nunca tínhamos visto Nara em solo, conhecíamos, por fama, a sua maneira de trabalhar com os atores, seu método de sensibilização do ator. Tivemos ocasião de constatar, no início de espetáculo, o quão aprofundada e bem sucedida é esta sensibilização. Nos primeiros minutos do espetáculo Nara apresenta seu método, e é algo como um ritual. Sua respiração, teste de alcance de voz, expressão corporal, nos levam a certeza que vamos assistir a algo de qualidade. Sim, porque, desde os primeiros momentos de tal sinalização, Nara nos prepara para o que virá depois.
     Nara Keiserman possui um misto de agressividade e doçura, na vida e no palco. Esta criatura espiritualizada possui um apelo que atua como um imã, e sua doce força se desenvolve no palco. Trata-se de um espetáculo simples, despretensioso, e seu encanto esta precisamente nesta simplicidade, e na atuação de Nara. São várias histórias e excertos de contos, cartas, diários, que vão sendo narrados. E nos surpreende, do ponto de vista da autoria, como Caio Fernando Abreu possui esta rara habilidade para desenvolver o pensamento da mulher.
     Há surpreendentes monólogos, escritos por Caio e colocados em cena por Nara, como o episódio da loura "enxuta e gostosa", a mulher de trinta que transforma Naira Keiserman em uma bacante. É uma delícia ver as mudanças da atriz, e a iluminação (Demétrio Nicolau), se alternando a cada movimentação de cena, e dando dinamismo ao espetáculo.
     Vemos que atriz e diretor não resistem à tentação de transformar o espetáculo em um depoimento pessoal, e emotivo, narrando os últimos momentos de Caio Fernando. Talvez sejam estes momentos os que menos somam ao inesperado das cenas, porém eles se alternam com o que poderíamos chamar "o conto feliz" imaginado pelo autor, onde tudo dá certo.
     Nunca tínhamos visto Nara Keiserman em cena. Revela-se uma atriz de recursos admiráveis, uma espécie de Annie Girardoux madura, com uma força e delicadeza ancestrais. Nara é uma, e são muitas. Vale a pena assistir a esta atriz/mulher. A dramaturgia também é de Nara. Cartas carinhosas de Caio Fernando Abreu, dirigidas a ela e ao se ex-companheiro, o ator Jose de Abreu; ou mesmo a carta em que Abreu, (Caio),  agradece a montagem de Morangos Mofados, por ela realizada ainda em seus tempos de Porto Alegre. Sim, porque Nara Keiserman é gaúcha, e começou seu teatro no Grupo de Teatro Província, em Porto Alegre; no Rio trabalhou com Luiz Artur Nunes, no Núcleo Carioca de Teatro. Agora ela pertence ao grupo Atores Rapsodos.
     O que mais impressiona nesta atriz é a serenidade. E a busca de seu talento. Busca e encontro plenamente realizados. Ah! Íamos esquecendo: Nara cantora. O feitiço pela Bahia - de Caio e da atriz? - são representados pelas canções e citações gestuais de festas baianas. O figurino, branco, saia longa, é de Carlos Alberto Nunes. A Bahia representada? O Cenário, também de Nunes, é uma espécie de camarim improvisado, e palco nu. O "caminho das estrelas" o faz Nicolau com a luz. Diz Nara, deixando claro a espiritualidade que a habita: " a especialidade, concebida por Demetrio Nicolau, forma uma estrela de seis pontas. Considerando o centro, são os sete Chakras. Defini o lugar onde faço cada texto de acordo com o que considero ser seu tema (...) em associação com as características dos Chackras." Orientação musical Alba Lírio; Produção: Natasha Corbelino; Assessoria de Imprensa: Sheila Gomes.

Não perca esta oportunidade de se emocionar com este No se puede VIVIR sin amor.                                                                                       

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