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sexta-feira, 6 de março de 2015

UM ESTRANHO NO NINHO

Elenco de "Um Estranho no Ninho", direção Bruce Gomlevsky.
Da esquerda para a direita: Charles Asevedo (Chefe Brodem), Helena Varvaki (Enfermeira 
Ratched), Vitor Thiré (Billy Bibbit), Tatsu Carvalho (R.P.McMurphy),  Julio Prata (Ruckley), Marcelo Morato (Cheswick),  Ricardo Ventura (Scalon), Felipe Martins (Dale Harding) 
e José Guilherme Guimarães (Martini).  (Foto Felipe Diniz).
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     
     Rio de Janeiro, Teatro do Centro Cultural da Justiça Federal, mês de março de 2015, em cartaz, encenada pela primeira vez no Brasil, "Um Estranho no Ninho", adaptação para teatro feita por Dale Wasserman, do romance de Ken Kasey. É quase impossível fazer uma crítica a "Um Estranho no Ninho" sem cair na pergunta: por que este tema, se os manicômios já  resolveram todos os problemas dos esquizofrênicos, e Cia.? Porém, assistindo a este "Estranho" tão próximo a nós, vamos percebendo que todos os problemas estão aí e ainda  envolvem "aquele" problema: o financeiro. Trata-se de pessoas que possuem famílias que lhes proporciona(va)m, através de taxas e cooperações, a possível vida daqueles "métodos  científicos". Sabemos que, ainda em nossos dias, camuflados atrás das portas secretas dos hospitais, qualquer hospital, há o tratamento doente dado aos doentes... e a maneira de perpetuá-lo é justamente através da experiência dos "métodos científicos" e do dinheiro. Ninguém sabe nada de nada. 


     Pois bem: o pobre Mc Murphy, personagem inquieta que se julga muito esperto, resolve, para evitar a cadeia, passar o seu tempo de retenção em um asilo de loucos. Em outras palavras: resolve passar por louco. Acontece que ele é um lúcido que percebe, imediatamente, a fraude que sustenta a organização psiquiátrica. E aí começam os seus problemas. Claro que não vamos narrar a historia, mas nos perguntar por que Ken Kasey vai, aos poucos, se tornando tão... atual! A verdade é que nada mudou, desde os tempos não muito remotos de Kasey - dos beatniks e dos hippies - e Dale  Wasserman  até nossos dias "medievais". Há algo que não pode ser solucionado: o ser humano. Sim, aquele mesmo, o "ser" inviável. Deixemos as conclusões para quem vai assistir a peça. 

     São dezesseis atores dividindo, com talento, o palco. O "morceau de bravure" que é o espetáculo deve-se ao diretor Bruce Gomlevsky. Como não sabemos o tempo que foi necessário para erguer este trabalho, chegamos à conclusão de que os atores foram escolhidos com muito cuidado, pois a intervenção precisa, ajustada ao tempo do drama, só se consegue com atores muito especiais.

    Não há destaques, mas frases que se destacam, como as de Mc Murphy, no que se refere a cada um de seus companheiros - Mc é um "ser humano viável" - fazendo-os perceber, através da ação e da palavra, a força que cada um possui. Trata-se de um "forte". (Tatsu Carvalho (Mc Murphy), é um ator surpreendente). Também é surpreendente o inesperado discurso racional - e intelectual - de Dale Harding, o personagem interpretado por Felipe Martins. Harding nos brinda com seguras, e às vezes bem humoradas observações, principalmente quando se refere às semelhanças dos pacientes com os personagens de Kafka ou Mark Twain (não esquecendo que há um adolescente entre eles, interpretado por Vitor Thiré, uma revelação). Temos vontade de estrangular a enfermeira Miss Ratched (uma terrível Helena Varvaki!), e temer a propositada "contenção" do especialista em almas humanas Dr. Spivey (Isaac Bardavid). Charles Asevedo, como o índio - ou o que foi um dia um índio - o Chefe Bromden, a mais impressionante testemunha do que pode fazer um ser humano com seu semelhante, principalmente quando ele é o "diferente". Enfim, esta peça é uma construção de estímulos e respostas (pavlovianos?) aos que podem ser julgados "os mais fracos". Mas nem sempre eles são os perdedores.  

     Há ainda o desempenho das duas "amigas" de Mc Murphy, interpretando mulheres livres - e belas - como Candy Starr e Sandra, (Hylka Maria e Tatiana Muniz). E os loucos convincentes interpretados por Junior Prata, Marcelo Morato, Ricardo Ventura, e Zé Guilherme Guimarães, em trabalhos marcantes. A assistente da enfermagem, Srta. Flinn, interpretada por Lorena Sá Ribeiro, é justamente o coração tumultuado que se espera de uma assistente de enfermagem numa casa de loucos. Há ainda os auxiliares, Warren, Williams e Turkle (Ricardo Lopes, Rafael Oliveira e Henrique Gottardo), passiveis de corrupção. Esta peça conta com o cenário de Pati Faedo, onde tudo é muito bem resolvido, onde tudo é essencial. Na iluminação:  efeitos de luz muito acertados de Elisa Tandeta. A trilha original resgata músicas agitadas, e estrondosos efeitos de ambientação: um trabalho de Mauro Berman. Ainda os figurinos corretos (sem exageros), de Alessandra Padilha e Jerry Rodrigues. O visagismo é de Uirande Holanda.

Ficha técnica: uma peça de Dale Wasserman, baseada no romance de Ken Kesey, tradução de Ricardo Ventura; direção Bruce Gomlevsky; Assistente de Direção: Lorena Sá Ribeiro; Direção de Produção: Rafael Fleury e Tatsu Carvalho; Cenário (incrível!) de Pati Faedo; Iluminação: Elise Tandeta; Figurinos: Alessandra Padilha e Jerry Rodrigues; Fotos de Felipe Diniz. Assessoria de Imprensa Lu Nabuco.  Trata-se de um trabalho extremamente profissional.
VALE CONFERIR ESTA SELVAGEM EXPERIENCIA!  
          
               



          
                
          
               

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