Páginas

sábado, 11 de julho de 2015

A VISITA DA VELHA SENHORA - SEGUNDA PARTE

Maria Adélia em "A Visita da Velha Senhora", de Friedrich Dürrenmatt, direção Silvia Monte.
                                                     "A entrega do Cheque" (foto divulgação)


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

     Em cartaz até o final de julho, "A Visita da Velha Senhora", de Dürrenmatt, direção Silvia Monte, tradução Mario da Silva, no Centro Cultural do Poder Judiciario (CCPJ-Rio). Volto ao assunto para observar como podem os grandes textos ter interpretações as mais variadas. No caso, e esta é a segunda vez que assisto ao espetáculo, foram para mim duas diferentes leituras. Na primeira, registro o poder do dinheiro enquanto corruptor. Nesta segunda, procuro entender a mulher ferida em seu amor.    
   
     Dessa vez, a historia contada por Dürrenmatt emerge do ponto de vista da jovem Clara. Abandonada por seu primeiro amor, ela se transforma na vingativa Sra. Zahanassian, viúva de um milionario que a ensinou a ver o mundo com outros olhos, os da vingança. Magnificamente interpretada por Maria Adelia (sua atuação é digna de prêmio), a mulher vingativa deixa transparecer, no derradeiro encontro com o amado Schill que a recusou quando jovem (o também excelente Marcos Ácher), o seu grande e frustrado amor. É a cena final entre os dois, e sua carga dramática é sustentada por recordações que esclarecem e confrontam os dois pontos de vista. O Sr. Schill sente-se culpado e a Sra. Zahanassian ironiza, com força sutil, o seu grande e juvenil amor. Podemos nos emocionar, mas também podemos sorrir de tanto desencanto. E, a seguir, o "extremamente errado" acontece.

     Através da motivação da jovem Clara podemos ver esta peça com outros olhos. Antes, o que nos parecia um "exagero de maldade" agora se torna compreensível, ainda que não recomendável... Afinal, podemos dizer que a técnica do autor suíço é a de uma historia policial, pois os pontos escuros da jovem Clara vão sendo colocados, e a vingança, esclarecida no final, torna-se suportável.
     Dürrenmatt, fiel ao seu ponto de vista sobre a vida, registra: "um historia não está terminada até que algo tenha dado extremamente errado", ou algo assim. No caso, o algo "extremamente errado" pode ter sido o início da historia de Clara - que resulta no terrível fim do espetáculo. A vingança da jovem Claire é exemplar. Traduzindo: esta segunda leitura nos faz entender melhor a diabólica Sra. Claire Zahanassian e seus 10 maridos, sua imensa fortuna, etc, etc, etc. Sua amargura acaba sendo megalomaniacamente divertida! Dürrenmatt, como podemos perceber, zomba da sociedade e a despe de toda a caridade hipócrita que ela ostenta, fazendo-a jogar o jogo da verdade. 
   
     O elenco é formado por grandes atores, além dos acima citados. Registramos o desempenho magnífico de Eduardo Rieche, como o Professor indignado; Yashar Zambuzzi, o Prefeito e sua ironia; o Páraco de Paulo Japiassú, e sua hipocrisia. Anita Terrana, uma Sra. Schill que se modifica, conforme o desenvolvimento de seu poder financeiro. Excelente. Os filhos interesseiros, interpretados belamente por Laura Nielsen e Antonio Alves. André Franzi, Pedro Messina e Pedro Lamin têm presenças marcantes. O elenco é de primeira grandeza, assim como a sua ficha técnica: Cenário de José Dias e figurinos de Pedro Sayad. Iluminação de Elisa Tandeta e Projeções de JP Andrade. O espetáculo é um acerto só.
NÃO PERCAM ESTA GRANDE OPORTUNIDADE DE ASSISTIR A UM DE NOSSOS  MAIORES  DRAMATURGOS: FRIEDRICH DÜRRENMATT.   



Nenhum comentário:

Postar um comentário