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quinta-feira, 23 de julho de 2015

"Bruce" - Eu me recuso a abandonar meu romantismo.

Bruce Gomlevisky e banda, no show de lançamento do CD "Bruce" -  Eu me recuso a abandonar meu romantismo. (Foto Produção)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

MENINO MIMADO - o lado cruel do Romantismo.

     O diretor e ator Bruce Gomlevsky comemora os seus 20 anos de carreira... cantando! (Lembram Renato Russo?). Na verdade, a música é a sua mais antiga paixão. Menino, já dedilhava o seu violão e infernizava os vizinhos na bateria. Com o show "Eu me recuso a abandonar meu romantismo", lançando o seu primeiro CD, "Bruce", ele volta, malcriado como Tim Maia, e romântico como Roberto Carlos. Duas semelhanças: a primeira pela irreverência vocabular, a segunda pelo som metálico de sua voz. Devemos admitir que a de Bruce soa muito mais metálica do que a de Roberto Carlos, querendo às vezes concorrer com os metais da banda. Aliás, os músicos que o acompanham neste lançamento do CD, no Theatro NET, são um espetáculo à parte.    

     Em um palco tomado por "spots" poderosos e muito claro/escuro, temos, no baixo e comandando o espetáculo, Mauro Berman (que também produz o CD, gravado e mixado por Alexandre Griva); na bateria Lourenço Monteiro; Sergio Yazbek na guitarra e violão; Humberto Barros, no teclado; Sidinho Moreira, na percussão; Marlon Sette, no trombone; Zé Carlos Bigorna, sax tenor e sax barítono; José Arimeteia, no trompete. Como podemos ver, tudo nos leva a uma superprodução. Há três "backing vocals", ótimas: Lilian Valeska, Evelyn Castro e Letícia Pedroza. E o músico Marcelo Alonso Neves fazendo os arranjos de metais para A Atriz, À Sua Frieza, Você é tudo o que eu sempre quis, e Ame, Dance, Ria (I Am Dancing Here). A voz metálica de Bruce Gomlevsky se une aos instrumentos. E o cantor também  faz seus números com o violão.

     Acontece que Bruce também é poeta. Talvez, por pura teimosia, ou por ser um "menino mimado" (das artes), Gomlevsky se excede. Tudo bem, não podemos esquecer que Bruce também é ator.

     É possível perceber, na noite do lançamento do CD, que os muito jovens se divertem com as agruras da vida de Bruce, e dançam arrebatados com o som da banda. Suspeitamos que é justamente isso o que o cantor/ator quer.  

     Mas por que Bruce Gomlevsky lançou este CD? Diz ele que é assim, excessivo, porque é Escorpião com Escorpião, mas o seu "adolescer" é antigo... e estável. Ele canta: "Vago pela noite me arrastando/ Como um qualquer/ Sofrer de amor é minha sina/ Sempre foi assim com toda mulher// Ou: "Eu queria te pedir desculpas/ Eu nunca quis te machucar/ Eu queria te pedir desculpas/ Eu nunca quis te fazer chorar// "Queria aprender a ser mais gentil/ Preciso parar de ser tão infantil/ Queria perder o medo do escuro/ Preciso parar de ser tão inseguro// 

     Mas em vários momentos o poeta se manifesta: "Sua doçura me encanta/ O seu sorriso me ilumina/ Sua beleza me espanta/ Sua alegria sempre me contamina" ("Você é tudo o que eu sempre quis", talvez a melhor poesia do CD). Esta mulher já foi cantada, em outros versos, nada menos do que por Puskin!, porém em outro compasso: "Recordo o luminoso instante/ quando eu, tomado de surpresa,/ te vi: súbita imagem, diante/ de mim, da essência da beleza". ("Para***").

     E Bruce canta: "Acordei com seu nome/ Na minha cabeça/ Insistente, incansável/ Como o meu coração".  

      São 12 músicas falando sobre o mesmo tema: o misterioso acontecimento do amor. Mas quando chegamos na 9ª música, "Cansei", pensamos: 'agora ele vai mudar o tom'. Qual, o tom não muda, e Gomlevsky até se ajoelha, no palco, suplicando pelo seu amor perdido. Percebe-se que a inspiração não é ficção, ele está trabalhando uma perda. Mas isso é ser "romântico"? Ser romântico é rasgar a alma, só que "no tempo dos "românticos", eles se matavam de amor... Bruce morre um pouco, todos os dias, e optou por uma saída irônica, no final do espetáculo, convidando a platéia para dançar, com "Ame, Dance, Ria" - e confessa "I Am Dancing Here". E ri muito... Como o ator sabe que o sublime anda de mãos dadas com o ridículo, ele optou pela  ironia.  

    E o "menino" se entrega, confiando no amor da plateia: "Ela joga comigo/ Porque me tem na mão// Ela me provoca/ Porque sabe que eu perco a razão// Ela adora me fazer ciúme/ E sempre me culpa pela sua insatisfação// (e complementa com o refrão): "Não sei mais o que fazer/ Pra te fazer feliz/ É melhor tomar cuidado/ Quando se envolver com alguma atriz//

     Ou: "Eu não sei viver sem você/ Nunca amei ninguém tanto assim/ Mesmo se te amar é sofrer/ Pior é você longe de mim// (...) Ou: "O que pra você é altura/ Pra mim é o chão/ (...) "O que pra você é rancor pra mim é só uma canção//

    Como podemos perceber, faltou "sintonia" em seu amor. Na noite do Theatro NET também faltou sintonia, dessa vez com o som, no início do espetáculo. O diretor musical do "show", Mauro Berman, não foi perfeito ao equalizar a complicada aparelhagem, e as três primeiras intervenções de Bruce foram ultrapassadas pelo poderoso som do rock: não se ouvia a sua voz. Atordoado, o público gritava: "Muito alto!" "Muito alto!". Queixavam-se do som. Finalmente, quando o cantor se dirige à plateia (e o faz como um bom "entertainer"), a situação se resolve.  

     A Produção do CD é de Mauro Berman; seu design é de Mauricio Grecco e 
Lygia Santiago, e a foto de capa de Vivian Golombeck. Todos assessorados pela competente dupla de comunicadores, João Pontes e Stella Stephany.    
        
                 MESMO COM TODA ESSA CONFUSÃO MODERNA,  AS BELAS   MULHERES 
                 CONTINUAM  INSPIRANDO  OS  POETAS

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