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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

"EL PÂNICO"

Elenco de "El Pânico", de Rafael Spregelburd, direção Ivan Sugahara.
(Foto Felipe Pilotto) 


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)

     "El Pânico" está em cartaz no Espaço SESC Copacabana, Rio de Janeiro,  até o dia 29 de novembro. Fomos assistir a esta divertida comedia "de horror" escrita pelo argentino Rafael Spregelburd - em boa hora traduzida para o "portunhol" por Diego de Angeli - dirigida por Ivan Sugahara! Este surpreendente diretor continua a sua experiência com a linguagem, começada com "Beija-me como nos livros", onde os atores falavam uma espécie de "esperanto", com todas as misturas de luso-inglês-alemão que lhe corresponde.
     Agora, neste "El Pânico", além de seus atores falarem "o espanhol do Sul do Brasil" (na fronteira entre Uruguai e Argentina fala-se justamente o portunhol!), a força transformadora que os cerca torna os atores irreconhecíveis. Debora Lamm é um exemplo, revelando-se uma atriz solta e "maluca", em sua comicidade, inaugurando um novo estilo de representação, com a sua bailarina "linguagem Pina Bausch". Aliás, a cena com a coreógrafa Elyse, interpretada por Suzana Nascimento, foi a primeira grande gargalhada geral. Lamm, em outras personagens que interpreta, como a "Terapeuta", mostra que  está se libertando de sua "marcante" personalidade de atriz, para se tornar uma comediante de primeiro time.
     E Lamm não é o único caso. Paulo Verlings está irreconhecível (e muito engraçado) em seu Guido Sosa, o filho inseguro. Kelzy Ecard, a mãe, desfalece de singularidade em sua atuação extrovertida.  A vidente Susana Lastri, também interpretada por Suzana Nascimento; ou Marcio Machado, o personagem "flou", o Emilio, são  exemplos de comedia macabra. O espetáculo nos delicia com ações inesperadas, forças do além, atos irracionais... como os da vidente, e o ritmo enlouquecido que desencadeia. O misterioso palco de "luz e sombra"  conta, através de mímica e sons, o que se passa em outro plano da ação. O cenário é muito bom, marcando o encontro entre o  real e o imaginário, onde tudo pode acontecer. Destaque para a reprodução do homem assassinado, seu vulto desenhado no chão, e a reprodução do mesmo no gesto no fantasma, dando a dica de que "ele" não pertence mais ao mundo dos vivos...
     "El Pânico" é um banquete completo para quem aprecia uma boa comedia. E tem um tempero extra, que é a criatividade do ator. A ação se passa em torno da procura da chave de um cofre onde o morto deixou a sua fortuna. Nessa historia central tomam carona "problemas imobiliários", intervenções da polícia, e tudo o mais que traz a ação para os nossos dias... embora os figurinos sejam dos anos 80 -  para o diretor, anos tétricos!                
     No elenco, além dos já citados, temos Julia Marini, interpretando Rosa Lozano, Marcia e Úrsula. E Thais Vaz (Dudi e Melina Trelles) e Pâmela Côto interpretando Regina e Betiana Garcia. Elisa Pinheiro é Jéssica Sosa (o terceiro membro da família enlutada). Sobre os mortos, o autor se pronuncia: eles ... " têm terror desse momento nefasto de lucidez em que entendem que estão mortos".
     "El Pânico" estréia no Brasil com sucesso, mas Spregelburd é mundialmente reconhecido como um fenômeno de autor, ator e diretor. Nascido nos anos 70, representa um dos mais modernos dramaturgos da arte teatral argentina. Sugahara já o montou em 2011, dirigindo "A Estupidez", o primeiro dos 7 pecados capitais "contemporâneos" ao qual o diretor carioca não resistiu encenar. Os outros seis seriam: Teimosia, Extravagância, Paranóia, Modestia, Inapetência e "Pânico"!  Este último nos é "apresentado", agora, em nossa vida real. Eis o mais recente  acontecimento argentino para as artes cênicas, acrescentado de uma certa filosofia "almodovariana" do espetáculo. VALE ASSISTIR!       

     Na ficha técnica temos os figurinos marcantes de Joana Lima; cenário muitíssimo criativo de André Sanches; Iluminação (mestre de sombra e luz) Aurelio de Simoni; Trilha sonora, Ivan Sugahara e Beatriz Bertu (que também é assistente de direção); Direção de movimento da grande Duda Maia; Preparação vocal, Ricardo Góes. Assistência de Idioma, Florencia Santángelo; Visagismo, Josef Chasilew. Vozes em off dos amigos Leonardo Paixão, Isaac Bernat, Gilberto Lamm e Letícia Isnard; Assessoria de Imprensa: JS Pontes.              

4 comentários:

  1. Lendo a tua crítica me deu vontade de vir !!!!

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  2. Sua críticas são pró-teatro e dança! John Martin teve papel preponderante nos Estados Unidos, ao entender que a crítica também pode ter este papel de estimular a ver e, na verdade, ela fica mais aguda e mais importante quando parceira das artes. Quero ir ver!:-)

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  3. Amei a sua observação. Sim, minhas críticas são parceiras das artes!

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