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sábado, 28 de novembro de 2015

"RIO, HISTORIAS ALÉM DO MAR"

"Rio, Historias Além do Mar" - Roteiro e Direção Claudio Mendes. Acima fotos e desenho sobre o espetáculo. Note-se o "Crioulo Doido" de face branca, em destaque na foto central. Na última foto ele está sentado, bem quietinho (coisa rara, no espetáculo), a um canto da cena, já com a face negra que assume no espetáculo. Na foto maior, da esquerda para a direita: Valdir Ribeiro, Pedro Castro, Gilberto Vieira, Romney Lima, André Mendes, Denis Lopes e Gustavo Arthiddoro. (Fotos Divulgação)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

     Todo carioca (e não carioca) que se preze, deve assistir "Rio, Historias Além do Mar", em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), da Av. Rio Branco, em cartaz até o dia 20 de dezembro. Que Rio de Janeiro mais lindo e mais poético! Mas estou metida em "camisa de onze varas", pois esse espetáculo musical tem como narrador o 'Crioulo Doido', do Stanislaw Ponte Preta, o nosso conhecido jornalista Sergio Porto. Acontece que o crioulo é um branco pintado de negro! Não se pode dizer que a produção não tentou remediar a situação, pintando o crioulo com "talco Johnson", para ele ficar branquinho (veja fotos). Não deu certo, claro, não tinha nada a ver. Mas o excelente ator Gustavo Arthiddoro (viram o nome? "arthi" e "ddoro") tão talentoso, passou por cima de todos os problemas, pois talento é talento, e ficou negro, pois é de ouro, mesmo, a sua arte.
     Pois bem, a brincadeira com a cor vem bem, cabe! - e, por favor, não interpretem mal o pessoal do espetáculo, pois ele é divino! Quem organiza (e cria), é o 'Grupo Historia Através da Música'. É tão bom assisti-los, que a gente não quer que acabe nunca mais. Tudo dirigido por Claudio Mendes. O espetáculo tem início com a "fofa" da Nara Leão cantando "Fale de mim quem quiser falar", lembrando o show "Opinião" e as "remoções", e também comemorando (com certeza) a resistência dos moradores do morro da Favela, local historico da chegada dos "da baixa patente do Exército" (segundo o Crioulo Doido), os soldados "desrecrutados" da guerra de Canudos, quase todos negros que ficaram ao Deus dará. E Nara canta: "daqui eu não saio não..."  
      A Historia fala também nos criadores do morro do Querosene, e dos famosos morros de Portela e Salgueiro, e principalmente, o do Livramento (o morro de Machado de Assis, pois não?), um dos locais onde tudo começou. E como "Historias..."  é uma comemoração do Rio de Janeiro do samba - e outras bossas -  a favela está sempre presente. Aliás, é nesse cenário que o espetáculo se desenvolve, e a cenografia, de primeira, é do artista Vladimir Valente. Não falta detalhe algum, e nos sentimos no meio daquela "bagunça organizada" que é (era?) o aconchego da favela. No palco, bem no centro de tudo, os músicos André Mendes, no violão de 7 cordas e nos arranjos. André canta, interpretando ou puxando a maioria das músicas Ele possui uma voz suave e ritmada, e muita musicalidade. Um assombro. Romney Lima (o filho da D. Joana, que acompanha vivamente o espetáculo!), acompanha as músicas em seu cavaquinho (e voz). Romney também faz parte da pesquisa histórica, com Gilberto Vieira, professor de Historia da UFRJ, que também toca (e muito bem) o seu violão de 7 cordas, a flauta, e faz, às vezes, o acompanhamento de voz. Os  arranjos também são dele, com André Mendes e Denis Lopes, que também toca o bandolim. 
     E há Pedro Castro, acompanha Valdir Ribeiro, na percussão. É um grupo de excelentes músicos, coroados pela presença de "Seu" Valdir, com seu cabelo rastafari e seu passo de bamba. Ele dá um discreto show como passista, acompanhado, é claro, pelo Crioulo Doido Arthiddoro. Um show à parte. Gustavo Anthiddoro também é um excelente frasista, e contador de "causos". Destaque merecido para este ator.
     A narrativa de historias de "além do mar" mistura Maria Leopoldina com Madame Satã... e também nos traz de volta a alma do Rio Antigo. Não  esquecer que o espetáculo registra a infeliz derrubada do Morro do Castelo, na qual foi junto "o marco da fundação da cidade", o Colégio dos Jesuítas. Neste sentido - mas só neste sentido- São Paulo ganhou de nós. Mas, em contrapartida, temos a saudação de Manuel Bandeira ao Sinhô, o Rei do Samba... e a comemoração dos 100 anos de nascimento (18 de outubro de 1915), de Grande Otelo! E... para se alegrar é só cantar, com os sambistas: "nasci com a sina da cigarra, aonde eu chegar tem farra".
     É essa mistura do "sagrado e do profano", cantada por Fernanda Abreu. E muitos outros cantores, e compositores, são cantados! Raul Seixas, João Bosco, Paulo Cesar Pinheiro: "Nomes de favelas", um ponto alto do espetáculo. Noel Rosa... e muitos outros poetas /sambistas do Rio. Clementina de Jesus! Candeia... Mas vamos parar por aí. O roteiro do espetáculo e a direção geral está nas mãos de Claudio Mendes. A seleção das músicas (e dos compositores) também é de primeira. Temos  "Yaô", de Pixinguinha e Gastão Vianna; "Favela", de Padeirinho e Jorge Peçanha; "Praça Onze", de Herivelto Martins e Grande Otelo; "A voz do morro", de Geraldo Pereira e Moreira da Silva, e por aí vai! Insisto, os cariocas, e até os não cariocas (principalmente!) não devem perder essas Historias...  Passamos a entender o gostinho de ser carioca vendo o Rio de Janeiro, de verdade. Trata-se - e é essa a intenção - de uma verdadeira aula sobre o samba e seus bambas!

     Na iluminação, Robson Cruz. Audiovisual, Flavio Cysne. Consultoria Acadêmica: Professora Marieta de Moraes Ferreira. Produção Executiva: André Dinis; Assessoria de Imprensa: Mais e Melhores Produções Artísticas. Não percam! EVOÉ!  

Um comentário:

  1. Analise crítica precisa dentro de uma visão resumida do que é o Histórias...
    Parabéns Ida pelas pontuais observações. Recomendo esse espetáculo também para os cariocas e "não" cariocas, uma outra visão verdadeira e resumida do meu Rio de Janeiro.

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