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domingo, 8 de maio de 2016

"A OUTRA CASA"

"A OUTRA CASA", texto Sharr White, direção Manoel Prazeres. 'Cena final: A Aceitação', com Gabriela Munhoz (A Mulher) e Helena Varvaki (Juliana). (Foto Guido Argel)

                        IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     "A  OUTRA  CASA", atualmente em cartaz no Teatro Cândido Mendes, é uma peça densa, de difícil tema e acompanhamento, daí seu fascínio. Não é usual enfrentarmos, no palco, esse tipo de problema: 'os impasses do cérebro humano'. Eles são muitos, e um deles, preocupante, é o caso da "dementia praecox", ou, em nome menos latino, o caso, onde se misturam demência e esquizofrenia - o "grand complet". O que leva um diretor de nome tão belamente adjetivado a se debruçar sobre um caso tão ... sombrio? Um desafio? Sim. O diretor Manoel Prazeres declara ser essa uma tentativa sua de entender cenas familiares do passado. O autor norte-americano Sharr White, ao escrever essa peça,  possivelmente estava com os olhos voltados para Hollywood, e seu Oscar, pois o tema abordado é digno de tal façanha: e pode laurear autor e também a atriz que estiver disposta a interpretar Juliana. Mas não sejamos amargos, o que podemos presenciar, no palco, é uma sucessão de cenas em que os desvios de uma mente doentia nos transportam para o desconhecido. Para contar essa historia contamos com o ator Marcos França, que possui o dom de tornar sérias e irônicas as frases que pronuncia. O seu Dr. Ian possui a seriedade e bonomia que o diretor "descobriu" para ele. Sim, porque, ao mesmo tempo que o texto proporciona à competente atriz Helena Varvaki toda a gama de emoções que ela sabe possuir, o elenco com quem pode jogar a angústia, alegria, raiva e amor de seu personagem, deve estar a altura de tal façanha.
     "A OUTRA CASA" dá-nos a oportunidade de entrarmos em um mundo "em degeneração". Entretanto, há algo que o autor e o diretor enfatizam, dando à Juliana/Varvaki um 'meio caminho' para a sua mente doente, fazendo-a não se entregar totalmente ao processo de degeneração iniciado. Essa é  uma bela surpresa da peça, e uma respiração e esperança, pois os mistérios da mente ainda são insondáveis.
       A atriz Gabriela Munhoz surpreende como "A Mulher" que tem a "outra casa" invadida por uma demente, revela-se uma comediante segura, de grande sutileza e comunicação com o público. Gabriela Munhoz interpreta ainda a  terapeuta e a filha adolescente de Juliana. Daniel Orlean fica com um compromisso de, perante a cena, representar "O Homem" que, eventualmente, invade o mundo de Juliana. (Daniel Orlean também é o assistente de direção de Prazeres).
     O diretor ousou, como recurso para contar a historia de Juliana, lançar projeções que cortam o procedimento da esquizofrênica Juliana, projeções nas quais ela esclarece, ou tenta esclarecer para si mesma, o seu procedimento. Enfim, trata-se de uma historia contada de maneira fragmentada e (difícil de acreditar), tal narrativa possui um olhar otimista para o futuro, principalmente em seu final. Na verdade, o que autor e o diretor parecem nos dizer, é que o futuro não existe.
     Na ficha técnica temos, além dos já citados, a tradução de Diego Teza; cenografia (palco limpo, com projeções), de Doris Rollember e iluminação de Renato Machado (o iluminador que dá vida à luz). Figurinos reproduzindo o cotidiano do século XXI (sem exageros), de Leticia Ponzi. A trilha sonora é de Rick Yates e Renato Alscher. Direção de vídeo de Rodrigo Turazzi, com assistência de Duda Paiva. Fotos, Guido Argel; Divulgação, Lu Nabuco. "A OUTRA CASA" é um espetáculo "que deve ser recomendado para maiores de 18 anos", que possuam "nervos de aço"! NÃO PERCAM!

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