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quinta-feira, 7 de julho de 2016

"NÓS"

Elenco "Nós" e seus instrumentos musicais.
(Foto Cristina Granato) 


IDA VICENZIA
(da  Associação Internacional de Críticos de Teatro  - AICT)
(Especial)
"NÓS"
     O diretor Marcio Abreu, da companhia brasileira de teatro, com sede em Curitiba, está atualmente em cartaz, no Rio de Janeiro  com dois espetáculos: "Krum", de sua própria companhia, e  "Nós", espetáculo que ele dirige para o Grupo Galpão, de Belo Horizonte. Fomos assistir "Nós", e saímos impactados. Podemos constatar uma cumplicidade total entre os atores e o público, coisa de vida vivida! Como é bom ver um assunto que nos interessa tanto (a vida) se desenvolver diante de nossos olhos, sem pretensão de dar ensinamentos ou desenvolver pregação; somente  comentando, e o público constatando.

     É  bom ver um trabalho inteligente e sem "star sistem" (desculpem). No elenco, todos e cada um dos atores é essencial, neste jogo de comentar a vida, e aceitá-la como ela se apresenta, ou não. O fato é que o desafio nos pega, e, de repente somos confrontados com o nosso presente. Tudo enquanto os participantes ("Nós") preparam uma sopa, que, aliás, é muito gostosa (quem a provou pode confirmar). Mas fomos confirmar o atual trabalho do Galpão, dirigido por Marcio Abreu.

     Este diretor, carioca porém eclético, diz gostar de abismos. De fato, estamos o tempo todo à beira do abismo, neste espetáculo, confrontados com diferenças que nos levam a extremos, dentro de nosso presente. Assim, testemunhamos violência, preconceito, amor, amizade, tudo misturado, como é natural em nossa vida. A destacar vários momentos: há uma verdadeira homenagem a Teuda Bara, atriz que mantém vivo o nome do Grupo, tornando-o inesquecível, desde sua interpretação de Ama, em "Romeu e Julieta". Um destaque, pois. A simplicidade com que ela torna  possível enfrentar tantas coisas da vida - como amor e desamor, rejeição e acolhida, compreensão e incompreensão. Porém há destaques o tempo todo, tornando o espetáculo uma experiência renovadora, em termos teatrais.

     Assim, em cena Eduardo Moreira, que também colabora com Marcio Abreu  na organização do texto. Ou Julio Maciel, ou Chico Pelúcio. São sete atores comentando os últimos acontecimentos que abalam a todos nós, brasileiros. Além dos já citados, estão em cena Inês Peixoto, Antonio Edson, Beto Franco, Simone Ordones, Paulo André, Lydia Del Picchia, Arildo de Barros, Fernanda Vianna. A análise do texto é perfeita, inclusive em termos da "roleta histórica", que sempre faz o jogo retornar. Este retorno é realizado com transparência pelo elenco.

     A cenografia é um espetáculo à parte. Marcelo Alvarenga, da Play Arquitetura, conseguiu algo fascinante, com seus vários planos e espelhos que tornam a superfície do palco algo incerto, representando assim a incerteza desestabilizadora de nossa vida. Os figurinos de Paulo André jogam com o cotidiano. E a iluminação complementa as incertezas do cenário: um jogo duplo. Os efeitos sonoros de Felipe Storino são complementares e essenciais.  


     O espetáculo de Marcio Abreu é tão envolvente que os cinco sentidos não são suficientes para capturar tudo o que está acontecendo. Voltamos ao inicio destes comentários, quando dizemos que o espetáculo nos deixou impactados. Sim, participamos de tal maneira, que só podemos, ao comentá-lo, mostrar o envolvimento que (quase) nos fez perder a capacidade critica: se é verdade que o teatro pode "mudar o mundo", como é o sonho de todo artista, podemos dizer que assistir "Nós" é uma experiência transformadora. Quem o assistiu nunca mais será igual. Experiências como esta são positivas e podem mudar a cabeça das pessoas. BRAVO!                  

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