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terça-feira, 19 de julho de 2016

"UM NOME PARA ROMEU E JULIETA"

Enquanto Romeu e Julieta são representados por atores fixos, outros quatro atores se revezam entre os personagens coadjuvantes (Foto: Divulgação/Anna Clara Carvalho)
"Um nome para Romeu e Julieta", direção Dani Lossant. Atores Diogo Liberano e Carolina Ferman, interpretando os apaixonados de Verona. (Foto Clara Carvalho)


IDA VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)

(Especial)


UM NOME PARA ROMEU E JULIETA  

   
     De repente aquela coisa toda de "desconstruir" Romeu e Julieta, os dois apaixonados de Verona. E o texto de Shakespeare vai se decompondo, atingido por um tom poético insuspeitado. Brinca-se com ele, e o resultado é a alegria do amor. Os dois não morrem, no final... eles simplesmente embarcam na "mortal loucura" que é o amor. Eis um bom título para a peça, já que somos desafiados a pensar em "Um nome para Romeu e Julieta".

     Puro desafio: alguém já havia pensando nisso antes ... Foi Gregorio de Mattos, possivelmente em outro contexto. "Eles": elenco, direção, adaptação e demais participantes do trabalho, apresentam-nos a música que tanto fica gravada em nossa sensibilidade. Ela é cantada por Letícia Novaes (gravação), arranjo e produção musical de Fabio Lima. A trilha original que sinaliza os movimentos dos atores e das sequências é de Luciano Corrêa.   
       
     Trata-se de uma montagem de Shakespeare por um grupo de atores que sempre têm algo novo para apresentar ao público. Dessa vez Diogo Liberano não está na direção, mas Dani Lossant, a iniciadora de todos os vôos, na UFRJ e na Uni Rio; trabalhou essa adaptação em 2006 com outros atores, e hoje também a dirige. Porém, há sempre "uma batalha renovada". Por que "batalha"? Quem faz teatro sabe o porquê dessa palavra.

     Vamos a ela: os elementos trabalhados são mínimos. Uma arena teatral, um retângulo iluminado que é 'chão e céu', local aonde os acontecimentos e os pensamentos se reúnem. Desafios. Durante o espetáculo as palavras vão sendo encontradas, e escritas, pelos atores... em algo que imaginamos ser a "desconstrução", em lama e pó, daqueles seres vivos. Ao finalizar o espetáculo percebemos que "elas", as palavras, nos contam historias... Olhem só que linda, uma das frases escritas no chão: "E de te amar assim muito e amiúde, é que um dia em teu corpo de repente hei de morrer de amar mais do que pude".   

     Frei Lourenço e o casal de adolescentes apaixonados carregam aquilo que será a sua perda: em uma das mãos o punhal, na outra, o veneno. É um jogo sutil e impressionante. Os duelos e as mortes são simplificados, e também os que levam a "mortes praticadas". Por Romeu, um exemplo - e são mortes caracterizadas, como a do "jogo do gato", quando o rompimento da  corda é o rompimento da vida. Não há necessidade de palavras.

    Alguns trajes localizam as personagens, principalmente as mulheres. Os homens em roupas cotidianas. Objetos de cena? Mínimos, como são mínimas as citações à tragédia que virá.  Entretanto, ao mencionar "palavras", o que temos é um jogo poético, criado pela própria equipe (Dani Lossant e Diogo Liberano - colaboração dramatúrgica), de uma beleza singela e esclarecedora. A historia dos apaixonados de Verona é contada em uma hora e trinta minutos, e o poeta inglês está contido nestes minutos.
     Olhem só: às vezes o texto nos traz lembranças do autor inglês; às vezes a poesia se iguala a dele, porém Dani e Diogo se encarregam "dela" (a poesia). Coisas de quem aprendeu a "jogar o jogo" e vencer a batalha!

     Pois temos Diogo Liberano e Carolina Ferman interpretando os enamorados; Morena Cattoni entre a serva amiga e a mamã; e todos os Capuletos e Montecchios que a historia tem direito, representados pelos bravos atores que seguram o ritmo acelerado da encenação, temos Marcio Machado interpretando os pais de Romeu e Julieta, e ainda Frei Lourenço. Machado o faz, sem perder o tom. Para ele tal façanha é um brinquedo, ator de presença forte que é. Os amigos e os primos estão presentes nos desempenhos de Andrêas Gatto e Daniel Chagas. Um elenco de bons atores.    
  
     O texto é adaptado de uma tradução de Onestaldo Pennafort. Na direção de movimento e preparação vocal temos, respectivamente, Nathália Mello e Verônica Machado. Figurinos de Luci Vilanova. Iluminação detalhada, fechando em cada assunto pertinente, de Daniela Sanchez. VALE Á PENA ASSISTIR.
                

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