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domingo, 6 de agosto de 2017

"PODEROSA VIDA NÃO ORGÂNICA QUE ESCAPA"

"PODEROSA VIDA NÃO ORGÂNICA QUE ESCAPA",
texto Diogo Liberano, direção Thaís Barros. Em cena Locatelli, Liberano e ....)
 (Foto Divulgação)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

"PODEROSA  VIDA  N ÃO  ORGÂNICA  QUE  ESCAPA"

     Eis a chegada do artista que nos coloca diante da arte, de sua abstração poética e seus mistérios. Eis o retorno de Diogo Liberano, que nos falou com desenvoltura em monólogo tecido com Walter Benjamin (como se dele irmão fosse), em "O Narrador". Agora Liberano retorna com a poeta (Prêmio Nobel) polonesa Wislawa Szymborska e seu poema "Conversa com a Pedra", o qual é reproduzido na íntegra, na abertura do  espetáculo por um Gunnar Borges (diretor de movimento, ator de excelente voz, e bailarino cheio de energia), que nos apresenta, nas escadarias majestosas do CCJF, o poema de Wislawa.            

     Diz o dramaturgo Diogo Liberano que além da poeta polonesa, também foi inspirado nos quadrinhos de Will Eisner para compor o que nos foi apresentado em palco. A ilusão da rua de Eisner, na grafic novel "O Edificio", onde prédios serviam de pano de fundo para a ação, Liberano consegue de uma armação de material luminoso como aço, e leve como pluma - projetado pela luz que se expande, em um pano de fundo cinza, dando a impressão de um edifício em construção... ou demolição.    

     E assim começa o espetáculo. O texto não pode ser mais atual, entretecido do absurdo que se expande, até o final desafiador. O que acontece em cena muita gente já conheceu, ou já passou por isso - uma menina não querendo ficar no quarto que cheira a sangue e tem palavras estranhas escritas nas paredes sujas; ou o rapaz do terceiro andar que quer alugar um apartamento no térreo por causa da mudança de sua mãe, que não pode subir escadas. Ou o bem resolvido morador do segundo andar, que procura entender os seus vizinhos.

     Quem já não passou por situação semelhante? Talvez os poucos jovens bem nascidos, que a família resolve todos os seus problemas, mas nunca o jovem aventureiro que quer conhecer os seus limites. E é essa segunda impressão que nos causa o insólito dialogo trocado entre eles. E o final que justifica todos os poemas: a pedra abre a porta que se nega a abrir na apresentação do espetáculo. Eis o diálogo de "Conversa com a pedra": "Bati à porta da pedra. - Sou eu, me deixa entrar. Quero penetrar no teu interior olhar em volta, te aspirar como o ar". (E a pedra responde): "Vai embora. Sou hermeticamente fechada. Mesmo partidas em pedaços seremos hermeticamente fechadas. Mesmo reduzidas a pó não deixaremos ninguém entrar".

     E, no decorrer da cena, veremos que a conversa da pedra não é "essa poderosa vida não orgânica que escapa"  - pois o "inorgânico" tomará parte - misteriosamente, como compete à poesia - contrariando o impenetrável da pedra. Mas os estranhos acontecimentos só se entregarão a quem assistir ao espetáculo!

     Devemos saudar, nestes tempos de tão frágeis textos e interpretações entorpecidas (com algumas honrosas exceções), este desafiante dialogo entre três jovens (os atores André Locatelli - o colaborativo morador do segundo andar - Diogo Liberano, "o que procura um pouso para sua mãe" e finalmente Livs Ataíde, que não suporta as paredes cheirando a sangue, de seu pequeno apartamento.

    Pensamos já ter falado o suficiente sobre o acontecimento que se instaura com teatralidade bem vinda no Centro Cultural da Justiça Federal, onde ficará até início de setembro. Diz o diretor que não é fácil levantar um espetáculo, nestes tempos de retração financeira, em que o prefeito acaba de cortar 25 milhões de reais para a cultura como um todo. Em vista disso, Diogo Liberano se dispõe, para poder pagar seus artistas, a dar um curso de dramaturgia e outro de interpretação, no mesmo espaço em que a peça acontece, ou seja, no CCJF.


     ATENÇÃO CLASSE, PRESTIGIEM! VAI VALER A PENA. .ESTAMOS NA PRESENÇA DE UM DOS DIRETORES MAIS CRIATIVOS DESTA NOVA GERAÇÃO. AH! ANTES QUE ESQUEÇA, A UFRJ PARTICIPA, DANDO APOIO AO "TEATRO INOMINAVEL" (COMO SE INTITULA). Na dramaturgia, Diogo Liberano; na Direção, Thais Barros e na Direção Musical (o que seria do teatro sem um bom acompanhamento musical?) Rodrigo Marçal. O Cenário, bastante criativo, foi tornado possível pela equipe do INOMINÁVEL - ou parte dela - cinco atores: Locatelli, Ferrera, Ataíde, Müller e Barros. A Direção de Arte é de Marcela Cantaluppi e os "não-figurinos" - (uma sábia adaptação de nosso vestir cotidiano), são de Barbara Faccioli e Juliana Valle. (REALIZAÇÃO "TEATRO INOMINAVEL" E UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO). DESDE 2.008 ESTÃO UNIDOS.                

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