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domingo, 8 de fevereiro de 2015

A VIDA SEXUAL DA MULHER FEIA

Otavio Müller em "A Vida Sexual da Mulher Feia", direção e atuação de Otavio Müller
(foto Lenise Pinheiro) 
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     Claudia Tajes é o mais recente sucesso editorial gaúcho. Com uma coluna na Zero Hora e vários livros publicados, entre eles As Pernas de Úrsula e Só as Mulheres e as Baratas Sobreviverão, viu transformado em monólogo o seu A Vida Sexual da Mulher Feia, cuja adaptação é da (também brilhante) carioca Julia Spadaccini. O ator e diretor é Otavio Müller, com supervisão do espetáculo feita por Amir Haddad.
     Então vejamos: o que Tajes fez com seu livro, uma espécie de denúncia da situação sexual das mulheres, feias ou bonitas, foi transformado em uma história de superação. Nada mais atual e oportuno, para veicular o talento de Otavio Müller. Ele simplesmente consegue, na cena, uma transformação espantosa, na qual retrata desde as pessoas que influenciaram a travessia de Jucianara (parece que rebatizada de Lucineide, no monólogo), e seus argumentos combativos, em defesa de sua conturbada vida de feiura lúcida e assumida.
     Então Otavio Müller faz a festa, desde o início, em sua passagem pela platéia, com o teatro lotado de belas mulheres, e homens idem, cumprimentando os espectadores como se amigos de longa data fossem (e talvez sejam, mesmo, por causa de TV), antecipando o que virá depois. Meu Deus, se aquilo que ele fez no palco se chama comédia em pé, me pegou de surpresa. Mas não é, apesar de Müller, uma vez em cena, incitar o público a antecipar, com entusiasmo, o que virá depois - na agitada vida amorosa dessa mulher. E não é que, no final, o inacreditável ator se transforma em uma feia irresistivelmente sedutora? Bem... estou antecipando o final da peça. Não devia. Porém, o que vemos no palco torna qualquer crítica sui generis. As regras voltaram aos tempos de Téspis. Talvez, o que aconteceu no Clara Nunes seja o verdadeiro teatro, em seu inicio, onde a participação do povo era constante. E o ator consegue isso da sofisticada platéia de um teatro na Gávea...   
     Bem, a história é conhecida, trata-se do nascimento da mulher horrorosa! E de seu futuro. Tudo é pensado, nos mínimos detalhes, até a possibilidade de Lucineide se transformar em modelo de Botero... Divertidíssimo. Como não temos ficha técnica, vão as observações do acabamento do espetáculo. Projeções de tela com os personagens que influenciaram a vida de Lucineide, todos com "alguma coisa" de Otavio Müller... Iluminação excelente, ambas, projeção e luz amplificando, em nossa imaginação, o que se passa no palco. Perucas e figurinos também atuam, para complementar o desempenho do ator. Há um suporte para os figurinos, e uma poltrona, como os únicos objetos de cena, porém o ator utiliza também as cortinas (?), do Clara Nunes, para intensificar o seu desempenho. Inacreditável. Músicas? Escolhidas por Lucineide/Jucianara.   
VALE A PENA ASSISTIR 'A VIDA SEXUAL DA MULHER FEIA'.