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segunda-feira, 27 de maio de 2019

CÁLCULO ILÓGICO

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Jéssika Menkel em Cálculo Ilógico. Direção Daniel Herz
 (Foto Alberto Maurício)



      IDA  VICENZIA 
  (da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)                      
                                               (Especial)


     Fomos ao Teatro II da Casa de Cultura Laura Alvim assistir “Cálculo Ilógico”, monólogo escrito pela atriz e dramaturga Jéssika Menkel, dirigido por Daniel Herz. Jéssika nos mostra como, partindo de um núcleo pessoal, atingimos o universal. Sabemos que a verdadeira obra de arte se nutre dessa transcendência. Os grandes escritores russos que o digam, principalmente Tolstoi, que não nos deixa esquecer essa verdade. O que nos surpreende é tal sabedoria desenrolar-se a nossos olhos, realizada por alguém que parece não ter consciência de seu poder. Ou talvez tenha, porém o amor que dedica ao que está criando no momento (teatro é um constante recriar), nos dá a perceber somente a concentração no ato criativo em movimento, a entrega total.

     Jéssika apresenta seus dotes artísticos com a precisão de quem possui a natural intuição, e o resultado é um trabalho coerente, sério e original. Vamos a ele.

     Através de uma narrativa em que o mundo da matemática – com seus catetos e hipotenusas – conta uma historia coerente, que entendemos e entramos no jogo da atriz, fazendo com que  os números tenham a força das palavras, com que os números se tornem metáforas, fazendo com que os números se tornem poesia...

     Entre tantas palavras, tanto carinho e emoção, há uma passagem tão linda, de renovação, uma passagem que Jéssika/Ella, nos dá, e que é pura poesia: “... eu lembro de uma história que o meu irmão me contou ...A águia pode viver até 70 anos, mas ... quando chega nos 40 anos precisa fazer uma escolha: morrer ou ir para uma montanha e se isolar... nessa idade ela já não tem o bico pontiagudo, as garras afiadas e as penas ficam pesadas, o que torna difícil voar ...  (...) As que escolhem ir pra montanha passam 150 dias de dor, ela fica bicando a pedra até o bico quebrar e nascer outro,  com o bico novo ela arranca todas as unhas e depois todas as penas.  Depois de 5 meses ela sai num vôo de renovação/renascimento. Ela volta a viver”.    

     E foi o que aconteceu com essa menina. Não foram 5 meses, foram 10 anos... e Jéssika mostra para a plateia o resultado de seu vôo de renovação. A arte está de mãos dadas com a vida.  A atriz soube transformar em narrativa teatral o que lhe foi dado para viver. Fizeram parte dessa aventura, e muito próximos a Ella (o alter ego de Jéssika), o diretor Daniel Herz, e seu encantamento com o material trazido por Jéssika. O “Cálculo Ilógico” se dá quando a vida escapa da probabilidade dos acontecimentos,  e a sua ordem é quebrada. Na vida, sim, a ordem dos fatores altera o produto... mas aí vem o Sr. Superior Positivo Neutro e pode consertar tudo para você. O jogo de palavras é um dos encantos deste texto!     

     São de Jéssika as últimas palavras: Idealizei esse projeto há + - 17.520 horas e comecei a escrever esse texto há 27 meses, mas só consegui levantá-lo, criá-lo e fazer desse número real em 2018. Aceitar que as coisas têm o seu tempo e que as vezes é necessário re-calcular porque o melhor acontece no momento exato é um dos segredos da vida.
     O que cerca este acontecimento delicioso é a luz de Aurélio de Simoni; a Preparação Vocal de Jane Celeste, o Cenário (simples, alguns cubos que dão mobilidade à cena), e o Figurino, atemporal, ambos de Thanara Schonardie, a Direção Musical fica a cargo de Eric Camargo, e a A ssistência de Direção conta com Gabriela Checcia e Tiago Herz. NÃO PERCAM!   
      
    

sexta-feira, 24 de maio de 2019

"Pi - Panorâmica INSANA"

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"Pi -  panorâmica INSANA", direção Bia Lessa. Nogueira, Leal, Pandolfo, Abreu - 1ª foto.
Pandolfo, Leal, Abreu e Nogueira. 2ª foto. Bia Lessa de costas, dirigindo.
 (Fotos de Morente Forte)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT
(Especial)

   O novo Teatro Prudential (antigo Teatro Adolpho Bloch), tem uma nova diretora: Guilia Jordan. No último dia 23 de maio houve a estreia, neste local carioca, de uma peça de Bia Lessa chamada Pi - panorâmica insana. O título se refere a uma possível nova era que estamos vivendo: o Antropoceno. Esta nova fase de Bia Lessa, digamos assim,  "operística", nos leva de surpresa em surpresa. Há alguns meses tivemos, no Rio de Janeiro, a estreia de Grande Sertão:Veredas, de Guimarães Rosa, dirigido também por Bia, e acompanhado por música de Egberto Gismonti. Agora a diretora se debruça sobre este novo tempo que se abate sobre o nosso planeta: o período do homem racional sobre o planeta Terra. O Antropoceno. Alguém teria  imaginado tanta desordem no planeta? 

     “Algo precisa ser feito” – diz Bia Lessa, diante do descalabro que temos diante de nós, e que se apresenta como nosso futuro! E cita, através das palavras do sociólogo Sérgio Besserman, que estamos entrando no Antropoceno, uma nova era. Seria a 6ª era do planeta Terra: já tivemos 5, e vou citá-las: a do Ordoviciano; Devoniano; Cretácio Terciário; a do Tirássico-Jurássico; a do Permo-Triássica, a 5ª, quando se deu a evolução dos oceanos, detectada pelos cientistas através do estudo das placas tectônicas...  Constatamos que o 6º período, a “6ª Era”, preocupa a nossa sociedade. 

     E então passamos a ver sobre o palco os nossos pesadelos de todos os dias,  o descalabro nas ruas e televisões, o descalabro no mundo!  Dessa vez Bia Lessa mostra no palco o nosso terrível futuro, na companhia de Franz Kafka, Paul Auster (organizador do texto de Kafka), e mais os nossos jovens e brilhantes autores brasileiros: André Sant’Anna, Julia Spadacini e Jô Bilac. Cada um possui a sua personalidade de escritor tão marcada, que percebemos quem é quem, no desenvolver da narrativa histórica!

     O fato é que lemos nos jornais, nos livros – ou ouvimos nas televisões – e não acreditamos no descalabro que estamos vivendo! O programa da peça relembra Lenin quando pergunta, tentando salvar a humanidade: O que fazer? Bia Lessa complementa:  Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? - E entrega a pergunta nas mãos de quatro  atores, através de um jogo inacreditável. Sim, eles nos dão um panorama insano, pois a ação humana nos últimos 200 anos foi tão rápida e prejudicial que gerou interferências no planeta, interferências essas que levaram milhões de anos para se acumular, em outras eras. E os humanos  criaram o Antropoceno. Dessa última fase da humanidade Bia Lessa se apropria, para nos mostrar o que aconteceu nos quase 120 minutos da  peça, minutos estes que não percebemos passar. Os milhões de anos que são narrados podem ser reunidos em momentos, tal os episódios que testemunhamos. Inacreditável Bia Lessa! O programa da peça devia ser vendido nas bancas de jornais, nas livrarias, nas ruas!

     Os ricos e famosos talvez não acreditem em Bia Lessa, mas o que sabemos é que, se o aquecimento global não for dominado, a invasão dos oceanos será incontrolável. Os ricos já estão começando a acreditar, pois já pesquisam em Marte para saber se ele é habitável, se há condições de eles se mudarem para lá... O Brasil está colaborando com as pesquisas (hélas!), pois acabaram de entregar a nossa base de Alcântara (ano 2019), para os gringos fazerem os seus testes espaciais em nossa terra (tomara que desfaçam o arranjo!)

     Mas agora vamos tentar falar sobre a última criação de Bia Lessa: a diretora se faz acompanhar de quatro atores de invejável performance. Os citaremos em ordem alfabética: Claudia Abreu (quanto tempo não a vemos em palco, que delícia!), Leandra Leal (também outra presença bem-vinda!); Luiz Henrique Nogueira, para nós um encontro bem- vindo, e Rodrigo Pandolfo, outra presença marcante: a sua explicação de Deus é um momento decisivo para o espetáculo. Será texto de Jô Bilac? Ou de Sant’Anna? Perdi-me...

   A revolucionaria cenografia é de Bia Lessa. Haja! Quanta inquietação! É ver para crer. E o final do espetáculo, então? O Desenho de Luz complementa a ideia da diretora, ideia essa acompanhada por Guilherme Varela. A Estrutura Cênica, Concepção e Direção Geral do espetáculo são de Bia Lessa. A Pesquisa Dramatúrgica é de Marcia Brasil. Desenho de Som e Produção Musical de Estevão Casé (neste último item acompanhado por Dany Roland, que também é responsável pela Concepção Musical). Os Figurinos – muito loucos, e servindo ao momento da criação do espetáculo, são de Sylvie Leblanc. A figurinista ficou solta para deixar o público mesmerizado. Assistente de Figurino Bia Rivato.
      Gestão do Teatro Prudential: Assessoria de Imprensa MNiemeyer. Idealizadores Claudia Abreu e Luiz Henrique Nogueira. Maiores informações no Teatro Prudential.   NÃO PERCAM! 
           

segunda-feira, 20 de maio de 2019

AS CRIANÇAS

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Analu Prestes e Mario Borges em As Crianças, de Lucy Kirkwood. Direção de
Rodrigo  Portela. 
 (Foto Victor Hugo Ceccato)



IDA VICENZIA
(da ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE CRÍTICOS DE TEATRO – AICT)
(Especial)
  

     A que ponto chegamos! Sim, temos Angra dos Reis, e o mundo tem Chernobil, Fukushima, e tantos outros. Mas não se assustem, a peça As Crianças, da londrina Lucy Kirkwood não deixa você em pânico. Assista, e tire as suas conclusões! Todos devem assisti-la. Kirkwood é jovem, no momento tem 35 anos, e é formada pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, Reino Unido.  O tradutor da peça para o português é Diego Teza, e Rodrigo Portella dirigiu essa As Crianças para o teatro brasileiro. A peça é interpretada por três atores: Mario Borges é Robin, Analu Prestes é Dayse e Andrea Dantas, Rose. Não sabemos se os nomes femininos são tão propriamente femininos por uma escolha de Kirkwood - se margaridas e rosas fazem parte de um mundo que pode deixar de existir. Enfim.


     O interessante, na peça – além das seguras interpretações do elenco – é a maneira pela qual os três cientistas (porque se trata de cientistas) vivem o seu drama latente. O que os salva do pânico é a vida, o que os cerca, e a aparente falta de consciência do horror que eles ajudaram a construir, para o seu futuro... e o da humanidade! Mas vamos aos fatos.

     No início, nada é do que lhes parece. Há um casal que vive o seu dia a dia de conciliação e amor. Tal sentimento é absorvido pelo público, sem maiores mistérios. Até a visita de uma amiga, que surge como um possível mistério, naquela vidinha isolada em que vive o casal. A sua chegada traz  algo no ar... Ficamos em suspense para saber como o diretor Rodrigo Portella nos fará compreender que estamos lidando com o nosso futuro. Como lidar com a desolação que preparamos para o nosso futuro? 
        

     E aí entram os recursos cênicos, além da perfeita interpretação do elenco. Por que o título, As Crianças?   Cada espectador que o interprete à sua maneira, o fato é que a autora não permite que o pânico se estabeleça, e o diretor encaminha com segurança os nossos passos para o abismo.  Há, na peça, um maravilhoso encontro de frases inteligentes (ou engraçadas), que nos levam a admirar a qualidade da escrita de Kirkwood, e o desempenho dos atores. Perfeito. Rimos com algumas conclusões dos personagens, nos encantamos com o encanto que eles podem produzir, como a cena em que imitam o barulho do mar, ou a que dançam a dança de sua juventude! Tais atitudes são coisas que fazemos para distrair a morte... Todos nós fazemos. Conscientes, ou não. Deixem-se levar, porque o teatro que se apresenta para vocês, esta noite, é muito especial, desde a maneira como as ações são narradas, até a concretização destas ações. Chamem de pós-moderno, a estas intervenções narradas nas ações dos personagens. Chamem-nas como quiserem.  O fato é que estamos diante de recursos cênicos muito estranhos, conjugados pela autora, o tradutor e seu diretor, para contar esta história. Insisto: esta estranheza é bem lograda, e produz reações as mais inesperadas, na plateia.

     Na Assistência de Direção temos Mariah Valeiras. O cenário, simples, é pensado pelo diretor e Julia Deccache. Simples e efetivo, se levarmos em conta a falta de patrocínio para este surpreendente espetáculo. A Iluminação é de Paulo Cesar Medeiros. Destaque para a cena final, em que o mar invade o espaço cênico, com o recurso da Iluminação. Trata-se de uma visão de beleza e terror. Destaque também para a trilha sonora original de Marcelo H e Federico Puppi. Esta trilha é o quarto ator em cena! Os figurinos – simples – são de Rita Murtinho, e o Preparação Corporal, que complementa a gesto do ator, é de Marcelo Aquino. Se quiserem mais informações sobre este espetáculo, vá assisti-lo! Não se arrependerá!  Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação.