Jéssika Menkel em Cálculo Ilógico. Direção Daniel Herz (Foto Alberto Maurício)
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
Fomos ao Teatro II da Casa de Cultura
Laura Alvim assistir “Cálculo Ilógico”, monólogo escrito pela atriz e dramaturga
Jéssika Menkel, dirigido por Daniel Herz. Jéssika nos mostra como, partindo de
um núcleo pessoal, atingimos o universal. Sabemos que a verdadeira obra de arte
se nutre dessa transcendência. Os grandes escritores russos que o digam, principalmente
Tolstoi, que não nos deixa esquecer essa verdade. O que nos surpreende é tal
sabedoria desenrolar-se a nossos olhos, realizada por alguém que parece não ter
consciência de seu poder. Ou talvez tenha, porém o amor que dedica ao que está
criando no momento (teatro é um constante recriar), nos dá a perceber somente a
concentração no ato criativo em movimento, a entrega total.
Jéssika apresenta seus dotes artísticos com
a precisão de quem possui a natural intuição, e o resultado é um trabalho coerente,
sério e original. Vamos a ele.
Através
de uma narrativa em que o mundo da matemática – com seus catetos e hipotenusas –
conta uma historia coerente, que entendemos e entramos no jogo da atriz, fazendo
com que os números tenham a força das
palavras, com que os números se tornem metáforas, fazendo com que os números se
tornem poesia...
Entre tantas palavras, tanto carinho e
emoção, há uma passagem tão linda, de renovação, uma passagem que Jéssika/Ella,
nos dá, e que é pura poesia: “... eu lembro de uma história que o meu irmão me
contou ...A águia pode viver até 70 anos, mas ... quando chega nos 40 anos precisa
fazer uma escolha: morrer ou ir para uma montanha e se isolar... nessa idade
ela já não tem o bico pontiagudo, as garras afiadas e as penas ficam pesadas, o
que torna difícil voar ... (...) As que
escolhem ir pra montanha passam 150 dias de dor, ela fica bicando a pedra até o
bico quebrar e nascer outro, com o bico novo
ela arranca todas as unhas e depois todas as penas. Depois de 5 meses ela sai num vôo de
renovação/renascimento. Ela volta a viver”.
E foi o que aconteceu com essa menina. Não
foram 5 meses, foram 10 anos... e Jéssika mostra para a plateia o resultado de
seu vôo de renovação. A arte está de mãos dadas com a vida. A atriz soube transformar em narrativa teatral
o que lhe foi dado para viver. Fizeram parte dessa aventura, e muito próximos a
Ella (o alter ego de Jéssika), o diretor Daniel Herz, e seu encantamento com o
material trazido por Jéssika. O “Cálculo Ilógico” se dá quando a vida escapa da
probabilidade dos acontecimentos, e a sua
ordem é quebrada. Na vida, sim, a ordem dos fatores altera o produto... mas aí
vem o Sr. Superior Positivo Neutro e pode consertar tudo para você. O jogo de
palavras é um dos encantos deste texto!
São de Jéssika as últimas palavras: Idealizei
esse projeto há + - 17.520 horas e comecei a escrever esse texto há 27 meses,
mas só consegui levantá-lo, criá-lo e fazer desse número real em 2018. Aceitar
que as coisas têm o seu tempo e que as vezes é necessário re-calcular porque o
melhor acontece no momento exato é um dos segredos da vida.
O que cerca este acontecimento delicioso é
a luz de Aurélio de Simoni; a Preparação Vocal de Jane Celeste, o Cenário
(simples, alguns cubos que dão mobilidade à cena), e o Figurino, atemporal, ambos
de Thanara Schonardie, a Direção Musical fica a cargo de Eric Camargo, e a A ssistência
de Direção conta com Gabriela Checcia e Tiago Herz. NÃO PERCAM!
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segunda-feira, 27 de maio de 2019
CÁLCULO ILÓGICO
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