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domingo, 16 de dezembro de 2018

"OUTROS"

Resultado de imagem para FOTOS "OUTROS" GRUPO GALPÃO

Grupo Galpão. Teuda Bara à frente. Muita música, dança, morte e vida! Muito texto!
Cenografia Marcelo Alvarenga.
Direção Marcio Abreu (Foto Guto Muniz).
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
“OUTROS”
     A obra de arte tem várias leituras, e entra no coração de quem a reconhece. Assim é. “Outros” é a obra de arte de um grupo de teatro que teve a coragem de se aproximar do público mostrando o seu abismo – que também é o nosso - e confessou seu MEDO, já que o medo é o princípio de tudo.
     Será o recomeço do Grupo, outro envolvimento? Dessa vez com Marcio Abreu.
     Poesia pura!
     É bom entrar neste mundo fracionado do Grupo Galpão “onde o abismo é a vertigem única, o principio de tudo ... onde o abismo é o nada!”
     Na literatura tínhamos visto o abismo, mas nunca tão presente como agora, neste teatro. Entramos nele, podemos tocá-lo. “Eu não quero me calar” – eles gritam, e nunca seu canto chegou tão perto de nós. É verdade que não assistimos ao grande momento em que tudo recomeçou, mas presenciamos agora o caminho que nos trouxe até aqui. E como é bom entrar neste mundo... “deles”... “nosso”!
    “O abismo, a vertigem imensa do principio de tudo. O MEDO”.
     “Eu não quero me calar” – eles gritam.
     Filigramas...! Dança! Dança! Grande Tchaikovsky! E eles perfazem o caminho com música, dança, fala, encontro, desencontro, emoção! E têm a coragem de terminar com o que é nosso, com Villa Lobos! “Acorda, vem olhar a lua/ que brilha, na noite escura...// “Quisera saber-te minha/ Na hora serena e calma... (...) “Quando dentro da noite/ Reclama o teu amor...” !
     Este é o caminho do encontro/ que também é o nosso. Então... é assim!
     Obrigada, Grupo Galpão, por este momento tão estranho, tão belo.
     Para nós, que nos encontramos tão fracionados, tão perdidos neste viver/morrer.  
     E viva o “mesão”! E vivam os atores! Antonio Edson, Arildo de Barros, Beto Franco, Chico Pelucio, Eduardo Moreira, Fernanda Vianna, Inês Peixoto, Julio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André, Simone Ordones, Teuda Bara.

     E viva quem começou tudo isso, e quem já dirigiu o Grupo Galpão! Viva Fernando Linares, Eduardo Moreira, Paulinho Polika, Carmen Paternostro, Antonio Edson, Eid Ribeiro, Gabriel Villela, Cacá Carvalho, Chico Pelucio, Paulo José, Paulo de Moraes, Julio Maciel, Yara de Novaes, Jurij Alshcitz, Simone Ordones, Lydia Del Picchia, Marcio Abreu.

     TUDO COMEÇOU EM 1982.
     QUERO DIZER: OS ESPETÁCULOS... IMAGINO  QUE  TUDO  TENHA
COMEÇADO  MUITO  ANTES.  NÃO?
     HÁ TAMBÉM “OS CURSOS LIVRES”, E  O “GALPÃO CINE HORTO”, E  O “CENTRO DE PESQUISA E MEMÓRIA DO TEATRO”... E OS EVENTOS... E  A ESTRELA AMARELA!
E NÃO PODEMOS DEIXAR DE ACRESCENTAR O “RECADO DO GRUPO”:

     “A montagem de NÓS, nosso primeiro encontro com Marcio Abreu, gerou muitas alegrias, dúvidas e inquietações. Novos horizontes se descortinavam. Não só na forma mas também no conteúdo e na relação do ato teatral com o público. A peça, que foi construída como uma resposta àquilo que chamamos internamente de “nossa reação diante da ação do mundo em nós”, gerou não só uma matéria que dialogava de forma radical com o momento político do país e do mundo, mas também uma série de indagações sobre o nosso lugar de artistas e a função do teatro e da arte nos nossos tempos.”
     (Este encontro, ao que parece, se deu em 2016, mas pode ter sido antes...).
     O Grupo faz uma Homenagem ao filósofo coreano radicado na Alemanha, BYUNG-CHUL HAN – que escreveu, entre outros livros, “A Agonia do Eros” – sobre a sociedade atual, onde destacamos algo que nos aflige: “O neoliberalismo aciona uma despolitização geral da sociedade onde ele substitui o eros por sexualidade e pornografia.”   

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

"DOGVILLE"

Resultado de imagem para fotos Dogville - teatro
Mel Lisboa e elenco de "Dogville" Direção de Zé Henrique de Paula.

IDA VICENZIA
(Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
“DOGVILLE”
     Nos teatros do Shopping da Gávea está havendo uma unanimidade de pensamento em direção a um teatro mais sofisticado, mais racional. Ao menos tal novidade está presente em dois espaços cênicos: o do Teatro dos 4, com Harold Pinter em cartaz, e no Teatro Clara Nunes, com Lars von Trier. È sobre este último, o espetáculo de von Trier,  que vamos tratar aqui, porém, os mistérios do comportamento humano são discutidos, apaixonadamente, pelos dois autores nas duas peças citadas: “O Inoportuno”, de Harold Pinter, e “Dogville”, de Lars von Trier. Dessa vez, em se tratando de Trier, é colocada a questão filosófica do estoicismo, com a argumentação sobre a arrogância do bem. Para quem sempre procurou manter distância de von Trier, é uma surpresa ver a racionalidade do autor ao tratar o humano -  e outra surpresa ao ver sua aproximação do pensamento de Harold Pinter. 
     Através da primeira fala do personagem de von Trier - o narrador (talvez o próprio autor) - tomamos conhecimento que Dogville é uma pequena localidade, ideal para colocar uma lente de aumento no comportamento dos humanos. A utilização dessa lente nos garante uma proximidade quase promíscua com tal sociedade, e nada é melhor para a análise de um pequeno cosmos do que a promiscuidade. É diante dessa lente que o narrador procura a verdade - e é nesta busca da verdade que também se debate o espectador, nas quase duas horas de duração do espetáculo. O final da peça – aliás, instigante como todo o seu trajeto – o autor nos dá uma aula de como se prepara a “virada” para encerrar um acontecimento teatral. 
     Caso raro nos espetáculos atuais – excetuando os musicais – temos em cena 16 atores, sendo eles uma unanimidade em termos de interpretação. Identificamos alguns, os mais conhecidos e com participações artísticas destacadas, como Selma Egrei, Chris Couto, Bianca Byington, Fabio Assunção, Mel Lisboa. Mas também temos Anna Toledo, Blota Filho, Dudi Ejchel, Eric Lenate, Fernanda Couto, Gustavo Trestini, Marcelo Villas Boas, Fernanda Thurann, Munir Pedrosa, Rodrigo Caetano e Thalles Cabral.
     A historia é contada em capítulos, sendo o nono o final deles, e a chave para a procura filosófica do autor. As “portas” de Pinter se transformam, em von Trier, em “cortinas” a serem abertas. Através delas podemos descortinar a verdade. 
     Trata-se de um espetáculo desconcertante, no qual o poder do bicho homem se transforma em pesadelo. Destaca-se a atuação de Mel Lisboa. Entretanto, o elenco é tão coeso, e a mão do diretor – Zé Henrique de Paula – tão segura, que temos a sensação da novidade absoluta na atuação de todo o elenco: uma novidade em matéria de teatro, se desenrolando diante de nossos olhos. Há uma projeção que amplifica a expressão do ator, em closes cinematográficos. A impressão que temos é de que a ação está acontecendo no momento do acontecimento cênico (e talvez esteja). Como não conhecemos tais recursos, o espanto é total. Fernanda Thurann, que também está na peça como atriz, é uma das responsáveis pelo efeitos cinematográficos
     A Direção de Audiovisual é de Laerte Késsimos e a criação é do VJ Alexandre Gonzalez. Fotografia Ale Catan, e Produção Executiva de Jaliana Trimer. Felipe Lima, da Sevenx Produções Artísticas, se pergunta a respeito da reação dos moradores de Dogville, perante a demonstração de bondade absoluta de Grace (Mel Lisboa): “Como os moradores daquela cidade aparentemente tão simples e tão generosos poderiam ter cometido tantas atrocidades a uma forasteira que ofereceu-lhes apenas o que tinha de melhor?” 
         São os mistérios da alma humana, o seu medo, a sua mesquinhez!
     Com cenário de Bruno Anselmo e uma equipe cenográfica de fazer inveja a qualquer produção, temos a iluminação de Fran Barros conseguindo recursos jamais vistos em teatro, sua luz é uma mistura de pincel artístico e reações flu de cores esmaecidas, estabelecendo  novidade cênica. Os figurinos de João Pimenta possuem sofisticação descontraída, mostrando as possibilidades de movimento dos rústicos personagens. Há cores desmaiadas, em contraste com o marrom e o vinho do figurino da protagonista Mel Lisboa, atriz que retorna, em boa hora,  aos nossos palcos.
     “Dogville” é um espetáculo bem cuidado, em seus mínimos detalhes. A música de Fernanda Maia acentua, sem exageros, a dramaticidade da historia a ser contada. Produção musical de Leo Versolato. O visagismo de Wanderley Nunes é um dos responsáveis pela estranheza visual dos habitantes de Dogville. E, à propósito: há a presença sonora (e irrecusável...) da “espécie animal” que dá nome à cidadezinha. O Dog é o único ser normal, nesta historia!        

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

"O INOPORTUNO"

A imagem pode conter: 1 pessoa, sentado
Daniel Dantas interpretando Davies em "O Inoportuno", de Harold Pinter (Foto Divulgação)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
"O  INOPORTUNO"

     Dessa vez está em cartaz, no Teatro dos 4, O Inoportuno, de Harold Pinter, dirigido por Ary Coslov, e tendo no papel de Davies o ator Daniel Dantas. Há mais três personagens, nesta história: Aston, interpretado por André Junqueira  e Mick, seu irmão, interpretado por Well Aguiar. No caso de O Inoportuno, o oponente ( Davies)  é alguém que muito prontamente se sente dono da situação pelo fato de ser bem recebido entre dois irmãos, que não o rejeitam nem o expulsam de seu “mukifo”.  
... E assim se inicia o jogo teatral.
     Podemos dizer que foram dois autores, um russo e um inglês, Tchecov e Pinter, os que abriram a rota para este tipo de cirurgia na alma do ser humano. Um inglês e um russo...  Há diferença? Nem tanto... e  Coslov sabe disso. O fato é que ele desperta a nossa atenção!
     Montar Pinter é denunciar a cultura da exploração, mesmo entre os excluídos. Na peça, o mendigo falastrão e mentiroso, Davies, ao abrir “a porta pinteriana”, vê o que se expande a seus olhos e quer se apropriar do que vê, mas, ao atravessar aquela porta ele estará se despedindo do que lhe restou de humano: os dois irmãos o destruirão. Coslov, ao desvendar as armadilhas que os homens colocam uns contra os outros, constata que o texto de Harold Pinter leva o público a pensar. O pobre coitado morador de rua é acolhido por alguém que já passou por uma “casa de regeneração” mental (Aston) ... e mesmo assim continua com a sua alma generosa. Tal generosidade é traduzida pelo mendigo “como algo que lhe é devido”, e a facilidade com que aceita a bondade do outro revela a sua alma perturbada. Aston possui um irmão, Mick, que também acolhe com bons olhos o desconhecido e, em torno dessa acolhida se desenvolve a peça.
  Aos poucos Davies começa a agir incorretamente. Na maioria dos casos, quando somos “donos da situação” começamos a agir incorretamente, mostrando falta de caráter.  Será que é esse um atributo do ser humano? Segundo Pinter, sim! O desenho do caráter de Davies revela o autor magnífico.
     O núcleo da peça de Pinter é o ser humano, seu caráter, ou a falta dele. No caso, Davies, o mendigo sem caráter é interpretado, com sutileza, acerto e sensibilidade por Daniel Dantas. Os momentos de mudança, a sofreguidão, a manipulação (inconsciente) dos que o cercam, está tudo lá, de maneira natural, o ator está impregnado do mendigo, em uma interpretação  excepcional. 
     Vejamos o que acontece com os seus companheiros de cena. O “generoso” (por deficiência mental? por natureza?) Aston (André Junqueira) desdobra-se em gentileza para amenizar a vida do mendigo. Como sabemos, é inútil, pois a cupidez humana acaba vencendo. O outro irmão, forte e agressivo, Mick (Well Aguiar), age como agiria um ser humano comum que se pensa forte, magnânimo, e cheio de "ideias". Diante destes três aspectos do ser humano vemos desdobrar-se a análise do que somos feitos: vaidade, loucura e irrealismo. Então estes três “predicados” são um só? E assim constatamos a genialidade de Harold Pinter.    
NÃO PERCAM! Compõe o espetáculo a bem urdida cenografia de Marcos Flaksman. A parafernália que cerca os dois irmãos lhes revela a alma. A iluminação, dando vida ao que o cenário proporciona, é de Paulo César Medeiros. Como podemos ver, Ary Coslov cercou-se de técnicos de primeira linha: nos figurinos temos Kika Lopes, que acerta, nos mínimos detalhes, com a ironia que atravessa a cena! A trilha sonora é do próprio diretor: Ary Coslov. Tradução: Alexande Tenorio. E Assistência de Direção de Rodrigo de Bonis e Bel Lobo. Mídias Sociais: João Gabriel Solle. Assessoria de Imprensa JSPontes Comunicação              




   

sábado, 17 de novembro de 2018

"GALAXIAS I : TODO ESSE CÉU É UM DESERTO DE CORAÇÕES PULVERIZADOS"

Resultado de imagem para peça teatro Galaxias - FOTOS

"Galaxias I: todo esse céu é um deserto de corações pulverizados". Da esquerda para a direita: Leo Wainer, Ciro Sales e Julia Lund. (Foto Leo Aversa)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

     Um dia um amigo muito querido lendo uma de minhas críticas comentou: “Você está se colocando muito, o importante não é o crítico, mas o criticado”. E realmente, a partir de um momento, que não consigo localizar, a minha atividade como crítica começou a ser das menos interessantes... e, das mais de seiscentas visitas dos leitores passei a contar com apenas quarenta (ou até menos...), interessados no que eu escrevia! Algo estranho estava acontecendo comigo, mas até hoje não sei localizar o que. Meu primeiro impulso foi deixar de registrar as impressões que os espetáculos me causavam, e comecei a espaçar as visitas ao meu blog. Mas acabei compreendendo que escrever é um vício... Pior para mim, que sou uma viciada! Sei que tal observação é uma demonstração de derrota, mas mesmo assim estou voltando! Desta vez o impacto foi tanto, a respeito de “Galaxias I: todo esse céu é um deserto de corações pulverizados”, que resolvi descobrir quem é Luiz Felipe Reis. Impossível. Tem cantor, doutor, dentista, mas não consigo saber quem é, realmente, Luiz Felipe Reis, que dirigiu “Galaxias”... Sei que é jornalista e que já dirigiu “Estamos indo Embora”. Talvez eu esteja viciada também no Google!  É no que dá essa tal geração internet...

     O que posso dizer sobre o espetáculo que estará presente até o dia 2 de dezembro na Sala Multiuso do SESC Copacabana é que ele é uma amostra do que será o teatro do futuro: direto, racional e hiperrealista. Não sabemos ainda que nome dar ao que se passa atualmente em cena, principalmente no caso deste argentino J.P. Zooey (pseudônimo de Juan Pablo Ringelhein, o autor),  porém sim observar que Juan Pablo é o resultado de uma mente ligada ao presente e suas novas tecnologias. “Existe um conflito com unidades do tempo e do mundo. Conflito do homem contra ele mesmo”, diz o diretor Luiz Felipe, no que é apoiado pelo longo monólogo do autor. Esta é a terceira peça dirigida por Luiz Felipe. A segunda foi “Estamos indo embora”, sobre as condições de nosso estar no mundo, e sobre o amor. O atual texto em cartaz, encenado pela primeira vez no Brasil pela Polifônica Cia, de Luiz Felipe, utiliza em cena recursos do mundo moderno (em matéria de linguagem técnica e artística), com  projeções em vídeo, palcos dentro do palco, músicas (e músicos ao vivo) seguidos por um texto ligado ao que há de mais  impactante em matéria de comunicação e visão do  mundo.

     Destacamos, como grande momento teatral o desnudamente espiritual da atriz Julia Lund (quem é ela? quem é ela?), em seu monólogo constatação sobre a capacidade-negativa-dos-homens-de-nossa-época-de-poder-modificar-a-vida-no-planeta-Terra. 

     Essa impossibilidade, apresentada pela Polifônica Cia. de Luiz Felipe é uma das características da humanidade “antropocêntrica” de hoje, que localiza o conflito do homem contra ele mesmo. Sua segunda peça “Estamos indo embora” (texto e direção de Luiz Felipe), já leva à direção que seu trabalho iria tomar.

     Mas o texto da personagem Zooey, de Julia Lund, destaca, em forte monólogo, o prazer maculado do homem ao derramar o seu veneno sobre a Terra, visando a sua  destruição...  (Como eu gostaria de ter o monólogo de Julia Lund, para poder  reproduzi-lo!). “Galaxias” chegou para nos tirar do que costumamos chamar de “a zona de conforto” e fazer com que constatemos que estamos indo para “a way of no return”.

     Há dois atores em cena, além de Julia: Leo Wainer, que interpreta o “mestre”, o professor-filósofo que investiga a fragilidade do mundo através de sua pesquisa em cartas, e reproduz palestras sobre acontecimentos geológicos que estremecem o nosso planeta. Tudo muito a propósito, veja-se este mundo “egótico” – nas palavras do diretor - que estamos experimentando agora. O ator Ciro Sales completa o casal de irmãos – formado com Julia Lund  – que se envolve no enigma da existência, assistindo ou ouvindo as palestras do professor. O texto mistura ciência e tecnologia em uma “investigação distópica”, e às vezes é pura poesia, como: “A vida é um rasgo de luz que a gente surfa na escuridão do cosmos”: contribuição de Luiz Felipe Reis para o texto de J.P. Zooey.  
N Ã O   P E R C A M!    

     A ficha técnica é composta por músicos, ao vivo, e em cena. O Diretor Musical é Pedro Sodré, que também toca piano e guitarra.  As composições são dos músicos, e há alguns clássicos. Rudah toca sax, clarinete e guitarra e Rogerio da Costa Jr sintetizador e guitarra. As músicas e os músicos são excelentes. O cenário, de Julio Parente, trás uma mobilidade surpreendente à cena, acompanhado pela luz de Projeções Corja (não há destaque para Iluminador). Figurinos atuais de Luiza Mitidieri.  Colaborações em vídeo: Gabriela Gaia Meirelles e Frederico Sampaio.          

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

"MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO"

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Bruce Gomlevsky em "Memórias do Esquecimento", texto de Flavio Tavares, direção e atuação
Bruce Gomlevsky.
(Foto Dalton Valerio)


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
MEMÓRIAS  DO  ESQUECIMENTO
Bruce Gomlevsky - um dos mais brilhantes atores e diretores de teatro do Rio de Janeiro, está fazendo a sua parte, neste ano de 2018! Ao comemorar os 25 anos de carreira, o ator/diretor encena o monólogo “Memórias do Esquecimento”, inspirado no relato da tortura sofrida pelo jornalista Flavio Tavares, nos anos da ditadura militar.

     Bruce Gomlevsky é uma presença constante na ‘Iluminação’ dos momentos cruciais de nossa historia. Há doze anos em excursão com Renato Russo - o Musical – ele se revela um cantor à altura do rebelde Renato, que cantou o desencanto de uma época em seu célebre “Que país é esse?” e tantos outros sucessos. Bruce revela-se o cantor, como é o ator ou o diretor - e mobiliza as plateias. Neste ano de comemorações ele também encena Tartufo, inspirado em Molière – com a sua Cia Teatro Esplendor, criada por Bruce em 2008. São 10 anos de atividade completados com este Tartufo:  “um  substantivo masculino, sinônimo de hipócrita, impostor, cínico, fingido”, diz a Companhia.  

     Ainda sob o impacto da interpretação de Gomlevsky, com Flavio Tavares nos “corredores da morte” (Flavio, e mais 14 jovens presos políticos foram resgatados em troca do embaixador dos Estados Unidos, Charles B. Elbrick, sequestrado na ocasião, anos 60, estão lembrados? ). Queremos falar sobre este momento em que o teatro cumpre o seu papel de ressonância de uma época.
     Não devemos esquecer o que aconteceu durante quase 30 anos, em nosso país. Este episódio deve ser contado e recontado. Devemos chamar atenção, como o fez Tavares e como faz agora Bruce Gomlewsky, pois a humanidade está doente, ‘prenhe’ de maldade! O inimaginável acontece em Memórias do Esquecimento, e o ser humano  desperta!   O público sai do teatro com desejo de agir, de modificar, de revelar nossas dores ao mundo. A plateia se reúne na saída do teatro para falar em amor, em solidariedade, democracia. No final do espetáculo as pessoas comentam o que estão fazendo para esclarecer os que ‘não frequentam o teatro’. E questões são levantadas, contadas historias do que é feito e do que é possível fazer, para alertar as pessoas do perigo que estão correndo. Declaramos que tudo deve ser feito, para que esta historia macabra não se instale novamente entre nós!  

     O espetáculo está em cena em um momento histórico, às vésperas de outro futuro incerto para a nossa nação. O diretor/ator reúne as emoções e o terror de quem viveu aquela época, e ressalta o  sadismo dos algozes do jornalista Flavio Tavares. As cenas são desenvolvidas com tal veemência, que congelamos a emoção e penetramos no horror!

     É impressionante a categoria de ator de Bruce Gomlevsky, seus gestos, sua contenção. Seus 25 anos de teatro são apenas um quarto do que um ser humano consegue viver nesta a terra. Nestes 25 anos  Bruce atingiu o controle para dominar a emoção.

     Quando descreve a historia carinhosa da saudade de sua ‘não vida’  ao lado da filha, Tavares se emociona e chora! Ele só voltou a ver a menina de 4 anos, quando ela já era uma moça ...   mais alta do que ele...!  E o ator ri e chora, passando, no momento seguinte, para o relato dos mais terríveis suplícios! ... ou incorporando a alma do agressor, do sádico:  ‘Sadismo, humilhação – o ‘apodrecer na cadeia’ – tão desejado, idealizado pelos seus algozes!’

     Este pode ser o espetáculo de sua vida. Bruce já ganhou um prêmio Categoria Especial “pelas escolhas dramatúrgicas da Cia Teatro Esplendor”. É impressionante a carga dramática que o ator coloca em seus personagens. A preparação corporal, a iluminação, todos os detalhes acompanham o tom sufocante de Memórias do Esquecimento...Teatro Poerinha modificado, irreconhecível! Até domingo, 28 de outubro.              

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

"A IRA DE NARCISO"

Imagem relacionada
"A IRA DE NARCISO", de Sergio Blanco. Em cena Gilberto Gawronski. Direção Yara de Novaes.
(Foto de Produção)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
A  IRA  DE  NARCISO
A 9ª edição do Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio de Janeiro, o TEMPO FESTIVAL, apresenta espetáculos à procura do novo.  No teatro do Oi, Flamengo Yara De Novaes dirige a interpretação de Gilberto Gawronski para o texto de Sergio Blanco, talento uruguaio radicado na França. A tradução e a montagem brasileira foi idealizada por Celso Curi. Trata-se de um texto de grande impacto.

     E aí começam as diferenças. O Festival Internacional de Artes Cênicas do Brasil, em sua encenação no Rio de Janeiro abrange os oito núcleos, que se estendem pelo país afora. Incluídos nestes núcleos o Festival de Londrina e Porto Alegre em Cena. Há também espetáculos vindos de outros países, como Espanha, Croácia, França, Alemanha, Suiça ... Há  internacionalização de projetos artísticos e culturais. A 9ª Edição do Tempo Festival começou no dia 19 de outubro e irá até o dia 28 deste mês. Aproveitem a ocasião. O TEMPO FESTIVAL é patrocinado por múltiplas associações culturais, particulares e governamentais, com resultados de primeira grandeza, como “A Ira de Narciso”. Vamos a ele!

     Novo gênero de teatro contemporâneo, o “teatro da narrativa” revoluciona a maneira de contar uma historia. A  fórmula criada por Blanco é inovadora, há uma dinâmica fragmentada do teatro pós-moderno, mas o espetáculo se configura pela procura do “outro”. Rimbaud é o símbolo, com o seu “Je est un autre”. E há outras observações culturais que leva o público à construção do pensamento do autor: de forma poética são citados Heidegger e sua “metafísica” (onde o autor Sergio Blanco se pergunta sobre arte do ator, se não teria ela esta fórmula metafísica do filósofo alemão? 

     Há, no espetáculo, várias citações (belas) sobre a poética da ação e da atuação – a poética do ator - deslumbrando com as ligações que Blanco estabelece entre Rimbaud, Heidegger, Deleuze, e a sua própria criação artística. Trata-se de um autor que sabe conduzir o “tempo” – que pode ser o da ação, ou o do pensamento. Enfim, o "tempo", os acontecimentos do presente e a revolta contra a morte. Marcantes os momentos da indignação do ator, quando grita, no texto, a indiferença com que a humanidade vê passar os acontecimentos presentes - acontecimentos dantescos que destroem a vida. O grito do autor se faz ouvir, marcando o lugar da sensibilidade. É impactante a forma com a qual Sergio Blanco nos leva ao que está destruindo o nosso “agora”, e a nossa vida futura.

   A troca entre os acontecimentos do presente - o ator/narrador está envolvido em uma palestra que o leva a um local pouco conhecido do planeta – e a crítica que Sergio Blanco faz a estes encontros sinaliza o sentimento humano, muito humano... dos intelectuais; sentimentos como a vaidade, a mentira, a dissimulação, o desinteresse...e outra fragilidades... Há um embate entre a sensibilidade e a razão. 

     E quem sustenta este embate? Quem sustenta o “ser” sobre o qual a narrativa é realizada? Gilberto Gawronski, em brilhante interpretação, consegue passar a firmeza e as certezas daquele personagem que se transforma constantemente no “eu” e no “outro”, numa tempestade de sensualidade, procura, indignação e ironia, transformando sua atuação em um momento mágico do teatro. Os acontecimentos vão se concretizando, e a lucidez, que não deixa o personagem recuar para o fácil convívio de seus colegas intelectuais, o faz declarar: “Eu não era movido pela curiosidade, mas por um defeito profissional“.  O personagem se ironiza, enquanto escritor.   
   
     Este “teatro da narrativa” – se assim o podemos chamar – deixa UMA QUESTÃO PALPITANTE NO AR: Estamos, ou não estamos? - na presença de uma inovação teatral? Na presença de uma nova linguagem, inaugurada neste TEMPO FESTIVAL? Só o futuro o dirá. Por enquanto, o que nos deixa perplexos é a capacidade da linguagem teatral abranger tantos universos, na simplicidade de uma montagem que conta com dois atores: Gilberto Gawronski e Murilo Basso (também assistente de direção) ou Carlos Jordão. A música, responsável pelos modificação da cena e dos sentimentos, tem direção de Dr. Morris. A percussão selvagem que nos é dado ouvir anuncia perspectivas sensuais, porém tal disposição é intermediada pela música de Bach, que o personagem Sergio Blanco prefere ouvir. Um Bach, e a percussão inquietante, eis o jogo musical. A iluminação faz trabalhar a imaginação da plateia, e do personagem. E a cenografia, composta principalmente de caixas de luz que refletem aspectos da cidade de Liubliana (e seu parque misterioso e romântico), em uma região da Croácia, onde se passa a ação. Destacamos também o figurino de Blanco/Gawronski. Estas são, respectivamente, as criações do já citado Dr. Morris e de Wagner Antonio na Iluminação, André Cortez e sua moderna cenografia, além do figurino muito revelador do nosso já conhecido Fabio Namatame.

     Como se trata de uma pré-estreia, talvez haja oportunidade de a mesma ser encenada ainda no Rio de Janeiro. Como diz o programa: é “uma jornada fascinante e arriscada pelo confuso labirinto do eu, da linguagem e do tempo”. Gawronski está concorrendo ao Prêmio Shell por São Paulo. NÃO PERCAM! TRATA-SE DE UMA NOVA LINGUAGEM PARA O TEATRO!         
         
  

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

"8º FESTU - ENCERRAMENTO TEATRO CESGRANRIO"

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O Ator Vencedor - Um palhacinho do subúrbio - ator ator... ator! Cássio Duque 
"Chamada a Cobrar".
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O Juri em plena labuta! Adorei "Olha o Pesado Aí!"

"Meus Cabelos Baobá". Fernanda Dias, a grande vencedora da noite.Texto, figurino, e direção de movimento. 


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A baiana Gabriela Lara, que abalou o futuro, e seu "Pânico Vaginal!" Diz o programa que era "SP - Escola de Teatro" (sei não...)
(Fotos da Produção)






















IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
“8º  FESTIVAL  DE  TEATRO  UNIVERSITARIO “   
ENCERRAMENTO:   TEATRO CESGRANRIO - dia 23 de setembro de 2018

     Fazendo as contas, a ideia surgiu em 2010, quando dois amigos se uniram e pensaram em algo que também unisse a classe teatral. E aí surgiu o Festival de Teatro Universitário – FESTU - logicamente abrangendo todas as escolas ligadas ao ensino das artes cênicas, com a participação de artistas dos vários estados do Brasil. A empolgante iniciativa surgiu das cabeças de Miguel Colker – produtor  (que tem a sorte de ser filho de Deborah Colker, uma mulher com grande  iniciativa para as coisas da arte – balé, teatro, música – tudo ligado à nobre arte do Esporte) e o diretor e ator Felipe Cabral, o simpático apresentador da noite de encerramento do Festival, junto com aquela gracinha de atriz que é Julia Stockler.  A dupla apresentadora foi um espetáculo à parte, sem falar no som do coração feito pela produção ... e o som da expectativa! ... os acordes finais, chamando a atenção para os vencedores!

     Noite em que o teatro – e seus novos corifeus, adoradores, sacerdotes... – se apresentaram para nós, distinto público! Os membros do júri estiveram à altura da noite, com sua simpatia e prestigio. Não é todo dia que atores, diretores, cenógrafos, iluminadores e o tudo o mais que houver, assistem ao nascimento de seus talentosos substitutos. Noite gloriosa!

     Quem assistiu, assistiu! Quem perdeu... só ano que vem!

     Jurado composto pelo iluminador Renato Machado, o cenógrafo Sergio Marimba (que figuraço!); o dramaturgo Flavio Marinho; a atriz Cássia Kiss, o ator Leopoldo Pacheco, o homem de teatro Claudio Tovar. Enfim, a for da flor de nossos palcos! Passou muita gente de valor pelo palco do encerramento do FESTU! Todos emocionados! Noite linda!

     O Festival foi uma curtição. Sua importância aumenta, de ano a ano! O grande destaque de 2018 foi para os atores negros, eles ganharam a noite, com destaque para Fernanda Dias, campeã em tudo!  No Juri, o diretor Ulysses Cruz e sua fala carinhosa sobre o papel do diretor, e Claudia Kopke, figurino; Leandro Soares, ator, Caio Paduan, ator. (Desculpem se alguém não foi citado).  Os vencedores da noite? As fotos acima dão uma velada resposta...

.A imagem pode conter: 1 pessoa, meme e textoEle não é a máximo?Cenógrafo Sérgio Marimba