Daniel Dantas interpretando Davies em "O Inoportuno", de Harold Pinter (Foto Divulgação)
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
"O INOPORTUNO"
Dessa vez está em cartaz, no Teatro dos 4,
O Inoportuno, de Harold Pinter, dirigido por Ary Coslov, e tendo no papel de
Davies o ator Daniel Dantas. Há mais três personagens, nesta história: Aston,
interpretado por André Junqueira e Mick,
seu irmão, interpretado por Well Aguiar. No caso de O Inoportuno, o oponente (
Davies) é alguém que muito prontamente
se sente dono da situação pelo fato de ser bem recebido entre dois irmãos, que não
o rejeitam nem o expulsam de seu “mukifo”.
...
E assim se inicia o jogo teatral.
Podemos dizer que foram dois autores, um
russo e um inglês, Tchecov e Pinter, os que abriram a rota para este tipo de
cirurgia na alma do ser humano. Um inglês e um russo... Há diferença? Nem tanto... e Coslov sabe disso. O fato é que ele desperta a nossa atenção!
Montar Pinter é denunciar a cultura da
exploração, mesmo entre os excluídos. Na peça, o mendigo falastrão e mentiroso,
Davies, ao abrir “a porta pinteriana”, vê o que se expande a seus olhos e quer
se apropriar do que vê, mas, ao atravessar aquela porta ele estará se
despedindo do que lhe restou de humano: os dois irmãos o destruirão. Coslov, ao
desvendar as armadilhas que os homens colocam uns contra os outros, constata
que o texto de Harold Pinter leva o público a pensar. O pobre coitado morador
de rua é acolhido por alguém que já passou por uma “casa de regeneração” mental
(Aston) ... e mesmo assim continua com a sua alma generosa. Tal generosidade é traduzida
pelo mendigo “como algo que lhe é devido”, e a facilidade com que aceita a
bondade do outro revela a sua alma perturbada. Aston possui um irmão, Mick, que
também acolhe com bons olhos o desconhecido e, em torno dessa acolhida se
desenvolve a peça.
Aos poucos Davies começa a agir
incorretamente. Na maioria dos casos, quando somos “donos da situação”
começamos a agir incorretamente, mostrando falta de caráter. Será que é esse um atributo do
ser humano? Segundo Pinter, sim! O desenho do caráter de Davies revela o autor
magnífico.
O núcleo da peça de Pinter é o ser humano,
seu caráter, ou a falta dele. No caso, Davies, o mendigo sem caráter é
interpretado, com sutileza, acerto e sensibilidade por Daniel Dantas. Os
momentos de mudança, a sofreguidão, a manipulação (inconsciente) dos que o
cercam, está tudo lá, de maneira natural, o ator está impregnado do mendigo, em
uma interpretação excepcional.
Vejamos o que acontece com os seus companheiros de cena. O “generoso”
(por deficiência mental? por natureza?) Aston (André Junqueira) desdobra-se em
gentileza para amenizar a vida do mendigo. Como sabemos, é inútil, pois a
cupidez humana acaba vencendo. O outro irmão, forte e agressivo, Mick (Well Aguiar), age como agiria
um ser humano comum que se pensa forte, magnânimo, e cheio de "ideias". Diante destes três aspectos do ser humano vemos desdobrar-se a
análise do que somos feitos: vaidade, loucura e irrealismo. Então estes três “predicados”
são um só? E assim constatamos a genialidade de Harold Pinter.
NÃO PERCAM! Compõe o espetáculo a bem urdida
cenografia de Marcos Flaksman. A parafernália que cerca os dois irmãos lhes
revela a alma. A iluminação, dando vida ao que o cenário proporciona, é de
Paulo César Medeiros. Como podemos ver, Ary Coslov cercou-se de técnicos de
primeira linha: nos figurinos temos Kika Lopes, que acerta, nos mínimos
detalhes, com a ironia que atravessa a cena! A trilha sonora é do próprio
diretor: Ary Coslov. Tradução: Alexande Tenorio. E Assistência de Direção de
Rodrigo de Bonis e Bel Lobo. Mídias Sociais: João Gabriel Solle. Assessoria de
Imprensa JSPontes Comunicação
|
sexta-feira, 30 de novembro de 2018
"O INOPORTUNO"
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Viva a bagunça do meu computador!
ResponderExcluir