"Galaxias I: todo esse céu é um deserto de corações pulverizados". Da esquerda para a direita: Leo Wainer, Ciro Sales e Julia Lund. (Foto Leo Aversa) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro – AICT)
(Especial)
Um dia um amigo muito querido lendo uma de
minhas críticas comentou: “Você está se colocando muito, o importante não é o
crítico, mas o criticado”. E realmente, a partir de um momento, que não consigo
localizar, a minha atividade como crítica começou a ser das menos interessantes...
e, das mais de seiscentas visitas dos leitores passei a contar com apenas quarenta
(ou até menos...), interessados no que eu escrevia! Algo estranho estava
acontecendo comigo, mas até hoje não sei localizar o que. Meu primeiro impulso
foi deixar de registrar as impressões que os espetáculos me causavam, e comecei
a espaçar as visitas ao meu blog. Mas acabei compreendendo que escrever é um
vício... Pior para mim, que sou uma viciada! Sei que tal observação é uma
demonstração de derrota, mas mesmo assim estou voltando! Desta vez o impacto
foi tanto, a respeito de “Galaxias I: todo esse céu é um deserto de corações
pulverizados”, que resolvi descobrir quem é Luiz Felipe Reis. Impossível. Tem
cantor, doutor, dentista, mas não consigo saber quem é, realmente, Luiz Felipe
Reis, que dirigiu “Galaxias”... Sei que é jornalista e que já dirigiu “Estamos
indo Embora”. Talvez eu esteja viciada também no Google! É no que dá essa tal geração internet...
O que posso dizer sobre o espetáculo que
estará presente até o dia 2 de dezembro na Sala Multiuso do SESC Copacabana é
que ele é uma amostra do que será o teatro do futuro: direto, racional e hiperrealista.
Não sabemos ainda que nome dar ao que se passa atualmente em cena, principalmente
no caso deste argentino J.P. Zooey (pseudônimo de Juan Pablo Ringelhein, o autor), porém sim observar que Juan Pablo é o resultado de
uma mente ligada ao presente e suas novas tecnologias. “Existe um conflito com
unidades do tempo e do mundo. Conflito do homem contra ele mesmo”, diz o diretor
Luiz Felipe, no que é apoiado pelo longo monólogo do autor. Esta é a terceira
peça dirigida por Luiz Felipe. A segunda foi “Estamos indo embora”, sobre as
condições de nosso estar no mundo, e sobre o amor. O atual texto em cartaz, encenado
pela primeira vez no Brasil pela Polifônica Cia, de Luiz Felipe, utiliza em
cena recursos do mundo moderno (em matéria de linguagem técnica e artística), com
projeções em vídeo, palcos dentro do
palco, músicas (e músicos ao vivo) seguidos por um texto ligado ao que há de
mais impactante em matéria de
comunicação e visão do mundo.
Destacamos, como grande momento teatral o
desnudamente espiritual da atriz Julia Lund (quem é ela? quem é ela?), em seu
monólogo constatação sobre a capacidade-negativa-dos-homens-de-nossa-época-de-poder-modificar-a-vida-no-planeta-Terra.
Essa impossibilidade, apresentada pela Polifônica Cia. de Luiz Felipe é uma das características da humanidade “antropocêntrica” de hoje, que localiza o conflito do homem contra ele mesmo. Sua segunda peça “Estamos indo embora” (texto e direção de Luiz Felipe), já leva à direção que seu trabalho iria tomar.
Essa impossibilidade, apresentada pela Polifônica Cia. de Luiz Felipe é uma das características da humanidade “antropocêntrica” de hoje, que localiza o conflito do homem contra ele mesmo. Sua segunda peça “Estamos indo embora” (texto e direção de Luiz Felipe), já leva à direção que seu trabalho iria tomar.
Mas o texto da personagem Zooey, de Julia
Lund, destaca, em forte monólogo, o prazer maculado do homem ao derramar o
seu veneno sobre a Terra, visando a sua destruição... (Como eu gostaria de ter o monólogo de Julia
Lund, para poder reproduzi-lo!). “Galaxias”
chegou para nos tirar do que costumamos chamar de “a zona de conforto” e fazer
com que constatemos que estamos indo para “a way of no return”.
Há dois atores em cena, além de Julia: Leo
Wainer, que interpreta o “mestre”, o professor-filósofo que investiga a
fragilidade do mundo através de sua pesquisa em cartas, e reproduz palestras
sobre acontecimentos geológicos que estremecem o nosso planeta. Tudo muito a
propósito, veja-se este mundo “egótico” – nas palavras do diretor - que estamos
experimentando agora. O ator Ciro Sales completa o casal de irmãos – formado com
Julia Lund – que se envolve no enigma da
existência, assistindo ou ouvindo as palestras do professor. O texto mistura ciência
e tecnologia em uma “investigação distópica”, e às vezes é pura poesia, como: “A
vida é um rasgo de luz que a gente surfa na escuridão do cosmos”: contribuição de
Luiz Felipe Reis para o texto de J.P. Zooey.
N Ã O P
E R C A M!
A ficha técnica é composta por músicos, ao
vivo, e em cena. O Diretor Musical é Pedro Sodré, que também toca piano e guitarra. As composições são dos
músicos, e há alguns clássicos. Rudah toca sax, clarinete e guitarra e Rogerio da Costa Jr sintetizador e guitarra. As músicas e os músicos são
excelentes. O cenário, de Julio Parente, trás uma mobilidade surpreendente à
cena, acompanhado pela luz de Projeções Corja (não há destaque para Iluminador).
Figurinos atuais de Luiza Mitidieri. Colaborações
em vídeo: Gabriela Gaia Meirelles e Frederico Sampaio.
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