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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

"A VIDA COMEÇA PELA MEMORIA"



Cena de despedida de "A Vida Começa pela Memoria", criação de Ricardo Risuenho. Interpretes: seu criador e a bailarina Anna Raphaela.
         (Foto de Meduri Scilla - Itália)    



                        Cena chapliniana de os "guarda-chuvas" - com a bailarina Anna Raphaela. 
                                                                (Foto de Meduri Scilla - Itália)


 IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     Em Manaus, recentemente, tive ocasião de assistir "A Vida Começa pela Memoria", espetáculo da "Companhia de Interpretes Independentes", fundada pelo coreógrafo Ricardo Risuenho, em 2003. Além de encenador, coreógrafo e bailarino, Risuenho é médico e exerceu a função de professor universitário nas categorias Anatomia do Movimento, Consciência Corporal e Improvisação. Este artista faz parte do mundo dos médicos-artistas-professores e exerce (ou exerceu), a função de professor de Formação Artística em cursos na Universidade do Amazonas, na Fundação Claudio Santoro, e outras mais. Sua Companhia recebeu vários prêmios, entre eles destacamos o de melhor coreografia contemporânea no Festival de Joinville, em 1991. Risuenho é um paraense radicado em Manaus, que iniciou seu trabalho em Belém, com pesquisa arte-corporal de grande concentração, onde imperam sentimento e técnica. Seu trabalho de dança contemporânea é baseado na técnica MMS (Movimentação dos Membros Superiores), por ele criada. Sua pesquisa foi agraciada com o Prêmio da Fundação Klauss Vianna. Atualmente Risuenho desenvolve seu trabalho no “Espaço das Companhias”, um pequeno teatro de aproximadamente 50 lugares, situado à rua "Dona Libânia", no Centro de Manaus. Vale a pena conferir. É necessário informar-se pelo menos dois dias antes do espetáculo, pois os artistas "Independentes" nem sempre estão em Manaus.
     "A Vida Começa pela Memoria" é uma interessante sucessão de quadros, que podem ser interpretados de diversas maneiras: o caminhar de "encontros e desencontros" de um casal (interpretado por Risuenho e Anna Raphaella), ou a sucessão de acontecimentos que a "Vida" e a "Memoria" nos proporcionam, e ou outros mais: sempre com a opção escolhida pelo coreógrafo, em sua interpretação da técnica MMS.        
     Anna Raphaella, a bailarina, concentra  "tensão e alegria" em seu personagem, dando-nos momentos de pura arte. Os dois artistas fazem uma demonstração dos movimentos que a técnica MMS proporciona, como quando se equilibram em um precário "estágio" (um banquinho), transmitindo ao público a alegria e o carisma de seus personagens: são recursos bem sucedidos que falam o essencial. Outro momento de realização bem-sucedida é a cena dos “guarda-chuvas” em uma comedia "chapliniana" de intrincada  leitura, na qual a "pericia artesã" é colocada, transmitindo para a cena os mais variados sentimentos. É neste o momento que o som da chuva domina o espetáculo. O som, e não a palavra, domina essa composição de "atores-bailarinos". Destaque também para a sensação de “aprisionamento e libertação” dos personagens que o cenário, com sua rede de proteção e distanciamento da plateia, proporciona. O trabalho de Risuenho e Raphaella se encerra com um poético encontro de corpos, destacando o "poder de escultura", que a dança permite, em sua nudez. “A Vida Começa pela Memoria” é um belo encontro com a Arte. Esse encontro nos aguarda nas vizinhanças do Teatro Amazonas - no Largo de São Sebastião –  em Manaus!
     Ficha técnica: Criação, direção e interpretação: Ricardo Risuenho. Bailarina: Anna Raphaella. Operação de Som: Iara Lane; Operação de Luz: Nelson Magli. Apoio Técnico: Jonatas Amaral. Trilha Sonora e Cenografia: Ricardo Risuenho. Fotos: Meduri Scilla – Itália.                        
     

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

"DAMASCO" - "CALENDARIO DE PEDRA" - UMA BIOGRAFIA

                     FOTO  DAMASCO


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)


Introdução de "Calendario de Pedra" - Biografia de Antonio ABUJAMRA  


EM DAMASCO

     "Damasco é uma das mais belas cidades do mundo, que não sei e não posso abandonar. Velha e soberba capital do califado omíada, cujas fronteiras se estendiam do Afganistão à Península Ibérica. Promotora de um convívio admirável entre culturas e religiões diversas, Damasco era conhecida como "a cidade do amor" na alta e refinada tradição da poesia árabe.
     "Hoje infelizmente Damasco assume feições contraditórias e monstruosas, cidade vítima do ódio que se espalhou pela Síria. (...) Guerra civil aberta ao mundo, num grande tabuleiro, cujas partes envolvidas já não se limitam ao desenho de um país autônomo, mas a um cabo de forças de interesse incontornáveis entre a Otan e a Rússia, a Arábia Saudita e o Irã, Israel e Hezbolá. (...) genocídio que completou dois anos, com um saldo aproximativo de setenta mil mortos, até a presente data. (...) Leio com raiva e absurda esperança alguns versos do jovem poeta sírio, Golan Haji:

                    "Os mortos estão sendo enterrados,
                     mas como enterrar o sofrimento?
                      Estou só, como a nossa mãe,
                      só como esta árvore.
                      Um pássaro que acaba de morrer.
                      Quebrou-se a casa dos gritos.
                       Um diamante rompe o vidro sujo
                       do mundo".         
                                             (poesia Golan Haji)
                            (da Crônica de Marco Lucchesi, O Globo, 2014)