Pedroca Monteiro, Julia Lemmertz e Georgiana Góes em Simples Assim, direção Ernesto Piccolo. (Foto Victor Hugo Ceccato) |
O diretor Ernesto Piccolo e a atriz Julia Lemmertz ensaiando Simples Assim. (Foto Victor Hugo Ceccato)
IDA
VICENZIA FLORES
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
Em cartaz no Teatro dos 4, Gávea, Rio de
Janeiro, o espetáculo Simples Assim, extraído do livro de crônicas de Martha
Medeiros, em versão para teatro de Martha e Rosane Lima. Idealização: Gustavo
Nunes. Direção de Ernesto Piccolo.
Rosane faz uma interessante observação, no
programa da peça: “como na colagem de um quebra-cabeças...” E foi o que
aconteceu, quando as autoras misturaram os dois livros de crônicas de Martha Medeiros:
Simples Assim e Quem Diria Que Viver Ia Dar Nisso,, que resultaram na divertida
loucura que assistimos no palco do Teatro dos 4. Ernesto Piccolo, e sua segura
direção têm muito a ver com a animação do espetáculo.
Entramos no teatro, lotado, e percebemos o
curioso cenário: são dois móbiles, que se encarregam da movimentação da cena. Eles
podem se transformar em bancadas de telejornal, em poltronas... e, ao fundo da
cena percebemos um sem número de telas e nos perguntamos se não seriam suportes
para projeções? Não deu outra. A ambientação cênica de Clivia Cohen (guardem
este nome), a cenógrafa, e as projeções de Rico Vilarouca e Renato Vilarouca que,
em um complexo emaranhado de expressões e falas, nos fazem imaginar que estamos
na presença de vários atores em cena! O início do espetáculo nos mostra um excelente
Pedroca Monteiro como âncora de um telejornal da TV Globo, contracenando com a ótima
Julia Lemmertz interpretando uma diretora de cena, em paródia do que poderia ser
o nosso caos televisivo, em consequência do nosso “caos terráqueo”. Aliás, nesta
primeira apresentação temos uma amostra do que será o espetáculo, e o público
se delicia (e apavora) com o que lhe é mostrado através da fala do
apresentador. É nesta cena que Julia Lemmertz faz uma homenagem à região em que
nasceu, o Rio Grande do Sul, falando com o gostoso sotaque gaúcho. Uma
brincadeira de Ernesto Piccolo, este diretor que possui mão segura para
desenvolver espetáculos divertidos, como é o caso de outro sucesso seu, e texto
de Martha Medeiros: “Doidas e Santas” que, nas mãos de Ernesto Piccolo e Cissa Guimarães
(e elenco), está com casas lotadas até hoje. “Doidas” está em cartaz há (quase)
10 anos, e suspeitamos que o mesmo vai acontecer com Simples Assim, que desde a
sua estreia em maio de 2019, está com casas lotadas.
Continuando... citarei outra vez Rosane Lima
(coautora de Simples Assim), se referindo à “colagem” de cenas em que se
transformou o espetáculo: “Era preciso escolher um formato para a dramaturgia (...).
A lembrança da Ronda, peça de Arthur Schnitzler, soprou a ideia de uma estrutura
circular, com duplas personagens se revezando”.
A assim o público vai tomando conhecimento
dos aspectos frágeis/fortes da vida que nos foi dada para viver. E temos outra grande
surpresa! Georgiana Góes, interpretando a Morte (“assombração” que também pega
os poderosos corruptos...!), e outros momentos de Georgiana, que mostram a atriz
talentosa.
Devidamente
enumerados os morceaux de bravure de dois atores, Pedroca e Georgiana,
registramos o maior deles que é a interpretação de Julia Lemmertz surgindo em boca
de cena, e percorrendo-a, dando-nos a interpretação de uma viciada em telefone
celular! Julia recebe aplausos em cena aberta. Não é atoa que Ernesto Piccolo
anda feliz por ter dirigido a sua querida Julia, grande atriz e amiga. Destaque
e um minuto de fama para o Assistente de Palco (salvo engano Alessandro Santos),
que compõe o enfermeiro aguardando a saída da “maluquinha drogada”.
E finalmente vamos contar um pouco sobre o
que é o espetáculo. Os dois livros de crônicas de Martha Medeiros, acima
mencionados, nos levam a uma avaliação de nossos tempos modernos de segundo milênio.
Calmamente, sem alterações de pressão sanguínea, vai o espetáculo narrando (e
dando nome aos acontecimentos), os nossos dias atuais, o que acontece com o
nosso Brasil. Assim, temos o apresentador de TV que é despedido e vira filósofo
de rua; ou as várias maneiras que tem a mulher que trabalha, em nossos dias, de
se furtar ao stress de não poder cumprir os seus compromissos, através da
criação de uma “alternativa”, de uma substituta para as coisas da vida! Ou das
irmãs resolvendo uma difícil relação. Ou... Realmente, as situações vão entrando
em uma roda, dando continuidade ao que, como bem disse Rosane Lima, se transforma
em uma Ronda, como a do austríaco Schnitzler.
Na ficha técnica temos ainda os Figurinos
muito bons de Helena Araujo e a Alfaiataria Conrado. Há uma perfeição nos
trajes masculinos bem cortados, e nas roupas femininas cheias de charme. Um
espetáculo feito à perfeição. Não podemos destacar qual o melhor figurino,
embora o da Morte seja impactante e belo. A Trilha Sonora é de Rodrigo Penna, e
a Preparação Corporal de Cristina Moura. Preparação Vocal de Rose Gonçalves;
Assistente de Direção. Neuza Caribé. ÓTIMO ESPETÁCULO! NÃO PERCAM!
(PATROCINADO
PELO CIRCUITO CULTURAL BRADESCO SEGUROS).
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