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sexta-feira, 21 de julho de 2023

O SOM E A FÚRIA de lady macbeth

 


          

I D A   V I C E N Z I A

(da  Associação Internacional  de  Críticos  de Teatro  -  AICT)

(Especial)

 

O SOM E A FÚRIA  de lady  macbeth


Vocês sabem quem é Cris (Cristina ) Mayrink? Por certo que sabem. Ela agora está em cartaz com uma peça idealizada e escrita

por (e para ) ela, sua intérprete.  Um monólogo. Surpreendentemente, a atriz  se coloca -  o nos coloca  -  no caminho das mudanças literárias  - nessa escola que está sempre se reconstruindo::

 a literatura!  E, de repente, vemos Mayrink, a Provocadora, se inserir em um caminho muito procurado pelos dramaturgos, dando mais um passo na modificação da linguagem teatral.

Tudo é permitido, em “O Som e a Fúria” - desde a tragédia mais carregada,  até a comédia -  e ao envolvimento emocional mais sutil. Há quem chore, na fala final da atriz. Fala belíssima!

Passemos rápido por esta abertura! Mas não podemos esquecer que Cris deu um importante passo no caminho  da construção  dramatúrgica.  Citemos rapidamente Graça Aranha.  Quem diria! “um fabricante de acontecimentos” – que  encantou a Paris do início do século XX com seu revolucionário  Malazarte , um moleque macunaímico. Muito depois, mas ainda no século XX, veio Jorge de Lima e sua Invenção de Orfeu com sua visita descontinuada de todos os tempos, desde a cultura falada e escrita. E, finalmente, temos  Antonio Abujamra e sua desconstrução dos clássicos!  

E temos também  uma mulher::  chamando para a luta as suas iguais!  Não esqueçamos que Mayrink interpreta Lady Macbeth,  a feroz!  Nenhum homem, mesmo forte,  deve sair despreocupado de sua fala tão atual ! 

Pois é a respeito dessa  ferocidade  que  Cris Mayrink  encerra o espetáculo...  e com um dos mais belos textos sobre o nascimento da Bondade e da Maldade, em uma descrição de personalidades em seus limites.

O bravo começar da passagem pelo palco dessa força da natureza, Cris Mayrink,  interpretando Lady Macbeth,  nos deixa entusiasmados, envolvidos e acreditando no futuro do teatro (aliás, sempre acreditamos neste futuro). O teatro está sempre se renovando. Não percam a essa  renovação  da atriz, inserindo textos, criando outros

( a  idealização do espetáculo e criação do texto são dela), nos fazendo amar estar ali, naquele momento, assistindo  àquela  transformação. Com o colaboração do também ator Diogo Camargos,   dessa vez  diretor e também iluminador ( com Francisco Hashiguchi)  em um jogo perfeito entre atriz, diretor – a  luz e o movimento.

“O Som e a Fúria de lady macBeth”  é  um espetáculo bem acabado e com grande  ´entrada´  em nossas  emoções.  

O monólogo  final, sobre a formação da personalidade e a identificação do bem e do mal em um ser humano foi um dos monólogos mais fortes e poéticos já ouvidos em teatro. O que mais aproxima público e ator::  a suave e cruel poesia que transmite!  

Não esquecendo que, provocativa, Cristina Mayrink coloca no final do espetáculo - dominando palco e plateia -  a música de Dom e Ravel  “Eu te amo, meu Brasil”,  desafiando os brasileiros  que se pensam donos de nosso estandarte Nacional, e relembrando uma época em que tudo era retorcido, aflitivo! Cris, com certeza, não viveu essa época!   

A peça é impactante. E o impacto final, com sua comunicação visual com o público, onde uma cenografia que grita a verdade, no final,  não deixa esquecer o que devemos fazer para espantar o Mal,  não deixa ninguém pensar que este  Mayrink  Produções  faz  teatro para  se divertir!

TAMBÉM  FAZEM!  MAS  AÍ  JÁ  É  OUTRA  HISTÓRIA.

NÃO PERCAM  “O  SOM  E A FÚRIA DE LADY  MACBETH  !!!

É  BOM  VER BOM TEATRO !       

 

FICHA TÉCNICA:

Além dos já citados, temos:

 Figurino: Letícia Birolli (aliás, a concepção viva  dos  avatares  - e  das composições - se movimentam entre figurinos e atriz )

Vídeo Espetáculo :  Mauro Marques

Fotos de Cena:  Nando Machado

Design  Gráfico:  Thiago Ristow

Operação de Som: Camila  Camargos

Assessoria  de  Imprensa: Maria Fernanda  Gurgel

Realização:  Mayrink  Produções

 

O Som e a Fúria de Lady Macbeth” no Teatro Glaucio Gill ... 


  


 


 

     

   


 

 

     

   

 

 


 




 

 

     

   

 

 

 

     

  


quinta-feira, 13 de julho de 2023

IDA VICENZIA - CRITICA DE TEATRO : 1* Festival de Teatro Amir Haddad

IDA VICENZIA - CRITICA DE TEATRO : 1* Festival de Teatro Amir Haddad:   IDA   VICENZIA (da   Associação    Internacional   de   Críticos   dc   Teatro   -   AICT) (Especial)          Gilson de Barros em “Ri...

1* Festival de Teatro Amir Haddad

 

IDA  VICENZIA

(da  Associação   Internacional  de  Críticos  dc  Teatro  -  AICT)

(Especial)

  


      Gilson de Barros em “Riobaldo” no Teatro Amir Haddad    (Foto Paula Máiran)                                                         

                                                                                   

1*  FESTIVAL   DE  TEATRO   AMIR   HADDAD



Desde que se iniciou o primeiro Festival de Teatro Amir Haddad,

situado no antigo casarão do Tá na Rua, em  frente aos Arcos da

Lapa, o teatro com AMOR e ARTE foi relembrado.

E,  à  noite  do 3 de julho de 2023, uma segunda feira,  na interpretação de Claudia Abreu com “Virginia” (Woolf) estava inaugurado o teatro!

... E as  cercanias  do  teatro  e, claro, o seu  interior:: do dia 3 de julho até dia 16 do mesmo mês, quando do final do Festival -  estarão lotados  de celebridades  -  e de artistas que ainda   não  “chegaram lá”.

 ... E  DE  AMANTES  DO  TEATRO!

Desta vez  foi-nos dado assistir ao segundo espetáculo do Festival, o belíssimo RIOBALDO, inspirado em “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães  Rosa,  interpretado pelo excelente  ator  Gilson  de  Barros, em um monólogo poderoso,  na  fala  sertaneja de Riobaldo Tatarana . O ator  foi “desenferrujado”  pelo  grande  artista, ator,  e diretor de atores que é Amir  Haddad!

Não podemos estar em melhor companhia.

Saudemos ::   para não esquecer  -  foi no dia 7  de julho de 2023  -  a  apresentação  de  Gilson de Barros!  Foram apresentações de só um dia, que se complementam  até dia 16 de julho, no final do Festival,  com interpretações das mais variadas,  com os mais variados atores. Podemos assistir a uma estreia a cada dia!

 ...  E chegamos à conclusão que  os orientais são artistas de grande talento.  Tivemos, no Brasil, Antonio Abujamra, um sírio-libanês que foi  (e é) a  luz dos atores e das montagens  teatrais. E temos o oriental, descendente de árabes, Amir Haddad, outra  glória do nosso teatro!  A ilustre dama-atriz, Fernanda Montenegro,  quando vai estrear algum trabalho,  diz que irá se encontrar com o “desenferrujador”  de atores, Amir Haddad !. 

Boutade  ou  não, tal afirmação  é verdade absoluta.  Nosso diretor,  agora, transformou o casarão da Lapa, aonde funciona o grupo Tá Na Rua,  em um Teatro  -  onde organiza, e organizará   Espetáculos, Oficinas, Exposições, Filmes, e  o que mais vier !!!

Mas passemos ao espetáculo  “Riobaldo”,  no estilo de Guimarães Rosa, sem paradas ou explicações.  Riobaldo Tatarana  (Gilson de Barros) , um jagunço do sertão mineiro,  reconta, em  uma  linguagem  de  não  parar ,  sua vida naqueles sertões para as bandas de  Curvelo e outros sertões:

“O gerais  corre em volta”, explica Riobaldo.

E Guimarães Rosa começa sua epopeia sertaneja: :

-  Nonada. Tiros que o senhor ouviu forma de briga de homem não, Deus esteja”   . . .

E , depois de cotejar mais das  500  páginas do livro,  vamos  encontrar nosso Riobaldo/Gilson  às voltas com o seu encontro com o destino.  Aqui tomamos a liberdade de citar uma frase de Diadorim não encontrada no falar de Riobaldo, no monólogo da Festival do Amir,  porém  muito esclarecedora  -  quando Diadorim/Reinaldo  diz ::

 - Riobaldo, eu  gostava  que você  pudesse ter nascido  parente  meu...”

O monólogo vai se aproximando da morte de Hermógenes, o bandido que havia matado o pai de Diadorim,  Joca Ramiro.

  Enfim,  querer entrar na história desse Grande Sertão não é missão para uma breve 

crítica que fala sobre a peça. O amor dos dois, como sabemos, não se transformou, 

mas foi surpresa, para Riobaldo, encontrar seu amigo/irmão ... morto ... . Somente 

então Riobaldo conheceu seu amigo Reinaldo vivendo sua vida em um corpo de 

donzela!

Finalizamos com a bela frase de Riobaldo,  aplicada também por Amir, quando 

comentou o que acabara de assistir,  Gilson de Barros se confrontando com o amor .

Assim diz Amir,  e assim diz também Riobaldo :: 

 “Qualquer  amor  é  um  descanso  da  loucura”.

E assim fechamos o encontro que tivemos com este  belo monólogo.   

Pergunta – se  ::  Ele ficará em cena, Riobaldo/Gilson, aqui no nosso Rio de Janeiro?  Bem que seria bom !!!

Possuímos   um  belo programa,  esclarecedor   do  que  acontecerá

até  o  dia  16  de  julho,  último dia do Festival .

  

NÃO  DEIXEM  DE  CONHECER  O  PRIMEIRO   FESTIVAL                           

                           DE  TEATRO  AMIR  HADDAD ! ! !

 

FICHA TÉCNICA:

Direção:  Amir  Haddad

Idealização e Curadoria:   Máximo Cutrim

Coordenação:  Maria Helena da Cruz

Direção de  Produção :  Maria Ines Vale

Figurino :  Renata  Batista 

Video:  Fabio Pereira  e  Evandro Castro Neto

Fotografia: Marcos Batista e Mariana  Pégas

... e  muitos  outros !

É   BOM   VER   BOM   TEATRO  !!!   

    






domingo, 2 de julho de 2023

O MENINO É O PAI DO HOMEM

 

                                                               Rio Antigo: Arcos da  Lapa



CRITICA DE TEATRO

IDA  VICENZIA

(da  Associação  Internacional de Críticos de Teatro -  AICT)

 (Especial)

 

...       Desta  ve z estamos  analisando a criação teatral inspirada em   “Memórias  Póstumas  de  Brás Cubas” , de Machado de Assis, espetáculo que inaugura o espaço  multimídia  NAVE  DE    LUZ – concepção de Paulo Cesar Medeiros em colaboração com Sergio Marimba, artista  plástico e  cenógrafo.  O  espetáculo, intitulado  “O  MENINO   É   PAI   DO   HOMEM “  estreou dia primeiro de julho, um sábado de 2023, no Espaço SESC Copacabana. .    

Sendo, como todos nós sabemos,  Machado  de Assis  (1839-1908) um dos mais cultos  escritores  brasileiros, deu-nos, em menos de duas horas, a representação do que foi a sua obra!  E nós, como público, tivemos ocasião de acompanhar  os mais variados aspectos de sua criação, em apenas algumas horas. São várias, as suas linguagens, porém a da imaginação predomina, embora a critica social  seja um forte argumento seu.

Obra desenvolvida em várias  varias linguagens:  cinema,  televisão,  obras  acadêmicas,   resenhas literárias, e algumas peças de teatro como o recente  “O Alienista”, dirigido por Gustavo Paso, não lhe foram negadas.   Podemos dizer que Machado é o autor por excelência!

Depois de termos assistido esta  livre  apresentação   de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” , inspirada por Paulo Cesar Medeiros  e  com  Direção Artística de Moacyr Chaves, vemos surgir no ‘espaço mídia’ NAVE  DE LUZ as mais variadas formas de ruptura, e observamos recursos insuspeitados, desafiando a nossa imaginação. Na cenografia há tecidos translúcidos que escorregam pelo espaço cênico, transformando-o em  telas onde se projetam pedaços de nossa história e de fábulas que nos habitam.

E a cena, através de projeções de Sérgio Marimba, vai mostrando projeções de um Rio Antigo  há muito sonhado, ou as terríveis cenas e conflitos de uma época sempre repetida em nossas vidas. Tempos  iguais, vividos por outras gerações!

E o afrodescendente Machado de Assis recorda-nos os anos da escravidão do Brasil de sua juventude. Anos estes que não existem mais? Machado vai mostrando, com ironia, os tempos sombrios de todas as épocas. Tempos estes que deixam a nu a juventude de Machado com  a ganância das pessoas que colocam  anúncios  de compra e venda de escravos!

O Espaço Multimídia do SESC Copacabana, inspirado por iluminadores , artistas plásticos, músicos e atores, foi  criado  para  apresentar espetáculos das mais variadas manifestações artísticas, como teatro, dança, filmes, oficinas, debates, e o que mais houver... Bela iniciativa do SESC Copa, inspirada por Paulo Cesar Medeiros, o iluminador mágico que faz as luzes dançarem...

Tudo muito emocionante, neste início de Rio Antigo, não esquecendo as projeções.  A  NAVE  DE  LUZ  tem visões  deslumbrantes, que mobilizam o público.  Eis um espetáculo que se torna imprescindível.  Tivemos várias obras de Machado de Assis em cena, porém nunca tivemos um encontro tão multifacetado  e  com  linguagem tão própria do autor,  como  nesta  

                               NAVE  DE  LUZ.

A obra de Machado de Assis é colocada com ironia  e  inteligência.  É  realmente  um  espetáculo iluminador

O  ELENCO é formado Por seis atores e um musicista que se encarregam de tão árdua e divertida missão!

Citamos, por ordem alfabética, pois é impossível distinguir o brilho exato de cada um, dando destaque apenas ao solo cantado por José Mauro Brant, canção que é de uma beleza infinita.

São eles, o ator já citado José Mauro e, por ordem alfabética: Anderson Oli, Elisa Pinheiro, Karen Coelho, Márcia Santos, Monica Biel e o musicista Gustavo Corsi.  Todos excelentes, transformando a difícil passagem da obra de Machado de Assis em um divertido e inteligente acontecimento teatral.

NÃO PERCAM  !!!!

E, para arrematar esta crítica de pé quebrado, eis que surge a frase lapidar que encerra o espetáculo:

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

(... E isso que Machado não viveu, nem viverá, o que está batendo à nossa porta: o Antropoceno. O Planeta Terra está entrando em uma nova Era Geológica... )

Ficha técnica, além dos já citados: Figurinos:  graciosos e que dão destaque aos atores, em referência à  época, são de Ney Madeira e Dani Vidal;

Conteúdo Audiovisual: Rico Vilarouca e Renato Vilarouca ; Assistente de Direção: Sther Missad ;

Direção Musical: Gustavo Corsi ;

Fotos: Dalton  Valerio ; Produção Executiva: Thiago Piquet;  Assessoria de Imprensa:  João Pontes e Stella Stephany


quarta-feira, 24 de maio de 2023

 

UMA CRÍTICA DE DANÇA

Giselle, de Adolphe C. Adam

IDA VICENZIA

 (da Associação Internacional de Críticos (de Teatro – AICT)

 

Quem foi Adolphe C. Adam?

 

Em nossa historia particular do balé, ele foi o criador de Giselle, (embora tenha sido dele também a criação de Le Corsaire, com seu belíssimo pas de deux). Esse balé teria sido mesmo de sua criação? Tão diferentes, em espírito. Mas voltemos a Giselle:  Em nossas andanças, no passado, à procura de balés conseguimos, a duras penas,  assistir ao Primeiro Ato de Giselle, criação do parisiense Adam, de nome e perfill anglais...

Para esta crítica de dança que vos fala,  Giselle era um passo adiante no savoir faire dos franceses. Tratava-se da introdução de sua bem amada Mímica, na linguagem de Terpsicore. Não estamos fazendo confusão. Pelo fato de só ter assistido, até o presente, o Primeiro Ato de Giselle, foi a partir da celebração de 2023 - no Theatro Municipal do Rio de Janeiro – na abertura da temporada de balé, que o Segundo Ato de Giselle lhe foi revelado, e com ele vários mistérios que lhes falarei agora:

Eis que surge o balé completo! E o Segundo Ato se revela uma sequência de balés conhecidos. Eis como a cena do cemitério com suas “mortas” vestidas de branco, nos lembram  as  Wilis de Chopin, com seus noturnos e suas valsas.

Mas a surpresa não parou por aí. Para a plateia, que assistia pela primeira vez o balé completo, o “príncipe” do Primeiro Ato, que deixava a camponesa apaixonada em desamparo, nos mostra, durante todo o balé,  seu lado também apaixonado. O príncipe, como pensávamos, não deixou a camponesa  no abandono. O Segundo Ato nos mostra um príncipe apaixonado, desolado.

A interpretação de Cícero Gomes - um bailarino excepcional - foi de uma beleza clássica irretocável.

No Primeiro Ato surge outro personagem, este em tudo inspirado em Othelo, de Shakespeare! Trata-se do ciumento servo do príncipe? Ou de um camponês? Quem o interpreta com força e desalento, na última apresentação de Giselle, foi o excelente bailarino e mímico José Ailton. Também um belo desempenho, o desse bailarino, mas nada que venha ofuscar o brilho de Cícero Gomes na despedida de Giselle!

A bailarina Márcia Jacqueline dançou Giselle, no dia do encerramento da temporada, e a namorada do príncipe foi interpretada pela bailarina Priscila Mota. Ambas excelentes.

Vários acontecimentos são reconhecidos, no repertorio de Adam. Nomes como Horowitz (revisão da música); Théophile Gautier (adaptando Heinrich Heine);  Helio Bejani e Jorge Teixeira em sua adaptação final.

 

Regência da Orquestra do Theatro Municipal: Jésus Figueiredo.

 

Continuando... E, para aumentar a surpresa com a escrita de Heine, somos informados que Giselle é a quintessência do balé romântico! Nada a declarar, mas, em nossa opinião, cada espectador cria o balé que lhe vai na alma. Para alguns, trata-se de um balé revolucionário, colocado em ação com uma visão corporal na qual entra o jogo mímico.

A montagem também enfatiza os defeitos das majestades, e enriquece a pureza de sentimentos dos humildes. Enfim, este sentimento se destaca na atuação da camponesa Giselle.

Podemos afirmar que entre o príncipe, a princesa e a camponesa Giselle, desenrola-se uma verdadeira luta de classes! Nada mais revolucionário! Mas os velhos tempos de submissão ainda serão os mesmos desde sempre e, no caso, desde o século XIX até nossos dias, apesar da conscientização sobre a humilhação dos humildes, querendo despertar os que vivem no século XXI. Em nossos tempos, como nos tempos de Giselle, a  Liberdade deve ser o caminho para os vencedores. Mas no balé o príncipe deve seguir o seu destino, e  dos submissos: ele não pode realizar seus sonhos. Este balé expõe o sentimento de submissão que ainda impera, em nossos dias. Neste sentido, dando destaque à submissão do personagem, o balé se torna revolucionário, tendo o príncipe que casar com a mulher que ele “não” ama, mas pela qual tem um compromisso de honra, e deixar esquecida a mulher que ele verdadeiramente ama.

Estes são sentimentos e vivências que ainda sobrevivem em nossos dias? Sim.

O balé Giselle aponta para estes “sentimentos e vivências” que são o “sempre” do espírito humano. Concluímos que enfrentamos, em nossos dias, essa mistura diluída de todos os sentimentos humanos, de todas as épocas. Sentimentos esses que estão se transformando em um condicionamento difícil de ser rompido. Neste sentido, e apontando para condicionamento, é que o balé Giselle se torna revolucionário.

 

BELA ESTREIA DA TEMPORADA DE BALLET COM GISELLE !

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

OS OLHOS DA PELE

 




                             

I D A   V I C E N Z I A

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

 

OS  OLHOS DA   PELE

Devemos considerar este último trabalho de Regina Miranda não como sendo o último controle (de sua parte) sobre o universo artístico, mas uma observação sobre ele.

A primeira foi a descoberta do universo feminino pesquisando Antonin  Artaud  e seu  Heliogábalo:  “o feminino engendra o masculino” .

Foram tantas as descobertas, desde os anos 70, que podemos considerar Regina Miranda uma personagem!

Agora, depois de muita reflexão, Regina nos marca, em seu Os Olhos da Pele, como  “a devoradora  da sujeição artística ao cotidiano!”

Estamos  sujeitos  ao fator  tempo. Os artistas pensam e vivem esse fator! E sempre têm que enfrentar uma pergunta desconcertante que é feita para os bailarinos:

“que idade você tem?”.

Sim. Porque para os atores esta pergunta nunca é feita. Por exemplo: um ator, para fazer o Rei Lear, não precisa ter uma idade definida, precisa APRESENTAR AQUELA IDADE! Por exemplo:  precisa aparentar 90 anos! E isso não é o início de tudo! Se for um bom ator,  se souber mostrar o seu “Rei Lear” -  ELE  SERÁ  O  REI   LEAR!! mesmo tendo 40 anos!

Mas quem garante isso a um bailarino?

O bailarino tem que se reinventar!

E aí entra novamente a genialidade e a criatividade de Regina Miranda... e vemos sua dança, seus movimentos se estenderem em cena, movimentos com uma mobilidade...  às vezes dura, às vezes complacente...

Esta técnica é criada pelo Laban  Bartenieft  Institut  of  Movement.

Ou será Regina Miranda criatividade pura?

Ficamos observando seus gestos...

O estudo entre a dança e a tecnologia se encontram com os belos poemas de Jeladium Rumi (sé. XIII), ou a integração de seus movimentos com os  do videomaker Shalom Gorewtiz, em Ghazal?

Tudo isso é  Regina.

Hoje Regina Miranda parte da limitação imposta  ao bailarino. E destaca este temor!  No início do espetáculo, artista crítica o que é  se interpor entre estas dificuldades. Para ela o envelhecer quer limitar o bailarino, o que já não acontece com o ator! Para esta crítica, aí está a chave de seu pensamento, do desenvolver deste pensamento: Por que o bailarino?

Por que essa diferença não existe para o ator?

 

(Mas os bailarinos de Regina Miranda são atores/bailarinos!)

Como fica isso??!!

“Que idade você tem”? – é a pergunta que se repete, para o bailarino.

A sua condição física faz com que ele não seja só uma manifestação corporal:  o bailarino deve entregar todo o seu  espírito.

... e Regina Miranda, com seus movimentos quase imóveis, nos dá a impressão do que pode ser a imobilidade da dança!

Uma escultura?

As mãos de Regina são uma escultura!

Queremos comentar o trabalho de Regina e Os Olhos da Pele.

Nele as formas de arte podem se manifestar  livremente.  O que seriam os movimentos dos parangolés de Helio Oiticica, que nasceram da liberdade da livre expressão do artista? Em cena, e maravilhando o público, Fabiano Nunes reveste a dança em sua expressão mais pura, leva o público ao delírio nos trazendo Helio Oiticica para a cena!

E, a seguir,  assistimos Marina Salomon  evoluindo em seu texto de  bailarina/atriz!  E Lucas Popeta  participando com seu talento. Que belo espetáculo!

E que desbravador, derrubador de velhos tabus! Por que bailarinos não podem dançar sempre?

Por que estabelecer limites para os bailarinos?

DESTAQUES:

(As luzes de Luiz Paulo Nenen falam com o espetáculo). E o som bailarino de Sergio Krakovski  são pontos que destacamos nesta manifestação artística onde todos os elementos cênicos fazem parte de um só abraço. (O público em cena, no palco arena, também).

E o aconchegante Teatro Cacilda Becker!

Sim. Eis o espetáculo de Regina Miranda!

Vem mais coisa aí? Ela promete... Esperemos para ver!

REGINA  E  SUA   DANÇA   ABSOLUTA!

(NÃO   PERCAM   ESTE  ESPETÁCULO!)            

         

sábado, 24 de setembro de 2022

         SIMPLES ASSIM

        Pedroca Monteiro, Julia Lemmertz e Georgiana Góes em Simples Assim, direção Ernesto Piccolo.  (Foto Victor Hugo Ceccato)

Ernesto Piccolo e a atriz Julia Lemmertz ensaiando Simples Assim.
 (Foto Victor Hugo Ceccato)


 IDA VICENZIA 

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

     Volta ao cartaz, no Teatro dos 4, Gávea, Rio de Janeiro, o espetáculo Simples Assim, extraído do livro de crônicas de Martha Medeiros, em versão para teatro de Martha e Rosane Lima. Idealização: Gustavo Nunes. Direção de Ernesto Piccolo.

     Rosane faz uma interessante observação, no programa da peça: “como na colagem de um quebra-cabeças...” E foi o que aconteceu, quando as autoras misturaram os dois livros de crônicas de Martha Medeiros: Simples Assim e Quem Diria Que Viver Ia Dar Nisso, que resultaram na divertida ilustração de nossos dias, que assistimos no palco do Teatro dos 4. Ernesto Piccolo, e sua segura direção, têm muito a ver com a animação do espetáculo.

     Entramos no teatro, lotado, e percebemos o curioso cenário de Clivia Cohen: dois móbiles que se encarregam da movimentação da cena. Eles podem se transformar em bancadas de telejornal, em poltronas... e, ao fundo da cena percebemos um sem número de telas e nos perguntamos se não seriam suportes para projeções? Sim, a ambientação cênica de Clivia Cohen e as projeções de Rico Vilarouca e Renato Vilarouca, nos fazem imaginar que estamos na presença de vários atores em cena! O início do espetáculo nos mostra um excelente Pedroca Monteiro como âncora de um telejornal, contracenando com a atriz Julia Lemmertz que está hilária, interpretando uma diretora de cena. Aliás, esta abertura do espetáculo nos dá uma amostra do que virá depois. O público se delicia com o que lhe é mostrado, nesta primeira cena, através da fala do apresentador. 
     
       É nesta cena que Julia Lemmertz faz uma homenagem à região em que nasceu, o Rio Grande do Sul, falando com o gostoso sotaque gaúcho. Uma brincadeira de Ernesto Piccolo, este diretor que possui mão segura para desenvolver espetáculos divertidos, como é o caso de outro sucesso seu, e texto de Martha Medeiros: “Doidas e Santas” que, nas mãos de Ernesto Piccolo e da atriz Cissa Guimarães teve casas lotadas enquanto em cartaz. O mesmo vai acontecer com Simples Assim, que voltou em 2022 e do palco não sairá tão cedo. Casa lotadas, e o recado final, em altos brados, estremecendo a plateia - "All You Need is Love"! (dos Beatles...). 

     Continuando... outra vez Rosane Lima (coautora para o teatro de Simples Assim), se referindo à “colagem” de cenas em que se transformou o espetáculo: “Era preciso escolher um formato para a dramaturgia (diz Rosane), e a lembrança de "Ronda", peça de Arthur Schnitzler, nos deu a ideia de uma estrutura circular, com as personagens se revezando”.

     A assim o público vai tomando conhecimento dos aspectos dessa vida que nos foi dada para viver. E morrer... Temos Georgiana Góes interpretando a Morte, assombração que pega  também os poderosos e corruptos! Assim, ficam devidamente enumerados os morceaux de bravure destes três atores: Pedroca,  Georgiana e Julia. Esta última, em outro momento, em destaque, percorre a Boca de Cena interpretando uma viciada em telefone celular! 

       Ernesto Piccolo, o diretor, nos mostra do que é capaz o seu elenco. Destaque para um minuto de fama do Assistente de Palco (salvo engano Alessandro Santos), que compõe o enfermeiro aguardando a saída da "drogada" em celular. 

     E finalmente vamos contar um pouco sobre o que é o espetáculo. Os dois livros de crônicas de Martha Medeiros, acima mencionados, nos levam a uma avaliação dos tempos modernos do Segundo Milênio. Calmamente, vai o espetáculo narrando os nossos dias atuais, o que acontece com o nosso Brasil. Assim, temos o apresentador de TV que se revolta com as noticias que é obrigado a dar, e resolve pedir demissão! Pedroca, o apresntador, está excelente em cena. Vemos ainda as várias maneiras pelas quais a mulher que trabalha (em nossos dias), consegue criar, para se furtar ao stress de não poder cumprir os seus compromissos sociais... ela inventa uma substituta para as coisas da vida! Uma sósia! Ou a cena das irmãs resolvendo uma difícil relação...

     Ou... Simples Assim...! Não quer mais aquele relacionamento?  Diga NÃO! Você não quer mais aquele patrão? Diga NÃO! Brechtiano? Mas, infelizmente,  o subordinado de A Exceção e a Regra não conseguiu dizer não... Os atores de Piccolo nos mostram o caminho do Simples Assim... dizer NÃO!
 
     Simples Assim? 

    E Viva o Teatro! Viva Ernesto Piccolo, o diretor. Viva Julia Lemmertz. Georgina Góes. Pedroca Monteiro. 

     E situações vão entrando em uma roda, dando continuidade ao que, como disse Rosane Lima, se transforma em uma "Ronda", como a do austríaco Schnitzler!

    Na ficha técnica temos os Figurinos excelentes de Helena Araujo. São um espetáculo feito à perfeição. O figurino de A Morte, interpretada por Georgina Góes, é impactante e belo.  A Trilha Sonora é de Rodrigo Penna, e a Preparação Corporal de Cristina Moura. Preparação Vocal de Rose Gonçalves.   Assistente de Direção,  Neuza Caribé. Não percam este ótimo espetáculo. 

        P A R A B É N S !   NÃO PERCAM!