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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

 

Elenco de "Copacabana Palace O Musical". Na foto, Suely Franco, Claudio Lins, Vannessa  Gerbelli e dois dos ótimos bailarinos do elenco 
Encontro de antigos amores: Suely Franco (D. Mariazinha Guinle), Claudio Lins (Octavio Guinle e Vannessa Gerbelli (D. Mariazinha jovem)  


I D A  V I C E N Z I A

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

Eis um espetáculo que inaugura uma nova fase do teatro carioca, cheia de entusiasmo e amor ao público, parecendo estar se despedindo da tristonha fase, paralisante, dos “achaques pandêmicos”.

Estamos nos referindo ao belo “Copacabana Palace” e o seu “O Musical”, direção de Sergio Módena e Gustavo Wabner (o idealizador do espetáculo).

Texto de Ana Velloso e Vera Novello.       

                                                    1923

 Copacabana Palace  recém  inaugurado. O Hotel foi construído sobre um areal, na praia de Copacabana.O Espetáculo abrange os anos de 1923 (início, com a inauguração do Hotel), até a morte de Octavio Guinle, em 1968, e a narrativa de sua atual condição: Belmont Copacabana Palace. 

 ESPETÁCULO  -  narrado com ênfase, nos momentos mais importantes da criação do Hotel, momentos estes que ultrapassam as fronteiras do Brasil, dando início à fama internacional do Copacabana Palace. O carioca Octavio Guinle, de ascendência gaúcha, filho do bilionário Eduardo Pallasim Guinle, foi o criador do hotel. 

  Octavio Guinle, homem de grande carisma, era um verdadeiro “lord”, um cavalheiro do início do Século XX. Octavio adotou, para dois de seus filhos, o “second name” Eduardo, em homenagem ao avô.  Mariazinha Guinle, sua esposa, foi a personagem que  inspirou esta historia.

Mariazinha é interpretada por Suely Franco e Vannessa  Gerbelli  (Mariazinha quando jovem).  

O ator Claudio Lins está impecável interpretando e transmitindo o charme,  o savoir faire do criador deste que é o mais belo e mítico hotel brasileiro. (Inesquecível a cena em que ele seduz Mariazinha Guinle, com toques à Frank Sinatra, de maneira discreta, digna de um homem da melhor sociedade). Aliás, os dois estão impecáveis na cena, sendo Vannessa Gerbelli uma afirmação, em sua interpretação de Mariazinha.  

Neste espetáculo não há destaques, mas sim grandes participações, que o eleva à categoria de um dos melhores musicais brasileiros, mais plenos e verdadeiros, mostrando um Brasil sob  a influência da civilização francesa, em uma época de grande glamour e de política acertada, com Getulio  Vargas.

Destaque para as projeções da época, revelando detalhada pesquisa da produção. As projeções ocupam o fundo da cena, complementando o cenário da peça. A escada, colocada em movimento central da ação, tanto pode iluminar um fundo musical, como servir de interior para o convívio dos moradores daquele palácio-hotel. A concepção da cenografia é de Natália Lana (cenógrafa assistente: Marieta Spada).    

Do “fundo musical” temos muito o que destacar: a belíssima interpretação de Ariane Souza para Sarah Vaughan; Julia Goman como Marlene Dietrich, e Suely Franco, inesquecível, interpretando com brilhantismo as músicas que apresenta.  Vannessa  Gerbelli nos fazendo chorar, ao final do Primeiro Ato, quando  interpreta  Por Causa de Você, de Tom Jobim e Dolores Duran.  

Com um elenco de 14 atores, o espetáculo é movimentado e cheio de vida. Vários episódios acontecidos, nos primeiros anos de gloria do Copacabana Palace, foram registrados. Destacamos alguns marcantes e que ficaram famosos, como a participação de Orson Welles, o cineasta que, em seu desentendimento com a namorada (através de uma chamada telefônica) ocasiona  o “tombo” na piscina, de uma máquina de escrever!  (e outros acontecimentos insólitos, como ruídos de quebra de louças e móveis), dignos do temperamento do homem que movimentou o cinema americano! Interpretado pelo ator Saulo Rodrigues.

Há muitas outras passagens inesquecíveis. Registramos os números de dança com músicas da época. Somente a interpretação musical do tango deixou a desejar. Talvez, na noite em que nos foi dado assistir, o microfone de um dos músicos tenha dado defeito.  O tango costuma ser mais visceral...!!!!   

Revelador de nossa  submissão às pressões da burguesia, o discurso pro tradição, família, e liberdade de D. Santinha, esposa de Gaspar Dutra, que foi, também na ocasião, presidente do Brasil, depois de Getulio Vargas. Vários presidentes atravessaram a historia do Copacabana Palace.

Impossível registrar a ficha técnica em sua extensão. Destacamos a direção de produção de Alice Cavalcante, Ana Velloso e Vera Novello.  Coreografia de Roberta Fernandes. Músicas com orquestra ao vivo, cujo destaque permanece discreto, encoberta por uma tela negra, na lateral das escadas. Destacamos ainda a interpretação dançada das músicas em moda na época, como o cancan,  algumas de carnaval,  e muitas outras, além das acima mencionadas. Um musical que merece ser visto e aplaudido.  

Assessoria de Imprensa: João Pontes e Stella Stephany.  

terça-feira, 16 de março de 2021

VACA MALHADA DE HEMATOMAS


V A C A   M A L H A D A  D E  H E M A T O M A S

POESIA

IDA  VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)


P O E S I A S   D E   S T E L L A   S T E P H A N Y

A poeta descendente de iranianos, nascida por acaso na Bahia (Salvador) -  foi ainda um bebê para  o  Rio – onde  viveu  até  se  tornar a  poeta  que  surpreende  em  seu  primeiro livro.

Seus pais?

Vindos do Oriente Médio... Aida  e  Frederick.

Ela, cantora de Ópera, virou dona de casa, no Brasil. Ele, violinista - o “Turquinho” da orquestra, no Brasil...

Diz Stella sobre o pai, Frederick Stephany: “Camaleão poliglota de sete línguas: português, iraniano, armênio, italiano, inglês espanhol...  Lugares por onde passaram, em alguns deles viveram, suas línguas, aprendeu-as”.

AIDA STEPHANY, a mãe de Stella,  era uma mulher cheia de segredos... Dez anos viveu com o pai de Stella, na Itália...  e depois veio  para o  Brasil. E aí começou a Historia de  Stella Stephany.

Seu livro,  VACA  MALHADA  DE  HEMATOMAS -  já começa a surpreender,  desde seu  título, cuja capa Carcarah desenhou, e batizou de “ Fim de Tarde na Cidade”.  Linda capa.

Vocês conhecem “Carcarah”, pois não? Trata-se de Henrique de Macedo  Figueiroa, ilustrador e produtor premiado.  Lembram  dele?

Pois bem, este começo já promete. Depois Mario Bortolotto fez a orelha do livro, onde o diretor de teatro e dramaturgo diz coisas assim:

“Ela se derrama despudorada esmiuçando o cotidiano de uma mulher escandalosamente contemporânea  que  prefere  deixar “o rabo de fora”.   

Mas será só isso?

Meu Deus, como existe uma poeta assim, em pleno Século XXI, andando ao nosso lado na rua... nos teatros... e tendo Clarice Lispector para lhe abrir as portas?!

 “Escrevo porque não me entendo” – diz Clarice,

... e Stella assina embaixo. E  nos brinda, já  de  saída, com  sua remota idade de 150 Anos:

“Já fui muito velha” – nos diz Stella em seu poema de abertura de VACA MALHADA

 

É  T AN T A  C O I S A

(no poema)

150 ANOS


Já fui muito velha.

Tive 150 anos.  Foi  quando  meu  pai  morreu. Enruguei   toda...

 

(... e assim Stella caminha  - apesar das dores...  -  até chegar  aos  17 anos.  Mas não é essa a sua idade cronológica!... é  a do  poema!


É  T AN T A  C O I S A

(no poema)

150 ANOS


Já fui muito velha.

Tive 150 anos.  Foi  quando  meu  pai  morreu. Enruguei   toda...

 

Mas tudo se aproxima, para  nós  seus   leitores,  quando Bianca Ramoneda se  pergunta:

“ P o r q u e   e s c r e v e r  s o b r e   a l g u é m  s e   esse  p r ó p r i o  a l g u é m  –  c o m   seu  talento  e  força –, é  plenamente   capaz  de dizer  sobre  si  o  que  quer  que  seja?”

E  Bianca  Ramoneda  (Editora de Conteúdo de Vaca Malhada), nos adverte que se trata de um livro para adultos.

________________________________

 

A POETA DIZ QUE ESTÁ EM

TRANSIÇÃO

(E  se  apresenta):

 

Estou em processo de transição Stellar.

 Parei com os alisantes de comportamento. 

Não aceito mais

nenhum  relaxamento dos meus desejos

nenhum  redutor  dos  meus  volumes.

 

(e mais adiante...)

 

Não  sou  mulher  de  puxa  e  estica

tenho  minhas  crespices.

________________________

 

e... para “seu rei” ela adverte, lá no final:

 

FRUTO  MOFADO

Saudade de você, rei.

Da tua quentura

Em cima de mim

Suor  festivo  que

Você  me  rouba.

 

Você me conserta.

_________________

Será  o  grito  de  amor  da  poeta?

( Mas não procuremos historias... é POESIA!)

Trata-se de uma poeta  que deixa  seu feminino  aflorar, se desnudar...

E ela desnuda,  sem  constrangimento ,  o seu amor!

Poésie  à  clef?

____________________________

 

A  poeta nos encaminha para o fim do livro em...


ENTÃO É ISSO

MIRAGEM

 

Nestes 56 anos morri muitas vezes.

Nasci outras tantas

Empurrando a terra com muita força.  

(...)

O horizonte

continua a caminhar conosco.

O resto é vento no rosto.

_________________________

  

E  Stella  já  advertiu,  no início: 

(É  um  GOSTO ....  N Ã O  G O S T O)

 

É TANTA COISA     

 

Não  gosto  de  comedoria...

Gosto  de  pas-de deux... de  terceiro  sinal... cheiro  de  coxia!

 Gosto  de  poesia...

_______________________

... e o Girassol ?  

 

MARGARIDA  DOIDA

 

O girassol é uma beleza.

Às vezes me dá  um  pouco  de  medo  dele.

Do  seu  gigantismo  inesperado

da  sua  alegria  esbugalhada

margarida  doida  que  cresceu  sem  pedir  licença.

Igual  a  Alice  não  cabendo  mais  no  salão  das

portas  depois  do  beba-me.

Igual  a  uma  viagem  lisérgica.

Amarelona.

(...)

Hipertrofia

alegoria  da  alegria

flor  expressionista

conspiração  de  faces  redondas

(...)

Tipo  complô.   

______________________

 

E...

NO  ESCURO

 

VACA  MALHADA

 

(...)

Risco.

Arrisco

trombar  em  qualquer  canto

derrubar  alguma  coisa  muito  delicada

quebrá-la   até.

Cair, cortar, sangrar, arder

pode.

 

Posso

sair  daqui

vaca  malhada

de  hematomas.


Tenho  sede  de  expedição.

 

(...)

Até  que  tudo  mude  de  lugar

mais  uma  vez.

E  eu  comece  tudo  de  novo

mais  uma  vez.

E   outra.   E  outra.

_______________________

 

Por favor...

 

U M   C O P O   D’ À G U A,   P O R    F A V O R

( AS  FRASES  A  SEGUIR  SÃO  IMPRESSÕES  DA  RESENHISTA...)

 

A hora   do  desfecho,

A  secura,  a  faca

E o  estilhaço  de  vidros...

está  recomeçando!

 

(Afinal, o que está recomeçando?)

 

  Encerramos  com  o  genial :

 

             P L Á G I O

(IN  THE  NAME  OF  LOVE)

 

O  que será que me dá

Que brota à flor da pele

E que me sobe às faces

E  me  faz  corar

(...)

It’s  only love and that is all

Why should I fell the way I do

It’s only love and that is all

But  it’s  so  hard  loving  you

 

Eu te amo calado

Como quem ouve uma sinfonia

Porque meu coração dispara

Quando tem o seu cheiro 

Dentro de um livro

Dentro da noite veloz

 

Me conta agora como hei de partir

Se ao te conhecer dei para sonhar

Fiz  tantos  desvarios

Rompi  com  o  mundo

queimei  meus  navios

me  diz  pra  onde  é  que  inda  posso  ir

meu  sangue  errou  de  veia  e  se  perdeu

ne  me  quitte  pas

 

 

And, in  the  end

The  love  you  take  is  equal  to  the  love  you  make

I  love  U2

 

Minha playlist é um samba de uma nota só.

 

Diz a poeta, e explica que estas são...

(estrofes amorosamente roubadas de Chico Buarque, Rita Lee, Lennon & McCartney, Adriana Calcanhoto, Lulu Santos, Jacques Brel, U2)

 

 

É  tão difícil ser poeta!  Stella é...

 

(Mais  algumas  palavras  sobre  VACA  MALHADA):

 

Trata-se de uma criação que poderíamos “novoapelidar” de poésie à clef ? ... sendo o claro propósito da autora se colocar como personagem? 

Refleti um pouco mais e cheguei à conclusão que a poesia de Stella não é à clef... é escancarada 

mesmo! Como a literatura de Clarice Lispector, como a poesia da polonesa Wislawa Szymborska! 

Podemos, sim, dizer - com certa irreverência -, que Stella Stephany, em seu livro se refere, em quase 

todos os poemas, a uma experiência de vida... que é a sua! 


Podemos dizer a seu respeito o que Clarice Lispector dizia, ao se referir a sua própria experiência de 

vida: “escrevo-te porque não me entendo. É um tal mistério essa floresta onde sobrevivo para ser.”

 

A arte de Stella se concretiza em...

 

 UMAS  PESSOAS  L E G A I S

(primeiro final do livro, que se compõe de três finais:

 

UMAS PESSOAS  LEGAIS

ENTÃO É ISSO

E...

DEPOIS DO FIM

 

Mas antes vem...

O  RABO  DE  FORA

         com

 

(IN)VASÃO

 

Quero

frequentar a tua casa

comer da tua comida

vestir a tua camisa

assistir à tua Netflix

deitada na tua cama.

 

Quero

te abusar  

me lambuzar.

 

Quero

o fígado acebolado

da dona

do seu quadrado.

 

Em  UMAS  PESSOAS  LEGAIS

Stella  fala  em  seu  pai,  sua mãe,  sua avó:

Frederick  Habib   Stephany, o pai músico.

Aida – a mãe  (porque o avô de Stella gostava de ópera). Aida, ela também cantora de ópera no Teatro San Carlo, em Nápoles

... e sua avó ...

Parkuhi Hovnanian, iraniana e armênia – amante de gatos... como Stella! De cabelinho na venta – como Stella!

Em seu primeiro livro Stella sai à procura de si mesma.

Virão outros?

É tudo tão definitivo em Stella.

Ela já se encontrou.

Sofre com a poesia?

Não.

Alvíssaras! 

Permaneça conosco, Stella!

ATÉ MAIS VER! 

 

companheira  fiel
                                    Stella  Stephany doce....