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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

OS OLHOS DA PELE

 




                             

I D A   V I C E N Z I A

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

 

OS  OLHOS DA   PELE

Devemos considerar este último trabalho de Regina Miranda não como sendo o último controle (de sua parte) sobre o universo artístico, mas uma observação sobre ele.

A primeira foi a descoberta do universo feminino pesquisando Antonin  Artaud  e seu  Heliogábalo:  “o feminino engendra o masculino” .

Foram tantas as descobertas, desde os anos 70, que podemos considerar Regina Miranda uma personagem!

Agora, depois de muita reflexão, Regina nos marca, em seu Os Olhos da Pele, como  “a devoradora  da sujeição artística ao cotidiano!”

Estamos  sujeitos  ao fator  tempo. Os artistas pensam e vivem esse fator! E sempre têm que enfrentar uma pergunta desconcertante que é feita para os bailarinos:

“que idade você tem?”.

Sim. Porque para os atores esta pergunta nunca é feita. Por exemplo: um ator, para fazer o Rei Lear, não precisa ter uma idade definida, precisa APRESENTAR AQUELA IDADE! Por exemplo:  precisa aparentar 90 anos! E isso não é o início de tudo! Se for um bom ator,  se souber mostrar o seu “Rei Lear” -  ELE  SERÁ  O  REI   LEAR!! mesmo tendo 40 anos!

Mas quem garante isso a um bailarino?

O bailarino tem que se reinventar!

E aí entra novamente a genialidade e a criatividade de Regina Miranda... e vemos sua dança, seus movimentos se estenderem em cena, movimentos com uma mobilidade...  às vezes dura, às vezes complacente...

Esta técnica é criada pelo Laban  Bartenieft  Institut  of  Movement.

Ou será Regina Miranda criatividade pura?

Ficamos observando seus gestos...

O estudo entre a dança e a tecnologia se encontram com os belos poemas de Jeladium Rumi (sé. XIII), ou a integração de seus movimentos com os  do videomaker Shalom Gorewtiz, em Ghazal?

Tudo isso é  Regina.

Hoje Regina Miranda parte da limitação imposta  ao bailarino. E destaca este temor!  No início do espetáculo, artista crítica o que é  se interpor entre estas dificuldades. Para ela o envelhecer quer limitar o bailarino, o que já não acontece com o ator! Para esta crítica, aí está a chave de seu pensamento, do desenvolver deste pensamento: Por que o bailarino?

Por que essa diferença não existe para o ator?

 

(Mas os bailarinos de Regina Miranda são atores/bailarinos!)

Como fica isso??!!

“Que idade você tem”? – é a pergunta que se repete, para o bailarino.

A sua condição física faz com que ele não seja só uma manifestação corporal:  o bailarino deve entregar todo o seu  espírito.

... e Regina Miranda, com seus movimentos quase imóveis, nos dá a impressão do que pode ser a imobilidade da dança!

Uma escultura?

As mãos de Regina são uma escultura!

Queremos comentar o trabalho de Regina e Os Olhos da Pele.

Nele as formas de arte podem se manifestar  livremente.  O que seriam os movimentos dos parangolés de Helio Oiticica, que nasceram da liberdade da livre expressão do artista? Em cena, e maravilhando o público, Fabiano Nunes reveste a dança em sua expressão mais pura, leva o público ao delírio nos trazendo Helio Oiticica para a cena!

E, a seguir,  assistimos Marina Salomon  evoluindo em seu texto de  bailarina/atriz!  E Lucas Popeta  participando com seu talento. Que belo espetáculo!

E que desbravador, derrubador de velhos tabus! Por que bailarinos não podem dançar sempre?

Por que estabelecer limites para os bailarinos?

DESTAQUES:

(As luzes de Luiz Paulo Nenen falam com o espetáculo). E o som bailarino de Sergio Krakovski  são pontos que destacamos nesta manifestação artística onde todos os elementos cênicos fazem parte de um só abraço. (O público em cena, no palco arena, também).

E o aconchegante Teatro Cacilda Becker!

Sim. Eis o espetáculo de Regina Miranda!

Vem mais coisa aí? Ela promete... Esperemos para ver!

REGINA  E  SUA   DANÇA   ABSOLUTA!

(NÃO   PERCAM   ESTE  ESPETÁCULO!)