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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

OS OLHOS DA PELE

 




                             

I D A   V I C E N Z I A

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

 

OS  OLHOS DA   PELE

Devemos considerar este último trabalho de Regina Miranda não como sendo o último controle (de sua parte) sobre o universo artístico, mas uma observação sobre ele.

A primeira foi a descoberta do universo feminino pesquisando Antonin  Artaud  e seu  Heliogábalo:  “o feminino engendra o masculino” .

Foram tantas as descobertas, desde os anos 70, que podemos considerar Regina Miranda uma personagem!

Agora, depois de muita reflexão, Regina nos marca, em seu Os Olhos da Pele, como  “a devoradora  da sujeição artística ao cotidiano!”

Estamos  sujeitos  ao fator  tempo. Os artistas pensam e vivem esse fator! E sempre têm que enfrentar uma pergunta desconcertante que é feita para os bailarinos:

“que idade você tem?”.

Sim. Porque para os atores esta pergunta nunca é feita. Por exemplo: um ator, para fazer o Rei Lear, não precisa ter uma idade definida, precisa APRESENTAR AQUELA IDADE! Por exemplo:  precisa aparentar 90 anos! E isso não é o início de tudo! Se for um bom ator,  se souber mostrar o seu “Rei Lear” -  ELE  SERÁ  O  REI   LEAR!! mesmo tendo 40 anos!

Mas quem garante isso a um bailarino?

O bailarino tem que se reinventar!

E aí entra novamente a genialidade e a criatividade de Regina Miranda... e vemos sua dança, seus movimentos se estenderem em cena, movimentos com uma mobilidade...  às vezes dura, às vezes complacente...

Esta técnica é criada pelo Laban  Bartenieft  Institut  of  Movement.

Ou será Regina Miranda criatividade pura?

Ficamos observando seus gestos...

O estudo entre a dança e a tecnologia se encontram com os belos poemas de Jeladium Rumi (sé. XIII), ou a integração de seus movimentos com os  do videomaker Shalom Gorewtiz, em Ghazal?

Tudo isso é  Regina.

Hoje Regina Miranda parte da limitação imposta  ao bailarino. E destaca este temor!  No início do espetáculo, artista crítica o que é  se interpor entre estas dificuldades. Para ela o envelhecer quer limitar o bailarino, o que já não acontece com o ator! Para esta crítica, aí está a chave de seu pensamento, do desenvolver deste pensamento: Por que o bailarino?

Por que essa diferença não existe para o ator?

 

(Mas os bailarinos de Regina Miranda são atores/bailarinos!)

Como fica isso??!!

“Que idade você tem”? – é a pergunta que se repete, para o bailarino.

A sua condição física faz com que ele não seja só uma manifestação corporal:  o bailarino deve entregar todo o seu  espírito.

... e Regina Miranda, com seus movimentos quase imóveis, nos dá a impressão do que pode ser a imobilidade da dança!

Uma escultura?

As mãos de Regina são uma escultura!

Queremos comentar o trabalho de Regina e Os Olhos da Pele.

Nele as formas de arte podem se manifestar  livremente.  O que seriam os movimentos dos parangolés de Helio Oiticica, que nasceram da liberdade da livre expressão do artista? Em cena, e maravilhando o público, Fabiano Nunes reveste a dança em sua expressão mais pura, leva o público ao delírio nos trazendo Helio Oiticica para a cena!

E, a seguir,  assistimos Marina Salomon  evoluindo em seu texto de  bailarina/atriz!  E Lucas Popeta  participando com seu talento. Que belo espetáculo!

E que desbravador, derrubador de velhos tabus! Por que bailarinos não podem dançar sempre?

Por que estabelecer limites para os bailarinos?

DESTAQUES:

(As luzes de Luiz Paulo Nenen falam com o espetáculo). E o som bailarino de Sergio Krakovski  são pontos que destacamos nesta manifestação artística onde todos os elementos cênicos fazem parte de um só abraço. (O público em cena, no palco arena, também).

E o aconchegante Teatro Cacilda Becker!

Sim. Eis o espetáculo de Regina Miranda!

Vem mais coisa aí? Ela promete... Esperemos para ver!

REGINA  E  SUA   DANÇA   ABSOLUTA!

(NÃO   PERCAM   ESTE  ESPETÁCULO!)            

         

sábado, 24 de setembro de 2022

         SIMPLES ASSIM

        Pedroca Monteiro, Julia Lemmertz e Georgiana Góes em Simples Assim, direção Ernesto Piccolo.  (Foto Victor Hugo Ceccato)

Ernesto Piccolo e a atriz Julia Lemmertz ensaiando Simples Assim.
 (Foto Victor Hugo Ceccato)


 IDA VICENZIA 

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

     Volta ao cartaz, no Teatro dos 4, Gávea, Rio de Janeiro, o espetáculo Simples Assim, extraído do livro de crônicas de Martha Medeiros, em versão para teatro de Martha e Rosane Lima. Idealização: Gustavo Nunes. Direção de Ernesto Piccolo.

     Rosane faz uma interessante observação, no programa da peça: “como na colagem de um quebra-cabeças...” E foi o que aconteceu, quando as autoras misturaram os dois livros de crônicas de Martha Medeiros: Simples Assim e Quem Diria Que Viver Ia Dar Nisso, que resultaram na divertida ilustração de nossos dias, que assistimos no palco do Teatro dos 4. Ernesto Piccolo, e sua segura direção, têm muito a ver com a animação do espetáculo.

     Entramos no teatro, lotado, e percebemos o curioso cenário de Clivia Cohen: dois móbiles que se encarregam da movimentação da cena. Eles podem se transformar em bancadas de telejornal, em poltronas... e, ao fundo da cena percebemos um sem número de telas e nos perguntamos se não seriam suportes para projeções? Sim, a ambientação cênica de Clivia Cohen e as projeções de Rico Vilarouca e Renato Vilarouca, nos fazem imaginar que estamos na presença de vários atores em cena! O início do espetáculo nos mostra um excelente Pedroca Monteiro como âncora de um telejornal, contracenando com a atriz Julia Lemmertz que está hilária, interpretando uma diretora de cena. Aliás, esta abertura do espetáculo nos dá uma amostra do que virá depois. O público se delicia com o que lhe é mostrado, nesta primeira cena, através da fala do apresentador. 
     
       É nesta cena que Julia Lemmertz faz uma homenagem à região em que nasceu, o Rio Grande do Sul, falando com o gostoso sotaque gaúcho. Uma brincadeira de Ernesto Piccolo, este diretor que possui mão segura para desenvolver espetáculos divertidos, como é o caso de outro sucesso seu, e texto de Martha Medeiros: “Doidas e Santas” que, nas mãos de Ernesto Piccolo e da atriz Cissa Guimarães teve casas lotadas enquanto em cartaz. O mesmo vai acontecer com Simples Assim, que voltou em 2022 e do palco não sairá tão cedo. Casa lotadas, e o recado final, em altos brados, estremecendo a plateia - "All You Need is Love"! (dos Beatles...). 

     Continuando... outra vez Rosane Lima (coautora para o teatro de Simples Assim), se referindo à “colagem” de cenas em que se transformou o espetáculo: “Era preciso escolher um formato para a dramaturgia (diz Rosane), e a lembrança de "Ronda", peça de Arthur Schnitzler, nos deu a ideia de uma estrutura circular, com as personagens se revezando”.

     A assim o público vai tomando conhecimento dos aspectos dessa vida que nos foi dada para viver. E morrer... Temos Georgiana Góes interpretando a Morte, assombração que pega  também os poderosos e corruptos! Assim, ficam devidamente enumerados os morceaux de bravure destes três atores: Pedroca,  Georgiana e Julia. Esta última, em outro momento, em destaque, percorre a Boca de Cena interpretando uma viciada em telefone celular! 

       Ernesto Piccolo, o diretor, nos mostra do que é capaz o seu elenco. Destaque para um minuto de fama do Assistente de Palco (salvo engano Alessandro Santos), que compõe o enfermeiro aguardando a saída da "drogada" em celular. 

     E finalmente vamos contar um pouco sobre o que é o espetáculo. Os dois livros de crônicas de Martha Medeiros, acima mencionados, nos levam a uma avaliação dos tempos modernos do Segundo Milênio. Calmamente, vai o espetáculo narrando os nossos dias atuais, o que acontece com o nosso Brasil. Assim, temos o apresentador de TV que se revolta com as noticias que é obrigado a dar, e resolve pedir demissão! Pedroca, o apresntador, está excelente em cena. Vemos ainda as várias maneiras pelas quais a mulher que trabalha (em nossos dias), consegue criar, para se furtar ao stress de não poder cumprir os seus compromissos sociais... ela inventa uma substituta para as coisas da vida! Uma sósia! Ou a cena das irmãs resolvendo uma difícil relação...

     Ou... Simples Assim...! Não quer mais aquele relacionamento?  Diga NÃO! Você não quer mais aquele patrão? Diga NÃO! Brechtiano? Mas, infelizmente,  o subordinado de A Exceção e a Regra não conseguiu dizer não... Os atores de Piccolo nos mostram o caminho do Simples Assim... dizer NÃO!
 
     Simples Assim? 

    E Viva o Teatro! Viva Ernesto Piccolo, o diretor. Viva Julia Lemmertz. Georgina Góes. Pedroca Monteiro. 

     E situações vão entrando em uma roda, dando continuidade ao que, como disse Rosane Lima, se transforma em uma "Ronda", como a do austríaco Schnitzler!

    Na ficha técnica temos os Figurinos excelentes de Helena Araujo. São um espetáculo feito à perfeição. O figurino de A Morte, interpretada por Georgina Góes, é impactante e belo.  A Trilha Sonora é de Rodrigo Penna, e a Preparação Corporal de Cristina Moura. Preparação Vocal de Rose Gonçalves.   Assistente de Direção,  Neuza Caribé. Não percam este ótimo espetáculo. 

        P A R A B É N S !   NÃO PERCAM!

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

O A L I E N I S T A

 


        I D A    V I C E N Z I A 

        (da  Associação  Internacional de Críticos de Teatro - AICT )

        (Especial)         

                        

          Em cena Simão Bacamarte (Romulo Estrela) e D. Evarista (Luciana Fávero) em O Alienista, 
          de Machado de Assis, adaptação e direção de Gostavo Paso (Foto de Luciana Salvatore)


                           

        O diretor-autor  Gustavo Paso  escolhe muito bem as suas inspirações.                      Primeiro virou a nossa cabeça com Harold Pinter e sua Festa de Aniversário!...          e agora nos vem com esta surreal  montagem de Machado de Assis.

        A  Arte se alimenta de Metáforas... E com genialidade. ... como a que os                   autores   Gustavo Paso e seu “companheiro de meninice”, Celso Taddei                     utilizam, para construir essa “figura de linguagem” que é  a adaptação                       destes autores, do magnífico O Alienista, de Machado de Assis!  

        Vamos  a  O Alienista!

       Com uma lista de 14 atores (no dia em que assistimos eram 15, pois Gustavo        Paso resolveu participar da brincadeira, entrando em cena!), e um cenário espetacular, musica idem, iluminação “dançante”, ele nos carrega, através de 1 hora e 30 minutos (mais ou menos), a um brilhante trabalho de analise critica, ironia, selvageria, indignação, falsidade e loucura, para nos advertir que o mundo não muda, por mais que Bertold Brecht e tantos artistas lúcidos tentem mudá-lo. Isso acontece desde sempre, porém agora, confrontando o século XIX com o século XXI, pensamos que ela, a mudança, está sempre e cada vez mais distante, para nossa tristeza!

Mudará, algum dia?

Gustavo Paso credita na Patafísica (uma crítica à lógica racional, segundo o diretor do espetáculo) para nos mostrar o mundo de Itaguai (uma pequena vila onde transcorre a historia), e o estreito caminho entre o mundo do conto de Machado, e a nossa vivência, nos faz crer que estamos, mesmo, dentro de uma lógica irracional. Mas nem tudo está perdido: ocorre, na plateia, o sonho de todo artista! Ela está lotada! De professores, alunos... e amantes de teatro!

Pelo polêmico tema em questão vemos, com alivio, que não atraímos, e esperamos não atrair: os raivosos! (E quando dizemos “raivosos”, esperamos que nos entendam).

Quanto ao elenco, temos só surpresas. (tirando Samir Murad, meu conhecido de outros teatros, os outros são novidade, para mim). Mas podemos reconhecer que Simão Bacamarte apresenta o ator Romulo Estrela, muito empenhado em sua atuação, embora sua dicção ainda tenha momentos de irregularidade. Sua companheira, D. Evarista, interpretada por Luciana Fávero (minha conhecida de outras peças) continua, e cada vez mais, com seu poder de “transformação de um corpo em outro corpo” como o quer a Cia Epigenia em ação.

Aliás, a Direção de Arte, Cenário e Visagismo são de Gustavo Paso. Ele queria algo Expressionista, que lembrasse O Gabinete do Dr. Galigari... e o conseguiu! A iluminação “dançante” é do mestre Paulo Cesar Medeiros.

Em tempo: a Cia Epigenia foi criada por Luciana Fávero e Gustavo Paso, e completa hoje, ano 2022, 22 anos de sua criação! Orgulho nosso, da gente de teatro, ter uma Companhia que consegue estabilidade. Torcemos por ela!     

No elenco Glaucio Gomes, Tatiana Sobral, Renato Peres, Laura Canabrava são nomes que nos soam conhecidos, mas é tão difícil localizá-los na historia do nosso teatro! Longa e meritosa vida a eles! (É estranho para uma crítica não poder se alongar sobre todos os atores... mas o elenco me ultrapassa, confesso!), a maneira com que se apresentam em palco, sua energia e talento já nos preenche a alma! Claro, há também Tecca Maria, Anna Hannickel, Dodi Cardoso, Renato Ribonee, Erik Villa, Eduardo Zayit ... e Vitor Thiré (da família teatral tão nossa conhecida?). Ele faz o pastor, enquanto Dodi Cardoso é o representante da Igreja Católica.

Neste espetáculo todas as classes têm seu momento de cena, principalmente a dos políticos, com suas votações segundo os seus interesses... A semelhança com os nossos dias trouxe o pensamento dos anos 70, e  a preocupação: “Mas como deixaram subir ao palco uma crítica tão clara dos governos e da sociedade atual?”

Eis aí mais um exemplo da independência desta Companhia.    

E todos os detalhes do espetáculo são acertados. Trata-se de uma linguagem moderna. Expressões acentuadas por máscaras pintadas, os figurinos (de Graziela Bastos), dão grande poder estético para a cena... as coreografias são de Edio Nunes (excelente bailarino e ator), e o cenário, surpreendente, é de Gustavo Paso... Há também vozes cantadas, e a música de André Poyart, nosso conhecido de Festa de Aniversario. Neste espetáculo, Festa... (texto de Harold Pinter), Poyart executava seu Beethoven escondido nas alturas da cena! Em O Alienista ele executa sua música nos bastidores da cena... Entendemos este mistério, e o perseguimos!

Durante o espetáculo ouvimos a voz de Machado envolvida com a de Gustavo Paso e Celso Taddei. Seus DOIS projetos de crítica ao estado eterno, de nossas decepções, é impressionante! E funciona como advertência para o que pode vir. 

Vida Longa a O Anarquista!

É BOM VER BOM TEATRO!      

Eles ficam no Teatro das Artes até domingo, dia 10 de abril, depois saem em excursão e participação em festivais.

Produção Executiva: Junior Godim

Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa     

 

 

    

 

domingo, 17 de julho de 2022

 

 IDA  VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de  Teatro – AICT)

(Especial)

 

C I R C U N C I S Ã O  E M   N O V A  Y O R K,

O autor dessa comedia conhecia bem a alma humana. Ele consegue colocar vários sentimentos e preconceitos em jogo, e luta contra o sentimento de culpa de Miriam, a personagem que desencadeia a ação, interpretada por uma elogiável Narjara Tureta. Devemos acrescentar, já no início, que este personagem explica, para a família, seu sentimento de culpa, por ser como é... e tudo se resolve no final.

Mas estamos falando em João Bethencourt, o autor de tantos sucessos, que novamente se apresenta entre nós!

Não nos apressemos. Estamos falando sobre uma sociedade judia, portanto, devemos levar em conta seu rígido dogma de preconceitos religiosos, o que nos leva a um quid pro quo muito bem resolvido!

Antes de tudo, saudemos o retorno do autor húngaro/brasileiro João Bethencourt, grande comediógrafo, nascido em Budapest. João veio para o Brasil em 1933, com a família, aos 10 anos de idade. Sabemos o porquê de tantos cuidados. Ah! As guerras do continente europeu!

Formado em Yale, João é Mestre em Artes Cênicas por aquela Universidade, e, como não podemos deixar de acrescentar, ele é (era?), um ser humano excepcional e nos deixa várias peças, entre elas a que está se despedindo hoje, dia 17 de julho de 2022, do Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro. Mas temos uma boa notícia! Circuncisão vai abrilhantar a reinauguração do Teatro Princesa Isabel, aquele que fica na entrada de Copacabana, e cujo proprietário (e amigo das Artes Cênicas) é Orlando Miranda! Boas Vindas! Este Teatro, que iluminou por muitos anos a Avenida que lhe dá o nome,  muito em breve voltará a nos iluminar!

A estreia do Princesa Isabel será com a peça que estamos comentando. O elenco é brilhante: Temos  Narjara Tureta como Miriam, a jovem judia que resolve se desvencilhar das amarras de sua condição, e partir para uma nova vida, independente! Rogério Freitas, brilhando sempre, dessa vez como o amigo (e avô!) do filho de Miriam... e de Emily, a companheira que influencia a entrada em um futuro menos ortodoxo praqueles que ainda usam o quipá (os pais... os homens!), indicativo de que a religião está acima de tudo. Eis que surge o Abraão II, (o pai de Emily) Rogério Freitas, para modificar a situação e fazer parte do embruglio!

E como fica isso?!

... e, a partir dessas revelações, o público vê surgir as situações mais inesperadas, na maioria conduzidas pela mãe judia! (Jalusa Barcellos em interpretação destacada e brilhante, como a mãe que procura solucionar a questão, para ela tão alarmente, de ter uma filha que está apaixonada por uma mulher! Jalusa/Sara, está impagável em seus cuidados!).

Mas há que vencer a resistência do patriarca Sergio Fonta, o Abraão I!... e aí surge o nó da questão!

Abraão I, vaidoso com a filha que vai ser mãe, e com a possibilidade de ser avô! Porém, sem o verdadeiro conhecimento do que está ocorrendo em sua residência, ele é o involuntário protagonista de tal confusão! (Sergio Fonta em memorável atuação).  E aí começa a situação de comédia que acaba envolvendo atores e público!

... Participamos, todos, do poder de imaginação de nosso dramaturgo, muito bem dirigido por Guilherme Delrio e orientado por nada 

... Participamos, todos, do poder de imaginação de nosso dramaturgo, muito bem dirigido por Guilherme Delrio e orientado por nada menos do que Cristina Bethencourt, a filha de João!

O elenco, composto por vários e bons artistas, entre eles Dalton Lisboa, uma surpresa, e Carlos Loffler, voltando com sua carga cômica e o papel do rabino! Temos também a noiva/esposa de Miriam, a doce e firme Emily, interpretada pro Araci Breckenfeld.

E mais não relatamos, deixamos para a imaginação do público (ou de quem vier a sê-lo) para complementar o enredo!

No final, celebrando o amor resolvido, o elenco nos brinda com uma espécie da can can judeu! – com uma música muito conhecida –  Aleluia! - comemorando amizade e amor... e as palmas do público!

Na ficha técnica, destaque para os figurinos criativos de Augusto Pessoa, que também se encarrega do cenário (uma simples sala de visitas, com muitos recursos cênicos...). Temos também a coreografia de Julita Machado. E a Luz e feita por Guilherme Delrio e Cristina Bethencourt.

Consultoria e Gestão Cultural: Patrícia Castro Arte e Cultura.

NÃO PERCAM!

É  BOM  VER  BOM  TEATRO!              

 

       

 

         IDA  VICENZIA

      (da Associação Internacional de Críticos de  Teatro – AICT)

      (Especial)

 

      C I R C U N C I S Ã O  E M   N O V A  Y O R K,


         O autor dessa comedia conhecia bem a alma humana. Ele consegue colocar vários       

       sentimentos e preconceitos em jogo, e luta contra o sentimento de culpa de Miriam,    

        a personagem que desencadeia a ação, interpretada por uma elogiável Narjara            

        Tureta. Devemos acrescentar, já no início, que este personagem explica, para a           

         família, seu sentimento de culpa, por ser como é... e tudo se resolve no final.

          Mas estamos falando em João Bethencourt, o autor de tantos sucessos, que                novamente se apresenta entre nós! 

Não nos apressemos. Estamos falando sobre uma sociedade judia, portanto, devemos levar em conta seu rígido dogma de preconceitos religiosos, o que nos leva a um quid pro quo muito bem resolvido!

Antes de tudo, saudemos o retorno do autor húngaro/brasileiro João Bethencourt, grande comediógrafo, nascido em Budapest. João veio para o Brasil em 1933, com a família, aos 10 anos de idade. Sabemos o porquê de tantos cuidados. Ah! As guerras do continente europeu!

Formado em Yale, João é Mestre em Artes Cênicas por aquela Universidade, e, como não podemos deixar de acrescentar, ele é (era?), um ser humano excepcional e nos deixa várias peças, entre elas a que está se despedindo hoje, dia 17 de julho de 2022, do Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro. Mas temos uma boa notícia! Circuncisão vai abrilhantar a reinauguração do Teatro Princesa Isabel, aquele que fica na entrada de Copacabana, e cujo proprietário (e amigo das Artes Cênicas) é Orlando Miranda! Boas Vindas! Este Teatro, que iluminou por muitos anos a Avenida que lhe dá o nome,  muito em breve voltará a nos iluminar!

A estreia do Princesa Isabel será com a peça que estamos comentando. O elenco é brilhante: Temos  Narjara Tureta como Miriam, a jovem judia que resolve se desvencilhar das amarras de sua condição, e partir para uma nova vida, independente! Rogério Freitas, brilhando sempre, dessa vez como o amigo (e avô!) do filho de Miriam... e de Emily, a companheira que influencia a entrada em um futuro menos ortodoxo praqueles que ainda usam o quipá (os pais... os homens!), indicativo de que a religião está acima de tudo. Eis que surge o Abraão II, (o pai de Emily) Rogério Freitas, para modificar a situação e fazer parte do embruglio!

E como fica isso?!

... e, a partir dessas revelações, o público vê surgir as situações mais 

Elenco  Circuncisão em Nova York – Foto de Rogério Fidalgo

 

O autor dessa comedia conhecia bem a alma humana. Ele consegue colocar vários sentimentos e preconceitos em jogo, e luta contra o sentimento de culpa de Miriam, a personagem que desencadeia a ação, interpretada por uma elogiável Narjara Tureta. Devemos acrescentar, já no início, que este personagem explica, para a família, seu sentimento de culpa, por ser como é... e tudo se resolve no final.

Mas estamos falando em João Bethencourt, o autor de tantos sucessos, que novamente se apresenta entre nós!

Não nos apressemos. Estamos falando sobre uma sociedade judia, portanto, devemos levar em conta seu rígido dogma de preconceitos religiosos, o que nos leva a um quid pro quo muito bem resolvido!

Antes de tudo, saudemos o retorno do autor húngaro/brasileiro João Bethencourt, grande comediógrafo, nascido em Budapest. João veio para o Brasil em 1933, com a família, aos 10 anos de idade. Sabemos o porquê de tantos cuidados. Ah! As guerras do continente europeu!

Formado em Yale, João é Mestre em Artes Cênicas por aquela Universidade, e, como não podemos deixar de acrescentar, ele é (era?), um ser humano excepcional e nos deixa várias peças, entre elas a que está se despedindo hoje, dia 17 de julho de 2022, do Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro. Mas temos uma boa notícia! Circuncisão vai abrilhantar a reinauguração do Teatro Princesa Isabel, aquele que fica na entrada de Copacabana, e cujo proprietário (e amigo das Artes Cênicas) é Orlando Miranda! Boas Vindas! Este Teatro, que iluminou por muitos anos a Avenida que lhe dá o nome,  muito em breve voltará a nos iluminar!

A estreia do Princesa Isabel será com a peça que estamos comentando. O elenco é brilhante: Temos  Narjara Tureta como Miriam, a jovem judia que resolve se desvencilhar das amarras de sua condição, e partir para uma nova vida, independente! Rogério Freitas, brilhando sempre, dessa vez como o amigo (e avô!) do filho de Miriam... e de Emily, a companheira que influencia a entrada em um futuro menos ortodoxo praqueles que ainda usam o quipá (os pais... os homens!), indicativo de que a religião está acima de tudo. Eis que surge o Abraão II, (o pai de Emily) Rogério Freitas, para modificar a situação e fazer parte do embruglio!

E como fica isso?!

... e, a partir dessas revelações, o público vê surgir as situações mais 

 

O autor dessa comedia conhecia bem a alma humana. Ele consegue colocar vários sentimentos e preconceitos em jogo, e luta contra o sentimento de culpa de Miriam, a personagem que desencadeia a ação, interpretada por uma elogiável Narjara Tureta. Devemos acrescentar, já no início, que este personagem explica, para a família, seu sentimento de culpa, por ser como é... e tudo se resolve no final.

Mas estamos falando em João Bethencourt, o autor de tantos sucessos, que novamente se apresenta entre nós!

Não nos apressemos. Estamos falando sobre uma sociedade judia, portanto, devemos levar em conta seu rígido dogma de preconceitos religiosos, o que nos leva a um quid pro quo muito bem resolvido!

Antes de tudo, saudemos o retorno do autor húngaro/brasileiro João Bethencourt, grande comediógrafo, nascido em Budapest. João veio para o Brasil em 1933, com a família, aos 10 anos de idade. Sabemos o porquê de tantos cuidados. Ah! As guerras do continente europeu!

Formado em Yale, João é Mestre em Artes Cênicas por aquela Universidade, e, como não podemos deixar de acrescentar, ele é (era?), um ser humano excepcional e nos deixa várias peças, entre elas a que está se despedindo hoje, dia 17 de julho de 2022, do Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro. Mas temos uma boa notícia! Circuncisão vai abrilhantar a reinauguração do Teatro Princesa Isabel, aquele que fica na entrada de Copacabana, e cujo proprietário (e amigo das Artes Cênicas) é Orlando Miranda! Boas Vindas! Este Teatro, que iluminou por muitos anos a Avenida que lhe dá o nome,  muito em breve voltará a nos iluminar!

A estreia do Princesa Isabel será com a peça que estamos comentando. O elenco é brilhante: Temos  Narjara Tureta como Miriam, a jovem judia que resolve se desvencilhar das amarras de sua condição, e partir para uma nova vida, independente! Rogério Freitas, brilhando sempre, dessa vez como o amigo (e avô!) do filho de Miriam... e de Emily, a companheira que influencia a entrada em um futuro menos ortodoxo praqueles que ainda usam o quipá (os pais... os homens!), indicativo de que a religião está acima de tudo. Eis que surge o Abraão II, (o pai de Emily) Rogério Freitas, para modificar a situação e fazer parte do embruglio!

E como fica isso?!

... e, a partir dessas revelações, o público vê surgir as situações mais inesperadas, na maioria conduzidas pela mãe judia! (Jalusa Barcellos em interpretação destacada e brilhante, como a mãe que procura solucionar a questão, para ela tão alarmente, de ter uma filha que está apaixonada por uma mulher! Jalusa/Sara, está impagável em seus cuidados!).

Mas há que vencer a resistência do patriarca Sergio Fonta, o Abraão I!... e aí surge o nó da questão!

Sergio Fonta, interpretando Abraão (e como tem Abraãos nesta peça!), nos dá a presença do que seria o patriarca em seus dias: vaidoso com a filha que vai ser mãe, e com a possibilidade de ser avô! Porém, sem o verdadeiro conhecimento do que está ocorrendo em sua residência, ele é o involuntário protagonista de tal confusão! (Sergio Fonta em memorável atuação).  E aí começa a situação de comédia que acaba envolvendo atores e público!

... Participamos, todos, do poder de imaginação de nosso dramaturgo, muito bem dirigido por Guilherme Delrio e orientado por nada menos do que Cristina Bethencourt, a filha de João!

O elenco, composto por vários e bons artistas, entre eles Dalton Lisboa, uma surpresa, e Carlos Loffler, voltando com sua carga cômica e o papel do rabino! Temos também a noiva/esposa de Miriam, a doce e firme Emily, interpretada pro Araci Breckenfeld.

E mais não relatamos, deixamos para a imaginação do público (ou de quem vier a sê-lo) para complementar o enredo!

No final, celebrando o amor resolvido, o elenco nos brinda com uma espécie da can can judeu! – com uma música muito conhecida –  Aleluia! - comemorando amizade e amor... e as palmas do público!

Na ficha técnica, destaque para os figurinos criativos de Augusto Pessoa, que também se encarrega do cenário (uma simples sala de visitas, com muitos recursos cênicos...). Temos também a coreografia de Julita Machado. E a Luz e feita por Guilherme Delrio e Cristina Bethencourt.

Consultoria e Gestão Cultural: Patrícia Castro Arte e Cultura.

NÃO PERCAM!

É  BOM  VER  BOM  TEATRO!              

 

       

 

 

       

 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

T U D O

 


                          

IDA  VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

 TUDO

do argentino Rafael Spregelburd

Dani Barros, Julia Lemmertz e Wladimir Brichta  em  TUDO, texto de Rafael Spregelburd, direção Guilherme Weber. (Foto de Flavia Canavarro)

 TUDO

do argentino Rafael Spregelburd

Desde de a nossa mais tenra idade estamos acostumados com o originalidade e o savoir faire do teatro argentino ( no meu caso, graças ao meu irmão Linneu – pai da atriz Julia Lemmertz – que costumava prestigiar os “porteños” em vez de homenagear os Procópios Ferreiras da vida), e aí, no campo do além Sul  brasileiro, um Jorge Luis Borges, um Manuel Puig  e seus antecessores lhe falavam mais do que a nossa incipiente artes cênicas!

Originalidade e savoir faire argentinos que se apresentam agora, neste recente TUDO – que aborda, com ironia e conhecimento três aspectos de nossa cultura – da cultura da  Humanidade – que não quer deixar de ser ouvida: a Economia, representada pelo Estado; a Religião e a Arte (não nesta ordem). Estes são os três aspectos de nossa civilização abordados ironicamente... aspectos esses que um público menos engajado poderia não perceber.  Assim, sob a batuta do ótimo profissional que é Guilherme Weber (como ator e como diretor), os aspectos discutíveis de nossa organização social vão sendo destacados – entrecortados por uma “luz pontuação cênica” -  (é como se eles estivessem escrevendo, naquele momento, o que iremos assistir a seguir!), desenrolam-se  o Estado, com sua parafernália de interesses pessoais; depois vem o Amor e seus desencontros, para finalmente entrar na Religião e suas superstições.

Qual o episódio mais interessante?

O ótimo elenco, onde se destacam harmoniosamente Julia Lemmertz, Dani Barros (vocação para comediante), Wladimir Brichta  (uma surpresa), e Claudio Mendes, capitaneados bravamente pelo ator Márcio Vito (que não nos deixa esquecer o início de tudo, no sentido teatral – a Grécia Antiga  e seu teatro – em um delicioso sobrevoo aos acontecimentos de nosso presente).

Estamos preparados para o que vem a seguir? Sim! O autor argentino Rafael Spregelburd (!)  nos encaminha para uma viagem crítica à raiz do Humano – e podem crer, meus amigos, onde houver mais de duas pessoas reunidas, o perigo que tal procedimento surja é de mil para um... Ela surgirá sempre  (a crítica ao Humano, talvez não com tanta perspicácia, como é o caso do presente espetáculo).

E, para encerrar o quadro DOS TRÊS ACONTECIMENTOS NUCLEARES que predominam nesta encenação, vem a crítica arrasadora às primeiras manifestações do que se tornou a grande religião dos Ocidentais desde o Velho Testamento:

A Passagem do Mar Vermelho!...

e o tom certo com que Julia Lemmertz critica as suas incongruências... e o tom certo com que os atores Wladimir Brichta e Dani Barros manifestam a superstição criada em torno desse tema, Religião!...

Não dá para não se tomar conhecimento do que está acontecendo no palco, e as plateias lotadas traduzem bem tal entusiasmo dos amantes do teatro em contato com a sua raiz!

Uma citação à ficha técnica: um achado essa maneira da luz sublinhar a passagem dos acontecimentos, é como se a historia estivesse sendo escrita naquele momento! (Quem escreve sabe disso, de como separamos em parágrafos e sinais as mudanças de temas). Perfeito! Renato Machado cria a Luz.

A cenografia sem mistérios de Dina Salem Levy, apresenta alguns objetos de cena concretos... e outros nem tanto, como atesta o constante deslocamento do ator Wladimir Brichta, por sinal o elo que vai nos colocar no verdadeiro fluxo da historia humana, em sua citação do mundo pós Marx!...  Cena digna de destaque e surpresa – diante da grande potência de interpretação desse ator que é uma revelação nos palcos cariocas!

Na direção o já citado Guilherme Weber e sua assistente de direção Verônica Prates passam com pertinência o recado de Spregelburd.

A preparação corporal – cuja liberdade acende o interesse do público desde o primeiro momento que se manifesta -  é de Toni Rodrigues.

A trilha sonora deste espetáculo cujas manifestações mostram um encadeamento rigoroso... A trilha sonora é de Rodrigo Apolinário.

Ao todo são 26 profissionais (impossível citá-los todos) tomando conta de um palco com 5 atores: são eles Márcio Vito, Julia Lemmertz, Dani Barros, Wladimir Brichta e Claudio Mendes, todos se encarregando com competência de sua parte no projeto.

Os figurinos, muito a propósito, são de Kika Lopes.

Há, no programa da peça agradecimentos muito especiais e simpáticos a todas as pessoas que fazem parte do mundo afetivos dos atores.

Parabéns pela lembrança!

Não percam, e se informem da caminhada desde espetáculo tão sui generis e importante, em sua bem humorada crítica à sociedade humana!

É  BOM  VER  BOM  TEATRO!     

quarta-feira, 13 de julho de 2022

 

              IDA  VICENZIA

( da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

O   H O M E M   D O  P L A N E T A   A U S C H W I T Z

Como podemos constatar, a dramaturga Miriam Halfim, com o seu  “O Homem do Planeta Auschwitz”, busca entender o que aconteceu com seu povo naquele momento histórico que está sempre tão presente entre nós...

 - e sua barbárie! Os anos em que enfrentamos as duas guerras mundiais!

Com esse texto Halfim  está desvendando seu passado, e o passado de seu povo! Povo que possui, historicamente, várias interpretações em sua trajetória de vida: escolhido de Deus: um Deus raivoso, do Antigo Testamento, ou um ser supremo benevolente, “admirador” dos profetas de seu povo escolhido?

Nos perguntamos: como aconteceu isso, essa barbárie?  Está garantido que não se repetirá? E é, através dessas perguntas, que a autora desenvolve seu pensamento. Muitos têm medo de acompanhá-la (daí o pouco público na plateia da Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro?) – acompanhá-la, e à sua narrativa.

Mas a cada mudança histórica devemos estar bem atentos aos novos (novos?!)  acontecimentos. E estamos novamente em uma mudança histórica, nos dias que correm, em um novo “ciclo civilizatório”. Saberemos responder ao seu chamado, saberemos evoluir?

A evolução que os tempos atuais procuram é a Humanização da sociedade - mas as passagens históricas mostram o seu poder, e não é possível ignorá-la...

...  e o capitalismo continua querendo nos aprisionar, dessa vez com as novas  condições sócio econômicas que o novo Milênio apresenta.

Mas a pergunta continua: o que tornou possível a Adolph Hitler inaugurar a catástrofe nazista? o que a fez aflorar?

Podemos dizer – com muito medo de errar... – que foi o RESSENTIMENTO que levou os humanos a este estado de barbárie? Sim...! de certa forma, sim! O espetáculo a que fomos assistir nos leva a tal conclusão. Senão vejamos:

Estamos na Primeira Guerra Mundial (1914/ 1918...) e nos deparamos com o Mal sendo imposto, em 1919, à Alemanha derrotada, o que seria, para aquele povo orgulhoso, a mais aviltante das derrotas: o Tratado de Versalhes e a rendição da Germânia – sua ideologia e raça - Áustria e Polônia incluídas. Mas algo continuou palpitante, sob a destruição daquele povo que se achava o escolhido.

E é surpreendente, para um Humanista, ver nascer o nazismo na civilizada Áustria, um país aonde nasceu  Adolph Hitler, e um país que era considerado o Centro da Cultura europeia! A Áustria dos grandes compositores, dos grandes poetas, gerou Adolph Hitler!  

O que aconteceu depois explica o “ressentimento”.

Pois aquele jovem austríaco  teve a ambição de ser um grande artista plástico (talento não lhe faltava), mas foi preterido por  “implicações sociais”. A sociedade humana acaba criando constrangimentos que trazem na sua raiz o ressentimento. E o jogo dos poderosos se estabelece, e ninguém consegue explicar como tudo aconteceu. Será?

O texto ao qual nos referimos agora, “O Homem do Planeta Auschwitz”,  se propõe a rever como tudo começou, e a levar o público a pensar em uma possível reedição do mesmo erro. Esse é o texto em que autor, diretor e elenco devem (e conseguem!)  transformar os acontecimentos do início do século XX, em um motivo de reflexão... para os que vieram depois do Holocausto!

Sim. O que vamos falar é sobre o Holocausto, e como ele pode ressurgir novamente, a qualquer momento! O público, esse complemento indispensável para que o teatro se realize, tem medo que o passado volte a acontecer.   

Mas é justamente para entender o passado, e para que ele não se repita, que a filósofa alemã (judia) Hanna Arendt (interpretada por Susanna Kruger) utiliza seu verbo desafiador para que o passado não seja esquecido, e é justamente isso o que o escritor polonês Yehiel De-Nur (interpretado por Mario Borges) enfatiza, em seu horror - o desejo de esquecer a força que destroçou o seu mundo!

Essa peça envolve-se em um embate entre o racional e o emocional, enriquecendo o texto e a atuação dos atores. Neste jogo teatral, o “juer” do diretor Ary Coslov, com seus dois atores, resulta em um desenvolvimento exemplar da verdade!

Mário Borges interpreta, com forte emoção, o escritor judeu que teve sua família exterminada em Auschwitz. Ele é o “sobrevivente” - “o homem do Planeta Auschwitz”  e traz em sua interpretação a emoção que tal horror desencadeia!

Por outro lado, a corajosa filósofa judia alemã Hanna Arendt (Susanna Kruger), impõe, com seu raciocínio, a compreensão do que aconteceu naqueles tempos irracionais. Sua reflexão sobre a banalidade do mal tornou-se um ponto de reflexão, em nossos dias. Com seu claro raciocínio, Hanna desperta, para o público, o momento irracional do inferno nazista, e destaca, com emoção, para a necessidade imperiosa  que tal acontecimento não se reproduza, que se torne algo inaceitável – terrível - em nossos dias.

É quando, no final da peça, a atriz Susanna Kruger se aproxima da boca de cena e faz um sinal para que a cabine de luz ilumine a plateia... e coloca, com sua fala, o que vivemos hoje (fica subentendido que se trata do Brasil). Essa fala se torna uma resposta viva sobre os acontecimentos, e a finalidade do espetáculo!

Com esse fecho o diretor e a autora dão a dimensão do pensamento desenvolvido durante o espetáculo!

A atriz, com o seu gesto, parece estar dizendo: “Não deixemos que a barbárie se estabeleça entre nós, que retorne, que tome conta de nossa sociedade, de nossas vidas!”

... e o espetáculo se repõe, em toda a sua verdade!

Essa cena – e muitas outras  – devem ser presenciadas pelos amantes do teatro!

NÃO PERCAM!

Sim, essas reflexões representam  a luta entre duas forças poderosas: o bem e o mal. E verificamos que devemos estar atentos para que o bem  triunfe sobre  o mal – pois este último  espalha o desespero vivido em nossos dias.

Os dois protagonistas (Borges e Kruger) tentam compreender, desesperadamente, os acontecimentos que levaram ao quase extermínio de um povo. Tal reflexão não impede que essas forças do mal continuem atuando e provocando maior extermínio. É preciso se colocar, de todas as maneiras: enfrentar o que pode ser o fim da Humanidade!

Para as pessoas que se recusam a assistir a este espetáculo, se recusam a presenciar este episódio dolorido, que se recusam a reviver este episódio dantesco, dizemos que não o devemos esquecer, nunca! Precisamos estar atentos, para que ele não se repita. O medo de se emocionar com as cenas vividas no palco deve ser, ao contrário, o alento e a procura do estar no mundo, do nosso público!

Todos os países estão ameaçados de tal catástrofe, todas as religiões, todos os povos.   

É preciso estar atento!

Sim, precisamos reproduzir os acontecimentos no Planeta Auschwitz – aquele planeta do qual as pessoas só saem “pela fumaça da chaminé” – como diziam os guardas do campo de concentração, fortalecendo a sua vitoria macabra!

Mas como chegamos a esse ponto?

A peça, o texto,  nos leva a presenciar  alguma coisa perigosa, latente, que está entranhada no complexo da alma humana. Repetimos: o ressentimento! E esse sentimento nasce ao se fazer a pessoa se sentir excluída. Eis algo que devemos levar em conta, de maneira muito cuidadosa. Muitos males poderiam ser evitados se as pessoas conhecessem a força do acolhimento, do gesto de acolher.

Este gesto não se adapta ao gesto impensado que desencadeia todas as guerras. Existiria Hitler, se os alemães, e todos os poderosos do mundo, não criassem e fizessem existir essa ideia da superioridade ariana, dos “arianos puros” que tentaram excluir do mundo dos vivos grande parcela da Humanidade?

Existiria Hitler, se os poderosos do mundo não quisessem calar as cabeças pensantes em favor de sua ambição pelo dinheiro, pelo lucro? 

Pergunta-se: por que enorme parcela da Humanidade embarcou neste egoísmo, nesta mesquinhez?  

Ficamos por aqui, desejando que um espetáculo tão doloroso como este seja lembrado pelo público, compartilhado pelos que querem um mundo melhor para viver.

A ficha técnica é das melhores: a composição do cenário de Marcos Flaksman reproduz o irremediável da destruição e das guerras.  O desenho da luz de Aurelio de Simoni enfatiza o poderoso simbolismo da ação. Figurinos do cotidiano de Wanderley Gomes.

Trilha sonora de Ary Coslov, e direção de movimento de Marcelo Aquino. Produção Executiva Bárbara Montes Claros.                    

A  PEÇA  É  UM  DESNUDAR-SE,  UM  SE  LIVRAR  DE  UM

MUNDO  QUE  NOS  SUFOCA!

Devemos prestigiar a este espetáculo!    


sexta-feira, 24 de junho de 2022

O C O R S A R I O

 

               I D A   V I C E N Z I A

            ( da Associação  Internacional de Críticos de Teatro  (AICT)

            (Especial)




   

         O  C O R S A R I O

  Foto Ballet “O Corsário” com a BEMO-TMRJFoto de capa do Programa do Ballet apresentado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no mês de junho de 2022. Na foto, Alyson Trindade, “o homem-pássaro”, ensaiando.(Foto de Carol Lancelloti)

... Trata-se de um ballet inspirado em um poema de Lord Byron, O Corsário, de 1814. O poeta britânico foi, por excelência, o sonho dos românticos de todos os tempos. Suas aventuras no Oriente o representam; assim como seus poemas. Cremos que na passagem do século XIX para o século XX  não houve  música, ou  verso, mais apaixonante do que a música de Chopin e os versos de Lord Byron...

Mas quem está trazendo estas informações é uma romântica que nasceu no sec. XIX !!!  E é, para ela, muito importante, neste contexto atribulado do século XXI,  rever os românticos, com suas pantomimas francesas e sua técnica. É um alimento, uma renovação! Sim, O Corsário, reproduzido no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no mês de junho de 2022, é, para ela, o caminho da  retomada da dança, justamente no Theatro de nossos carinhos!  

Neste contexto, o balé, com música de Leo Delibes e Adolphe Adams, entre outros - e coreografia de Marius Petipa - está muito bem representado, com alguns acréscimos na coreografia, criados por  Helio Bejani e Jorge Texeira.

Não conseguimos perceber os acréscimos, exceto pela a presença da companheira amada do corsário, representada, salvo engano, por Medora  (Marcella Borges).  No original a esposa não se apresenta na luta do marido, mas aguarda seu retorno a casa, triunfante. Diz a lenda que o corsário não retorna jamais... Talvez a participação, forte, de sua esposa, seja um sinal dos tempos!

Mas quem pode dizer que a realidade não está ultrapassando o sonho? Afinal, e uma única vez, tivemos ocasião de assistir Mikhail Baryshnikov  no Brasil, evoluindo em uma fascinante interpretação de O Corsário...       

Mas, calma! O que vimos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, neste último dia 

19 de junho, em uma matine de domingo...  foi surpreendente, pois encenado pelos 

alunos da Escola de Dança Maria Olenewa, cujo retorno à historia do balé foi 

inspirado por Helio Bejani e Jorge Texeira, atuais coreógrafos e diretores da Cia 

BEMO do Theatro Municipal.

É interessante perceber, na criação de Jules Perrot e Marius Petipa, as  citações de balés da época, do Séc XIX, que faziam sucesso: como a dança dos quatro pequenos cisnes, de O Lago dos Cisnes, interpretados também pelas sapatilhas de ponta de Taglione neste O Corsário; ou a lembrança das pantomimas francesas, cuja inspiração é justamente Gisele, também de Adams, com suave e surpreendente presença na música de O Corsário.

Ficamos agora em dúvida se estas alterações não foram concebidas por Bejani e Texeira... Seja como for, o espetáculo é um belo retorno ao balé de repertório que abraça os mais diferentes tipos de bailarinos, em sua representação enquanto povo e dança. Explico: o balé de Maria Olenewa recebe os mais variados bailarinos, e este acolhimento reflete o cuidado e o amor com que seus diretores indicam o possível caminho do estrelato para estes novos, e multirraciais, amantes da dança... Para quem assistiu o retorno, alguns dias atrás, da Escola BMO com O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, foi uma grande ocasião para dar um mergulho na compreensão do que o ballet da Escola do Theatro Municipal realiza com seus alunos, possibilitando, mais uma vez, a beleza e a emoção do conjunto. Estão de parabéns, novamente, seus diretores Helio Bejani e Ana Paula Lessa. E, na Direção Artística, Jorge Texeira, que assina a coreografia com Helio Bejani, d’après Marius Petipa!

... e temos uma historia que se reveste de acontecimentos insuspeitados  -  abrindo mão do conjunto de bailarinos profissionais, como estamos acostumados, para colocar em cena bailarinos/alunos  que nos dão uma nova visão do futuro, e daqueles tempos de mouros, paxás, e sonhos alucinados!

Destacamos, no elenco, Alyson Trindade interpretando Conrad, o pirata que, em sua espetacular entrada em cena assemelha-se a um homem-pássaro, tal a leveza e permanência de seu salto, e de sua elevação! A plateia, entusiasmada, o aplaude.

Constatamos a preocupação dos diretores com a formação de plateia e, observando os amantes da dança que estiveram presentes no espaço do público: plateia lotada no último domingo! -  podemos dizer que os rapazes e moças, e admiradores de todas as idades, inclusive crianças - assistiam  a  O Corsário - e às elevações dos bailarinos - sem se desconcentrar.

No papel de Medora, a companheira do pirata, temos a bailarina Marcella  Borges; o bailarino José Ailton interpreta Ali, o escravo; e Alyson, o homem-pássaro, é o corsário.  Os Primeiros Bailarinos  convidados para a estreia de O Corsário, Filipe Moreira  (Conrad)  e  Cícero Gomes (Ali), e ainda Saulo Finelon, nosso conhecido de O Lago dos Cisnes interpretando o belo bruxo Rothbart (está   irreconhecível  no  papel do Paxá Seyd,  sinal de sua boa atuação como ator....). Os três (quatro, com Marcella Borges), não deixaram nada a dever aos Primeiros Bailarinos convidados para a estreia do espetáculo. Tais observações são especulações de quem assistiu somente no domingo. Imaginamos que a presença de Medora, Ali e Alyson,  citados para o domingo de encerramento do espetáculo, não deixaram nada a dever aos bailarinos na sua estreia, tal a emoção com que o público os recebeu!

Na Direção Geral do espetáculo temos Ana Paula Lessa e Helio Bejani, grande bailarino que, no início de sua carreira, iluminou os palcos do Theatro Municipal! Jorge Texeira assina a Direção Artística... e os alunos/bailarinos são os mesmos que se apresentaram no inesquecível O Lago dos Cisnes.

E, acrescentamos, para vosso conhecimento, que as figuras de destaque na história dos balés não são prejudicadas pela mudança dos personagens, muito pelo contrário! ...  Quando dizemos que Saulo Finelon interpretando Rothbart, o bruxo, era “o belo” bailarino, agora, em O Corsário, sua composição é a do velho Paxá,  momento em que  não se apresenta “o belo” - muito pelo contrario - apresenta-se “o velho”, andando sobre seus pés cansados! Irreconhecível. Boa interpretação.

Como  ensaiadora temos Deborah Ribeiro, e ainda Paulo Ornellas na Iluminação; Tania Agra nos figurinos e Visagismo, e cenografia de Manoel dos Santos e José Galdino. Na técnica são ao todo dez pessoas, entre aprendizes e profissionais. 

Não é sem certa melancolia que vemos, refletidas neste espetáculo, as lembranças dos primeiros balés românticos franceses que entraram nas nossas vidas, como Gisele, por exemplo, cujos primeiros acordes e passos da pantomima, presentes em O Corsário, nos levaram a recordá-la! Ah! As pantomimas dos primeiros balés românticos franceses!  

São, ao todo, 49 alunos da Cia BEMO – TMRJ enriquecendo o nosso material artístico. Estão de parabéns também a AMADANÇA que tanto tem acompanhado o movimento desta casa de espetáculos que sobrevive, orgulhosamente, através dos anos! 

CONSTANTE RETORNO, É O QUE LHES DESEJAMOS!