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quinta-feira, 14 de julho de 2022

T U D O

 


                          

IDA  VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

 TUDO

do argentino Rafael Spregelburd

Dani Barros, Julia Lemmertz e Wladimir Brichta  em  TUDO, texto de Rafael Spregelburd, direção Guilherme Weber. (Foto de Flavia Canavarro)

 TUDO

do argentino Rafael Spregelburd

Desde de a nossa mais tenra idade estamos acostumados com o originalidade e o savoir faire do teatro argentino ( no meu caso, graças ao meu irmão Linneu – pai da atriz Julia Lemmertz – que costumava prestigiar os “porteños” em vez de homenagear os Procópios Ferreiras da vida), e aí, no campo do além Sul  brasileiro, um Jorge Luis Borges, um Manuel Puig  e seus antecessores lhe falavam mais do que a nossa incipiente artes cênicas!

Originalidade e savoir faire argentinos que se apresentam agora, neste recente TUDO – que aborda, com ironia e conhecimento três aspectos de nossa cultura – da cultura da  Humanidade – que não quer deixar de ser ouvida: a Economia, representada pelo Estado; a Religião e a Arte (não nesta ordem). Estes são os três aspectos de nossa civilização abordados ironicamente... aspectos esses que um público menos engajado poderia não perceber.  Assim, sob a batuta do ótimo profissional que é Guilherme Weber (como ator e como diretor), os aspectos discutíveis de nossa organização social vão sendo destacados – entrecortados por uma “luz pontuação cênica” -  (é como se eles estivessem escrevendo, naquele momento, o que iremos assistir a seguir!), desenrolam-se  o Estado, com sua parafernália de interesses pessoais; depois vem o Amor e seus desencontros, para finalmente entrar na Religião e suas superstições.

Qual o episódio mais interessante?

O ótimo elenco, onde se destacam harmoniosamente Julia Lemmertz, Dani Barros (vocação para comediante), Wladimir Brichta  (uma surpresa), e Claudio Mendes, capitaneados bravamente pelo ator Márcio Vito (que não nos deixa esquecer o início de tudo, no sentido teatral – a Grécia Antiga  e seu teatro – em um delicioso sobrevoo aos acontecimentos de nosso presente).

Estamos preparados para o que vem a seguir? Sim! O autor argentino Rafael Spregelburd (!)  nos encaminha para uma viagem crítica à raiz do Humano – e podem crer, meus amigos, onde houver mais de duas pessoas reunidas, o perigo que tal procedimento surja é de mil para um... Ela surgirá sempre  (a crítica ao Humano, talvez não com tanta perspicácia, como é o caso do presente espetáculo).

E, para encerrar o quadro DOS TRÊS ACONTECIMENTOS NUCLEARES que predominam nesta encenação, vem a crítica arrasadora às primeiras manifestações do que se tornou a grande religião dos Ocidentais desde o Velho Testamento:

A Passagem do Mar Vermelho!...

e o tom certo com que Julia Lemmertz critica as suas incongruências... e o tom certo com que os atores Wladimir Brichta e Dani Barros manifestam a superstição criada em torno desse tema, Religião!...

Não dá para não se tomar conhecimento do que está acontecendo no palco, e as plateias lotadas traduzem bem tal entusiasmo dos amantes do teatro em contato com a sua raiz!

Uma citação à ficha técnica: um achado essa maneira da luz sublinhar a passagem dos acontecimentos, é como se a historia estivesse sendo escrita naquele momento! (Quem escreve sabe disso, de como separamos em parágrafos e sinais as mudanças de temas). Perfeito! Renato Machado cria a Luz.

A cenografia sem mistérios de Dina Salem Levy, apresenta alguns objetos de cena concretos... e outros nem tanto, como atesta o constante deslocamento do ator Wladimir Brichta, por sinal o elo que vai nos colocar no verdadeiro fluxo da historia humana, em sua citação do mundo pós Marx!...  Cena digna de destaque e surpresa – diante da grande potência de interpretação desse ator que é uma revelação nos palcos cariocas!

Na direção o já citado Guilherme Weber e sua assistente de direção Verônica Prates passam com pertinência o recado de Spregelburd.

A preparação corporal – cuja liberdade acende o interesse do público desde o primeiro momento que se manifesta -  é de Toni Rodrigues.

A trilha sonora deste espetáculo cujas manifestações mostram um encadeamento rigoroso... A trilha sonora é de Rodrigo Apolinário.

Ao todo são 26 profissionais (impossível citá-los todos) tomando conta de um palco com 5 atores: são eles Márcio Vito, Julia Lemmertz, Dani Barros, Wladimir Brichta e Claudio Mendes, todos se encarregando com competência de sua parte no projeto.

Os figurinos, muito a propósito, são de Kika Lopes.

Há, no programa da peça agradecimentos muito especiais e simpáticos a todas as pessoas que fazem parte do mundo afetivos dos atores.

Parabéns pela lembrança!

Não percam, e se informem da caminhada desde espetáculo tão sui generis e importante, em sua bem humorada crítica à sociedade humana!

É  BOM  VER  BOM  TEATRO!     

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