IDA VICENZIA
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
TUDO
do argentino
Rafael Spregelburd
TUDO
do argentino Rafael Spregelburd
Desde de a nossa mais
tenra idade estamos acostumados com o originalidade e o savoir faire do teatro argentino ( no meu caso, graças ao meu irmão
Linneu – pai da atriz Julia Lemmertz – que costumava prestigiar os “porteños”
em vez de homenagear os Procópios Ferreiras da vida), e aí, no campo do além
Sul brasileiro, um Jorge Luis Borges, um
Manuel Puig e seus antecessores lhe
falavam mais do que a nossa incipiente artes cênicas!
Originalidade e savoir faire argentinos que se
apresentam agora, neste recente TUDO – que aborda, com ironia e conhecimento três aspectos de nossa cultura – da cultura da Humanidade – que não quer deixar de ser ouvida:
a Economia, representada pelo Estado; a Religião e a Arte (não nesta ordem).
Estes são os três aspectos de nossa civilização abordados ironicamente... aspectos
esses que um público menos engajado poderia não perceber. Assim, sob a batuta do ótimo profissional que
é Guilherme Weber (como ator e como diretor), os aspectos discutíveis de nossa
organização social vão sendo destacados – entrecortados por uma “luz pontuação
cênica” - (é como se eles estivessem
escrevendo, naquele momento, o que iremos assistir a seguir!),
desenrolam-se o Estado, com sua
parafernália de interesses pessoais; depois vem o Amor e seus desencontros,
para finalmente entrar na Religião e suas superstições.
Qual o episódio mais
interessante?
O ótimo elenco, onde se
destacam harmoniosamente Julia Lemmertz, Dani Barros (vocação para comediante),
Wladimir Brichta (uma surpresa), e
Claudio Mendes, capitaneados bravamente pelo ator Márcio Vito (que não nos
deixa esquecer o início de tudo, no sentido teatral – a Grécia Antiga e seu teatro – em um delicioso sobrevoo aos
acontecimentos de nosso presente).
Estamos preparados para o
que vem a seguir? Sim! O autor argentino Rafael Spregelburd (!) nos encaminha para uma viagem crítica à raiz
do Humano – e podem crer, meus amigos, onde houver mais de duas pessoas
reunidas, o perigo que tal procedimento surja é de mil para um... Ela surgirá
sempre (a crítica ao Humano, talvez não com
tanta perspicácia, como é o caso do presente espetáculo).
E, para encerrar o quadro
DOS TRÊS ACONTECIMENTOS NUCLEARES que predominam nesta encenação, vem a crítica
arrasadora às primeiras manifestações do que se tornou a grande religião dos
Ocidentais desde o Velho Testamento:
A Passagem do Mar
Vermelho!...
e o tom certo com que
Julia Lemmertz critica as suas incongruências... e o tom certo com que os atores
Wladimir Brichta e Dani Barros manifestam a superstição criada em torno desse tema,
Religião!...
Não dá para não se tomar
conhecimento do que está acontecendo no palco, e as plateias lotadas traduzem bem
tal entusiasmo dos amantes do teatro em contato com a sua raiz!
Uma citação à ficha
técnica: um achado essa maneira da luz sublinhar a passagem dos acontecimentos,
é como se a historia estivesse sendo escrita naquele momento! (Quem escreve
sabe disso, de como separamos em parágrafos e sinais as mudanças de temas).
Perfeito! Renato Machado cria a Luz.
A cenografia sem
mistérios de Dina Salem Levy, apresenta alguns objetos de cena concretos... e
outros nem tanto, como atesta o constante deslocamento do ator Wladimir Brichta,
por sinal o elo que vai nos colocar no verdadeiro fluxo da historia humana, em
sua citação do mundo pós Marx!... Cena
digna de destaque e surpresa – diante da grande potência de interpretação desse
ator que é uma revelação nos palcos cariocas!
Na direção o já citado
Guilherme Weber e sua assistente de direção Verônica Prates passam com
pertinência o recado de Spregelburd.
A preparação corporal –
cuja liberdade acende o interesse do público desde o primeiro momento que se
manifesta - é de Toni Rodrigues.
A trilha sonora deste espetáculo
cujas manifestações mostram um encadeamento rigoroso... A trilha sonora é de
Rodrigo Apolinário.
Ao todo são 26
profissionais (impossível citá-los todos) tomando conta de um palco com 5
atores: são eles Márcio Vito, Julia Lemmertz, Dani Barros, Wladimir Brichta e
Claudio Mendes, todos se encarregando com competência de sua parte no projeto.
Os figurinos, muito a
propósito, são de Kika Lopes.
Há, no programa da peça agradecimentos
muito especiais e simpáticos a todas as pessoas que fazem parte do mundo afetivos
dos atores.
Parabéns pela lembrança!
Não percam, e se informem
da caminhada desde espetáculo tão sui
generis e importante, em sua bem humorada
crítica à sociedade humana!
É BOM VER BOM TEATRO!
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