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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O ANJO DO APOCALIPSE

 

IDA VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

O ANJO DO APOCALIPSE 

O Professor Clovis Levi, a quem podemos chamar de o Dramaturgo Clovis Levi, acaba de nos apresentar uma obra prima sobre o início dos tempos, sobre os caminhos da Bíblia, desde o Antigo Testamento até os nossos dias! O texto chama-se “O Anjo do Apocalipse” e mostra como as religiões, que vieram para “religar” os humanos, podem se constituir em um engenho de destruição! Conheçam “O Anjo do Apocalipse” e reconheçam a força da palavra como o nascedouro de todas as desgraças! Para o autor – estremeçam! – tudo começou no Oriente Médio, e tudo vai acabar no Oriente Médio! Mas tudo não é tão simples assim. Este Anjo vai nos dar a conhecer a força do “Deus dos homens”.  

     E Deus existe, afinal?

     Vamos retroceder aos templos bíblicos (e saímos deles?), e tentar entender tudo o que acontece no Teatro Ipanema  quando alguém, com visão, resolve contar a verdadeira saga do Oriente Médio, ONDE TUDO COMEÇOU, E ONDE TUDO VAI ACABAR!

     E vamos falar das três religiões que continuam a comandar o mundo: vamos falar como aconteceu o Judaísmo, o Cristianismo e a Revolução Muçulmana. Que lugar complicado, esse tal de Oriente Médio! Como foi que tudo aconteceu mesmo?

     “O Anjo do Apocalipse”, texto de Clovis Lei, é um estudo aprofundado (e poético) que tem por finalidade nos relatar os caminhos da religião também nos tempos atuais e ocidentais (sim, porque não podemos negar que o Ocidente está metido até o pescoço neste embrulho cósmico!), mas, o que para o Ocidente talvez fosse um estudo sobre as religiões, transformou-se, para Levi, em Teatro, Dramaturgia, Drama!  Diz o autor que o texto surgiu em 2008, e sua intensão era escrever um livro, mas tal não aconteceu, e, o que vemos agora é um texto incisivo, irônico, que se debruça sobre a saga humana, onde a religião é o fator determinante. O que pode acontecer agora é você ir até o Teatro Ipanema (sempre ele, com historias pontuais, como nos tempos de Rubens Correa!), e pensar um pouco sobre o  desvario dos homens neste Planeta Terra, e como tudo isso acabará.

     Tentemos entender agora um pouco do que aconteceu no lendário Teatro Ipanema, nesta estreia de 2019!

     O texto se desloca, e atinge os últimos acontecimentos, os do Século XXI. EUA, RUSSIA, e os povos do Oriente Médio continuam, agora, tão envolvidos como o foram os povos antigos, em milênios passados! O estudo começa com o início dos tempos religiosos (sobre a saga dos Orientais, bem entendido) e mostra-nos como o DEUS, exuberante e bíblico, comanda seus protegidos DESDE SEMPRE: ou seja, desde tempos imemoriais até os nossos dias! Aprendam como se conta essa historia, com Clovis Levi no texto ... e Marcus Alvisi na direção!

     Tempos imemoriais. Tempos do Anjo Guerreiro, o Mensageiro, com sua Espada de Fogo. Ele é o Querubim, o que comanda todas as milícias (interpretado com “carisma e humor” por Marcello Escorel). Como diz seu criador, na peça, Clovis Levi, o ator que vai desenvolver este personagem tem que ser carismático, e o papel foi entregue a Marcello Escorel. O Anjo Guerreiro se apresenta: “...sou o Querubim  mais prestigiado das milícias celestiais, cargo que ocupo há três milhões e meio de anos...”

     Ficamos imaginando, no decorrer da narração de toda essa Historia Celestial, como era poderosa a imaginação dos homens antigos... e como ela permanece poderosa, cada vez mais poderosa! Senão vejamos: O Anjo avisa Abraão, a mando de Deus (e uma voz poderosa se faz ouvir, a voz de Deus, comandando Abrão): “Sai-te da tua terra para a terra que te mostrarei. E far-te-ei uma grande Nação”. (O Querubim observa, com júbilo, as “ênclises” e “mesóclises” com que Deus fala, e acrescenta para o público): “Essa Terra Prometida vocês não tem noção da ma-ra-vi-lha que vai ser”. E Deus continua, com seu vozeirão: “Esta terra, Canaã, onde jorrará leite e mel, mais tarde chamar-se-á Palestina”.... E aí começa o rolo todo que vocês conhecem, que culmina com 1948 e a criação do Estado de Israel, e por aí vai! Só vendo, para crer! NÃO PERCAM!

     Além da prestigiada interpretação do Anjo, de Marcello Escorel, o “Anjo Guerreiro”, temos mais dois atores, que interpretam a mulher palestina Zahra e o judeu Eliakim, em diversos momentos da historia humana daquela região (que reflete a nossa Historia, é claro!), e vai tocar na nossa insensatez eterna! Bravos Zahra (Juliane Araújo) e Eliakim (Daniel Dalcin)! Um elenco tão verdadeiro e competente consegue concretizar o que é lido no (agora) texto teatral de Clovis Levi. Alguém poderia imaginar que este professor tranquilo e acolhedor carregasse dentro de si o Aristóphanes dos tempos modernos?! E que seus personagens, que tudo possuem, matassem e morressem, como diz Zahra, com o ódio que nem ela entende?  “Essa é a minha terra, diz Zahra, e é por ela que eu mato, é por ela que morro.”

     Para resumir a situação, temos um dramaturgo entre nós! Ele possui a bela e terrível compreensão do que está acontecendo, e do que sempre aconteceu, neste mundo que nos cerca. E, no Teatro Ipanema, graças à conjunção de vários fatores, entre eles o acerto do convite a este diretor maravilhoso que é Marcus Alvisi (imaginamos que, sem ele, talvez essa historia não seria contada com tanta precisão), temos profissionais de primeira qualidade transformando o que “pensávamos ser impossível levar à cena”, em um espetáculo simples e fluente, como é a narrativa inacreditável dos primeiros tempos da humanidade. O que vemos no palco se transforma, a todo momento, nas mãos dos magos que são Clovis Levi, Marcus Alvisi, João Dias (e nos perguntávamos como seria colocar a Palestina no Palco!), e Aurélio de Simoni  (essa luz que Deus lhe deu, e que ele considera “bobagem”!)

     Temos ainda a trilha sonora criada por Alvisi e Joel Tavares, assistente de direção. Temos as asas do anjo da atriz e aderecista Maria Adelia e vemos, no final, um sóbrio Querubim Marcello Escorel. Ficamos nos interrogando o porquê de tanta sobriedade, e o Anjo do Apocalipse rememora: “Quando escrevi o Apocalipse, milênios atrás, o que eu via era o número sete. No Oriente Médio sete países acabaram de entrar em guerra. O que se vê, agora, em toda a Terra, é a Cólera de Deus, muito choro e um interminável ranger de dentes”.

     Porém, o Anjo Apocalíptico tem esperança, e conclui:

     “Em algum tempo ainda muito distante, descerá dos céus uma Cidade Nova – uma santificada Jerusalém. Mas, até lá, a voz de harpistas, a voz de violinos, a voz de tocadores de flautas e de clarins, jamais, jamais em ti se ouvirá.” (...)

     Neste texto de Clovis Levi o que ocorre é a constatação da loucura humana, e também a facilidade de fabulação que o ser humano possui. E o autor conclui que, nesta Historia da Santidade, o Vaticano também entra na dança..., e nos leva a pensar, novamente, naqueles tempos de Luxo, Riqueza, Corrupção, INQUISIÇÃO! Tudo igual, em termos de destruição! Eis uma peça que nos leva ao raciocínio e à compreensão do desatino que está sendo a nossa passagem por este nosso tão amável Planeta Terra!

     NÃO  PERCAM  CLOVIS  LEVI. Ele possui várias peças escritas e encenadas, mas o verdadeiro dramaturgo está aqui, com todas as letras, assinando a este nosso “O Anjo do Apocalipse”!    

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

 

IDA VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

O ANJO DO APOCALIPSE           

O Professor Clovis Levi, a quem podemos chamar de o Dramaturgo Clovis Levi, acaba de nos apresentar uma obra prima sobre o início dos tempos, sobre os caminhos da Bíblia, desde o Antigo Testamento até os nossos dias! O texto chama-se “O Anjo do Apocalipse” e mostra como as religiões, que vieram para “religar” os humanos, podem se constituir em um engenho de destruição! Conheçam “O Anjo do Apocalipse” e reconheçam a força da palavra como o nascedouro de todas as desgraças! Para o autor – estremeçam! – tudo começou no Oriente Médio, e tudo vai acabar no Oriente Médio! Mas tudo não é tão simples assim. Este Anjo vai nos dar a conhecer a força do “Deus dos homens”.  

     E Deus existe, afinal?

     Vamos retroceder aos templos bíblicos (e saímos deles?), e tentar entender tudo o que acontece no Teatro Ipanema  quando alguém, com visão, resolve contar a verdadeira saga do Oriente Médio, ONDE TUDO COMEÇOU, E ONDE TUDO VAI ACABAR!

     E vamos falar das três religiões que continuam a comandar o mundo: vamos falar como aconteceu o Judaísmo, o Cristianismo e a Revolução Muçulmana. Que lugar complicado, esse tal de Oriente Médio! Como foi que tudo aconteceu mesmo?

     “O Anjo do Apocalipse”, texto de Clovis Lei, é um estudo aprofundado (e poético) que tem por finalidade nos relatar os caminhos da religião também nos tempos atuais e ocidentais (sim, porque não podemos negar que o Ocidente está metido até o pescoço neste embrulho cósmico!), mas, o que para o Ocidente talvez fosse um estudo sobre as religiões, transformou-se, para Levi, em Teatro, Dramaturgia, Drama!  Diz o autor que o texto surgiu em 2008, e sua intensão era escrever um livro, mas tal não aconteceu, e, o que vemos agora é um texto incisivo, irônico, que se debruça sobre a saga humana, onde a religião é o fator determinante. O que pode acontecer agora é você ir até o Teatro Ipanema (sempre ele, com historias pontuais, como nos tempos de Rubens Correa!), e pensar um pouco sobre o  desvario dos homens neste Planeta Terra, e como tudo isso acabará.

     Tentemos entender agora um pouco do que aconteceu no lendário Teatro Ipanema, nesta estreia de 2019!

     O texto se desloca, e atinge os últimos acontecimentos, os do Século XXI. EUA, RUSSIA, e os povos do Oriente Médio continuam, agora, tão envolvidos como o foram os povos antigos, em milênios passados! O estudo começa com o início dos tempos religiosos (sobre a saga dos Orientais, bem entendido) e mostra-nos como o DEUS, exuberante e bíblico, comanda seus protegidos DESDE SEMPRE: ou seja, desde tempos imemoriais até os nossos dias! Aprendam como se conta essa historia, com Clovis Levi no texto ... e Marcus Alvisi na direção!

     Tempos imemoriais. Tempos do Anjo Guerreiro, o Mensageiro, com sua Espada de Fogo. Ele é o Querubim, o que comanda todas as milícias (interpretado com “carisma e humor” por Marcello Escorel). Como diz seu criador, na peça, Clovis Levi, o ator que vai desenvolver este personagem tem que ser carismático, e o papel foi entregue a Marcello Escorel. O Anjo Guerreiro se apresenta: “...sou o Querubim  mais prestigiado das milícias celestiais, cargo que ocupo há três milhões e meio de anos...”

     Ficamos imaginando, no decorrer da narração de toda essa Historia Celestial, como era poderosa a imaginação dos homens antigos... e como ela permanece poderosa, cada vez mais poderosa! Senão vejamos: O Anjo avisa Abraão, a mando de Deus (e uma voz poderosa se faz ouvir, a voz de Deus, comandando Abrão): “Sai-te da tua terra para a terra que te mostrarei. E far-te-ei uma grande Nação”. (O Querubim observa, com júbilo, as “ênclises” e “mesóclises” com que Deus fala, e acrescenta para o público): “Essa Terra Prometida vocês não tem noção da ma-ra-vi-lha que vai ser”. E Deus continua, com seu vozeirão: “Esta terra, Canaã, onde jorrará leite e mel, mais tarde chamar-se-á Palestina”.... E aí começa o rolo todo que vocês conhecem, que culmina com 1948 e a criação do Estado de Israel, e por aí vai! Só vendo, para crer! NÃO PERCAM!

     Além da prestigiada interpretação do Anjo, de Marcello Escorel, o “Anjo Guerreiro”, temos mais dois atores, que interpretam a mulher palestina Zahra e o judeu Eliakim, em diversos momentos da historia humana daquela região (que reflete a nossa Historia, é claro!), e vai tocar na nossa insensatez eterna! Bravos Zahra (Juliane Araújo) e Eliakim (Daniel Dalcin)! Um elenco tão verdadeiro e competente consegue concretizar o que é lido no (agora) texto teatral de Clovis Levi. Alguém poderia imaginar que este professor tranquilo e acolhedor carregasse dentro de si o Aristóphanes dos tempos modernos?! E que seus personagens, que tudo possuem, matassem e morressem, como diz Zahra, com o ódio que nem ela entende?  “Essa é a minha terra, diz Zahra, e é por ela que eu mato, é por ela que morro.”

     Para resumir a situação, temos um dramaturgo entre nós! Ele possui a bela e terrível compreensão do que está acontecendo, e do que sempre aconteceu, neste mundo que nos cerca. E, no Teatro Ipanema, graças à conjunção de vários fatores, entre eles o acerto do convite a este diretor maravilhoso que é Marcus Alvisi (imaginamos que, sem ele, talvez essa historia não seria contada com tanta precisão), temos profissionais de primeira qualidade transformando o que “pensávamos ser impossível levar à cena”, em um espetáculo simples e fluente, como é a narrativa inacreditável dos primeiros tempos da humanidade. O que vemos no palco se transforma, a todo momento, nas mãos dos magos que são Clovis Levi, Marcus Alvisi, João Dias (e nos perguntávamos como seria colocar a Palestina no Palco!), e Aurélio de Simoni  (essa luz que Deus lhe deu, e que ele considera “bobagem”!)

     Temos ainda a trilha sonora criada por Alvisi e Joel Tavares, assistente de direção. Temos as asas do anjo da atriz e aderecista Maria Adelia e vemos, no final, um sóbrio Querubim Marcello Escorel. Ficamos nos interrogando o porquê de tanta sobriedade, e o Anjo do Apocalipse rememora: “Quando escrevi o Apocalipse, milênios atrás, o que eu via era o número sete. No Oriente Médio sete países acabaram de entrar em guerra. O que se vê, agora, em toda a Terra, é a Cólera de Deus, muito choro e um interminável ranger de dentes”.

     Porém, o Anjo Apocalíptico tem esperança, e conclui:

     “Em algum tempo ainda muito distante, descerá dos céus uma Cidade Nova – uma santificada Jerusalém. Mas, até lá, a voz de harpistas, a voz de violinos, a voz de tocadores de flautas e de clarins, jamais, jamais em ti se ouvirá.” (...)

     Neste texto de Clovis Levi o que ocorre é a constatação da loucura humana, e também a facilidade de fabulação que o ser humano possui. E o autor conclui que, nesta Historia da Santidade, o Vaticano também entra na dança..., e nos leva a pensar, novamente, naqueles tempos de Luxo, Riqueza, Corrupção, INQUISIÇÃO! Tudo igual, em termos de destruição!

     Eis uma peça que nos leva ao raciocínio e à compreensão do desatino que está sendo a nossa passagem por este nosso tão amável Planeta Terra! NÃO  PERCAM  CLOVIS  LEVI. Ele possui várias peças escritas e encenadas, mas o verdadeiro dramaturgo está aqui, com todas as letras, assinando a este nosso “O Anjo do Apocalipse”!                    

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

 

IDA VICENZIA – CRITICA DE TEATRO

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

MATÉRIA ESPECIAL:

“LUGARES QUE O DIA NÃO ME DEIXA VER”


                                             João Fernandes, artista criador da Cia. de Idéias.

                                                                Casarão de Idéias


João Fernandes e o seu Casarão de Idéias:

... Eis que João Fernandes, artista cearense radicado em Manaus, acaba de nos proporcionar, em 2020, um belo "livro-revista" com fotos destacando aspectos de uma Manaus fantasma, desaparecida, nos idos do século XIX... O artista preenche a solidão dos casarões abandonados com a sua imaginação!

Trabalhando com Fernandes estão Jeyder e Wagner Eleutério, os técnicos de luz que dão a dimensão da beleza daqueles lugares...e também uma equipe de fotógrafos: Bruno Bastos, Ruth Jucá, Marcus Pessoa e Carlos Navarro, possuidores de grande sensibilidade.

João Fernandes é uma personalidade cultural da cidade. Já foi Coordenador Pedagógico do grupo de dança da Faculdade de Manaus (UEA), e também pertenceu a equipe de criação do Curso de Teatro desta Faculdade. Sua experiência cultural é cercada por  invejável currículo (tem mais, muito mais), porém, a mais importante de suas qualidades – sem desmerecer as outras - é a sua alma de artista.

Graças a sensibilidade de Fernandes temos um trabalho, requintado, sobre os tempos idos da borracha. Quem folheia com cuidado o seu livro adquire uma necessidade interior de ver todas aquelas maravilhas - agora em colapso - novamente erguidas!

                                    A  ANTIGA  ARQUITETURA  DE  MANAUS

O livro de João Fernandes -  “Lugares que o dia não me deixa Ver” - editado com a cooperação da Prefeitura da Manaus, nos leva a imaginar a reconstrução daquilo que foi tão belo! Para os amazonenses a abandonada arquitetura é o “Centro Histórico de Manaus”, mas para quem a visita - como é o meu caso - é a História de Manaus que está retratada nestes caminhos que dominam a cidade. Temos a impressão, neste primeiro contato com sua arquitetura do século XIX, que realmente se trata de uma cidade do passado, ou que ficou desta cidade (abstraindo os tão conhecidos Teatro Amazonas, o Mercado Municipal e outras obras que a caracterizam), o destaque que o autor dá a seu livro é de outra natureza. Peço licença para informar que, para mim, a Manaus de hoje está cada vez mais parecida com Miami,  suas estradas a desembocar em bairros repletos de edifícios modernos e shopping centers. Ai de quem não tiver carro! Só se salva a parte antiga de Miami. 

Mas isto não nos interessa, o que nos empolga é a súbita visão de uma Manaus que já não existe mais. E é o que descobrimos no livro de Fernandes: a verdadeira Manaus anda perdida, já não prestamos atenção ao que nos rodeia, não valorizamos este estranho encontro que vislumbramos a partir do livro de Fernandes. Somente olhando a cidade com os "olhos noturnos" do autor percebemos o lugar que nos acolhe com tanta beleza, seu olhar nos abre o caminho do passado, que acabou por se tornar tão misterioso! Olhemos algumas fotos, vale a pena guardá-las com carinho, na memória e na biblioteca de nossas casas.

O Casarão também publica a revista Idéias Editadas (assim mesmo, com acento agudo na palavra Idéias), como costumava ser escrita no Brasil. A revista nasceu antes da entrada do Brasil no Novo Acordo da Língua Portuguesa entre Portugal e países da Língua Portuguesa. No Brasil o acordo só entrou em vigor em 2016, depois do lançamento da revista, realizado em 2011. E foi uma confusão! A própria Cecília Meireles, que faleceu em 1964, costumava dizer, em tom divertido, que estes acordos (e foram vários, enquanto ela viveu), sempre a levavam a estudar novamente o Português.

Na revista Idéias Editadas os artigos; entrevistas e a programação cultural da cidade estão nela publicadas. A revista sai de três em três meses; a próxima, se tudo der certo, sairá em dezembro de 2020. 

É preciso não esquecer que o casarão é um verdadeiro movimento cultural cuja raiz é a Cia. de Idéias, um grupo de Teatro e Dança fundado em 2005, que participa de festivais e organiza cursos, palestras, leituras dramáticas, exposições de artes plásticas, sessões de cinema, e possui uma biblioteca especializada que trabalha também com empréstimo de livros... além de disponibilizar de um bar com cafezinho e quitutes de primeira, que atraem artistas e visitantes. A revista é distribuída gratuitamente, para o público amante do teatro e para os artistas de Manaus. Idéias Editadas possui temas os mais variados, escritos por profissionais do ramo. No grupo do Casarão constatamos a presença, na revista,  de João Fernandes, Vitor Lima, Dyego Monnzaho, Wellington Junior, e, eventualmente, o crítico Jorge Bandeira - entre outros.          

Agora convido aos meus leitores para darem uma olhada nas fotos do livro-revista de João Fernandes, "Lugares que o dia não me deixa Ver", e ter uma dimensão do poder de comunicação deste artista. 

Vamos lá?

Booth Line (séc. XIX)



O Passado (séc. XIX) espreita os jovens que se manifestam ao longo 
do prédio da antiga Booth Line.



  
    Um prédio da época: Av. Getúlio Vargas esquina com a Rua Leonardo Malcher  

FANTASIA COM O PRÉDIO  DA  AVENIDA GETULIO  VARGAS  -  "FIGURAS DO PASSADO" (foto Produção)



                     CLOSE DO PRÉDIO E ILUMINAÇÃO DA EQUIPE DA CIA. DE  IDÉIAS 
                                             AV. GETÚLIO VARGAS - CENTRO DE MANAUS

Quem se interessou pela visão linda deste passeio por Manaus pode encontrar os seus criadores na sede da Companhia, localizada à Rua Barroso, 293 - Centro. 
(Tel: 92 - 3633-4008).

segunda-feira, 8 de junho de 2020

O POETA ESTÁ COM MEDO - BLOG DE IDA VICENZIA (AICT) - Associação Internacional de Críticos de Teatro

  1. Município de Itacoatiara terá 1ª edição de festival literário ...  ELSON  FARIAS 


  1. A obra deve ser lançada nesta quinta-feira (4) às 18h20, na Livraria Leitura – no Amazonas Shopping, Zona Sul de Manaus. 
  2. ALDÍSIO FILGUEIRAS

Os poetas conversam. Como nos versos dos chineses do Século V. - A.C.- estes dois 
poetas amazonenses, Elson Farias e Aldísio Filgueiras, também se correspondem
 através da poesia! Mais uma vez, e para nossa surpresa, a experiência de Murasaki 
e Genji renasce. Estes dois poetas amazonenses reinauguram a forma, e é tal a beleza
 de seus versos, que resolvemos reproduzi-los. Perdoem-me os amantes do teatro por 
não estar mais transmitindo em meu blog as peças estreadas em nosso país. Teatro é 
convivência, é respiração. Infelizmente, neste tempos estranhos, ele ficou no limbo,
 aguardando os nossos sonhos. Mas sempre sonhamos - e a nossa capacidade de
 sonhar estabeleceu esta bela correspondência entre os dois poetas amazonenses do 
século XXI. Seu sonho é verdadeiramente um sonho teatral. Vamos a ele!

ELSON FARIAS ESCREVE:

Bom-dia ALDÍSIO

O  POETA  ESTÁ  COM  MEDO


Borboletas amarelas
deixaram de aparecer
nos espaços das janelas.

Desistiu a saracura
de cantar pela manhã
no meio de tanta chuva.

Corta no espaço um relâmpago
o temporal na cidade
encheu as casas de pânico.

A lua sumiu nas nuvens
presa sem saber porque
entre assassinas impunes

O urutau  prega o caixão
a corujinha se cala
voa o morcego ladrão.

Querem votos os políticos
e disputam seu lugar
no lugar que era do vírus.

Não guardo nenhum segredo
o poeta está com medo.

(31/05/2020)

Abraços,
ELSON.


Eis a resposta de ALDÍSIO:


SÓ OS MORTOS NÃO TÊM MEDO

ALDÍSIO FILGUEIRAS

Meu caro, Elson, sou grato,
por este anúncio de sete
sílabas com que acordas,
também em mim, esse medo,
que espreita sem respeito
janelas sem borboletas.

Não te aflijas: só os mortos
não têm medo, poeta.
Eles cavalgam helicópteros
e cavalos sobre o verde
que apazigua as praças
públicas, porque a paz

os incomoda no tédio
que deve ser estar morto;
e desafiam a lei
da gravidade com voos
cegos que atropelam vidas
de gente e borboletas

amarelas, azuis, brancas
ou verdes que farão falta
ao arco-iris e à grama
que eles, os mortos, comem
à farta, pelas raízes.
Aves que não cantam mais.

já tiveram onde pousar
a elipse do seu impulso
exato. Figuras fortes,
recuperam-se do espanto
e resgatam à tempestade
a rima nobre do pânico.

trazida pelo relâmpago,
e não mais perdem o ânimo:
o susto inventa a cautela
e o caminho das pedras.
Janela sem borboletas,
espaços sem sinfonia

de pássaros, são imagem
e semelhança da cidade,
uma paisagem de lápides
imóveis, sem ressonância
- ali vinga o que se cala,
cada um com seu recalque,

culpa e arrependimento,
do que se chama pecado.
Querem votos os políticos?
Que se danem! Estão mortos!
Tudo o que fazem é visagem.
Bois, bois, bois de cara preta,

quanto querem de gorjeta?
Não guarde nenhum segredo,
Elson, diga às borboletas;
se a lua míngua na chuva
escancare a janela
e avise aos navegantes,

sem medo de morder a língua
ou quebrar o metro do verso:
"Sim tenho medo, logo, existo".
 
     

terça-feira, 21 de abril de 2020

UM POETA NADA COMUM




   IDA   VICENZIA

    (Da  Associação  Internacional de Críticos de Teatro - AICT)

     (Especial)
   Ai de ti, Manaus – Parletres
  O poeta Aldísio Filgueiras no Centro de Manaus. (Foto da Produção) 

     Vamos tentar falar sobre o poeta Aldísio Filgueiras - o que não é fácil. Este poeta, cujo nome é um jogo de consoantes que parecem desafiar a própria língua: Aldísio Filgueiras! 
     Ele é um jornalista bonito, física e moralmente: o resultado da união de um casal de ascendência nordestina. Eles vieram morar em Manaus, D. Diamantina e seu Aloísio. Ela de  Roraima, ele de Cruzeiro do Sul, no Acre, dois lugares não propriamente nordestinos. Pelo que entendi, o poeta lamenta não ter nascido no Nordeste, onde o casal de ascendência nordestina, Diamantina e Aloísio, poderia ter se encontrado. Assim hoje o poeta estaria cercado do bravo povo de lá. Seria bom para o poeta?   
     Mas o primogênito do casal ao menos conseguiu fugir do futuro, fugir de ser o cabeça da família, por ser o primogênito. Isso não é brincadeira, ainda mais no Nordeste!
       
      Preferiu ser poeta...  
    E eu aproveito para dizer, no meio desse imbroglio, o que o diretor de teatro Antonio Abujamra dizia para seus atores: “Senta aí e conta a tua vida”:
     E Aldísio conta, sem reclamar, complementando:  se tivesse nascido no mesmo dia de Luiz Carlos Prestes, teria seu nome, porém o caso se deu alguns dias depois, em 29 de janeiro, e seus pais optaram por batizá-lo com o nome de outro guerreiro: o general Aldísio. Seria general, o seu xará?  Nunca saberemos, mas o fato é que o nosso poetinha nasceu dois anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Tudo indicava que seria um homem da paz. Seu pai, o delegado Aloísio, depois de alguns anos de convivência com um ainda desconhecido poeta, chegou a uma conclusão: “Você é um cara inadequado”.
    Hoje o poetinha diz que os brasileiros são uns caras nascidos na Casa Grande, mas que tem as garras na Senzala.  Aldísio Filgueiras nos faz encontrar Gilberto Freyre. Esta aproximação nos dá a medida da indignação do poeta. Vejam só, estamos em 2020, e o povo brasileiro ainda não se conhece, não sabe do que é capaz. Para a Bem ou para o Mal.       
     Mas o poetinha é diferente da grande maioria dos brasileiros, Ele  lê! Lê muito, e não só os poetas de sua preferência como Maiakovski (um Amore Nostrum!) - mas muitos outros! 

          Eis um trecho do poema O Amor - do poeta russo: 

                   Um dia, quem  sabe,/ 
ela, que também gostava de bichos,/  
apareça,/
numa alameda do zôo,/sorridente,
tal como agora está/ 
no retrato sobre a mesa.//

   Maiakovski! Mas Aldísio Filgueiras não lhe fica atrás. 

Eis Aldísio:

       "Amo você, já quase me esquecia/ 
Sobre o surdo sabre /Das flores/  Aos poucos goles/ 
Selo/ 
E monto a palavra/
Sim/
E mordo a palavra/                            Não//                           
(Malária, Filgueiras, p.54)

        Ele lê também Eliot, Pessoa, 
 William Carlos Williams: além de 
estar sempre atento à Historia e aos 
acontecimentos do cotidiano. 

    Aldísio, como um bom poeta, adora andar nas ruas, nos ônibus, ver as pessoas... Em Manaus isto é um prato suculento... a  palavra deflagra um mundo diferente.

     Hoje, 2020, ele é vitima da inevitável epidemia das ruas, e comenta: "As minhas unhas vão cair,
de tanto lavar as minhas mãos".
     
     Incrível.

  No início de sua vida, como costuma acontecer com os poetas, 
todos na sua casa achavam que ele
seria um homem inútil. A inutilidade
de Aldísio se revelou inspiradora e
surpreedeu a todos. 

     Ele fabricava versos!
  
 Inesperados versos, mal compreendidos:   
        
               "Ah! A poesia aqui 
               Meu filho,
               É uma doença tropical

       (Malária, p.44)

... e se transformou em um poeta censurado!

     Também, em pleno 1968 foi escrever poemas e teve editado um livro: Estado de Sítio! "Ele anda meio perdido por aí" - dizem os seus
leitores. Na verdade, ele já está na terceira edição. Nesta últtima, em 2018, foi comemorado os 50 anos de sua primeira edição. Bela História!

      Neste poeta habita um jornalista. Suas poesias são grandemente ligadas a acontecimentos históricos, ou refletem sobre tempos passados. 

Tempos difíceis de viver. 

     Mas as coisas não mudaram muito - diz o poeta/jornalista, e declara: "O capitalista não existe, o dinheiro é hermafrodita, se reproduz sozinho e vai pra mão de quem ele quiser ... Acabou esse negócio de Liberdade - Igualdade - Fraternidade! - e as mulheres hoje são educadas para administrarem uma economia de macho!"

     E o poeta se rebela, em versos: 
         
         si vous avez sejourné dans/

         une zone impaludée/

         vous avez pu contracter/

         une forme dangereuse/ 

        de paludisme

                        maleita
                        malásia
                        macumba
                        maconha
                        m ****

     (Malária, p.23)

     Nos despedimos deste poeta sem rótulos, brilhando assim como uma luz na selva, cantando:
          "Começar

num começo novo

no vazio 
do mundo

como quem nasce 
lambe a lama 
da pele na vala

comum

de lugar nenhum

e se descobre

vivo

- cara, mas que alívio!

(Aldísio, "Cidades do Puro Nada"),  
                       (2018)
   

     Ah! Já íamos esquecendo , foi ele quem compôs o belo texto Porto de Lenha, em companhia de seu amigo e parceiro Toquinho, e que está se transformando no hino de Manaus! Palmas para ele, ou como dizem os ingleses:
 "Give me your hands!"
                ______________________________PS: (A gente pode não gostar dos norte-americanos, mas este pedido de aplauso é genial! Give me your hands. Será que não foi o pessoal das Ilhas Britânicas que o inventou???). 
    

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

FREUD E MAHLER





'Freud e Mahler' - Giuseppe Oristaneo e Marcello Escorel. (Foto Divulgação)


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)

      A autora da peça FREUD E MAHLER, Miriam Halfim, explicita de tal maneira o tempo, e as motivações, de dois homens que modificaram o mundo da Música (Mahler), e o da Mente (Freud), com palavras tão marcantes que, ao encontrar sua escrita revivemos a emoção da cena. Mas agora, ao evocarmos a direção de Ary Coslov, a dimensão é outra, e algo mágico pode acontecer, pois vamos criticar a encenação.

     O encontro do psicanalista e do músico se deu em 1910, na Holanda. As motivações para esse encontro podem ser as mais diversas, mas, no caso de Mahler, foram as do coração. Casado com a bela musicista Alma Mahler, a insegurança tomou conta do músico. Tal sentimento não foi ocasionado pela competição artística - como bem podemos imaginar - mas por ser Alma uma mulher irresistível.

     Aqui estão colocados os ingredientes para uma refrega emocionante entre um pesquisador da alma humana (Freud), e um arrebatado artista das emoções, o compositor Gustav Mahler. Como diz Coslov: este foi o encontro do pensamento com a emoção - reconhecendo Coslov - : Isso não quer dizer que Freud deixasse de lado a emoção, ou que Mahler não usasse seus pensamentos. 

     Podemos acrescentar que este encontro dá à peça fluidez e equilíbrio. Miriam Halfim mostra, em sua mais recente criação, grande lucidez ao desvendar os tortuosos caminhos da paixão. Sim, porque a cena se desenvolve através da emoção de dois seres que se aprofundaram em suas  escolhas de vida.

      E, no momento em que, no palco, os dois artistas, Marcello Escorel e Giuseppe Oristanio, aguardam a chegada do público, a peça começa a atingir o seu contorno definitivo. Neste momento os dois atores, descontraídos, sorriem para o público. É quando percebemos a transformação que virá. Com uma sutil mudança de luz, os atores se transformam em personagens!

     É neste momento que percebemos a determinação do diretor. Ao buscar a fala dos personagens, Coslov impõe a sua fala, bem estruturada, transmitindo a riqueza do texto de Miriam Halfim.

     Percebemos também, com sôfrega atenção, que a autora, ao escolher o caminho que será percorrido pela sua escrita, consolida, no palco, a expectativa do que havia sonhado para a sua obra. Sim, o autor percebe quando está no caminho certo. E é com grande atenção que o público acompanha o acerto daqueles quatro artistas.

     Sim, temos Miriam Halfim, com sua competente escrita; Ary Coslov e a acertada direção; e temos Sigmund Freud - Giuseppe Oristanio – que, com sua bem dosada ironia, reconhece em Mahler, seu cliente, o desejo de esconder seus sentimentos. E, finalmente, temos Gustav Mahler que -  não se sentindo muito à vontade - tenta levar a motivação de sua visita para um patamar menos comprometido do que o ciúme. Porém, a combustão não se faz esperar. E vemos um Marcello (Mahler) Escorel ora reticente, ora explosivo, mostrando o artista em sua grande cena, quando confessa a Freud o seu ‘temor de amor’! E, a partir dessa confissão, temos a delícia do jogo de de cena de Giuseppe Oristanio e Marcello Escorel!

   Ary Coslov esclarece: tanto a força de raciocínio de Freud quanto os transbordamentos das emoções de Mahler permaneceram como legado para as gerações posteriores. – Ao que a autora Miriam Halfim acrescenta: sempre admirei Mahler e quis escrever sobre ele. 

     Para nós foi inesquecível o dia em que fomos estabelecer contato com eles, no teatro.

     A trilha sonora escolhida para o espetáculo foi a 6ª sinfonia de Mahler e seus vários movimentos. Criação da trilha sonora, Ary Coslov. Na trilha tem também Frank Zappa – Tributo a Edgard Varese. O cenário, com referências clássicas, é de Marcos Flaksman, e a Luz, de Paulo César Medeiros. Figurinos de Brunna Napoleão. Assessoria de Imprensa Ney Motta.
É BOM VER BOM TEATRO!