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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O ANJO DO APOCALIPSE

 

IDA VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

O ANJO DO APOCALIPSE 

O Professor Clovis Levi, a quem podemos chamar de o Dramaturgo Clovis Levi, acaba de nos apresentar uma obra prima sobre o início dos tempos, sobre os caminhos da Bíblia, desde o Antigo Testamento até os nossos dias! O texto chama-se “O Anjo do Apocalipse” e mostra como as religiões, que vieram para “religar” os humanos, podem se constituir em um engenho de destruição! Conheçam “O Anjo do Apocalipse” e reconheçam a força da palavra como o nascedouro de todas as desgraças! Para o autor – estremeçam! – tudo começou no Oriente Médio, e tudo vai acabar no Oriente Médio! Mas tudo não é tão simples assim. Este Anjo vai nos dar a conhecer a força do “Deus dos homens”.  

     E Deus existe, afinal?

     Vamos retroceder aos templos bíblicos (e saímos deles?), e tentar entender tudo o que acontece no Teatro Ipanema  quando alguém, com visão, resolve contar a verdadeira saga do Oriente Médio, ONDE TUDO COMEÇOU, E ONDE TUDO VAI ACABAR!

     E vamos falar das três religiões que continuam a comandar o mundo: vamos falar como aconteceu o Judaísmo, o Cristianismo e a Revolução Muçulmana. Que lugar complicado, esse tal de Oriente Médio! Como foi que tudo aconteceu mesmo?

     “O Anjo do Apocalipse”, texto de Clovis Lei, é um estudo aprofundado (e poético) que tem por finalidade nos relatar os caminhos da religião também nos tempos atuais e ocidentais (sim, porque não podemos negar que o Ocidente está metido até o pescoço neste embrulho cósmico!), mas, o que para o Ocidente talvez fosse um estudo sobre as religiões, transformou-se, para Levi, em Teatro, Dramaturgia, Drama!  Diz o autor que o texto surgiu em 2008, e sua intensão era escrever um livro, mas tal não aconteceu, e, o que vemos agora é um texto incisivo, irônico, que se debruça sobre a saga humana, onde a religião é o fator determinante. O que pode acontecer agora é você ir até o Teatro Ipanema (sempre ele, com historias pontuais, como nos tempos de Rubens Correa!), e pensar um pouco sobre o  desvario dos homens neste Planeta Terra, e como tudo isso acabará.

     Tentemos entender agora um pouco do que aconteceu no lendário Teatro Ipanema, nesta estreia de 2019!

     O texto se desloca, e atinge os últimos acontecimentos, os do Século XXI. EUA, RUSSIA, e os povos do Oriente Médio continuam, agora, tão envolvidos como o foram os povos antigos, em milênios passados! O estudo começa com o início dos tempos religiosos (sobre a saga dos Orientais, bem entendido) e mostra-nos como o DEUS, exuberante e bíblico, comanda seus protegidos DESDE SEMPRE: ou seja, desde tempos imemoriais até os nossos dias! Aprendam como se conta essa historia, com Clovis Levi no texto ... e Marcus Alvisi na direção!

     Tempos imemoriais. Tempos do Anjo Guerreiro, o Mensageiro, com sua Espada de Fogo. Ele é o Querubim, o que comanda todas as milícias (interpretado com “carisma e humor” por Marcello Escorel). Como diz seu criador, na peça, Clovis Levi, o ator que vai desenvolver este personagem tem que ser carismático, e o papel foi entregue a Marcello Escorel. O Anjo Guerreiro se apresenta: “...sou o Querubim  mais prestigiado das milícias celestiais, cargo que ocupo há três milhões e meio de anos...”

     Ficamos imaginando, no decorrer da narração de toda essa Historia Celestial, como era poderosa a imaginação dos homens antigos... e como ela permanece poderosa, cada vez mais poderosa! Senão vejamos: O Anjo avisa Abraão, a mando de Deus (e uma voz poderosa se faz ouvir, a voz de Deus, comandando Abrão): “Sai-te da tua terra para a terra que te mostrarei. E far-te-ei uma grande Nação”. (O Querubim observa, com júbilo, as “ênclises” e “mesóclises” com que Deus fala, e acrescenta para o público): “Essa Terra Prometida vocês não tem noção da ma-ra-vi-lha que vai ser”. E Deus continua, com seu vozeirão: “Esta terra, Canaã, onde jorrará leite e mel, mais tarde chamar-se-á Palestina”.... E aí começa o rolo todo que vocês conhecem, que culmina com 1948 e a criação do Estado de Israel, e por aí vai! Só vendo, para crer! NÃO PERCAM!

     Além da prestigiada interpretação do Anjo, de Marcello Escorel, o “Anjo Guerreiro”, temos mais dois atores, que interpretam a mulher palestina Zahra e o judeu Eliakim, em diversos momentos da historia humana daquela região (que reflete a nossa Historia, é claro!), e vai tocar na nossa insensatez eterna! Bravos Zahra (Juliane Araújo) e Eliakim (Daniel Dalcin)! Um elenco tão verdadeiro e competente consegue concretizar o que é lido no (agora) texto teatral de Clovis Levi. Alguém poderia imaginar que este professor tranquilo e acolhedor carregasse dentro de si o Aristóphanes dos tempos modernos?! E que seus personagens, que tudo possuem, matassem e morressem, como diz Zahra, com o ódio que nem ela entende?  “Essa é a minha terra, diz Zahra, e é por ela que eu mato, é por ela que morro.”

     Para resumir a situação, temos um dramaturgo entre nós! Ele possui a bela e terrível compreensão do que está acontecendo, e do que sempre aconteceu, neste mundo que nos cerca. E, no Teatro Ipanema, graças à conjunção de vários fatores, entre eles o acerto do convite a este diretor maravilhoso que é Marcus Alvisi (imaginamos que, sem ele, talvez essa historia não seria contada com tanta precisão), temos profissionais de primeira qualidade transformando o que “pensávamos ser impossível levar à cena”, em um espetáculo simples e fluente, como é a narrativa inacreditável dos primeiros tempos da humanidade. O que vemos no palco se transforma, a todo momento, nas mãos dos magos que são Clovis Levi, Marcus Alvisi, João Dias (e nos perguntávamos como seria colocar a Palestina no Palco!), e Aurélio de Simoni  (essa luz que Deus lhe deu, e que ele considera “bobagem”!)

     Temos ainda a trilha sonora criada por Alvisi e Joel Tavares, assistente de direção. Temos as asas do anjo da atriz e aderecista Maria Adelia e vemos, no final, um sóbrio Querubim Marcello Escorel. Ficamos nos interrogando o porquê de tanta sobriedade, e o Anjo do Apocalipse rememora: “Quando escrevi o Apocalipse, milênios atrás, o que eu via era o número sete. No Oriente Médio sete países acabaram de entrar em guerra. O que se vê, agora, em toda a Terra, é a Cólera de Deus, muito choro e um interminável ranger de dentes”.

     Porém, o Anjo Apocalíptico tem esperança, e conclui:

     “Em algum tempo ainda muito distante, descerá dos céus uma Cidade Nova – uma santificada Jerusalém. Mas, até lá, a voz de harpistas, a voz de violinos, a voz de tocadores de flautas e de clarins, jamais, jamais em ti se ouvirá.” (...)

     Neste texto de Clovis Levi o que ocorre é a constatação da loucura humana, e também a facilidade de fabulação que o ser humano possui. E o autor conclui que, nesta Historia da Santidade, o Vaticano também entra na dança..., e nos leva a pensar, novamente, naqueles tempos de Luxo, Riqueza, Corrupção, INQUISIÇÃO! Tudo igual, em termos de destruição! Eis uma peça que nos leva ao raciocínio e à compreensão do desatino que está sendo a nossa passagem por este nosso tão amável Planeta Terra!

     NÃO  PERCAM  CLOVIS  LEVI. Ele possui várias peças escritas e encenadas, mas o verdadeiro dramaturgo está aqui, com todas as letras, assinando a este nosso “O Anjo do Apocalipse”!    

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