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terça-feira, 26 de setembro de 2017

"MARX BAIXOU EM MIM - UMA COMEDIA INDIGNADA"

 
"Marx Baixou em Mim - Uma Comédia Indignada", de Howard Zinn. Tradução Tereza Briggs-Novaes. Direção e Interpretação Jitman Vibranovski. (Foto da Produção)


IDA VICENZIA
CRÍTICA DE TEATRO
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)

OBSERVAÇÕES SOBRE "MARX BAIXOU EM MIM" PALESTRA-ESPETÁCULO DE JITMAN VIBRANOVISKI


     Quero falar agora rápidas palavras. Não é uma crítica. Quando Marx "desce" no século XX e XXI, no Rio de Janeiro, o encantamento se estabelece, quando narra seu ponto de vista sobre os acontecimentos políticos e sua "sobrevivência" no Soho londrino do século XIX. Antes de mais nada, queremos agradecer e dar os parabéns a Jitman Vibranoviski por nos proporcionar esse momento tão importante à procura da justiça social. Estamos muito necessitados disso. Sempre. Vemos que o mundo não muda, e quando Jitman/Marx começa a falar, prestamos muita atenção no que o nosso grande pensador tem a nos dizer.

     Mas o que nos pega de surpresa, (pois os livros ocidentais de Historia passam muito ligeiramente sobre o episódio), é o que realmente aconteceu com a Comuna de Paris. De maneira poética e envolvida, Jitman nos dá uma visão do que realmente teria acontecido naqueles dias de felicidade completa dos cidadãos de Paris, e de como eles foram massacrados pelas forças da repressão, as forças que acabam com os sonhos. Essa passagem, essa narrativa, fica em nossos corações. Aliás, a palestra e o encontro com Jitman/Marx é perfeito. Marx/Jitman diz que está acompanhado de sua Jenny (nome da esposa de Marx), na companhia de sua companheira Claudia Versiani, que também acompanha os acontecimentos na vida de Jitman e o critica, como a Jenny o critica, quando necessário. Uma grande mulher junto de um grande homem!

     No final há um debate. Dessa vez ele ocorreu no IFCS/RJ, (Insituto de Filosofia a Ciências Sociais) em seu salão nobre. Tivemos, naquela tarde, também a palavra de Anita Leocádia Prestes, muito bem vinda, recepcionando Marx e também representando o Arquivo da Memória Operaria, órgão que dirige, no prédio da Faculdade do Largo de São Francisco. Aliás, esse convite a Marx feito há alguns meses, e aceito por Jitman, está tomando o Brasil, de Norte a Sul: faculdades, escolas, associações, órgãos interessados em política, bairros populares, praças públicas, cidades do interior, todos estão interessados em economia, sociologia e política! Estão interessados em Marx, pois ele não morreu! Uma plateia lota as dependências onde Marx se encontra. E é um fenômeno que cresce a cada dia.

     Não quero com estas palavras atrair os maus espíritos, mas entusiasmar as pessoas com o que aconteceu no IFCS, no dia 25 de setembro deste ano. Na ocasião, resolvi dar a minha contribuição e falei, após a palestra, sobre "Os Demônios", romance de Dostoiévski, porque Jitman fez uma descrição de Bakunin - extraída dos escritos de Marx - que me lembrou Mikailovicht, um personagem semelhante criado pelo romancista russo em "Os Demônios". Jitman se referiu à quantidade de livros sobre o assunto que se acumulam em sua mesa de trabalho, mas prometeu lê-lo. Pois nós aconselhamos Jitman a não ler agora "Os Demônios", deixar para outra ocasião, pois a leitura deste russo é sempre empolgante, entretanto, a revolução que prega o personagem Mikailovicht é costurada de ódio e rancor, nada a ver com a Comuna de Paris. A maneira com que Jitman/Marx relembra o pouco tempo em que ela vigorou, nas ruas de Paris, é tão linda a romântica que fazemos votos que algum dia a humanidade proceda assim! Na ocasião, os russos sabiam que algo estava acontecendo "no centro do mundo", mas não sabiam localizar o quê. Vale a leitura, porém em outra ocasião, pois trata-se de um romance em que a personalidade forte de Mikailovicht toma conta dos acontecimentos.

     Quanto ao mais, agradecemos a oportunidade de estarmos tão próximos a Marx, agradecemos ao autor do livro, Howard Zinn, um professor universitário americano, e ativista político com vários livros publicados. E agradecemos a Jitman Vibranovski!

     É de Zinn a frase: "Se agirmos de qualquer maneira, ainda que pequena, não precisaremos esperar por algum grande futuro utópico". Ele agiu, como também. Jitman está agindo. E o seu testemunho cresce vertiginosamente, através do contato com o público (que às vezes nem conhece Marx). O texto de Zinn foi batizado por Jitman de "Marx baixou em mim - uma comédia indignada". Jitman/Marx declara: "Tempos difíceis. Tempos de luta. Tempos de indignação, muita indignação. Lembrando a senhora Carrar de Bertold Brecht, que fuzis eu ainda não entreguei?" Jitman está fazendo, de maneira brilhante, a sua parte.