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domingo, 17 de julho de 2022

 

 IDA  VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de  Teatro – AICT)

(Especial)

 

C I R C U N C I S Ã O  E M   N O V A  Y O R K,

O autor dessa comedia conhecia bem a alma humana. Ele consegue colocar vários sentimentos e preconceitos em jogo, e luta contra o sentimento de culpa de Miriam, a personagem que desencadeia a ação, interpretada por uma elogiável Narjara Tureta. Devemos acrescentar, já no início, que este personagem explica, para a família, seu sentimento de culpa, por ser como é... e tudo se resolve no final.

Mas estamos falando em João Bethencourt, o autor de tantos sucessos, que novamente se apresenta entre nós!

Não nos apressemos. Estamos falando sobre uma sociedade judia, portanto, devemos levar em conta seu rígido dogma de preconceitos religiosos, o que nos leva a um quid pro quo muito bem resolvido!

Antes de tudo, saudemos o retorno do autor húngaro/brasileiro João Bethencourt, grande comediógrafo, nascido em Budapest. João veio para o Brasil em 1933, com a família, aos 10 anos de idade. Sabemos o porquê de tantos cuidados. Ah! As guerras do continente europeu!

Formado em Yale, João é Mestre em Artes Cênicas por aquela Universidade, e, como não podemos deixar de acrescentar, ele é (era?), um ser humano excepcional e nos deixa várias peças, entre elas a que está se despedindo hoje, dia 17 de julho de 2022, do Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro. Mas temos uma boa notícia! Circuncisão vai abrilhantar a reinauguração do Teatro Princesa Isabel, aquele que fica na entrada de Copacabana, e cujo proprietário (e amigo das Artes Cênicas) é Orlando Miranda! Boas Vindas! Este Teatro, que iluminou por muitos anos a Avenida que lhe dá o nome,  muito em breve voltará a nos iluminar!

A estreia do Princesa Isabel será com a peça que estamos comentando. O elenco é brilhante: Temos  Narjara Tureta como Miriam, a jovem judia que resolve se desvencilhar das amarras de sua condição, e partir para uma nova vida, independente! Rogério Freitas, brilhando sempre, dessa vez como o amigo (e avô!) do filho de Miriam... e de Emily, a companheira que influencia a entrada em um futuro menos ortodoxo praqueles que ainda usam o quipá (os pais... os homens!), indicativo de que a religião está acima de tudo. Eis que surge o Abraão II, (o pai de Emily) Rogério Freitas, para modificar a situação e fazer parte do embruglio!

E como fica isso?!

... e, a partir dessas revelações, o público vê surgir as situações mais inesperadas, na maioria conduzidas pela mãe judia! (Jalusa Barcellos em interpretação destacada e brilhante, como a mãe que procura solucionar a questão, para ela tão alarmente, de ter uma filha que está apaixonada por uma mulher! Jalusa/Sara, está impagável em seus cuidados!).

Mas há que vencer a resistência do patriarca Sergio Fonta, o Abraão I!... e aí surge o nó da questão!

Abraão I, vaidoso com a filha que vai ser mãe, e com a possibilidade de ser avô! Porém, sem o verdadeiro conhecimento do que está ocorrendo em sua residência, ele é o involuntário protagonista de tal confusão! (Sergio Fonta em memorável atuação).  E aí começa a situação de comédia que acaba envolvendo atores e público!

... Participamos, todos, do poder de imaginação de nosso dramaturgo, muito bem dirigido por Guilherme Delrio e orientado por nada 

... Participamos, todos, do poder de imaginação de nosso dramaturgo, muito bem dirigido por Guilherme Delrio e orientado por nada menos do que Cristina Bethencourt, a filha de João!

O elenco, composto por vários e bons artistas, entre eles Dalton Lisboa, uma surpresa, e Carlos Loffler, voltando com sua carga cômica e o papel do rabino! Temos também a noiva/esposa de Miriam, a doce e firme Emily, interpretada pro Araci Breckenfeld.

E mais não relatamos, deixamos para a imaginação do público (ou de quem vier a sê-lo) para complementar o enredo!

No final, celebrando o amor resolvido, o elenco nos brinda com uma espécie da can can judeu! – com uma música muito conhecida –  Aleluia! - comemorando amizade e amor... e as palmas do público!

Na ficha técnica, destaque para os figurinos criativos de Augusto Pessoa, que também se encarrega do cenário (uma simples sala de visitas, com muitos recursos cênicos...). Temos também a coreografia de Julita Machado. E a Luz e feita por Guilherme Delrio e Cristina Bethencourt.

Consultoria e Gestão Cultural: Patrícia Castro Arte e Cultura.

NÃO PERCAM!

É  BOM  VER  BOM  TEATRO!              

 

       

 

         IDA  VICENZIA

      (da Associação Internacional de Críticos de  Teatro – AICT)

      (Especial)

 

      C I R C U N C I S Ã O  E M   N O V A  Y O R K,


         O autor dessa comedia conhecia bem a alma humana. Ele consegue colocar vários       

       sentimentos e preconceitos em jogo, e luta contra o sentimento de culpa de Miriam,    

        a personagem que desencadeia a ação, interpretada por uma elogiável Narjara            

        Tureta. Devemos acrescentar, já no início, que este personagem explica, para a           

         família, seu sentimento de culpa, por ser como é... e tudo se resolve no final.

          Mas estamos falando em João Bethencourt, o autor de tantos sucessos, que                novamente se apresenta entre nós! 

Não nos apressemos. Estamos falando sobre uma sociedade judia, portanto, devemos levar em conta seu rígido dogma de preconceitos religiosos, o que nos leva a um quid pro quo muito bem resolvido!

Antes de tudo, saudemos o retorno do autor húngaro/brasileiro João Bethencourt, grande comediógrafo, nascido em Budapest. João veio para o Brasil em 1933, com a família, aos 10 anos de idade. Sabemos o porquê de tantos cuidados. Ah! As guerras do continente europeu!

Formado em Yale, João é Mestre em Artes Cênicas por aquela Universidade, e, como não podemos deixar de acrescentar, ele é (era?), um ser humano excepcional e nos deixa várias peças, entre elas a que está se despedindo hoje, dia 17 de julho de 2022, do Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro. Mas temos uma boa notícia! Circuncisão vai abrilhantar a reinauguração do Teatro Princesa Isabel, aquele que fica na entrada de Copacabana, e cujo proprietário (e amigo das Artes Cênicas) é Orlando Miranda! Boas Vindas! Este Teatro, que iluminou por muitos anos a Avenida que lhe dá o nome,  muito em breve voltará a nos iluminar!

A estreia do Princesa Isabel será com a peça que estamos comentando. O elenco é brilhante: Temos  Narjara Tureta como Miriam, a jovem judia que resolve se desvencilhar das amarras de sua condição, e partir para uma nova vida, independente! Rogério Freitas, brilhando sempre, dessa vez como o amigo (e avô!) do filho de Miriam... e de Emily, a companheira que influencia a entrada em um futuro menos ortodoxo praqueles que ainda usam o quipá (os pais... os homens!), indicativo de que a religião está acima de tudo. Eis que surge o Abraão II, (o pai de Emily) Rogério Freitas, para modificar a situação e fazer parte do embruglio!

E como fica isso?!

... e, a partir dessas revelações, o público vê surgir as situações mais 

Elenco  Circuncisão em Nova York – Foto de Rogério Fidalgo

 

O autor dessa comedia conhecia bem a alma humana. Ele consegue colocar vários sentimentos e preconceitos em jogo, e luta contra o sentimento de culpa de Miriam, a personagem que desencadeia a ação, interpretada por uma elogiável Narjara Tureta. Devemos acrescentar, já no início, que este personagem explica, para a família, seu sentimento de culpa, por ser como é... e tudo se resolve no final.

Mas estamos falando em João Bethencourt, o autor de tantos sucessos, que novamente se apresenta entre nós!

Não nos apressemos. Estamos falando sobre uma sociedade judia, portanto, devemos levar em conta seu rígido dogma de preconceitos religiosos, o que nos leva a um quid pro quo muito bem resolvido!

Antes de tudo, saudemos o retorno do autor húngaro/brasileiro João Bethencourt, grande comediógrafo, nascido em Budapest. João veio para o Brasil em 1933, com a família, aos 10 anos de idade. Sabemos o porquê de tantos cuidados. Ah! As guerras do continente europeu!

Formado em Yale, João é Mestre em Artes Cênicas por aquela Universidade, e, como não podemos deixar de acrescentar, ele é (era?), um ser humano excepcional e nos deixa várias peças, entre elas a que está se despedindo hoje, dia 17 de julho de 2022, do Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro. Mas temos uma boa notícia! Circuncisão vai abrilhantar a reinauguração do Teatro Princesa Isabel, aquele que fica na entrada de Copacabana, e cujo proprietário (e amigo das Artes Cênicas) é Orlando Miranda! Boas Vindas! Este Teatro, que iluminou por muitos anos a Avenida que lhe dá o nome,  muito em breve voltará a nos iluminar!

A estreia do Princesa Isabel será com a peça que estamos comentando. O elenco é brilhante: Temos  Narjara Tureta como Miriam, a jovem judia que resolve se desvencilhar das amarras de sua condição, e partir para uma nova vida, independente! Rogério Freitas, brilhando sempre, dessa vez como o amigo (e avô!) do filho de Miriam... e de Emily, a companheira que influencia a entrada em um futuro menos ortodoxo praqueles que ainda usam o quipá (os pais... os homens!), indicativo de que a religião está acima de tudo. Eis que surge o Abraão II, (o pai de Emily) Rogério Freitas, para modificar a situação e fazer parte do embruglio!

E como fica isso?!

... e, a partir dessas revelações, o público vê surgir as situações mais 

 

O autor dessa comedia conhecia bem a alma humana. Ele consegue colocar vários sentimentos e preconceitos em jogo, e luta contra o sentimento de culpa de Miriam, a personagem que desencadeia a ação, interpretada por uma elogiável Narjara Tureta. Devemos acrescentar, já no início, que este personagem explica, para a família, seu sentimento de culpa, por ser como é... e tudo se resolve no final.

Mas estamos falando em João Bethencourt, o autor de tantos sucessos, que novamente se apresenta entre nós!

Não nos apressemos. Estamos falando sobre uma sociedade judia, portanto, devemos levar em conta seu rígido dogma de preconceitos religiosos, o que nos leva a um quid pro quo muito bem resolvido!

Antes de tudo, saudemos o retorno do autor húngaro/brasileiro João Bethencourt, grande comediógrafo, nascido em Budapest. João veio para o Brasil em 1933, com a família, aos 10 anos de idade. Sabemos o porquê de tantos cuidados. Ah! As guerras do continente europeu!

Formado em Yale, João é Mestre em Artes Cênicas por aquela Universidade, e, como não podemos deixar de acrescentar, ele é (era?), um ser humano excepcional e nos deixa várias peças, entre elas a que está se despedindo hoje, dia 17 de julho de 2022, do Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro. Mas temos uma boa notícia! Circuncisão vai abrilhantar a reinauguração do Teatro Princesa Isabel, aquele que fica na entrada de Copacabana, e cujo proprietário (e amigo das Artes Cênicas) é Orlando Miranda! Boas Vindas! Este Teatro, que iluminou por muitos anos a Avenida que lhe dá o nome,  muito em breve voltará a nos iluminar!

A estreia do Princesa Isabel será com a peça que estamos comentando. O elenco é brilhante: Temos  Narjara Tureta como Miriam, a jovem judia que resolve se desvencilhar das amarras de sua condição, e partir para uma nova vida, independente! Rogério Freitas, brilhando sempre, dessa vez como o amigo (e avô!) do filho de Miriam... e de Emily, a companheira que influencia a entrada em um futuro menos ortodoxo praqueles que ainda usam o quipá (os pais... os homens!), indicativo de que a religião está acima de tudo. Eis que surge o Abraão II, (o pai de Emily) Rogério Freitas, para modificar a situação e fazer parte do embruglio!

E como fica isso?!

... e, a partir dessas revelações, o público vê surgir as situações mais inesperadas, na maioria conduzidas pela mãe judia! (Jalusa Barcellos em interpretação destacada e brilhante, como a mãe que procura solucionar a questão, para ela tão alarmente, de ter uma filha que está apaixonada por uma mulher! Jalusa/Sara, está impagável em seus cuidados!).

Mas há que vencer a resistência do patriarca Sergio Fonta, o Abraão I!... e aí surge o nó da questão!

Sergio Fonta, interpretando Abraão (e como tem Abraãos nesta peça!), nos dá a presença do que seria o patriarca em seus dias: vaidoso com a filha que vai ser mãe, e com a possibilidade de ser avô! Porém, sem o verdadeiro conhecimento do que está ocorrendo em sua residência, ele é o involuntário protagonista de tal confusão! (Sergio Fonta em memorável atuação).  E aí começa a situação de comédia que acaba envolvendo atores e público!

... Participamos, todos, do poder de imaginação de nosso dramaturgo, muito bem dirigido por Guilherme Delrio e orientado por nada menos do que Cristina Bethencourt, a filha de João!

O elenco, composto por vários e bons artistas, entre eles Dalton Lisboa, uma surpresa, e Carlos Loffler, voltando com sua carga cômica e o papel do rabino! Temos também a noiva/esposa de Miriam, a doce e firme Emily, interpretada pro Araci Breckenfeld.

E mais não relatamos, deixamos para a imaginação do público (ou de quem vier a sê-lo) para complementar o enredo!

No final, celebrando o amor resolvido, o elenco nos brinda com uma espécie da can can judeu! – com uma música muito conhecida –  Aleluia! - comemorando amizade e amor... e as palmas do público!

Na ficha técnica, destaque para os figurinos criativos de Augusto Pessoa, que também se encarrega do cenário (uma simples sala de visitas, com muitos recursos cênicos...). Temos também a coreografia de Julita Machado. E a Luz e feita por Guilherme Delrio e Cristina Bethencourt.

Consultoria e Gestão Cultural: Patrícia Castro Arte e Cultura.

NÃO PERCAM!

É  BOM  VER  BOM  TEATRO!              

 

       

 

 

       

 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

T U D O

 


                          

IDA  VICENZIA

(da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

 TUDO

do argentino Rafael Spregelburd

Dani Barros, Julia Lemmertz e Wladimir Brichta  em  TUDO, texto de Rafael Spregelburd, direção Guilherme Weber. (Foto de Flavia Canavarro)

 TUDO

do argentino Rafael Spregelburd

Desde de a nossa mais tenra idade estamos acostumados com o originalidade e o savoir faire do teatro argentino ( no meu caso, graças ao meu irmão Linneu – pai da atriz Julia Lemmertz – que costumava prestigiar os “porteños” em vez de homenagear os Procópios Ferreiras da vida), e aí, no campo do além Sul  brasileiro, um Jorge Luis Borges, um Manuel Puig  e seus antecessores lhe falavam mais do que a nossa incipiente artes cênicas!

Originalidade e savoir faire argentinos que se apresentam agora, neste recente TUDO – que aborda, com ironia e conhecimento três aspectos de nossa cultura – da cultura da  Humanidade – que não quer deixar de ser ouvida: a Economia, representada pelo Estado; a Religião e a Arte (não nesta ordem). Estes são os três aspectos de nossa civilização abordados ironicamente... aspectos esses que um público menos engajado poderia não perceber.  Assim, sob a batuta do ótimo profissional que é Guilherme Weber (como ator e como diretor), os aspectos discutíveis de nossa organização social vão sendo destacados – entrecortados por uma “luz pontuação cênica” -  (é como se eles estivessem escrevendo, naquele momento, o que iremos assistir a seguir!), desenrolam-se  o Estado, com sua parafernália de interesses pessoais; depois vem o Amor e seus desencontros, para finalmente entrar na Religião e suas superstições.

Qual o episódio mais interessante?

O ótimo elenco, onde se destacam harmoniosamente Julia Lemmertz, Dani Barros (vocação para comediante), Wladimir Brichta  (uma surpresa), e Claudio Mendes, capitaneados bravamente pelo ator Márcio Vito (que não nos deixa esquecer o início de tudo, no sentido teatral – a Grécia Antiga  e seu teatro – em um delicioso sobrevoo aos acontecimentos de nosso presente).

Estamos preparados para o que vem a seguir? Sim! O autor argentino Rafael Spregelburd (!)  nos encaminha para uma viagem crítica à raiz do Humano – e podem crer, meus amigos, onde houver mais de duas pessoas reunidas, o perigo que tal procedimento surja é de mil para um... Ela surgirá sempre  (a crítica ao Humano, talvez não com tanta perspicácia, como é o caso do presente espetáculo).

E, para encerrar o quadro DOS TRÊS ACONTECIMENTOS NUCLEARES que predominam nesta encenação, vem a crítica arrasadora às primeiras manifestações do que se tornou a grande religião dos Ocidentais desde o Velho Testamento:

A Passagem do Mar Vermelho!...

e o tom certo com que Julia Lemmertz critica as suas incongruências... e o tom certo com que os atores Wladimir Brichta e Dani Barros manifestam a superstição criada em torno desse tema, Religião!...

Não dá para não se tomar conhecimento do que está acontecendo no palco, e as plateias lotadas traduzem bem tal entusiasmo dos amantes do teatro em contato com a sua raiz!

Uma citação à ficha técnica: um achado essa maneira da luz sublinhar a passagem dos acontecimentos, é como se a historia estivesse sendo escrita naquele momento! (Quem escreve sabe disso, de como separamos em parágrafos e sinais as mudanças de temas). Perfeito! Renato Machado cria a Luz.

A cenografia sem mistérios de Dina Salem Levy, apresenta alguns objetos de cena concretos... e outros nem tanto, como atesta o constante deslocamento do ator Wladimir Brichta, por sinal o elo que vai nos colocar no verdadeiro fluxo da historia humana, em sua citação do mundo pós Marx!...  Cena digna de destaque e surpresa – diante da grande potência de interpretação desse ator que é uma revelação nos palcos cariocas!

Na direção o já citado Guilherme Weber e sua assistente de direção Verônica Prates passam com pertinência o recado de Spregelburd.

A preparação corporal – cuja liberdade acende o interesse do público desde o primeiro momento que se manifesta -  é de Toni Rodrigues.

A trilha sonora deste espetáculo cujas manifestações mostram um encadeamento rigoroso... A trilha sonora é de Rodrigo Apolinário.

Ao todo são 26 profissionais (impossível citá-los todos) tomando conta de um palco com 5 atores: são eles Márcio Vito, Julia Lemmertz, Dani Barros, Wladimir Brichta e Claudio Mendes, todos se encarregando com competência de sua parte no projeto.

Os figurinos, muito a propósito, são de Kika Lopes.

Há, no programa da peça agradecimentos muito especiais e simpáticos a todas as pessoas que fazem parte do mundo afetivos dos atores.

Parabéns pela lembrança!

Não percam, e se informem da caminhada desde espetáculo tão sui generis e importante, em sua bem humorada crítica à sociedade humana!

É  BOM  VER  BOM  TEATRO!     

quarta-feira, 13 de julho de 2022

 

              IDA  VICENZIA

( da Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)

(Especial)

O   H O M E M   D O  P L A N E T A   A U S C H W I T Z

Como podemos constatar, a dramaturga Miriam Halfim, com o seu  “O Homem do Planeta Auschwitz”, busca entender o que aconteceu com seu povo naquele momento histórico que está sempre tão presente entre nós...

 - e sua barbárie! Os anos em que enfrentamos as duas guerras mundiais!

Com esse texto Halfim  está desvendando seu passado, e o passado de seu povo! Povo que possui, historicamente, várias interpretações em sua trajetória de vida: escolhido de Deus: um Deus raivoso, do Antigo Testamento, ou um ser supremo benevolente, “admirador” dos profetas de seu povo escolhido?

Nos perguntamos: como aconteceu isso, essa barbárie?  Está garantido que não se repetirá? E é, através dessas perguntas, que a autora desenvolve seu pensamento. Muitos têm medo de acompanhá-la (daí o pouco público na plateia da Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro?) – acompanhá-la, e à sua narrativa.

Mas a cada mudança histórica devemos estar bem atentos aos novos (novos?!)  acontecimentos. E estamos novamente em uma mudança histórica, nos dias que correm, em um novo “ciclo civilizatório”. Saberemos responder ao seu chamado, saberemos evoluir?

A evolução que os tempos atuais procuram é a Humanização da sociedade - mas as passagens históricas mostram o seu poder, e não é possível ignorá-la...

...  e o capitalismo continua querendo nos aprisionar, dessa vez com as novas  condições sócio econômicas que o novo Milênio apresenta.

Mas a pergunta continua: o que tornou possível a Adolph Hitler inaugurar a catástrofe nazista? o que a fez aflorar?

Podemos dizer – com muito medo de errar... – que foi o RESSENTIMENTO que levou os humanos a este estado de barbárie? Sim...! de certa forma, sim! O espetáculo a que fomos assistir nos leva a tal conclusão. Senão vejamos:

Estamos na Primeira Guerra Mundial (1914/ 1918...) e nos deparamos com o Mal sendo imposto, em 1919, à Alemanha derrotada, o que seria, para aquele povo orgulhoso, a mais aviltante das derrotas: o Tratado de Versalhes e a rendição da Germânia – sua ideologia e raça - Áustria e Polônia incluídas. Mas algo continuou palpitante, sob a destruição daquele povo que se achava o escolhido.

E é surpreendente, para um Humanista, ver nascer o nazismo na civilizada Áustria, um país aonde nasceu  Adolph Hitler, e um país que era considerado o Centro da Cultura europeia! A Áustria dos grandes compositores, dos grandes poetas, gerou Adolph Hitler!  

O que aconteceu depois explica o “ressentimento”.

Pois aquele jovem austríaco  teve a ambição de ser um grande artista plástico (talento não lhe faltava), mas foi preterido por  “implicações sociais”. A sociedade humana acaba criando constrangimentos que trazem na sua raiz o ressentimento. E o jogo dos poderosos se estabelece, e ninguém consegue explicar como tudo aconteceu. Será?

O texto ao qual nos referimos agora, “O Homem do Planeta Auschwitz”,  se propõe a rever como tudo começou, e a levar o público a pensar em uma possível reedição do mesmo erro. Esse é o texto em que autor, diretor e elenco devem (e conseguem!)  transformar os acontecimentos do início do século XX, em um motivo de reflexão... para os que vieram depois do Holocausto!

Sim. O que vamos falar é sobre o Holocausto, e como ele pode ressurgir novamente, a qualquer momento! O público, esse complemento indispensável para que o teatro se realize, tem medo que o passado volte a acontecer.   

Mas é justamente para entender o passado, e para que ele não se repita, que a filósofa alemã (judia) Hanna Arendt (interpretada por Susanna Kruger) utiliza seu verbo desafiador para que o passado não seja esquecido, e é justamente isso o que o escritor polonês Yehiel De-Nur (interpretado por Mario Borges) enfatiza, em seu horror - o desejo de esquecer a força que destroçou o seu mundo!

Essa peça envolve-se em um embate entre o racional e o emocional, enriquecendo o texto e a atuação dos atores. Neste jogo teatral, o “juer” do diretor Ary Coslov, com seus dois atores, resulta em um desenvolvimento exemplar da verdade!

Mário Borges interpreta, com forte emoção, o escritor judeu que teve sua família exterminada em Auschwitz. Ele é o “sobrevivente” - “o homem do Planeta Auschwitz”  e traz em sua interpretação a emoção que tal horror desencadeia!

Por outro lado, a corajosa filósofa judia alemã Hanna Arendt (Susanna Kruger), impõe, com seu raciocínio, a compreensão do que aconteceu naqueles tempos irracionais. Sua reflexão sobre a banalidade do mal tornou-se um ponto de reflexão, em nossos dias. Com seu claro raciocínio, Hanna desperta, para o público, o momento irracional do inferno nazista, e destaca, com emoção, para a necessidade imperiosa  que tal acontecimento não se reproduza, que se torne algo inaceitável – terrível - em nossos dias.

É quando, no final da peça, a atriz Susanna Kruger se aproxima da boca de cena e faz um sinal para que a cabine de luz ilumine a plateia... e coloca, com sua fala, o que vivemos hoje (fica subentendido que se trata do Brasil). Essa fala se torna uma resposta viva sobre os acontecimentos, e a finalidade do espetáculo!

Com esse fecho o diretor e a autora dão a dimensão do pensamento desenvolvido durante o espetáculo!

A atriz, com o seu gesto, parece estar dizendo: “Não deixemos que a barbárie se estabeleça entre nós, que retorne, que tome conta de nossa sociedade, de nossas vidas!”

... e o espetáculo se repõe, em toda a sua verdade!

Essa cena – e muitas outras  – devem ser presenciadas pelos amantes do teatro!

NÃO PERCAM!

Sim, essas reflexões representam  a luta entre duas forças poderosas: o bem e o mal. E verificamos que devemos estar atentos para que o bem  triunfe sobre  o mal – pois este último  espalha o desespero vivido em nossos dias.

Os dois protagonistas (Borges e Kruger) tentam compreender, desesperadamente, os acontecimentos que levaram ao quase extermínio de um povo. Tal reflexão não impede que essas forças do mal continuem atuando e provocando maior extermínio. É preciso se colocar, de todas as maneiras: enfrentar o que pode ser o fim da Humanidade!

Para as pessoas que se recusam a assistir a este espetáculo, se recusam a presenciar este episódio dolorido, que se recusam a reviver este episódio dantesco, dizemos que não o devemos esquecer, nunca! Precisamos estar atentos, para que ele não se repita. O medo de se emocionar com as cenas vividas no palco deve ser, ao contrário, o alento e a procura do estar no mundo, do nosso público!

Todos os países estão ameaçados de tal catástrofe, todas as religiões, todos os povos.   

É preciso estar atento!

Sim, precisamos reproduzir os acontecimentos no Planeta Auschwitz – aquele planeta do qual as pessoas só saem “pela fumaça da chaminé” – como diziam os guardas do campo de concentração, fortalecendo a sua vitoria macabra!

Mas como chegamos a esse ponto?

A peça, o texto,  nos leva a presenciar  alguma coisa perigosa, latente, que está entranhada no complexo da alma humana. Repetimos: o ressentimento! E esse sentimento nasce ao se fazer a pessoa se sentir excluída. Eis algo que devemos levar em conta, de maneira muito cuidadosa. Muitos males poderiam ser evitados se as pessoas conhecessem a força do acolhimento, do gesto de acolher.

Este gesto não se adapta ao gesto impensado que desencadeia todas as guerras. Existiria Hitler, se os alemães, e todos os poderosos do mundo, não criassem e fizessem existir essa ideia da superioridade ariana, dos “arianos puros” que tentaram excluir do mundo dos vivos grande parcela da Humanidade?

Existiria Hitler, se os poderosos do mundo não quisessem calar as cabeças pensantes em favor de sua ambição pelo dinheiro, pelo lucro? 

Pergunta-se: por que enorme parcela da Humanidade embarcou neste egoísmo, nesta mesquinhez?  

Ficamos por aqui, desejando que um espetáculo tão doloroso como este seja lembrado pelo público, compartilhado pelos que querem um mundo melhor para viver.

A ficha técnica é das melhores: a composição do cenário de Marcos Flaksman reproduz o irremediável da destruição e das guerras.  O desenho da luz de Aurelio de Simoni enfatiza o poderoso simbolismo da ação. Figurinos do cotidiano de Wanderley Gomes.

Trilha sonora de Ary Coslov, e direção de movimento de Marcelo Aquino. Produção Executiva Bárbara Montes Claros.                    

A  PEÇA  É  UM  DESNUDAR-SE,  UM  SE  LIVRAR  DE  UM

MUNDO  QUE  NOS  SUFOCA!

Devemos prestigiar a este espetáculo!