I D A V I C E N Z I A
( da
Associação Internacional de Críticos de
Teatro (AICT)
(Especial)
O C O R S A R I O
... Trata-se de um ballet inspirado
em um poema de Lord Byron, O Corsário,
de 1814. O poeta britânico foi, por excelência, o sonho dos românticos de todos
os tempos. Suas aventuras no Oriente o representam; assim como seus poemas.
Cremos que na passagem do século XIX para o século XX não houve
música, ou verso, mais
apaixonante do que a música de Chopin e os versos de Lord Byron...
Mas quem está trazendo
estas informações é uma romântica que nasceu no sec. XIX !!! E é, para ela, muito importante, neste
contexto atribulado do século XXI, rever
os românticos, com suas pantomimas francesas e sua técnica. É um alimento, uma
renovação! Sim, O Corsário, reproduzido no palco do Theatro Municipal do Rio de
Janeiro, no mês de junho de 2022, é, para ela, o caminho da retomada da dança, justamente no Theatro de
nossos carinhos!
Neste contexto, o balé,
com música de Leo Delibes e Adolphe Adams, entre outros - e coreografia de
Marius Petipa - está muito bem representado, com alguns acréscimos na
coreografia, criados por Helio Bejani e
Jorge Texeira.
Não conseguimos perceber
os acréscimos, exceto pela a presença da companheira amada do corsário,
representada, salvo engano, por Medora (Marcella Borges). No original a esposa não se apresenta na luta
do marido, mas aguarda seu retorno a casa, triunfante. Diz a lenda que o
corsário não retorna jamais... Talvez a participação, forte, de sua esposa, seja
um sinal dos tempos!
Mas quem pode dizer que a
realidade não está ultrapassando o sonho? Afinal, e uma única vez, tivemos
ocasião de assistir Mikhail Baryshnikov no Brasil, evoluindo em uma fascinante interpretação
de O Corsário...
Mas, calma! O que vimos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, neste último dia
19 de junho, em uma matine de domingo... foi surpreendente, pois encenado pelos
alunos da Escola de Dança Maria Olenewa, cujo retorno à historia do balé foi
inspirado por Helio Bejani e Jorge Texeira, atuais coreógrafos e diretores da Cia
BEMO do Theatro Municipal.
É interessante perceber, na
criação de Jules Perrot e Marius Petipa, as citações de balés da época, do Séc XIX, que
faziam sucesso: como a dança dos quatro pequenos cisnes, de O Lago dos Cisnes,
interpretados também pelas sapatilhas de ponta de Taglione neste O Corsário; ou
a lembrança das pantomimas francesas, cuja inspiração é justamente Gisele, também
de Adams, com suave e surpreendente presença na música de O Corsário.
Ficamos agora em dúvida se estas alterações não
foram concebidas por Bejani e Texeira... Seja como for, o espetáculo é um belo
retorno ao balé de repertório que abraça os mais diferentes tipos de bailarinos,
em sua representação enquanto povo e dança. Explico: o balé de Maria Olenewa
recebe os mais variados bailarinos, e este acolhimento reflete o cuidado e o
amor com que seus diretores indicam o possível caminho do estrelato para estes novos,
e multirraciais, amantes da dança... Para quem assistiu o retorno, alguns dias
atrás, da Escola BMO com O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, foi uma grande
ocasião para dar um mergulho na compreensão do que o ballet da Escola do Theatro
Municipal realiza com seus alunos, possibilitando, mais uma vez, a beleza e a
emoção do conjunto. Estão de parabéns, novamente, seus diretores Helio Bejani e
Ana Paula Lessa. E, na Direção Artística, Jorge Texeira, que assina a coreografia
com Helio Bejani, d’après Marius
Petipa!
... e temos uma historia
que se reveste de acontecimentos insuspeitados
- abrindo mão do conjunto de bailarinos
profissionais, como estamos acostumados, para colocar em cena bailarinos/alunos
que nos dão uma nova visão do futuro, e daqueles
tempos de mouros, paxás, e sonhos alucinados!
Destacamos, no elenco, Alyson
Trindade interpretando Conrad, o pirata que, em sua espetacular entrada em cena
assemelha-se a um homem-pássaro, tal a leveza e permanência de seu salto, e de
sua elevação! A plateia, entusiasmada, o aplaude.
Constatamos a preocupação
dos diretores com a formação de plateia e, observando os amantes da dança que
estiveram presentes no espaço do público: plateia lotada no último domingo!
- podemos dizer que os rapazes e moças, e
admiradores de todas as idades, inclusive crianças - assistiam a O
Corsário - e às elevações dos bailarinos - sem se desconcentrar.
No papel de Medora, a
companheira do pirata, temos a bailarina Marcella Borges; o bailarino José Ailton interpreta Ali,
o escravo; e Alyson, o homem-pássaro, é o corsário. Os Primeiros Bailarinos convidados para a estreia de O Corsário,
Filipe Moreira (Conrad) e
Cícero Gomes (Ali), e ainda Saulo Finelon, nosso conhecido de O Lago dos
Cisnes interpretando o belo bruxo Rothbart (está irreconhecível no
papel do Paxá Seyd, sinal de sua boa
atuação como ator....). Os três (quatro, com Marcella Borges), não deixaram
nada a dever aos Primeiros Bailarinos convidados para a estreia do espetáculo.
Tais observações são especulações de quem assistiu somente no domingo. Imaginamos
que a presença de Medora, Ali e Alyson, citados para o domingo de encerramento do
espetáculo, não deixaram nada a dever aos bailarinos na sua estreia, tal a
emoção com que o público os recebeu!
Na Direção Geral do
espetáculo temos Ana Paula Lessa e Helio Bejani, grande bailarino que, no início
de sua carreira, iluminou os palcos do Theatro Municipal! Jorge Texeira assina
a Direção Artística... e os alunos/bailarinos são os mesmos que se apresentaram
no inesquecível O Lago dos Cisnes.
E, acrescentamos, para vosso
conhecimento, que as figuras de destaque na história dos balés não são
prejudicadas pela mudança dos personagens, muito pelo contrário! ... Quando dizemos que Saulo Finelon
interpretando Rothbart, o bruxo, era “o belo” bailarino, agora, em O Corsário,
sua composição é a do velho Paxá, momento
em que não se apresenta “o belo” - muito
pelo contrario - apresenta-se “o velho”, andando sobre seus pés cansados! Irreconhecível.
Boa interpretação.
Como ensaiadora temos Deborah Ribeiro, e ainda
Paulo Ornellas na Iluminação; Tania Agra nos figurinos e Visagismo, e
cenografia de Manoel dos Santos e José Galdino. Na técnica são ao todo dez
pessoas, entre aprendizes e profissionais.
Não é sem certa
melancolia que vemos, refletidas neste espetáculo, as lembranças dos primeiros
balés românticos franceses que entraram nas nossas vidas, como Gisele, por
exemplo, cujos primeiros acordes e passos da pantomima, presentes em O
Corsário, nos levaram a recordá-la! Ah! As pantomimas dos primeiros balés
românticos franceses!
São, ao todo, 49 alunos
da Cia BEMO – TMRJ enriquecendo o nosso material artístico. Estão de parabéns
também a AMADANÇA que tanto tem acompanhado o movimento desta casa de
espetáculos que sobrevive, orgulhosamente, através dos anos!
Que bela crítica! Que pena que eu não pude ir com você.
ResponderExcluirQuem é esse anónimo? Acho que sei quem é...
ResponderExcluirWhatsApp
ResponderExcluirE minha querida Sylvia Marin
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