"A IRA DE NARCISO", de Sergio Blanco. Em cena Gilberto Gawronski. Direção Yara de Novaes. (Foto de Produção) |
IDA
VICENZIA
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
A IRA
DE NARCISO
A 9ª edição do Festival Internacional de Artes
Cênicas do Rio de Janeiro, o TEMPO FESTIVAL, apresenta espetáculos à procura do novo. No teatro
do Oi, Flamengo Yara De Novaes dirige a interpretação de Gilberto Gawronski para o texto de Sergio Blanco, talento uruguaio radicado na França. A tradução e a montagem brasileira foi idealizada
por Celso Curi. Trata-se de um texto de grande impacto.
E aí começam as diferenças. O Festival
Internacional de Artes Cênicas do Brasil, em sua encenação no Rio de Janeiro abrange os oito núcleos, que se estendem pelo país afora. Incluídos nestes núcleos o Festival de Londrina e Porto Alegre em
Cena. Há também espetáculos vindos de outros países, como Espanha, Croácia, França, Alemanha,
Suiça ... Há internacionalização de projetos artísticos e
culturais. A 9ª Edição do Tempo Festival começou no dia 19 de outubro e irá até
o dia 28 deste mês. Aproveitem a ocasião. O TEMPO FESTIVAL é patrocinado por
múltiplas associações culturais, particulares e governamentais, com resultados de primeira grandeza, como “A Ira de
Narciso”. Vamos a ele!
Novo gênero de teatro contemporâneo, o “teatro da
narrativa” revoluciona a maneira de contar
uma historia. A fórmula criada por
Blanco é inovadora, há uma dinâmica fragmentada do teatro pós-moderno, mas o espetáculo se configura
pela procura do “outro”. Rimbaud é o símbolo, com o seu “Je est un autre”. E há
outras observações culturais que leva o público à construção do pensamento do autor: de forma poética são citados Heidegger e sua “metafísica” (onde o autor Sergio Blanco se pergunta sobre arte do ator, se não teria ela esta fórmula metafísica do filósofo alemão?
Há, no espetáculo, várias citações (belas) sobre a poética da ação e da atuação – a poética do ator - deslumbrando com as ligações que Blanco estabelece entre Rimbaud, Heidegger, Deleuze, e a sua própria criação artística. Trata-se de um autor que sabe conduzir o “tempo” – que pode ser o da ação, ou o do pensamento. Enfim, o "tempo", os acontecimentos do presente e a revolta contra a morte. Marcantes os momentos da indignação do ator, quando grita, no texto, a indiferença com que a humanidade vê passar os acontecimentos presentes - acontecimentos dantescos que destroem a vida. O grito do autor se faz ouvir, marcando o lugar da sensibilidade. É impactante a forma com a qual Sergio Blanco nos leva ao que está destruindo o nosso “agora”, e a nossa vida futura.
Há, no espetáculo, várias citações (belas) sobre a poética da ação e da atuação – a poética do ator - deslumbrando com as ligações que Blanco estabelece entre Rimbaud, Heidegger, Deleuze, e a sua própria criação artística. Trata-se de um autor que sabe conduzir o “tempo” – que pode ser o da ação, ou o do pensamento. Enfim, o "tempo", os acontecimentos do presente e a revolta contra a morte. Marcantes os momentos da indignação do ator, quando grita, no texto, a indiferença com que a humanidade vê passar os acontecimentos presentes - acontecimentos dantescos que destroem a vida. O grito do autor se faz ouvir, marcando o lugar da sensibilidade. É impactante a forma com a qual Sergio Blanco nos leva ao que está destruindo o nosso “agora”, e a nossa vida futura.
A troca entre os acontecimentos do
presente - o ator/narrador está envolvido em uma palestra que o leva a um local
pouco conhecido do planeta – e a crítica que Sergio Blanco faz a estes
encontros sinaliza o sentimento humano, muito humano... dos intelectuais;
sentimentos como a vaidade, a mentira, a dissimulação, o desinteresse...e outra
fragilidades... Há um embate entre a sensibilidade e a razão.
E quem sustenta este embate? Quem sustenta o “ser” sobre o qual a narrativa é realizada? Gilberto Gawronski, em brilhante interpretação, consegue passar a firmeza e as certezas daquele personagem que se transforma constantemente no “eu” e no “outro”, numa tempestade de sensualidade, procura, indignação e ironia, transformando sua atuação em um momento mágico do teatro. Os acontecimentos vão se concretizando, e a lucidez, que não deixa o personagem recuar para o fácil convívio de seus colegas intelectuais, o faz declarar: “Eu não era movido pela curiosidade, mas por um defeito profissional“. O personagem se ironiza, enquanto escritor.
E quem sustenta este embate? Quem sustenta o “ser” sobre o qual a narrativa é realizada? Gilberto Gawronski, em brilhante interpretação, consegue passar a firmeza e as certezas daquele personagem que se transforma constantemente no “eu” e no “outro”, numa tempestade de sensualidade, procura, indignação e ironia, transformando sua atuação em um momento mágico do teatro. Os acontecimentos vão se concretizando, e a lucidez, que não deixa o personagem recuar para o fácil convívio de seus colegas intelectuais, o faz declarar: “Eu não era movido pela curiosidade, mas por um defeito profissional“. O personagem se ironiza, enquanto escritor.
Este “teatro da narrativa” – se assim o
podemos chamar – deixa UMA QUESTÃO PALPITANTE NO AR: Estamos, ou não estamos? -
na presença de uma inovação teatral? Na presença de uma nova linguagem,
inaugurada neste TEMPO FESTIVAL? Só o futuro o dirá. Por enquanto, o que nos
deixa perplexos é a capacidade da linguagem teatral abranger tantos universos,
na simplicidade de uma montagem que conta com dois atores: Gilberto Gawronski e
Murilo Basso (também assistente de direção) ou Carlos Jordão. A música,
responsável pelos modificação da cena e dos sentimentos, tem direção de Dr.
Morris. A percussão selvagem que nos é dado ouvir anuncia perspectivas sensuais, porém tal disposição é intermediada pela música de Bach, que o personagem Sergio Blanco prefere ouvir. Um Bach, e a percussão inquietante, eis o jogo musical. A iluminação faz trabalhar a imaginação da plateia, e do personagem. E a cenografia, composta principalmente de caixas de luz que refletem aspectos
da cidade de Liubliana (e seu parque misterioso e romântico), em uma região da Croácia, onde se passa a ação. Destacamos também o figurino de Blanco/Gawronski. Estas são, respectivamente, as criações do já citado Dr. Morris e de Wagner Antonio na Iluminação, André Cortez e sua moderna cenografia, além do figurino muito revelador do nosso já conhecido Fabio
Namatame.
Como se trata de uma pré-estreia, talvez
haja oportunidade de a mesma ser encenada ainda no Rio de Janeiro. Como diz o
programa: é “uma jornada fascinante e arriscada pelo confuso labirinto do eu,
da linguagem e do tempo”. Gawronski está concorrendo ao Prêmio Shell por São
Paulo. NÃO PERCAM! TRATA-SE DE UMA NOVA LINGUAGEM PARA O TEATRO!
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