O ator Bruce de Araujo em "ESTUDO SOBRE A MALDADE" - uma narrativa de "Otelo", de Shakespeare, direção de Miwa Yanagizawa. (Foto Diogo Monteiro). |
"ESTUDO SOBRE A MALDADE"
I D A V I C E N Z I A
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
Outro Shakespeare! Dessa vez é sua peça
"Otelo", incorporando o "Monstro de Olhos Verdes" do ciúme,
que ataca os desprevenidos da sorte. Antes de começar o comentário crítico
quero dizer que tive a felicidade de assistir a um dos mais brilhantes Contadores
de Historias incorporado no ator Bruce de Araujo, a quem tive o prazer de conhecer - com direção de Miwa Yanagizawa, no Teatro Sergio Porto, Rio de
Janeiro. O espetáculo, intitulado "ESTUDO SOBRE A MALDADE", ficará em cartaz ainda este
fim de semana, até o dia 26 (ao que parece) adiado que foi, de sábado a segunda,
sempre às 19 horas. Ao que parece, trata-se de uma residência artística. Para
quem aprecia bom teatro, e o domínio total da cena, aconselha-se conhecer Bruce.
A criação, direção e texto é de Miwa e Bruce
O diretor assistente é Pedro Yudi e a Direção de Movimento (algo inusitado), de
Laura Samy. A Trilha Sonora é de Bruce. Com exceção de Miwa, confessamos que temos
pouco conhecimento de elenco e ficha técnica, mas compreendemos que - e volto à
palavra - diante do 'inusitado' do acontecimento, Stanislaw Ponte Preta deve
estar bem satisfeito com o espaço que lhe foi cedido.
Pois bem. O espetáculo começa praticamente
na penumbra, e o ator do monólogo (Bruce de Araujo), já com iluminação direta sobre ele, aproxima-se do público com uma simples cadeira e senta-se nela, transmitindo-nos toda a simpatia e carisma que sua personalidade
transmite, ao narrar acontecimentos que vão resultar na morte de Desdêmona.
Nada de muito espetacular, apenas a inveja transitando em todos os gestos e
emoções de Iago, que fora preterido em um posto de comando, ao qual almejava.
Apesar de tudo, nada mais atual do que as artimanhas "de Palacio", realizadas
por Iago para atingir os seus fins.
Deixo aqui o registro de meu espanto de
não ter lido comentário algum a respeito, já que "a ciência crítica"
neutralizou-se em inúmeros "blogs" que vão materializando o seu parecer
perdido no espaço e na pressa das noticias entrecortadas. Lastimo. E vejo, com
espanto, que as notícias de jornal ainda monopolizam as críticas teatrais. Devemos
refletir sobre o assunto. As redes sociais e sua escrita "democrática"
é realmente um novo espaço? Pensamos que a crítica deve continuar a ser "pertinente,
arguta e bem escrita", captando o valor real do material que ela se
encarrega de analisar? Ou o que importa são os prêmios em festivais ou os comentarios
em folhas de jornal? A boa interpretação é quem decide quem é quem.
Temos, no caso de Bruce de Araujo uma
revelação óbvia de um talento raro. Ele conta Otelo e suas peripécias, a época
em que se desenvolveu, ou motivos - sem recursos de espécie alguma, a não ser o
de seu talento (e da supervisão do talento de Miwa, claro). Já tivemos "Ricardo
III" contado por Gustavo Gasparani, ou a difícil "Antígona", narrada
por Andrea Beltrão. Os atores citados utilizaram recursos outros, além da
cadeira de Bruce de Araujo. Outros recursos além de um olhar...e um gesto... Ah,
não devemos esquecer o outro Bruce, o Gowleviski, que também impressionou com o
seu aedo, contando "A Iliada",
de Homero.
Não há, na platéia de Bruce de Araujo, que
não tenha compreendido as intenções de Iago, o descontrole de Otelo e a inocência
de Desdèmona (além de outros papéis secundários interpretados por esse ator que
possui o domínio completo de sua arte). Bruce de Araujo narra - em o que
podemos chamar de uma segunda parte do espetáculo - através de seu corpo, as
venturas e desventuras do mouro shakespereano! Quem perdeu deve procurar este
exercício, pois ele não pode deixar os palcos
do Rio de Janeiro. Procurem! Prestem atenção onde "ESTUDO SOBRE A MALDADE" se esconde...
(Devemos pensar nos tesouros que se ocultam
nas redes sociais, e as críticas de teatro que fazem seus críticos, em escolha
pessoal, em contraposição à arte rala que às vezes - quase sempre - trafica nas
páginas dos jornais). Há que pensar sobre isso. Os tempos agora são outros? Há muito
material sublime se perdendo por aí, há muita peça de teatro excelente que não
é analisada... Há que pensar sobre isso. E NÃO PERCAM "ESTUDO SOBRE A MALDADE"! É BOM VER BOM
TEATRO!