V A C A M A L H A D A D E H E M A T O M A S
POESIA
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro –
AICT)
(Especial)
P
O E S I A S D E S T E L L A
S T E P H A N Y
A poeta descendente de iranianos, nascida por acaso na Bahia (Salvador) - foi ainda um bebê para o Rio – onde viveu até se tornar a poeta que surpreende em seu primeiro livro.
Seus
pais?
Vindos
do Oriente Médio... Aida e Frederick.
Ela,
cantora de Ópera, virou dona de casa, no Brasil. Ele, violinista - o
“Turquinho” da orquestra, no Brasil...
Diz
Stella sobre o pai, Frederick Stephany: “Camaleão poliglota de sete línguas:
português, iraniano, armênio, italiano, inglês espanhol... Lugares por onde passaram, em alguns deles viveram,
suas línguas, aprendeu-as”.
AIDA
STEPHANY, a mãe de Stella, era uma mulher
cheia de segredos... Dez anos viveu com o pai de Stella, na Itália... e depois veio
para o Brasil. E aí começou a Historia
de Stella Stephany.
Seu
livro, VACA MALHADA DE
HEMATOMAS - já começa a surpreender,
desde seu título, cuja capa Carcarah desenhou, e batizou
de “ Fim de Tarde na Cidade”. Linda capa.
Vocês
conhecem “Carcarah”, pois não? Trata-se de Henrique de Macedo Figueiroa, ilustrador e produtor premiado. Lembram dele?
Pois
bem, este começo já promete. Depois Mario Bortolotto fez a orelha do livro,
onde o diretor de teatro e dramaturgo diz coisas assim:
“Ela
se derrama despudorada esmiuçando o cotidiano de uma mulher escandalosamente
contemporânea que prefere deixar “o rabo de fora”.
Mas
será só isso?
Meu
Deus, como existe uma poeta assim, em pleno Século XXI, andando ao nosso lado
na rua... nos teatros... e tendo Clarice Lispector para lhe abrir as portas?!
“Escrevo porque não me entendo” – diz Clarice,
...
e Stella assina embaixo. E nos brinda,
já de saída, com sua remota idade de 150 Anos:
“Já
fui muito velha” – nos diz Stella em seu poema de abertura de VACA MALHADA
É T AN T A
C O I S A
(no
poema)
150 ANOS
Já fui muito velha.
Tive 150 anos. Foi quando
meu pai morreu.
Enruguei toda...
(...
e assim Stella caminha - apesar das dores... - até
chegar aos 17 anos.
Mas não é essa a sua idade cronológica!... é a do
poema!
É T AN T A C O I S A
(no
poema)
150 ANOS
Já fui muito velha.
Tive 150 anos. Foi quando
meu pai morreu.
Enruguei toda...
Mas tudo se aproxima, para nós seus leitores, quando Bianca Ramoneda se pergunta:
“ P o r q u e e s c r e v e r s o b r e a l g u é m s e esse p r ó p r i o a l g u é m – c o m seu talento e força –, é plenamente capaz de dizer sobre si o que quer que seja?”
E
Bianca
Ramoneda (Editora de Conteúdo de Vaca Malhada), nos adverte que se trata de um
livro para adultos.
________________________________
A POETA DIZ QUE ESTÁ EM
TRANSIÇÃO
(E se apresenta):
Estou
em processo de transição Stellar.
Parei com os alisantes de comportamento.
Não
aceito mais
nenhum relaxamento dos meus desejos
nenhum
redutor dos meus volumes.
(e mais adiante...)
Não
sou mulher de puxa
e estica
tenho
minhas crespices.
________________________
e... para “seu rei” ela adverte, lá no final:
FRUTO MOFADO
Saudade
de você, rei.
Da
tua quentura
Em
cima de mim
Suor
festivo que
Você
me rouba.
Você
me conserta.
_________________
Será o grito de
amor da poeta?
( Mas não procuremos historias... é POESIA!)
Trata-se
de uma poeta que deixa seu feminino aflorar, se desnudar...
E ela desnuda, sem
constrangimento , o seu amor!
Poésie à
clef?
____________________________
A poeta nos encaminha para o fim do livro em...
ENTÃO É ISSO
MIRAGEM
Nestes 56 anos morri muitas
vezes.
Nasci outras tantas
Empurrando a terra com muita
força.
(...)
O horizonte
continua a caminhar conosco.
O resto é vento no rosto.
_________________________
E Stella já advertiu,
no início:
(É um
GOSTO .... N Ã O G O S T O)
É TANTA COISA
Não gosto de comedoria...
Gosto de pas-de deux... de terceiro sinal... cheiro de coxia!
Gosto
de poesia...
_______________________
... e o Girassol ?
MARGARIDA DOIDA
O girassol é uma beleza.
Às vezes me dá um pouco de medo
dele.
Do seu gigantismo inesperado
da sua alegria
esbugalhada
margarida doida que
cresceu sem pedir
licença.
Igual
a Alice não cabendo mais no
salão das
portas
depois do beba-me.
Igual
a uma viagem lisérgica.
Amarelona.
(...)
Hipertrofia
alegoria
da alegria
flor
expressionista
conspiração
de faces redondas
(...)
Tipo
complô.
______________________
E...
NO ESCURO
VACA
MALHADA
(...)
Risco.
Arrisco
trombar em qualquer canto
derrubar alguma coisa muito delicada
quebrá-la até.
Cair, cortar, sangrar, arder
pode.
Posso
sair daqui
vaca malhada
de hematomas.
Tenho sede de expedição.
(...)
Até que tudo mude de
lugar
mais uma vez.
E eu comece tudo de
novo
mais uma vez.
E outra. E outra.
_______________________
Por favor...
U
M C O P O D’ À G U A, P O R F A V O R
( AS
FRASES A SEGUIR
SÃO IMPRESSÕES DA RESENHISTA...)
A hora
do desfecho,
A
secura, a faca
E o estilhaço
de vidros...
está recomeçando!
(Afinal, o que está recomeçando?)
Encerramos com o genial :
P L Á G I O
(IN THE
NAME OF LOVE)
O que será que me dá
Que
brota à flor da pele
E
que me sobe às faces
E me faz corar
(...)
It’s only love and that is all
Why should I fell the way I
do
It’s only love and that is
all
But it’s so
hard loving you
Eu
te amo calado
Como
quem ouve uma sinfonia
Porque
meu coração dispara
Quando
tem o seu cheiro
Dentro
de um livro
Dentro
da noite veloz
Me
conta agora como hei de partir
Se
ao te conhecer dei para sonhar
Fiz
tantos desvarios
Rompi
com o mundo
queimei
meus navios
me
diz pra onde é que inda posso ir
meu
sangue errou de veia
e se perdeu
ne me quitte pas
And, in the end
The love you take is
equal to the love you make
I
love U2
Minha
playlist é um samba de uma nota só.
Diz
a poeta, e explica que estas são...
(estrofes amorosamente roubadas de Chico
Buarque, Rita Lee, Lennon & McCartney, Adriana Calcanhoto, Lulu Santos,
Jacques Brel, U2)
É tão difícil
ser poeta! Stella é...
(Mais algumas
palavras sobre VACA MALHADA):
Trata-se
de uma criação que poderíamos “novoapelidar” de poésie à clef ? ... sendo o claro
propósito da autora se colocar como personagem?
Refleti um pouco mais e cheguei à conclusão que a poesia de Stella não é à clef... é escancarada
mesmo! Como a literatura de Clarice Lispector, como a poesia da polonesa Wislawa Szymborska!
Podemos, sim, dizer - com certa irreverência -, que Stella Stephany, em seu livro se refere, em quase
todos os poemas, a uma experiência de vida... que é a sua!
Podemos dizer a seu respeito o que Clarice Lispector dizia, ao se referir a sua própria experiência de
vida: “escrevo-te porque não me entendo. É um tal mistério essa floresta onde sobrevivo para ser.”
A
arte de Stella se concretiza em...
UMAS
PESSOAS L E G A I S
(primeiro final do livro, que se compõe de três finais:
UMAS
PESSOAS LEGAIS
ENTÃO
É ISSO
E...
DEPOIS
DO FIM
Mas antes vem...
O
RABO
DE FORA
com
(IN)VASÃO
Quero
frequentar
a tua casa
comer
da tua comida
vestir
a tua camisa
assistir
à tua Netflix
deitada
na tua cama.
Quero
te
abusar
me lambuzar.
Quero
o fígado acebolado
da dona
do seu quadrado.
Em
UMAS PESSOAS
LEGAIS
Stella
fala em seu pai,
sua mãe, sua avó:
Frederick Habib Stephany, o pai músico.
Aida
– a mãe (porque o avô de Stella gostava
de ópera). Aida, ela também cantora
de ópera no Teatro San Carlo, em Nápoles
...
e sua avó ...
Parkuhi
Hovnanian, iraniana e armênia –
amante de gatos... como Stella! De cabelinho na venta – como Stella!
Em seu
primeiro livro Stella sai à procura de si mesma.
Virão
outros?
É
tudo tão definitivo em Stella.
Ela
já se encontrou.
Sofre
com a poesia?
Não.
Alvíssaras!
Permaneça
conosco, Stella!
ATÉ MAIS VER!
Stella Stephany doce....