I D A V I C E N Z I A
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro – AICT)
(Especial)
Eis um espetáculo que inaugura uma
nova fase do teatro carioca, cheia de entusiasmo e amor ao público, parecendo
estar se despedindo da tristonha fase, paralisante, dos “achaques pandêmicos”.
Estamos nos referindo ao belo “Copacabana
Palace” e o seu “O Musical”, direção de Sergio Módena e Gustavo Wabner (o
idealizador do espetáculo).
Texto de Ana Velloso e Vera Novello.
1923
Copacabana Palace recém inaugurado. O Hotel foi construído sobre um areal, na praia de Copacabana.O Espetáculo abrange os anos de 1923 (início, com a inauguração do Hotel), até a morte de Octavio Guinle, em 1968, e a narrativa de sua atual condição: Belmont Copacabana Palace.
O ESPETÁCULO - narrado com ênfase, nos momentos mais importantes da criação do Hotel, momentos estes que ultrapassam as fronteiras do Brasil, dando início à fama internacional do Copacabana Palace. O carioca Octavio Guinle, de ascendência gaúcha, filho do bilionário Eduardo Pallasim Guinle, foi o criador do hotel.
Octavio Guinle, homem de grande carisma, era um verdadeiro “lord”, um cavalheiro do início do Século XX. Octavio adotou, para dois de seus filhos, o “second name” Eduardo, em homenagem ao avô. Mariazinha Guinle, sua esposa, foi a personagem que inspirou esta historia.
Mariazinha é interpretada por Suely Franco e Vannessa Gerbelli (Mariazinha quando jovem).
O ator Claudio Lins está impecável interpretando e transmitindo o charme, o savoir faire do criador deste que é o mais belo e mítico hotel brasileiro. (Inesquecível a cena em que ele seduz Mariazinha Guinle, com toques à Frank Sinatra, de maneira discreta, digna de um homem da melhor sociedade). Aliás, os dois estão impecáveis na cena, sendo Vannessa Gerbelli uma afirmação, em sua interpretação de Mariazinha.
Neste espetáculo não há destaques, mas sim grandes participações, que o eleva à categoria de um dos melhores musicais brasileiros, mais plenos e verdadeiros, mostrando um Brasil sob a influência da civilização francesa, em uma época de grande glamour e de política acertada, com Getulio Vargas.
Destaque para as projeções da época, revelando detalhada pesquisa da produção. As projeções ocupam o fundo da cena, complementando o cenário da peça. A escada, colocada em movimento central da ação, tanto pode iluminar um fundo musical, como servir de interior para o convívio dos moradores daquele palácio-hotel. A concepção da cenografia é de Natália Lana (cenógrafa assistente: Marieta Spada).
Do “fundo musical” temos muito o que destacar: a belíssima interpretação de Ariane Souza para Sarah Vaughan; Julia Goman como Marlene Dietrich, e Suely Franco, inesquecível, interpretando com brilhantismo as músicas que apresenta. Vannessa Gerbelli nos fazendo chorar, ao final do Primeiro Ato, quando interpreta Por Causa de Você, de Tom Jobim e Dolores Duran.
Com um elenco de 14 atores, o espetáculo é movimentado e cheio de vida. Vários episódios acontecidos, nos primeiros anos de gloria do Copacabana Palace, foram registrados. Destacamos alguns marcantes e que ficaram famosos, como a participação de Orson Welles, o cineasta que, em seu desentendimento com a namorada (através de uma chamada telefônica) ocasiona o “tombo” na piscina, de uma máquina de escrever! (e outros acontecimentos insólitos, como ruídos de quebra de louças e móveis), dignos do temperamento do homem que movimentou o cinema americano! Interpretado pelo ator Saulo Rodrigues.
Há muitas outras passagens
inesquecíveis. Registramos os números de dança com músicas da época. Somente a
interpretação musical do tango deixou a desejar. Talvez, na noite em que nos
foi dado assistir, o microfone de um dos músicos tenha dado defeito. O tango costuma ser mais visceral...!!!!
Revelador de nossa submissão às pressões da burguesia, o discurso pro tradição, família, e liberdade de D. Santinha, esposa de Gaspar Dutra, que foi, também na ocasião, presidente do Brasil, depois de Getulio Vargas. Vários presidentes atravessaram a historia do Copacabana Palace.
Impossível registrar a ficha técnica em sua extensão. Destacamos a direção de produção de Alice Cavalcante, Ana Velloso e Vera Novello. Coreografia de Roberta Fernandes. Músicas com orquestra ao vivo, cujo destaque permanece discreto, encoberta por uma tela negra, na lateral das escadas. Destacamos ainda a interpretação dançada das músicas em moda na época, como o cancan, algumas de carnaval, e muitas outras, além das acima mencionadas. Um musical que merece ser visto e aplaudido.
Assessoria de Imprensa: João Pontes e Stella Stephany.