UMA
CRÍTICA DE DANÇA
Giselle,
de Adolphe C. Adam
IDA
VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos (de
Teatro – AICT)
Quem foi Adolphe C. Adam?
Em nossa historia particular do balé,
ele foi o criador de Giselle, (embora tenha sido dele também a criação de Le
Corsaire, com seu belíssimo pas de deux). Esse balé teria sido mesmo de sua
criação? Tão diferentes, em espírito. Mas voltemos a Giselle: Em nossas andanças, no passado, à procura de
balés conseguimos, a duras penas,
assistir ao Primeiro Ato de Giselle, criação do parisiense Adam, de nome
e perfill anglais...
Para esta crítica de dança que vos
fala, Giselle era um passo adiante no
savoir faire dos franceses. Tratava-se da introdução de sua bem amada Mímica,
na linguagem de Terpsicore. Não estamos fazendo confusão. Pelo fato de só ter
assistido, até o presente, o Primeiro Ato de Giselle, foi a partir da
celebração de 2023 - no Theatro Municipal do Rio de Janeiro – na abertura da temporada
de balé, que o Segundo Ato de Giselle lhe foi revelado, e com ele vários
mistérios que lhes falarei agora:
Eis que surge o balé completo! E o
Segundo Ato se revela uma sequência de balés conhecidos. Eis como a cena do
cemitério com suas “mortas” vestidas de branco, nos lembram as
Wilis de Chopin, com seus noturnos e suas valsas.
Mas a surpresa não parou por aí. Para
a plateia, que assistia pela primeira vez o balé completo, o “príncipe” do
Primeiro Ato, que deixava a camponesa apaixonada em desamparo, nos mostra,
durante todo o balé, seu lado também
apaixonado. O príncipe, como pensávamos, não deixou a camponesa no abandono. O Segundo Ato nos mostra um
príncipe apaixonado, desolado.
A interpretação de Cícero Gomes - um
bailarino excepcional - foi de uma beleza clássica irretocável.
No Primeiro Ato surge outro
personagem, este em tudo inspirado em Othelo, de Shakespeare! Trata-se do
ciumento servo do príncipe? Ou de um camponês? Quem o interpreta com força e
desalento, na última apresentação de Giselle, foi o excelente bailarino e
mímico José Ailton. Também um belo desempenho, o desse bailarino, mas nada que
venha ofuscar o brilho de Cícero Gomes na despedida de Giselle!
A bailarina Márcia Jacqueline dançou
Giselle, no dia do encerramento da temporada, e a namorada do príncipe foi
interpretada pela bailarina Priscila Mota. Ambas excelentes.
Vários acontecimentos são
reconhecidos, no repertorio de Adam. Nomes como Horowitz (revisão da música);
Théophile Gautier (adaptando Heinrich Heine);
Helio Bejani e Jorge Teixeira em sua adaptação final.
Regência da Orquestra do Theatro
Municipal: Jésus Figueiredo.
Continuando... E, para aumentar a
surpresa com a escrita de Heine, somos informados que Giselle é a quintessência
do balé romântico! Nada a declarar, mas, em nossa opinião, cada espectador cria
o balé que lhe vai na alma. Para alguns, trata-se de um balé revolucionário,
colocado em ação com uma visão corporal na qual entra o jogo mímico.
A montagem também enfatiza os
defeitos das majestades, e enriquece a pureza de sentimentos dos humildes.
Enfim, este sentimento se destaca na atuação da camponesa Giselle.
Podemos afirmar que entre o príncipe,
a princesa e a camponesa Giselle, desenrola-se uma verdadeira luta de classes!
Nada mais revolucionário! Mas os velhos tempos de submissão ainda serão os
mesmos desde sempre e, no caso, desde o século XIX até nossos dias, apesar da
conscientização sobre a humilhação dos humildes, querendo despertar os que
vivem no século XXI. Em nossos tempos, como nos tempos de Giselle, a Liberdade deve ser o caminho para os
vencedores. Mas no balé o príncipe deve seguir o seu destino, e dos submissos: ele não pode realizar seus
sonhos. Este balé expõe o sentimento de submissão que ainda impera, em nossos
dias. Neste sentido, dando destaque à submissão do personagem, o balé se torna
revolucionário, tendo o príncipe que casar com a mulher que ele “não” ama, mas
pela qual tem um compromisso de honra, e deixar esquecida a mulher que ele
verdadeiramente ama.
Estes são sentimentos e vivências que
ainda sobrevivem em nossos dias? Sim.
O balé Giselle aponta para estes
“sentimentos e vivências” que são o “sempre” do espírito humano. Concluímos que
enfrentamos, em nossos dias, essa mistura diluída de todos os sentimentos humanos,
de todas as épocas. Sentimentos esses que estão se transformando em um
condicionamento difícil de ser rompido. Neste sentido, e apontando para
condicionamento, é que o balé Giselle se torna revolucionário.
BELA ESTREIA DA TEMPORADA DE BALLET
COM GISELLE !