Daniel Dantas (Henry) e Melissa Vettore (Isadora) (Foto João Caldas) |
Morte de Isadora. (Arquivo) |
Roberto Alencar (Agustin), Melissa Vettore (Isadora) e Patricia Gasppar (Irma), em "Isadora", dramaturgia, Vettore, direção Elias Andreato. (Foto João Caldas). |
IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
.... E fomos ver "Isadora"! Uma
peça sobre aquela mulher fascinante, independente, livre, revolucionaria. Movida
à dança! Por que Melissa Vettore, dramaturga, produtora, atriz e bailarina do
espetáculo, resolveu homenageá-la? Difícil tarefa! A dedicação à Isadora parece
ser o trabalho da vida de Melissa, que foi muito bem assessorada pelo ótimo
diretor que é Elias Andreato. Há, com certeza absoluta, neste espetáculo, uma
cena antológica interpretada por Daniel Dantas (ator convidado) e Melissa
Vettore: a cena do desnudamento do amor do editor (Henry, interessado em editar
o 'Livro de Memórias' de Isadora), pela bailarina! Para mim, Dantas é o ator
mais misterioso que existe, sempre uma mistura de Gabin, Auteuil e ennui!. (Desculpem, meus paradigmas são todos
do teatro e cinema francês do século XX ...dos
anos 60, ou menos, veja-se Jean Gabin!). Mas, uma coisa continuo afirmando: esse
ator, Dantas, sempre me impressiona pela fragilidade e ennui ("tristeza profunda"), que deixa transparecer em sua
interpretação! E quem é, afinal, o editor que
tanto mexe, racionalmente, com a tranqüilidade de Isadora? A historia é contada
em dois tempos... e o editor aparece em um momento cruel do presente, em que a bailarina retoma o seu passado, para escrevê-lo.
Mas deixemos Dantas, e o personagem que
interpreta, em paz. Seres estranhos na vida de Isadora Duncan não faltaram. A verdade
é que a musa sentia amizade por seres maravilhosos, como, além desse editor, João
do Rio, por exemplo. Dizem que a bailarina o queria como amiga, mas ficou
intrigada (dizem) com o pouco entusiasmo que ele revelou ao ver seu corpo nu. Ao
se interessar pela inclinação sexual de João, recebeu essa resposta do escritor
carioca: "Eu sou um ser impuro". A resposta poderia ter sido dita por
João do Rio, o episódio parece ser verdadeiro, mas nunca se saberá, pois pertence ao mundo do mistério das artes cênicas,
e isso é fascinante!
"Isadora", a peça, pegou-nos de
surpresa. Não há atores em cena, com exceção de Dantas e a irmã de Isadora, Irma,
interpretada pela bailarina, cantora e atriz Patricia Gasppar. O irmão, Agustin,
é a belíssima figura de bailarino de Roberto Alencar (cuja presença em cena
valoriza o espetáculo). Roberto, além de interpretar Agustin, também participa em outras cenas, fazendo pequenas intervenções.
O espetáculo veio de São Paulo, e ficará
poucos dias no SESC Ginástico, mas nos serviu como verdadeira "aula de
direção" de Andreato, que conseguiu momentos inesquecíveis da frágil
Melissa, interpretando a indescritível Isadora. Os melhores momentos de Vettore
são quando ela dança, livre e solta, ao estilo Isadora, ou quando, em alguns
momentos da discussão com o editor (Dantas), consegue uma carga dramática mais forte.
Admira-se sua iniciativa, nesta bela homenagem a Isadora!
Diz Isadora: " Eis o que estamos
tentando fazer: reunir um poema, uma melodia e uma dança, de modo que não se
escute a música, veja a dançarina ou ouça o poeta; mas se viva na cena e no
pensamento o que eles estão expressando".
Há vários aspectos positivos que poderiam
nos levar a recomendar este espetáculo. Certamente, as projeções e o clima que
passam, lembrando a escola de dança de Isadora, na União Soviética. Ou o
momento dramático em que a bailarina narra
o suicídio de Serguei Esenin, seu poeta-amante! (na vida real, há o consolo de que
eles já estavam separados). Outro aspecto positivo do espetáculo é a já comentada
cena final, entre o editor e Isadora. E o texto. Sim, o texto! Ele é repleto de citações e de poesia, como o Maiakovski,
dito por Dantas, ou frases muito bem construídas, que levam ao momento vivido daqueles
artistas! Sim, o texto, com trechos de Walt Whitman, Sergei Esenin, Maiakovski!
Trata-se de um lindo e inteligente trabalho conjunto, feito por Andreato e
Dantas, em cima da dramaturgia de Melissa Vettore.
O Epílogo dessa bela homenagem é a morte
de Isadora, em Nice, ainda em seus 50 anos fecundos. A morte, enrolada em sua vaporosa
écharpe, é um final digno de sua vida
envolta em véus. Uma bela e poética morte, a de Isadora, essa mulher que
observou um dia (Isadora deixou vários escritos): "Sou uma crítica incansável
da sociedade moderna, da cultura e da educação. Defensora dos direitos das
mulheres, da revolução social e da concretização do espírito poético na vida
cotidiana. Meu interesse é expressar uma nova forma de vida." (Ah, como eu
gostaria de ter conhecido Isadora!) E, finalmente, a ficha técnica: Há música
ao vivo, como não poderia deixar de ter, e a escolha da trilha sonora é do artista
e musicista Jonatan Harold. Magnífico. A assistência de direção é de André
Acioli; as palavras lindas e emocionadas de Renata Melo, diretora de movimento
e preparadora corporal do espetáculo, dão vontade de conhecê-la, e participar
de seu vôo! Preparação vocal de Edi Montecchi. Produção de vídeo: Marco
Vettore. Divulgação no Rio, JSPontes.
BELA INICIATIVA! UM ESPETÁCULO DE TEATRO-DANÇA.