IDA VICENZIA
(da Associação
Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
O renascimento do Teatro Ipanema está
dando bons frutos: desta vez temos o
dramaturgo russo, Anton Tchecov com Ary Coslov na direção, ressuscitando
o teatro de Rubens Correa! Sim, a assinatura dos dois talentos, o russo e o
brasileiro, traz de volta a grandeza do teatro dos anos 70, de Rubens. A peça de
Tchecov, Ivanov, escrita em 1887 e em
cartaz no Rio de Janeiro neste maio de 2017, é reconhecida como o primeiro
texto completo do autor russo.
Eis os personagens: O típico agregado, o
homem do povo russo, o bebedor de vodka e falastrão que chega a sufocar o
público (às vezes!), e irritar Ivanov com sua exuberante energia, é Micha. Você
está vivo e magnífico, na interpretação de Mario Borges, Micha! E há o
senhorzinho, Ivanov! o homem acostumado com o seu dinheiro e seus cálculos; ou será
um intelectual perdido na mediocridade da província? Ou simplesmente um caçador
de dotes? Isio Guelman está brilhante, interpretando Ivanov.
E 'essa crítica que vos escreve' vai - de
surpresa em surpresa, de emoção em emoção - testemunhando o desenrolar da cena
perfeita. Cenario (Marcos Flaksman) simples, com praticáveis que solucionam as
cenas, e onde pequenas projeções sobre tela representam a natureza. E a luz mágica
(Aurélio de Simoni), marcando locais e emoções! Que bela a luz vermelha que incendeia
a 'natureza', quando a sofredora esposa de Ivanov, Anna Pedrovna, explode de
amor! Magnífica e contida, Sheron Menezzes se transforma em indignação, quando,
no final, Anna descobre a verdade.
O elenco é excelente!
Marcelo Aquino interpreta o médico Lvov (quem
admira Tchecov já deve ter percebido que o dramaturgo - também ele um médico - traz
presente em suas peças esse personagem observador de corpos e almas). Saudamos
a grandeza do Dr. Ievguêni Lvov, interpretado por Aquino. O ator transmite a
paixão do médico e nos faz suspeitar que Ivanov tem um pouco de Tartufo, em seu
descompromisso com a moral! Sim, Aquino/Lvov traz à cena, sem ironia, a voz de Tchecov.
Mas quem é Ivanov, afinal? Tchecov nos
confunde. O personagem título é uma charada e uma angustia plena. Isio Guelman
nos transmite, com precisão, o que chamaríamos de a 'inadequação para a vida' do
personagem.
Marcio Vito é Pável Liébedev (Pacha). Um
homem e um pai. Deixa-se conduzir (dominar?) pela mãe da jovem Aleksandra,
filha casadoira de Pacha. Esse homem é bonachão, simpático, ardiloso... e
dominado pela mulher! É o típico burguês de Tchecov, que trafega muito bem
tanto pelo mundo de Micha e suas vodkas, como pelo confuso mundo de Ivanov. Ele
contemporiza, e é um dos responsáveis pela deliciosa ironia (sutil?) do autor. Marcio
Vito/Pacha é outra surpresa emocionante interpretando o personagem.
Temos grandes atores em cena. E temos
agora a jovem Aleksandra (Sacha) interpretada pela atriz Mayara Travassos. Uma
atriz sensível, que nos apresenta uma jovem adolescente apaixonada pelo amor. Mayara
coloca em cena todo o vigor de Sacha em sua visão romântica da mulher do século
XIX.
Os figurinos de Beth Filipecki são lindos
e apropriados. A trilha sonora de Ary Coslov inicia-se clássica, sem
sobressaltos, guardando os mesmos para o final, quando faz uma homenagem aos
anos 70? O público fica surpreso, mas os Beatles fazem sentido naquela hora! É
de Isio Guelman o belo design gráfico do programa. Assessoria de Imprensa de
SPontes - João e Stella Pontes. Tradução, Adaptação e Direção de Ary Coslov.
E o espetáculo se encerra com o questionamento
de Tchecov, ao qual estamos acostumados:
se você destacar um objeto de cena no início da peça, terá que justificá-lo
em algum momento, até o final da mesma. Em Ivanov,
sua primeira peça longa ("completa", como nos lembra Ary
Coslov), o autor nos desafia com sua precisão, e a sólida estrutura de sua construção
dramática. É ver para crer.
Oi Ida, eu já estava com vontade de ver essa peça. Agora mesmo é que vou me programar. Beijos.
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