Acima, Antonio Salvador como "Aquiles" e Maria Esmeralda Fortes como - "Pentesiléia". Autora: Lina Prosa. Direção: Maria Thaís. (Foto Silvana Marques)
IDA
VICENZIA
(da
Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
"PENSTESILEIA
- treinamento para a batalha final", está em cartaz no Sesc Copa. O subtítulo
esclarece o mito (restabelecido no texto da dramaturga italiana contemporânea
Lina Prosa) sobre mulheres e antropofagia - tendo estas duas 'criações da
natureza' se misturado nesta encenação.
Em primeiro lugar, o espetáculo é
altamente comprometido com o ato de pensar e o ato de sentir. São três monólogos
dirigidos ao público pelos dois contendores (Pentesileia e Aquiles) que tentam equilibrar
o sentimento (eterno, de amor e ódio) que domina a nossa civilização.
No primeiro monólogo Pentesiléia (Maria
Esmeralda Forte), conta o que lhe vai no coração, aguardando o momento do
encontro final com o guerreiro. O segundo monólogo é Aquiles (Antonio Salvador)
fazendo uma homenagem à guerreira morta em campo de batalha, à mulher guerreira
que ele admira. Destacamos que há - no momento dessa homenagem e junto com ela
- o encontro vigoroso entre homem e animal (entre Aquiles e seu companheiro de
batalha, o imortal cavalo Xanthos), encontro esse que prepara a cena para o crescendo
final quando o guerreiro reabsorve o ímpeto para a luta.
Vejam bem: a cena entre Aquiles e seu
cavalo Xanthos é um dos primorosos momentos do espetáculo, o homem em seu
elemento: a guerra. É a animosidade em um crescendo, para estabelecer a fúria
necessária para enfrentar (ou estabelecer) a morte. O outro momento primoroso do espetáculo, que mostra a assinatura das duas grandes artistas (Thaís e Esmé), é a cena da antropofagia...
O terceiro monólogo é a consumação do
horror. É quando Pentesiléia deglute o seu amado. São raros estes momentos de
completude cênica. Maria Esmeralda o consegue. O manjar nos leva à comunicação
espiritual e ao breu! O treino acabou, a batalha está conclusa, não há
vencedores, homem e mulher são um só - na verdade, há um Renascer...
A união destas três potências: Maria
Esmeralda, Antonio Salvador e Maria Thaís tornam possível o espetáculo e a sua cena
final.
Deixemos para o professor da Unicamp e
tradutor do texto de Lina Prosa, Laymert Garcia dos Santos, resumir para nós o
assombro:
"Pentesiléia é a rainha das míticas Amazonas.
Mas qual o sentido de sua existência insistente no mundo atual? Atravessando o
Mito e a Historia, estirando um arco transtemporal, Lina Prosa a recriou como a
impossível figura da mulher selvagem civilizada, que nos assombra e interpela."
Iremos à procura dessa mulher guerreira.
Um pouco sobre o elenco: Maria Esmeralda é
atriz reconhecida das montagens de Nelson Rodrigues e dos espetáculos
inesquecíveis de Amir Haddad. Esta montagem celebra os 80 anos da atriz. Antonio
Salvador é seu companheiro de espetáculo e ator da Cia Teatro Balagan. Foi presença
inesquecível também no espetáculo "Recusa", direção de Maria Thaís.
Este "Aquiles" a que Salvador dá vida é um momento de grande competência
e pontualidade teatral.
As pausas, indicações, alterações e
criatividade do espetáculo ficam sob a responsabilidade da artista sensível que
é Maria Tahís e outros aspectos importantes dessa montagem, como a Iluminação de
Aline Santini e a Trilha Sonora de Morris. A consultoria do universo feminino
dos mitos ameríndios é de Rafaela Vargas e Marcelo Fortaleza Flores. Cenografia e Figurino de Marcio Medina. Assistente de Direção Kátia Daher. VALE CONFERIR ESTE ESPETÁCULO MUITO ESTRANHO!