CRÍTICA DE TEATRO
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro - AICT)
(Especial)
"AGOSTO"
Esse pessoal do "meio-oeste"
americano tem lá o seu jeito para teatro! Tracy Letts é atrevido, e transforma
o seu relato em algo com personagens tão marcados, tão desenhados, que por
vezes pendem para o absurdo. Outra coisa interessante é que possui o tom "velho/
novo" dos grandes dramaturgos, sem fazer alarde dessa condição. Há de
tudo, no texto: poetas negando o seu talento, pessoas doces convivendo com
feras - o "mundo real" passando pelo texto e abrindo (ou fechando)
janelas que se tornam, às vezes, previsíveis. Quem for assistir, verá. Faz
parte do jogo. Há um morceau de bravure para cada personagem. Sim,
trata-se de um texto sufocante, claustrofóbico, onde todos os personagens podem
brilhar. É teatro de raiz! Gosto dos irlandeses dramaturgos (os que vou citar agora,
e muitos outros que transformaram a America teatral), só não gosto da mania que
os colonizadores irlandeses tinham, essa mania de matar índios americanos... Aliás,
para mim, a segunda personagem fabulosa em "Agosto" é a índia... Adivinhem
quem é a primeira?
Vamos aos dramaturgos (a alguns deles). Haja
fôlego! Lembram-se de "Full for Love"? Ou de "Um Bonde Chamado
Desejo"? Gênios como Sam Shepard: "Quero que as pessoas vivam as
minhas peças com um senso de questionamento, de mistério". Tennessee, que veio
do Mississippi e trouxe essa gente estranha para o palco. "Agosto", agora, é um misto de amor
e ódio, filhote destas inspirações. O autor veio de Oklahoma, e seu texto é
mais descarado ainda - pois o "irlandês" às vezes homenageia Nelson
Rodrigues! Um achado de Guida Vianna, pois este é o papel de sua vida!
Quero ser breve. Aconselho às pessoas
claustrofóbicas a não assisti-lo, ou a assisti-lo, justamente para descobrir se
são claustrofóbicas! Há para todos os sentidos. Elenco e direção têm obrigação
de ter nervos de aço. (O que mais espanta, em teatro, é ver aqueles atores, que
viveram coisas inacreditáveis em duas horas, e depois sorrirem para o público, despedindo-se
e agradecendo com sorrisos de anjos, como se tivessem participado de uma
comédia. Será?).
André Paes Leme, o diretor que mora em
Portugal e veio especialmente para dirigir a peça, alerta para a tentação de
banalizar o teatro, fazendo tudo virar comedia. Não é o caso, mas anda
próximo... Enfim, não dá pra segurar esses irlandeses, embora eles sempre lembrem um pouco os brasileiros...
Fico por aqui. Quero dar meus parabéns aos
desempenhos surpreendentes do elenco: Guida Vianna (Violet); Claudia Ventura (Karen);
Claudio Mendes (surpreendente o seu crescimento como ator. É verdade que não
assisto Claudio há muitos anos, quase não o reconheço, está uma bela presença
em cena, e ótimo ator). Aliás, de ótimos atores é feita a peça, senão não
seguram tudo o que Letts/Leme pedem deles! Há ainda a doce índia (e, por
eliminação acho que cheguei a Marcio Vito (Steve). Julia Schaeffer; Letícia
Isnard; Eliane Costa; Guilherme Siman; Marianna Mac Niven (Ivy); Paulo
Giardini (o doce Beverly).
Cenografia Carlos Alberto Nunes; Figurinos
Patricia Muniz, Iluminação: Renato Machado (como sempre, destaque); Música:
Ricco Viana; Fotografia Silvana Marques. É PRECISO NERVOS DE AÇO PARA ASSISTIR
"AGOSTO". UM DESAFIO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário