Bruce Gomlevsky em "Memórias do Esquecimento", texto de Flavio Tavares, direção e atuação Bruce Gomlevsky. (Foto Dalton Valerio) |
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos
de Teatro – AICT)
(Especial)
MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO
Bruce
Gomlevsky - um dos mais brilhantes atores e diretores de teatro do Rio de
Janeiro, está fazendo a sua parte, neste ano de 2018! Ao comemorar os 25 anos
de carreira, o ator/diretor encena o monólogo “Memórias do Esquecimento”, inspirado
no relato da tortura sofrida pelo jornalista Flavio Tavares, nos anos da
ditadura militar.
Bruce Gomlevsky é uma presença constante
na ‘Iluminação’ dos momentos cruciais de nossa historia. Há doze anos em
excursão com Renato Russo - o Musical – ele se revela um cantor à altura do
rebelde Renato, que cantou o desencanto de uma época em seu célebre “Que país é
esse?” e tantos outros sucessos. Bruce revela-se o cantor, como é o ator ou o diretor
- e mobiliza as plateias. Neste ano de comemorações ele também encena Tartufo,
inspirado em Molière – com a sua Cia Teatro Esplendor, criada por Bruce em 2008.
São 10 anos de atividade completados com este Tartufo: “um substantivo masculino, sinônimo de hipócrita,
impostor, cínico, fingido”, diz a Companhia.
Ainda sob o impacto da interpretação de Gomlevsky,
com Flavio Tavares nos “corredores da morte” (Flavio, e mais 14 jovens presos
políticos foram resgatados em troca do embaixador dos Estados Unidos, Charles B.
Elbrick, sequestrado na ocasião, anos 60, estão lembrados? ). Queremos falar
sobre este momento em que o teatro cumpre o seu papel de ressonância de uma
época.
Não devemos esquecer o que aconteceu durante
quase 30 anos, em nosso país. Este episódio deve ser contado e recontado.
Devemos chamar atenção, como o fez Tavares e como faz agora Bruce Gomlewsky, pois
a humanidade está doente, ‘prenhe’ de maldade! O inimaginável acontece em Memórias
do Esquecimento, e o ser humano desperta!
O
público sai do teatro com desejo de agir, de modificar, de revelar nossas dores
ao mundo. A plateia se reúne na saída do teatro para falar em amor, em
solidariedade, democracia. No final do espetáculo as pessoas comentam o que estão
fazendo para esclarecer os que ‘não frequentam o teatro’. E questões são levantadas,
contadas historias do que é feito e do que é possível fazer, para alertar as
pessoas do perigo que estão correndo. Declaramos que tudo deve ser feito, para
que esta historia macabra não se instale novamente entre nós!
O espetáculo está em cena em um momento
histórico, às vésperas de outro futuro incerto para a nossa nação. O diretor/ator
reúne as emoções e o terror de quem viveu aquela época, e ressalta o sadismo dos algozes do jornalista Flavio Tavares.
As cenas são desenvolvidas com tal veemência, que congelamos a emoção e
penetramos no horror!
É impressionante a categoria de ator de
Bruce Gomlevsky, seus gestos, sua contenção. Seus 25 anos de teatro são apenas um
quarto do que um ser humano consegue viver nesta a terra. Nestes 25 anos Bruce atingiu o controle para dominar a emoção.
Quando descreve a historia carinhosa da
saudade de sua ‘não vida’ ao lado da filha, Tavares se emociona e chora!
Ele só voltou a ver a menina de 4 anos, quando ela já era uma moça ... mais
alta do que ele...! E o ator ri e chora,
passando, no momento seguinte, para o relato dos mais terríveis suplícios! ...
ou incorporando a alma do agressor, do sádico: ‘Sadismo, humilhação – o ‘apodrecer na cadeia’
– tão desejado, idealizado pelos seus algozes!’
Este pode ser o espetáculo de sua vida.
Bruce já ganhou um prêmio Categoria Especial “pelas escolhas dramatúrgicas da
Cia Teatro Esplendor”. É impressionante a carga dramática que o ator coloca em
seus personagens. A preparação corporal, a iluminação, todos os detalhes acompanham
o tom sufocante de Memórias do Esquecimento...Teatro Poerinha modificado, irreconhecível! Até domingo, 28 de outubro.