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quinta-feira, 5 de abril de 2012

A ILUSÃO CÔMICA


CRITICA TEATRAL
A ILUSÃO CÔMICA
(CCBB - TEATRO III)
             - RJ -


     Comemorando a sua maioridade (21 anos) a Cia. Razões Inversas, originária de Campinas/SP, e atualmente com sede na capital, trouxe ao Rio de Janeiro sua montagem (inédita no Brasil), do texto de Pierre Corneille (1606-1684): "A Ilusão da                 Comédia" (tradução e adaptação de Valderez Cardoso Gomes) . Mesmo para os estudiosos do teatro, é curioso ver o nome de Corneille envolvido com o grotesco e o risível. Nome conhecido por suas grandes tragédias (Le Cid, Horace, e tantas outras), é curioso estar subitamente envolvido em mecanismos que relembram a Commedia Dell 'Arte italiana.
      Mas as surpresas não param por aí.
     Ao contar a história do burguês Prindamante (Clovis Gonçalves), que procura seu filho Clindor (Paulo Marcello), o diretor paulista Marcio Aurélio (também criador da Companhia),  desenvolve com maestria a intrincada obra de Corneille - que, por sua vez, diverte-se, muito jovem ainda - aos 29 anos - escrevendo, em 1636, este exercício de metalinguagem. Márcio Aurélio captura o espírito da commédia italiana proposto pelo autor, e o transforma em uma instigante "investigação da linguagem espetacular". Para tanto, não lhe falta material:
      A história da vida do filho perdido é assistida, fora da cena, pelo pai, história essa recapturada pela narrativa de um mago (Alcandro, interpretado pelo excelente Joca Andreazza, ator que se desdobra no Matamouros da Commedia Dell' Arte, em atuação "remarcable"). O cenário por onde Alcandro e Matamouros trafegam é um palco-caverna negro, de autoria de André Cortez. O cenógrafo e figurinista (assina os figurinos em parceria com o diretor, que também faz a iluminação), optou pelo  negro no palco e no fundo da cena, fugindo ao tradicional colorido italiano da commédia. Aliás, as cores só aparecem nos figurinos femininos: quanto mais colorido for a personagem, mais infeliz ela será. 
     A partir do Primeiro Ato (a cena é dividia em 4 Atos e um Prólogo),  testemunhamos os versáteis atores trafegarem em inimagináveis composições de personagens (destaque para o já citado Joca Andreazza e para a Lavínia Pannunzio, surpreendendo entre as suas criações da Serva (Lisa) e da Rainha (Rosina). Isabel, a infeliz representante da sôfrega burguesia (Maria Stella Tobar), uma atriz que desenvolve com talento as duas fases da personagem: o da filha sendo obrigada pelo pai a casar por interesse, e sua segunda encarnação, a da mulher desiludida (ela, e a serva, nesta cena, resplandecem em vermelho-sombrio, e isso não é um paradoxo).
     Elenco impecável, cujo bom desempenho é traduzido pelo trabalho desenvolvido em grupo. Paulo Marcello é um Clindor sabor doce-irônico. Julio Machado faz os papéis de Adastro e Erastro. Como estes atores da Companhia são tão versáteis (quase não reconheci Rosina, interpretada por Lavínia Pannunzio, parecia-me outra atriz, mistura de Regina Braga com Emilia Rey!), tenho receio de afirmar que o rapaz que aconselha ao desesperado pai os serviços do mago, no Prólogo de espetáculo (Gonzaga Pedrosa?), seja também o pai de Isabel; e Júlio Machado o carcereiro, seja o pretendente de Isabel. Desempenhos exemplares, como também o é a capacidade de criar tipos, do elenco. Estranha troupe! Tamanha incerteza é devido ao afã de me render ao espetáculo, e medo de romper com o bem senso que rege a crítica! 
       Aconselho ao público não perder este A Ilusão Cênica, digo Cômica, pois ficarão, como eu, transportados a uma região onde tudo pode acontecer. Principalmente o inusitado final. 
     
            
   

2 comentários:

  1. ATÉ INVEJO NÃO ESTAR NESSA ILUSÃO CÊNICA QUE DEVE TER SIDO MUITO CÔMICA. MERDA FOREVER.

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  2. Querida Ida,seu estilo elegante e sua cultura invejável fazem da leitura da crítica um prazer imenso. Fiquei com vontade de sair correndo para o CCBB!

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